29 junho 2009

teoria do universo e assim, para o JB

Nem Cornell nem Princeton, JB, Berlim é que é: há aqui uma portuguesa que está a desenvolver uma nova teoria do universo, do movimento e do tempo, confesso que aquela mulher sou genial. Um mimo!

Diz ela que a partir da meia-idade o universo se move de tal maneira que a pessoa vai numa direcção e o seu corpo noutra.
Perguntarão: e quando começa a meia-idade?
Dantes, começava mais ou menos sempre daqui a dez anos.
Ultimamente, é daqui a cinco.

***

Quanto à Áustria: aqui temos um fenómeno de realidades paralelas.
Outro dia ouvi um alemão do sul dar a RDA de barato. É tudo Prússia, dizia ele, não tem nada a ver connosco - nós somos mais Áustria.
E é assim que se chega à conclusão que tanto o Bismarck como o Helmut Kohl eram péssimos alunos a História. Ou então, a culpa era do Humboldt (não esse, o irmão dele), que muito mal reformou a Escola. Ora nem mais: damos a volta ao universo, e regressamos a esta conclusão simples: a culpa é dos professores.

27 junho 2009

a última vez que vi Michael Jackson vivo...

...foi há algumas semanas, na capa de uma revista.
Estava numa cadeira de rodas, tinha um ar miserável.

Agora, que morreu, vem toda a gente sentir a falta dele, e até há uma que "não consegue parar de chorar".
Pena só dizer agora.
Tão amiga dele, bem lhe podia ter feito companhia naquela foto onde aparece numa cadeira de rodas, completamente sozinho.

Longa vida à Britney Spears, outra que tem andado a ser tratada como um traste pelas revistas de celebridades.
Ela que se aguente, porque a repetição do mesmo circo hipócrita em tão curto espaço de tempo não é boa para o show business.

mundos



(foto tirada daqui)

Ontem estive na "Casa das Culturas do Mundo" (também conhecida como "a ostra", perto do Reichstag) a ver a Companhia Nacional de Canto e Dança de Moçambique.

Entrei lá pensando que ia assistir a uma espécie de Lago dos Cisnes Negros - enfim, bailado clássico em corpos de pele escura. De modo algum estava preparada para aquela beleza de cor e energia. Nem para aquele público: com bebés e crianças, a atirar comentários para o palco, a rir e a conversar.

Também não estava preparada para a crueza da história que contavam. A parte em que o Homem Branco entra em cena e subjuga a alma africana, os aplausos do público quando os bailarinos dançam a decisão de combater o invasor, os aplausos quando este é derrubado.
O sistema escolar moçambicano deve ser muito fraquinho: ninguém lhes ensinou que os portugueses eram, de todos os povos, os mais amistosos e queridos por todos aqueles com quem contactaram e a quem levaram o desenvolvimento e progresso...

Atrás de mim, dois portugueses punham legendas no que via: "isto foi bonito", "lindo, sim senhor". E mais à frente, no início de um sketch que pretendia chamar a atenção para a importância do uso de preservativos, "olha para aquelas, estão com cio!"

"Estão com cio" - há quantos anos não ouvia esta maneira tão delicada de falar das mulheres.
Há um Portugal, confesso, do qual nunca sinto saudades.

26 junho 2009

palavras-chave

A desatinar como de costume na caixa de comentários de uma amiga, ocorreu-me isto:

Qual é a diferença entre - cuidado comigo, lá vou eu outra vez! - a Sophia e a Margarida Rebelo Pinto?
Uma enche o texto de nomes de árvores, a outra de marcas de roupa.

E eu com isso? A ler ambas, um boi a olhar para um palácio: "o que é que ela quererá dizer com isto? tem de ter um significado especial..."
(um duende que vive num carvalho tem de ser diferente de um duende que vive num sabugueiro, tal como um homem que usa cuecas Lacoste deve ser completamente diferente de um que usa cuecas Boss)

Quanto ao resto das diferenças: qualquer um sabe, não preciso de chover no molhado.
Digo apenas que tenho vários livros repetidos da Sophia, e continuo a pensar devolver o "sei lá" que comprei há muitos anos, completamente ao engano. É que li na contracapa que se tratava de "um relato crítico de um significativo estrato da actual sociedade urbana portuguesa" e pensei "ena que giro, um estudo sociológico em forma de romance", mas ao fim de muitos palavrões e marcas tira-se a conclusão que o problema daquelas meninas todas era falta de homem. Estas urbanas continuam iguaizinhas às rurais.
(Devolvam-me o dinheiro!)
(Além disso, aquilo não é um romance, é uma narrativa em contos - e, se fosse escrita agora, era em euros)

E os carvalhos, os sabugueiros?

Um amigo meu, excelente tradutor, andava uma vez à procura de um livro do séc.XIX sobre a linguagem das flores. Estava a traduzir o filme Kate & Leopold, e precisava de saber que significado Leopold dava às flores que escolhera para oferecer a Kate. Nenhum tradutor é pago para isto, claro - a parte do brio a gente faz de graça.

Lembro-me desse episódio quando leio Sophia: dava-me jeito um livro sobre a linguagem das árvores.
Às tantas, um dicionário visual de botânica já me bastava...

E, se voltar a cair na asneira de comprar um daqueles romances críticos sobre a sociedade urbana, pois lá precisarei de um sobre a linguagem das marcas. Estou cada vez mais longe do meu tempo.

25 junho 2009

eu até nem sou muito dada a isto...

...a isto de fazer publicidade a blogues.
Tanto mais que o disco parece que se me riscou no Segunda Língua, nem ponho link nem nada, que o que aqui não falta são links para o Segunda Língua, volta e gira, link, mas, dizia eu, nem sou muito dada a isto mas hoje tenho que contar que descobri um blogue muito especial, feito por uma mulher inteligente, culta, sensível e divertida (e ainda só a conheço há 10 minutos, ora tomem lá mais uma prova de que o amor à primeira vista (*) existe, e de que maneira).

Chama-se sem-se-ver - e está bem, porque, como dizia o outro: o essencial é invisível para os olhos.


(*) quer dizer: ao primeiro post.
Para ser mais precisa: ao primeiro comentário. Parece que foi a única pessoa que percebeu que eu outro dia escrevi um dos posts de que mais me orgulho. Eu bem digo que ela é muito inteligente!... ;-)

24 junho 2009

Waldbühne e outros palcos assim

Já contei que o ambiente na Waldbühne estava excelente? Que toda a gente falava com toda a gente ("e tu, o que fazes?" "sou juiz"), que a comida e a bebida era oferecida alegremente aos vizinhos? Sorrisos a rodos?

Pois.

Mal acabou o concerto, as caras fecharam.
Encontrámo-nos todos de novo no comboio para regressar ao centro, e éramos outra vez desconhecidos nos transportes públicos da cidade.

***

Isto não é bem uma queixa, é só um apontamento.
Não é hoje que vou falar da minha amiga francesa que diz que os alemães são psycho-rigides.

***

Quando chegámos, o nosso bloco já parecia todo ocupado. Descobrimos que havia um lugar vazio junto a um grande grupo, e com a ajuda da nossa garrafinha de vinho do Douro conseguimos que eles se apertassem um pouco para cabermos os dois. Simpáticos, quando se nos acabou o Douro ofereceram-nos Zinfandel da Califórnia. Um deles disse "daqui a um mês estarei em San Francisco", e eu "nós também, tem graça". Combinámos logo ali que partilharemos o farnel no domingo em Stern Grove, e talvez depois também a nossa fogueira na praia. O Joachim usou o seu brinquedo novo para informar que será o concerto do Sergent Garcia, uma mistura de hip-hop, reggae e salsa, e "olha que giro o poster do festival, vamos comprar" "vamos!" (e só agora me dei conta que vamos dar uma volta enorme pelo Southwest e vamos à pesca de sapateiras nas baías de Oregon, sempre com um poster debaixo do braço, vai ficar num lindo estado, vai), e "ena! a Joan Baez vai cantar no dia 12, que pena ainda não estarmos lá!"

Como dizia: combinámos com um desconhecido que nos encontraremos daqui a quatro semanas do outro lado do mundo, e se ele aparecer espero que nos encontre, porque não sei o que será dele sem nós: o ambiente em Stern Grove é muito engraçado, mas não é caloroso como na Waldbühne. Arrisca-se a ficar sem jeito, comendo sozinho o seu farnel no meio daquela multidão bem-disposta.

***

O que eu não dava pelo concerto da Joan Baez no dia 12 de Julho em San Francisco. Imagino o Stern Grove cheio de velhotes do tempo do flower power na Haight/Ashbury, imagino-os a cantar "we shall overcome" com ela, e todas as outras canções que os fizeram.

23 junho 2009

Waldbühne

Para o Concerto da Filarmónica de Berlim na Waldbühne, em finais de Junho, é preciso levar:
- farnel (é que uma pessoa sente-se mal se não tiver para oferecer aos outros, naquele imenso piquenique partilhado)
- cobertores
- sapatos quentes
- impermeáveis e sacos grandes de plástico, porque o mais certo é serem precisos
- bilhetes para o concerto (com os quais também se podem fazer as viagens nos transportes públicos)
- binóculos (facultativo)

O concerto começa depois das oito, mas entra-se já às seis para arranjar um bom lugar, comer e meter conversa com os que estão ao lado. O ambiente é formidável. A música, excepcional como de costume. Com esta variante: acompanhada pelo vento nas folhas das árvores, pelo chilrear dos pássaros ao anoitecer.

No domingo passado, começou a chover no intervalo e só parou quase no fim. Desconfio que alguém lá no andar de cima não gosta muito de Stravinsky...

Na primeira parte: Tchaykowski e Rachmaninow. Aqui têm o final do concerto nº 3 para piano, de Rachmaninow, com o pianista Yefim Bronfman.
No youtube encontram os 3 filmes que antecedem esta parte - mas o que eu queria mostrar era a luz que se vê nos primeiros segundos, e o céu que anuncia tempestade.



Mal acabou o concerto para piano, o céu desabou. O anfiteatro encheu-se de guarda-chuvas coloridos, poucos arredaram pé. Stravinsky sob chuva copiosa. Aplausos menos sonoros que para o Rachmaninow, porque toda a gente tinha as mãos presas em sacos plásticos ou guarda-chuvas. Sir Simon Rattle: "desculpem, devíamos ter preparado I'm singing in the rain para o número extraprograma, mas só temos o pas-de-deux do Baile dos Cisnes". Tréguas da chuva, o público a sacar de velas mágicas. No fim, o já tradicional Berliner Luft. A música de muito menor qualidade que o ambiente. E o brincalhão do maestro a abandonar a linha da frente para ir tocar pratos.

No próximo ano volto - nem que chova!


20 junho 2009

h.

Falamos dos heterossexuais e dos homossexuais como se o mundo fosse feito a preto e branco.
Não é.
Entre os dois extremos, simplificações teóricas, há uma infinita combinação de tons e realidades.


Há os que são mais para um lado, os que são mais para o outro, os que estão entre os dois, os que convivem pacificamente com o que descobrem de diverso em si, e os que, de tanto o temer, renegam.

Mas é só na combinação de todos os tons, e no pleno respeito pela dignidade da cada um, que se inscreve o rosto humano: h.


(peça do artista Daniel Rozin, encontrada aqui)

e por falar em diversidade sexual...

Quem quiser assinar a petição do Movimento pela igualdade no acesso ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, pode fazê-lo aqui:

http://www.petitiononline.com/mpi/petition.html

Eles explicam claramente ao que vão.

Em vez de fazer cut & paste para aqui, prefiro contar sobre um testemunho que me tocou muito quando o li, há anos, naquela fase em que se discutiu pela primeira vez nos blogues portugueses a questão da homossexualidade e da igualdade.
Era de um católico, que falava sobre os problemas que tinha tido entre a sua consciência e a sua afectividade: quando se deu conta que sentia um profundo e puro amor (sim, parece piegas, mas deixem lá - toda a gente tem direito) por outro homem, tentou por todos os meios negar a si próprio esse sentimento, porque a sua religião lhe dizia que aquilo estava errado. Ao fim de algum tempo deu-se conta que essa era a maneira de amar que Deus lhe dera - esse amor que ele estava a tentar recusar.

Uma pessoa lê a descrição desse percurso feito de tanto sofrimento e enche-se de vergonha por esse amor poder ser alvo de crítica, por haver quem diga que vale menos que um amor heterossexual.

diversidade sexual

Os brasileiros é que sabem: em vez de falarem da homossexualidade, falam da diversidade sexual. Em vez de identificarem um grupo para bater, falam de um fenómeno que nos abrange a todos.

(Enfim, às tantas não são só os brasileiros, mas é em sites do Brasil que encontro esta expressão com mais frequência)

Gosto desta maneira de olhar para a questão, o que evita que o debate se centre na divisão entre os sujeitos, um "nós" e um "outros".

A partir daí, a discussão ganha contornos novos e horizontes mais largos.

Imaginemos: a questão não é como é que os Media, o Direito, a Igreja, o Governo e o FCP - acho que referi os esteios mais importantes da sociedade - se posicionam perante os homossexuais, mas como se posicionam perante o fenómeno da diversidade sexual. Ahem, deixe-me repensar, como disse?... a diversidade sexual?... ahem...

19 junho 2009

enquanto isso, no Irão:


Obama girl segue o exemplo do mestre:

Hoje matei uma mosca.

***

Ao ver o filme que vai entrar para os anais da História Universal, pensei: "ena, ena, parece o Mata-Sete!"
Cada um é como é, e eu sou muito Bruno Bettelheim. Mas podia ser outra coisa qualquer, claro, e nem precisava de sair da letra B.
Budista, por exemplo.
E é assim que está bem. O Obama mata uma mosca, o mundo ri, os budistas protestam, as pessoas pensam um bocadinho, e eu concluo que talvez fosse boa ideia reduzir o meu estilo de vida para Mata-Seis.

***

Há tempos quase ia comprando uma colecção de CDs com discursos que ficaram na história alemã. A dona da livraria, uma potente bávara vestida de flower-power, comentou: "Dantes, faziam-se discursos formidáveis. Aquela retórica, aquela liberdade de expressão, os improvisos perante o público! Hoje, os discursos são passados a pente fino por uma comissão encarregada de filtrar tudo o que possa ser ofensivo, passível de má interpretação ou politicamente incorrecto. O que sobra são discursos insípidos, incapazes de arrebatar! Uma tristeza."

***

No princípio da semana matei a minha primeira mosca deste ano. Esta é a altura em que elas entram nas casas, enormes, carregadas de ovos, trôpegas. Odeio ouvi-las, enquanto procuram um lugar para deixar a criação.
De modo que fui atrás daquela, de mata-moscas em riste. Vi-a, atirei o gás. Mas ela voou para a frente. Corri atrás dela - pelo meio da nuvem de gás tóxico que eu própria tinha criado...
Ainda me falta muito para chegar aos calcanhares do mestre.

18 junho 2009

da série: diálogos inesquecíveis

A mãe, furiosa, põe a sua voz mais ameaçadora para perguntar à filha de seis anos: "queres que te dê um castigo?"
A filha põe a sua voz mais pateta para responder: "não, não é preciso - mas obrigada por perguntares. "

deleite



A série "Fábricas de Seda" do André Bonirre na Natureza do Mal.
Não sei porque não lhe mudam o nome para A Natureza do Belo, ou O Belo da Natureza, ou...

(a foto pertence a essa série, e é só uma amostra da beleza que por lá vai)

(se não conheciam, e gostaram, espreitem também as séries da tristeza: "Fábricas de Vazio" e "Inspectores gerais")

17 junho 2009

já me ri aqui

O post de hoje da série "já fui feliz aqui", do Luís Novaes Tito, já me fez rir a bom rir.

Pode-se fazer melhor?

Parece que sim. Fui ao youtube procurar "Manuela Moura Guedes Vasco Pulido Valente" e dei com um vídeo onde o original é muito melhor que a cópia, e é sublinhado por gargalhadas dos espectadores.
Era mesmo o que faltava inventar: o noticiário da tvi, o autêntico, promovido a sitcom!

isto já não UE o que era

No Womenage a Trois informa-se que "Lituânia aprovou lei que proíbe divulgação da homossexualidade" (aqui a notícia do Público)
e pergunta-se: "e a UE, não tem nada a dizer?"

UE?
Quais UE?
Aquela onde houve há pouco eleições e mais de metade dos eleitores não foi votar, enquanto que os outros acabaram a eleger em cada 6 deputados um que, no mínimo, é antieuropeísta, e com azar até xenófobo e homofóbico?
(Quantos dos deputados recentemente eleitos estarão realmente chocados com esta lei?)

Aquela cujo Tratado foi chumbado por um país que não quer que a Europa se intrometa na sua moral, nomeadamente no que diz respeito ao aborto ou aos homossexuais?
Um Tratado que já anteriormente fora obrigado a recuar na questão da identidade sexual para poder ser aprovado por alguns países mais conservadores?

Já não UE o que era para ser.

só para a Rita e a Snowgaze, que estão a pedir




(será que já chegou a Portugal a moda da terapia da urina?
No amazon.de, procurando por "urintherapie", chega-se a livros com nomes fantásticos: "urina - cure-se a si próprio", "Urina, seiva de vida. A força terapêutica", "Urina, água da vida" - vocês desculpem-me, mas não procurei até encontrar um livro de receitas...)

16 junho 2009

Irão

Neste momento, algumas centenas de iranianos estão a desfilar na avenida ao pé da minha casa.
No regresso do supermercado passei pelo meio do grupo que se estava a juntar.
Pareciam portugueses. Muitos tinham os olhos cheios de lágrimas.

14 junho 2009

o intermitente voltou outra vez

Olá, Lutz!
Então, por aqui? Que tal vai a vida?
Nós? Bem, obrigada.
É um prazer reencontrar-te - volta sempre!

Para assinalar o momento, remato com um friso de alegria:

:-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-)

da novidade que os filhos trazem à nossa vida

O Joachim levantou-se hoje de madrugada (enfim, às 9) para ir com os filhos
à final do torneio internacional "Berlin Open 2009" de um desporto que nem sequer conhecia.
Lacrosse.

(tivesse lido As Gémeas no Colégio de Santa Clara, ou então O Colégio das Quatro Torres, e já sabia)
(a Christina pratica esse desporto, e gosta imenso)
(eu não gosto tanto quando ela começa a explicar dentro de casa como é que se recebe a lança a bola)

12 junho 2009

home

Ainda não vi, mas já que anda toda a gente a falar deste filme, aqui vai o dito:

http://www.youtube.com/watch?v=jqxENMKaeCU

e aqui, com legendas:

http://www.youtube.com/homeprojectde

11 junho 2009

a outra votação para o Parlamento Europeu

(também no Eleições 2009)

Na escola do meu filho pediram aos alunos que votassem para o PE. Transcrevo aqui os resultados.
População: alunos dos 10 aos 20 anos; nível de ensino relativamente elitário; a escola fica num dos bairros mais caros de Berlim (Charlottenburg, Westend)

Os partidos são, obviamente, os alemães.

Participação: 71,3%
Votos nulos: 6,9% (sendo que em 4,8% dos votos nulos aparecia escrito “NPD”, um partido de extrema-direita que não constava do boletim de voto)

Verdes: 30,3%
SPD (equivalente ao PS): 18,3%
CDU (o partido da Angela Merkel): 13,4%
Partido protector dos animais: 10,1%
FDP (liberais): 7,9%
Die Linke (PC e outros): 4,8%
REP - die Republikaner (extrema-direita): 3,1%
Partido das famílias: 2,7%
Partido das mulheres: 2,5%

Pondo de parte o que parece ser brincadeira de adolescentes, este material dá que pensar.
(Se fosse possível, comprava agora acções dos Verdes…)

"uma outra escola é possível"

Recebi hoje um convite de um instituto de São Paulo (sim, no Brasil) para uma palestra dedicada ao tema "uma outra escola é possível".

Como nesse dia não posso ir (hehehe) repasso, a quem interessar possa:

19 de junho
sexta-feira 19h30 a 21h30h

"UMA OUTRA ESCOLA É POSSÍVEL"

Diálogo com educador da Escócia

com Professor Terry Wrigley

Palas Athena tem o prazer de convidá-lo para um encontro com o Professor Terry Wrigley, da Faculdade de Educação da Universidade de Edimburgo. Sua visita ao Brasil está sendo organizada pelo CECIP - Centro de Criação de Imagem Popular (www.cecip.org.br).

O encontro, aberto a toda a comunidade, resultará em produtiva troca de experiências entre educadores interessados em construir escolas dialógicas, inclusivas, democráticas.

Terry é autor dos livros Schools of Hope (Escolas da esperança) e Another School is Possible (Uma outra escola é possível). Também estudante adiantado da Língua Portuguesa, Terry trará imagens em fotos e vídeos do seu trabalho junto às escolas britânicas que atendem a filhos de imigrantes – em geral subestimados e discriminados de várias formas.

Em seu livro Another School is Possible, Terry diz que o modelo econômico vigente tem um problema com a educação. "Precisa de trabalhadores que sejam espertos o suficiente para dar lucro, mas não inteligentes a ponto de compreender o que se passa no mundo.” O educador escocês afirma, em relação às escolas do Reino Unido: "Nossas crianças estão sendo avaliadas de forma destrutiva. Nossas escolas são orientadas para a competição e estão sujeitas a crescente privatização. Não precisa ser assim. Podemos aprender com escolas que, em todo o mundo, conseguem organizar -se para oferecer um ensino que faz sentido. Pensamento e aprendizado engajado e crítico deveriam ser a base para a democracia do século XXI".

Terry Wrigley traz uma contribuição substantiva para a transformação radical do ensino que, ao tornar-se mais democrático, será mais atraente para educadores, estudantes, famílias e para todos os inspirados pela idéia de que uma outra educação é possível.


ENTRADA FRANCA

19 de junho de 2009 • sexta-feira • das 19h30 às 21h30
Associação Palas Athena

Rua Leôncio de Carvalho, 99 – São Paulo / SP – Próximo à estação Brigadeiro do Metrô
Informações: Palas Athena (11) 3266-6188
Inscrições pelo site www.palasathena.org.br ou na sede da Palas Athena


10 junho 2009

heróis do mar

(post publicado também no Eleições 2009)

No sábado passado li um comentário onde alguém explicava que se abstinha de votar porque não concorda com nenhum dos políticos e dos partidos. Terminava assim: “Amanhã vou exercer o meu direito de cidadão com um passeio na praia”.

Reescreva-se o hino nacional:

Heróis da praia
bronze povo
nação doente
e mortal

Há meio século, após a SED (partido comunista da RDA) ter reprimido violentamente uma manifestação contestatária, Bertold Brecht perguntava, num poema de sarcasmo e frustração:

“Não seria mais fácil,
Neste caso, para o governo
Dissolver o povo
E eleger outro?”

Ora aí está uma óptima ideia! (pobre Brecht, que vai agora dar uma cambalhota no túmulo devido ao modo como altero o sentido das suas palavras - mas é para que veja o que os políticos portugueses sofrem…)
Seria muito positivo que todos os que evitaram as mesas de voto em sinal de protesto se perguntassem se basta punir o governo e os políticos, ou se é também preciso mudar o próprio povo. É que Portugal não se debate apenas com um problema de maus políticos e má política. As raízes da crise são muito mais fundas e estão patentes neste disparatado apelo à abstenção, e até ao voto em branco e ao voto nulo, como se o país estivesse dividido entre “eles” e “nós” - os políticos de um lado, o povo do outro. Como se a gestão dos interesses de cada grupo alguma vez tivesse estacado perante os custos que daí advêm para o país; como se cada uma das pessoas que constitui o nosso povo fosse um modelo de virtudes, e os políticos fossem o absoluto contrário disso; como se a corrupção não grassasse por toda a sociedade (a empregada de limpeza sem Segurança Social; os pagamentos sem factura; os esquemas para passar à frente dos outros na lista de espera dos hospitais; e isto: experimente alguém fazer questão de apor à escritura de partilhas o valor real das coisas, e já vai ver o que é que família lhe diz). Em suma: como se “políticos” e “povo” fossem dois grupos completamente antagónicos e separados de modo estanque.

Permitam-me contar aqui a primeira aula de “Política Económica e Monetária” a que assisti, dada pelo professor Daniel Bessa, há um quarto de século: o professor desenhou uma pirâmide, com o governo no vértice superior, as empresas (sector financeiro e industrial, serviços, etc.) no meio, a população na base, e acrescentou setas para explicar as relações: o governo que decide sobre os agentes e a economia, os sectores entre si, a população sobre a qual recai o resultado destas interacções. Nós, os alunos, íamos anotando e percebíamos tudo, que uma das coisas em que o Daniel Bessa é excelente é a explicar de modo simples aquilo que é complexo. A poucos minutos do fim da hora ele parou, olhou para nós, e disse algo do género: uma aula é um exercício de manipulação por excelência, e vocês caíram todos como uns patinhos. Então nunca ouviram dizer que “o Estado é a nação politicamente organizada”?! - e, com o pau de giz deitado, desenhou na pirâmide setas grossíssimas que iam da base para o seu topo.

É por aí. E não apenas a questão das relações entre os vários agentes, indivíduos e grupos, mas também a massa de que são feitos. Será que cada país tem apenas os políticos que merece?

Sepp Herberger (treinador de futebol e autor de máximas famosas) disse uma vez: “depois do jogo é antes do jogo”.
Ao exército de descontentes que votou nulo, em branco, ou nem sequer votou, e aos que votaram em algum partido apesar de não acreditarem nele, faço um apelo: entrem num partido para o melhorarem a partir do interior, criem um novo, iniciem ou participem uma ONG, organizem petições, debates públicos no vosso bairro - façam alguma coisa! Porque: “hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”.

A ver se a mensagem do hino da Selecção Nacional de Futebol chega também aos espectadores na bancada:

Heróis do mar
nobre povo
nação valente
imortal
levantai hoje de novo
o esplendor de Portugal!

o meu país inventado



Mais algumas achegas para a ficção "Portugal" e "portugueses": o meu país inventado por portugueses residentes na Califórnia.
Uma comunidade que descomplexadamente celebra o seu dia com brasileiros e americanos, com "Food from Portugal, Azores, Madeira, Macau and Brazil", com bandas filarmónicas e João Domingos Bomtempo, com um torneio de golfe, com missas para celebrar a cultura e os valores portugueses.
Um país em parte parecido com o meu - este que eu invento na Alemanha -, em parte desconhecido.

Confesso que me emocionei um pouco ao ver este programa. Como o sobressalto de alguma coisa muito funda que me une a esses que do outro lado do mundo comemoram o nosso dia.

(E agora me dou conta que do Consulado em Berlim, onde estou inscrita, não recebi qualquer notícia de comemorações e festejos.)


Dia de Portugal Classical Portuguese Concert

Sunday, May 31, 2009
At Five Wounds Portuguese National Church, at 2:30 p.m. The Mission Chamber Orchestra from San Jose, will play the Requiem of Camões, written by the Portuguese composer João Domingos Bomtempo, for the first time in the USA. The Deo Gloria Choir, composed of about fifty singers, will join the orchestra, so there will be one hundred people performing simultaneously.

2nd Annual Dia de Portugal Cultural Dinner

Friday, June 5th, 2009
At The Tulare Historical Museum - Heritage Room at 6:00 p.m. Dinner will be served at 7:00 p.m. followed by dancing with the music of Lino & Nelson.
Contact d.borges@comcast.net

Dia De Portugal Festival - Sausalito

Saturday, June 6th, 2009
At The I.D.E.S.S.T. Hall, (511 Caledonia Street Sausalito, California) at noon. The event will feature Portuguese-American artists, Portuguese food, cheese, wine, baked goods, pastries, and Portuguese music, dance and vocal groups primarily from the North Bay.
Contact vmorais@comcast.net

Dia de Portugal Lucheon

Sunday, June 7, 2009
At the Newark-Fremont Hilton Hotel at 12:30 p.m.

Portuguese Flag Raising - Tulare

Wednesday, June 10, 2009
The Portuguese Flag raising will take place at the City Hall in Tulare.
Contact d.borges@comcast.net

Annual Day of Portugal Golf Tournament

Thursday, June 11, 2009
At Stevinson Ranch, Tulare at noon. the Portuguese Education Foundation of Central California, is proud to announce the 6th Annual Day of Portugal Open Golf Tournament. The golf tournament organized by the Foundation, works in conjunction with many other events held throughout the Central valley to benefit and support higher education for students of Central California.
Contact: paulsoares@sbcglobal.net

Comedy Night - Portuguese Americana Style!

Friday, June 12, 2009
At Grupo De Carnaval Cultural, 1612 Alum Rock Ave in San Jose, CA 95116, Out of the Gutter Comdey troupe will perform from 8:30 p.m. to 11:00 p.m.

Dia de Portugal Festival - San Jose

Saturday, June 13, 2009
At History Park San Jose (Kelley Park), 1650 Senter Road, from 10:00 a.m. to 7:30 p.m. There will be a Parade at noon, Philharmonic Bands, Portuguese Folklore, Brazilian Dancing, Food from Portugal, Azores, Madeira, Macau and Brazil, Children's Carnival, Portuguese Artists' Exhibition, Portuguese Book Faire and Portuguese Cooking Demonstrations. It will be a full day of fun and entertainment for all ages.

Mass in honor of the worldwide celebration of Portuguese Culture and Values

Mass in honor of the worldwide celebration of Portuguese Culture and Values at:
Our Lady of the Assumption Church, Turlock
Saint Aloysius Church, Tulare
Saint Elizabeth Church, Sacramento
Five Wonds Church, San Jose
Contact your church for more information

Submit information about Dia de Portugal events in your community!

http://www.diadeportugalca.org/portuguese_week/portuguese_week.html

leituras recomendadas

- Eduardo Pitta: Sinais muito preocupantes

- João Pinto e Castro: Abster-se é tão mau como estacionar em segunda fila

- Daniel Oliveira: A culpa é nossa

ADENDA IMPORTANTE: este post da Rita Dantas onde ela fala sobre a arrogância dos que criticam os abstencionistas e explica porque é que isto é muito mais do que parece. (Aprende, Heleninha.)

09 junho 2009

e eu outra vez a repetir-me...

Mas tem de ser: vão outra vez ao Segunda Língua, desta vez para ver

the internet mapping project

Lindo!

(podem aproveitar e ler os outros posts todos, que aquele blog é muito trigo sem joio)

08 junho 2009

minorias

Ontem fui votar.
Agradeço a todos os que não foram, porque ofereceram um peso especial àquela minha cruzinha. Até me senti importante e tudo. Umas duas vírgula cinco vezes mais importante.

A mesa de voto era aqui ao pé de casa. Num centro de terceira idade - muito simbólico, a gente ia votar e lembrava-se logo que é uma questão para o nosso futuro.

Como partilho a esquina (salvo seja) com o ministro-presidente de Berlim, imaginei que o encontraria lá.
O simpático rapaz à mesa da entrada leu o meu nome completo sem solavancos nem hesitações. É brasileiro?, perguntei surpreendida. Sou alemão, brasileiro e português - o meu pai é português, foi a resposta.
Ah, que giro e tal.
Foi aí que apareceram os meus vizinhos do segundo andar, muito afáveis e sorridentes.
- Ah, também estão aqui? Eu bem sabia que havia de encontrar alguém conhecido - mas de facto pensei mais no Wowereit...
- Esse já cá esteve, atalhou o da tripla nacionalidade.
- E sabia em quem votar, você perguntou-lhe?
- Parece-me que sabia, sim, foi muito sem hesitações, muito rápido.

Rimos todos, votei, entreguei o voto, agradeceram-me por ter votado, ora essa, eu é que agradeço o serviço que nos estão a prestar.


Era só para dizer que gostei muito do ambiente naquela salinha das minorias.

na primeira pessoa

Quando tinha sete anos, a Christina participou numa acção de formação e treino para melhorar o ambiente na escola. Uma das sugestões feitas era discutir os problemas usando frases começadas na primeira pessoa do singular.
Ou seja: em vez de partir logo para o ataque e a acusação, começar as frases por "eu".

Uns tempos depois, a Christina contava-me, toda orgulhosa:
- Hoje tive uma discussão com a Clea, e fui capaz de usar frases começadas por "eu"!
- Então o que é que lhe disseste?
- Disse-lhe assim: eu acho que tu és uma parva.

07 junho 2009

les uns et les autres

Em comentário ao post "Proposta para acabar com a abstenção" no Eleições 2009, Tiago Azevedo Fernandes lembra que já sugeriu algo semelhante num artigo no Jornal de Notícias.

Transcrevo para aqui a minha resposta, para esclarecer alguns aspectos fundamentais:

Tiago,
parece-me que não estamos a sugerir exactamente a mesma coisa.
A sua proposta castiga os políticos (”eles”, que perdem alguns tachos); a minha, castiga o país (”nós”, que perdemos representantes no PE).
O Tiago traça um quadro em que os políticos têm de seduzir o povo: “aposto que com esta nova regra os próximos tratados seriam milagrosamente fáceis de entender, as leis mais bem preparadas, a prestação de contas bem cuidada.”
Tudo isso é importante, mas não basta.
Não basta que os políticos trabalhem com seriedade. É fundamental que o povo exija muito mais de si próprio, e não apenas dos políticos. Que analise e debata com seriedade, que não se deixe manipular por demagogias, que castigue o jornalismo de sarjeta.
Uma maneira de avançar nesta direcção é meter realmente todos no mesmo barco: se os políticos e o povo não “funcionarem” correctamente, o país perde lugares no PE; no caso das legislativas, faça-se o mesmo por distritos - não são apenas os deputados que perdem “tachos”, mas um distrito concreto que perde representantes.

Dois apontamentos ainda:

- o voto em branco e a abstenção são um excelente convite à “mão de Deus” para discretamente pôr uma cruzinha num partido qualquer durante a contagem dos votos. Que eu não acredito em bruxas, pois claro que não, mas…
(já contei a história daquela pessoa que foi votar mesmo antes do encerramento da mesa, e não pôde, porque nesse dia já tinha votado?)

- poderia evitar-se essa ilegalidade criando um partido chamado “nenhum me serve”, que serviria para eleger as cadeiras vazias no plenário. Está a imaginar a cena? Dezenas de cadeiras vazias, e as dos partidos radicais e populistas todas ocupadas.

Demasiado preguiçosos para o futuro?

E mais uma tradução, publicada também lá no outro sítio:

Tradução de um comentário publicado hoje no Tagesspiegel, um diário berlinense (aqui, em alemão):

Domingo é dia de eleições
Demasiado preguiçosos para o futuro?

Naturalmente, nem todos os que no Domingo não votarem são opositores da Europa. Muitas pessoas não entendem, simplesmente, o sentido e o objectivo das eleições europeias. Há boas razões para haver um Parlamento Europeu. Mas, quanto mais jovens os eleitores são, mais frequentemente ripostam: “sim, e depois?”


6.6.2009
por Albrecht Meier

Não, nesta campanha eleitoral não se viu um “professor de Heidelberg”. Ninguém confundiu líquido com bruto. Alguém criou um slogan que ficou na memória de toda a gente? Algo como “yes, we can” ou “nós somos capazes”? Infelizmente, é verdade: tudo o que torna uma campanha eleitoral empolgante e engraçada, um tema de conversa, que no fim talvez desemboque numa visão arrebatadora - tudo isso faltou nesta campanha eleitoral europeia.

No caso concreto da Alemanha, foi oferecida aos eleitores uma campanha de segunda classe. O que não é novo neste tipo de eleições - afinal de contas, é normal na Europa: na consciência das pessoas, a UE é algo que reside entre a proibição do uso de lâmpadas incandescentes, o entendimento entre os povos e a concorrência do mercado comum livre. Tudo isto, e muito mais, faz da União Europeia algo difícil de combinar com a luta político-partidária de que vivem as campanhas eleitorais. No entanto, esta campanha pálida também é um sintoma de crise - expressão da incapacidade dos partidos para entusiasmarem eleitores jovens com a ideia da Europa.

Naturalmente, nem todos os que no Domingo não votarem são opositores da Europa. Inquéritos revelam que a União Europeia, na sua generalidade, não tem qualquer problema de aceitação. Mas muitas pessoas não entendem, pura e simplesmente, o sentido e o objectivo das eleições europeias. Que a Comissão Europeia em Bruxelas (”os burocratas”) precisa de ser controlada; que os quadros nacionais são demasiado estreitos para lutar contra problemas globais, tais como a alteração climática; que esta cooperação entre representantes de 27 países tem algo de prodigioso e é um facto invejado no resto do mundo - tudo isto são bons motivos para a existência do Parlamento Europeu. Mas, quanto mais jovens os eleitores são, mais frequentemente ripostam: “sim, e depois?”

A acreditar nos estudos de opinião, o interesse pelas eleições europeias é também uma questão geracional. Para a “geração da Paz”, que contactou directamente com a Europa do pós-guerra, a participação nestas eleições é muito mais do que o mero cumprimento de um dever dos cidadãos. As pessoas desta geração que forem votar no Domingo sabem que a reconciliação da Europa está longe de ser algo natural. O mesmo se passa com a “geração do bem-estar”, que cresceu nos anos sessenta, na vaga dos baby-boomers. Em contrapartida, para a “geração Europa - sim, e depois?” as vantagens da União Europeia, tais como viajar sem controlo do passaporte, não passam de algo absolutamente normal. Aparentemente, há uma enorme dificuldade em fazer passar para esta geração a mensagem de que a Comissão em Bruxelas e os chefes de Estado e de Governo não podem responder sozinhos às questões sobre se e como é que a União Europeia deve crescer e consolidar-se.

Com certeza que o Parlamento Europeu também tem uma parte da responsabilidade. O Parlamento em Estrasburgo, que nestas eleições tem 736 lugares para distribuir, deve ser reduzido. E, no futuro, tem de se concentrar ainda mais nos temas para os quais tem realmente um mandato. Se o Parlamento passasse a emitir menos resoluções de política externa, que de qualquer modo ninguém lê, já teríamos uma evolução positiva.

Contudo, o sucesso nesta tarefa de orientar realmente as actividades de Bruxelas não depende apenas dos deputados europeus. Precisam do apoio dos partidos. E da cobertura do eleitorado.

06 junho 2009

proposta para acabar com a abstenção

(post também publicado pelo meu alter ego aqui)

Isto de tirar um dia para reflexão é um perigo: enquanto reflectia numas coisas e noutras (para mais, já sei há semanas em quem vou votar) ocorreu-me uma solução para tornar o Parlamento Europeu algo importante para todos os eleitores, melhorar o nível do debate e da campanha eleitoral, aumentar a exigência em relação a candidatos e a eleitores, e reduzir drasticamente a abstenção.

Bastava introduzir esta regra: o número de deputados que cada país pode eleger para o PE é um limite máximo. O número de efectivamente eleitos depende da percentagem de votos.

Imaginemos que um país pode eleger 24 deputados. Se houver uma taxa de abstenção de 50%, só elege 12. Se, desses votos, 50% forem nulos ou brancos, só elege 6 deputados.

Esta opção tinha uma série de vantagens:

- os eleitores percebiam que a abstenção tem custos altos para o seu país e dá uma vantagem comparada aos países dos outros;

- seria muito mais difícil conduzir jogos de demagogia e de irresponsabilidade, dado que os eleitores se sentiriam impelidos a escolher realmente alguém, em vez de usarem o voto para exprimir desagrado ou indiferença;

- os cadernos eleitorais seriam objecto de uma limpeza a sério (li ontem no Le Monde que muitos mortos portugueses contam como abstenção; e já aqui afirmei que vou votar no sistema alemão, contando como uma abstenção na minha Junta de Freguesia em Portugal);

- o sistema eleitoral português teria todo o interesse em simplificar a vida aos eleitores (e estou em crer que até pensaria nos emigrantes!). À semelhança do que acontece noutros países, permitiria o voto por correspondência, e talvez fosse ao ponto de inventar uma forma segura de voto electrónico.

a Abrunho, quando quer, excede-se em qualidade

Volta e meia passa uns tempos muito calada, e depois aparece

...a transformar uma cadeia pateta numa fabulosa recriação da infância, onde nem falta o castigo bíblico para aqueles que a falharam

...a falar assim sobre as eleições de amanhã e outras coisitas do género

E nós, mirones, a ver e a saborear!

“O Ocidente Cristão é dos cristãos”

E mais um post no Eleições 2009:


Antes de mais, gostaria de lembrar que no Domingo se vão eleger as pessoas que vão conduzir os destinos da Europa (e nossos, portanto) nos próximos anos. Tendo isto em conta, até é ridículo andarem a fazer contas de cabeça sobre as bofetadas que querem dar a este ou àquele político nacional. Para esse efeito, seria mais lógico usarem as legislativas.

Quando este artigo foi publicado pelo semanário “Die Zeit”, há pouco mais de um mês, achei-o interessante, mas não o suficiente para traduzir e publicar aqui.
Hoje, depois do resultado das eleições na Holanda, cheguei à conclusão que me enganei redondamente, e que é fundamental falarmos sobre isto. Por isso fiz (apressadamente) a tradução que se segue.


Eleições para o Parlamento Europeu

“O Ocidente Cristão é dos cristãos”

de Werner A. Perger © ZEIT ONLINE 30.4.2009 - 13:20

(…)
Apenas 21% dos austríacos (…) tencionam participar nas eleições para o PE a 7 de Junho. O resultado desta sondagem realizada no princípio de Abril foi alvo das atenções, em especial por parte dos partidos - já não tão importantes mas ainda assim maioritários - que ocupam o centro do espectro político. E isto não apenas na Áustria. A falta de interesse pela Europa em geral, e em especial pela sua política, atinge tanto os partidos tradicionais de Viena como os de outras capitais europeias. Aparentemente, os partidos não se dão conta do modo como eles próprios contribuíram para este desenvolvimento fatal. A sua sede de poder, o distanciamento dos cidadãos, e sobretudo o modo decidido como, ao arrepio de todos os desafios, defendem a sua mentalidade de self-service e privilégios, foram e são a base a partir da qual surgiram esses provocadores populistas que hoje, de eleição em eleição, e em quase todos os Estados europeus, os deixam cada vez mais assustados.

Na Áustria, são os dois partidos de direita (…) que nestas eleições conseguirão lucrar mais com a frustração dos eleitores afastados. Os cansados da política e os decepcionados ficam em casa, os irados vão às urnas. Esta é a mistura que dá origem a resultados eleitorais dramáticos.

Conversas em Viena, marcadas por resignação ou défaitisme, na melhor das hipóteses ironia ou sarcasmo: o centro político, como se ouve frequentemente, vai continuar a esboroar-se; a Direita - os herdeiros desavindos de Jörg Haider - continuaria a crescer de forma inalterada. De qualquer modo, os partidos democráticos do centro (…) não mereceriam mais que isso. De facto, e deixando de parte todos os erros e omissões que se permitiram na política, nem os democrata-cristãos nem os social-democratas souberam deixar transparecer que estão realmente interessados no projecto europeu. O fascínio pela Europa não é algo que se note nestes partidos.

Nos partidos da extrema-direita também não. Mas, neste caso, com grande eficácia. A campanha eleitoral dos populistas de direita em torno do chefe do FPÖ, Heinz-Christian (”H-C”) Strache, é uma macabra mistura de sucesso ao estilo dos supermercados baratos: primitiva, rude, de fácil recepção, louvada na lírica política das conversas de café. Alguns exemplos: “Verdadeiros representantes do povo em vez de traidores europeus”, “Para a Áustria, e não para a UE e a máfia financeira”, “Preocupações sociais x UE das multinacionais”, “o Ocidente Cristão é dos cristãos”. E ainda o slogan para o 7 de Junho: “dia do ajuste de contas”. Percebe-se porque é que “o H-C”, herói de eleitores jovens e do sexo masculino, se tornou para muitos conservadores austríacos a promessa de uma Europa berlusconizada, enquanto que para os democratas estabelecidos e exaustos se tornou um pesadelo.
O problema não é apenas dos austríacos. Na verdade, o contraprojecto populismo já ultrapassou a fase de teste na região da Áustria. Quase todos os países se tornaram entretanto objecto desta experiência de populismo. Por enquanto, os alemães foram atingidos em menor grau; no extremo oposto encontram-se os países do Leste europeu. Em Berlim, políticos preocupados falam de um conjunto de Democracias ainda precárias da Europa de Leste - membros da UE - que se preparam para parar a meio do caminho. Tem-se a impressão que agora, vinte anos depois das mudanças políticas mundiais, alguns dos novos membros da UE decidiram repensar a situação. Como se tivessem feito um balanço intermediário do caminho para a Democracia, e estivessem a corrigir a rota segundo o lema: menos é mais! Mais capitalismo de Estado, menos economia social de mercado. Mais direcção de cima para baixo, menos influência de organizações não-governamentais. Mais centralismo, menos direitos dos cidadãos e das regiões. Mais soberania nacional, menos coordenação supra-nacional. Mais Budapeste ou Bucareste, muito menos Bruxelas.

Nas velhas democracias encontram-se vários exemplos - não é preciso olhar sempre para Moscovo e copiar Putin. Democracias ocidentais exemplares têm dado disso prova, em especial na articulação dos agentes de poder e na praxis populista - a Itália à frente, mas também a França, talvez até a Áustria e a Dinamarca. Quanto à questão da segurança interna, ao entendimento autoritário do Estado e a uma arrogância do poder pré-democrática, podemos lembrar-nos da América de Bush e Cheney, mas talvez também - veja-se a acção da Polícia durante o encontro G-20 - do reino dos Labour.

Este cenário de recuo democrático é um dos sinais da crise que nos podem dar uma ideia do que poderia acontecer se as democracias europeias se enfraquecerem. O estratega eleitoral britânico, Philip Gould, que colaborou nas três vitórias eleitorais de Tony Blair, avisou os responsáveis para o risco de cansaço dos eleitores, que se podem manter afastados das eleições caso o projecto democrático não evolua de forma convincente. Aos planos reformadores de Blair chamava “revolução incompleta”. A sua divisa: não negligenciar nada, exigir permanentemente de si próprio e dos eleitores! É preciso manter-se sempre em campo. De outro modo, existe a ameaça de um cansaço geral dos democratas.

Ao efeito ameaçador do cansaço da Democracia, que começa por se manifestar em abstenção eleitoral, deu o nome de “Empty Stadium”. Jogar perante tribunas vazias é, de facto, o fim da actividade democrática. O desporto de massas precisa do seu público fiel, que conhece e respeita as regras, pelo menos na maioria das vezes. Os hooligans não podem pressionar os verdadeiros simpatizantes e actores - nem no campo, nem nas cadeiras da assistência. Caso contrário, o carácter do projecto altera-se.
Este é um ponto fundamental para as eleições para o Parlamento Europeu: que as eleições democráticas continuem a ser uma iniciativa dos democratas.

Pra melhor está bem, está bem - pra pior, já basta assim

(post publicado no Eleições 2009)

Este post do Luís Novaes Tito devia ter sido escrito em holandês.Infelizmente, pelos vistos, ninguém os avisou, e o resultado está à vista: a Holanda colocou no Parlamento Europeu quatro deputados de um partido que pretende expulsar da União a Bulgária e a Roménia, proibir a imigração de muçulmanos, fechar definitivamente as portas à Turquia e reembolsar as contribuições que tem pago à Europa; um partido que não recua perante a possibilidade de capitalizar a xenofobia e a islamofobia em proveito próprio.
Se isto é a Europa…
(aliás: neste retrato, alguém reconhece os holandeses?!)

O Spiegel online fala numa participação de 36,6%. O Público diz que a abstenção andou pelos 40%. Cada vez percebo menos de matemática, mas adiante: ambos informam que a participação dos eleitores foi muito baixa, e que os relativamente poucos holandeses que foram votar deram uma grande vitória a um partido populista de extrema-direita.É isto que interessa discutir: embora todos possam apresentar muitos bons motivos e melhores desculpas ainda para não votar, a falta de participação nestas eleições dará uma força excessiva (e enviesada da realidade) a tendências políticas que acabarão por destruir o que há de melhor nesta nossa Europa.

O aviso dado pela Holanda é muito sério.
Esperemos que sirva para todos os europeístas inertes, aqueles que acham que a UE tem avançado muito bem sem eles e não precisa do voto deles para continuar a avançar, os indiferentes que pensam que as coisas continuarão iguais quer votem quer não, e que isto é uma coisa “lá deles, os de Bruxelas e de Estrasburgo”.
Sirva também para os que pensam que os políticos são todos iguais - não são, alguns são mesmo assustadoramente piores!
Sirva, finalmente, para os que confundem estas eleições com um ajuste de contas com o(s) partido(s) do Governo, com a crise económica e, já agora, com o Weltschmerz.

O exemplo holandês mostra que o que está em risco é o projecto da Europa e que, se não formos votar, as coisas não vão ficar como estão - vão piorar dramaticamente.
No domingo decide-se se a União Europeia vai entrar num processo acentuado de deriva democrática, ou se pelo menos se mantém como está. Quem ficar em casa, está a dar mais poder aos extremistas que irão - ah, esses sem dúvida! - votar.

Sim, eu sei que muitas pessoas dizem que a Europa já está em deriva democrática e que, aliás, sempre esteve.
Mas: se a Europa precisa de mais Democracia, a resposta não pode ser menos Democracia. Não é permitindo, por inércia eleitoral, que o Parlamento Europeu seja infiltrado por anti-europeístas e anti-democratas (deputados que nem sequer respeitam os direitos humanos mais básicos, como o da liberdade religiosa!), que o problema se resolve e o projecto europeu se aperfeiçoa.

05 junho 2009

o holandês voador...

"O Holandês Voador" é a tradução literal do nome da ópera de Wagner que em português se chama "O Navio Fantasma".

Lembrei-me disso, a propósito de dois temas (isto por aqui, em termos de associações de ideias, está cada vez mais complicado, podem crer):

- Este post que acabei de escrever lá no salão - e não percebo porque é que o mundo ainda parece tão descansado perante este resultado eleitoral catastrófico;

- O Obama está hoje em Buchenwald. Vai-se encontrar com sobreviventes e alguns comuns mortais escolhidos a dedo.
Há alguns anos, tive o privilégio de falar com um judeu que foi transferido de Auschwitz para Buchenwald, e que contou como, aos 15 anos de idade, ouviu a abertura do "Navio Fantasma" transmitida (por engano) pelos altifalantes do campo; dizia ele que esse foi o único momento feliz no meio daqueles anos horrorosos.
O Elie Wiesel, outro sobrevivente desse campo, fará as honras da casa, digamos assim. Pergunto-me se mostrará a cave do crematório, tal como Jorge Semprun fez com alguns jornalistas americanos logo a seguir à libertação. Terá palavras para explicar para que serviam os ganchos junto ao tecto? Ou apontará e dirá apenas, tal como Semprun, "aqui" "aqui" "aqui"? Contará a história do menino escondido dentro de uma mala, esse que foi salvo pelos prisioneiros políticos (os que riscaram o nome dele na lista do transporte para Auschwitz, mandando em sua vez uma criança cigana)? E acrescentará que é um horror ser transformado em ícone da vitória de uma luta política, quando o preço foi pago com o sangue dos outros? Falará dos russos que construíram um monumento para lembrar os horrores perpetrados pelos nazis, enquanto voltavam a encher o campo de prisioneiros, que tratavam com a mesma desumanidade?

Será que a visita durará o suficiente para Obama se dar conta da densidade de tragédias que aquele campo simboliza?

Haverá tempo para o informar ainda que o carvalho de Goethe não é o carvalho de Goethe?
E que importância tem isso? Afinal de contas, muito antes de terem construído o campo de concentração, já em Weimar Goethe não era Goethe. Já a Bauhaus (esse movimento "infiltrado por judeus") tinha sido praticamente expulsa, já o partido dos nacional-socialistas tinha obtido, justamente nessa região!, a sua primeira vitória na Alemanha.

Ora aqui está o mais importante para contar - ao Obama e a nós todos nesta sexta-feira a dois dias das eleições (quando a Holanda meteu no PE quatro deputados que querem impedir a entrada de muçulmanos na Europa): que é quando nos afastamos dos princípios mais elevados, quando o nosso voto já não é inspirado por espíritos como os de Schiller e Goethe, quando crises e medos nos desnorteiam e desmotivam, é aí que o futuro começa a derrapar.

Dirão: são apenas quatro deputados, Helena, não te exaltes.
Mas eu lembro-me do que dizia um professor do ensino secundário alemão: que basta um aluno neo-nazi numa sala, e já é praticamente impossível trabalhar com essa turma.
Dirão: mas não são neo-nazis. E são democraticamente eleitos.
Pois é. Foram democraticamente eleitos deputados a quem é preciso ensinar, letra por letra, o significado e o alcance da declaração dos direitos humanos.
Pobre Europa.

04 junho 2009

feios, porcos e maus

É o título de um post que publiquei hoje no Eleições 2009.
Podem bater à vontade - mas é melhor lá que aqui, que lá têm mais público.

***

Adenda - optei por copiar esse post para aqui:


A 3000 km de distância, Portugal é um país estranho.
Os candidatos ao Parlamento Europeu? Pelo que dizem jornais e blogues, não se aproveita um único.
Feios, porcos e maus. Todos eles.

Para deitar abaixo, vale tudo. A ridicularização e o escárnio a partir de factos forçados, a citação fora do contexto, o exagero, o prazer em dissecar momentos menos felizes, o eco dado a mentiras, o exagero e a imprecisão dos títulos nos jornais - vale tudo.
Visto de fora e de longe, a média resultante é assustadoramente negativa.

Será que não se dão conta do poder destrutivo deste tipo de “debate político”?
Será que é resultado de falta de cultura democrática, de ingenuidade, ou de uma espécie de cegueira de clube?
Não vou ao ponto de desconfiar que aqui haverá uma estratégia oculta - mas confesso que não entendo este fenómeno de suicídio de um país.

Por várias vezes já me dei conta na Alemanha de um fenómeno muito interessante: quando há um escândalo, a reacção não é “eles são todos iguais” mas “isto é muito grave e nós não queremos que a nossa sociedade vá por aí”.

Como é que Portugal conseguirá chegar a esta plataforma de confiança e respeito por si próprio?

acerca de árvores

Na nossa primeira casa em Weimar havia um jardim quase parque, cheio de árvores. Umas frondosas, outras magricelas.
O Matthias desaparecia durante horas naquele mundo secreto.
Quando mudámos para outra casa, bem maior, onde ele finalmente podia ter um quarto só para ele, fartou-se de protestar - de que valia o quarto grande, se não podíamos levar as árvores e todas as aventuras só dele e delas?

Por sorte, logo a seguir à mudança descobriu uma árvore antiga, enorme, perfeita para subir e ficar horas esquecidas a ler no regaço dos ramos, embalado pela brisa.

Agora, em Berlim (e não há nenhuma cidade europeia com mais árvores nas ruas!) sente a falta daquela amiga que deixou em Weimar.

É do Matthias este presente para um blogue que gosta de árvores:



E eu aproveito para agradecer aquela explicação tão clara sobre o disparate de castrar as árvores quando chega a Primavera.

03 junho 2009

bingo!

Li hoje no Spiegel Online que a microsoft conseguiu uma máquina de busca capaz de competir com o google.

Chama-se "Bing", e já pode ser testado aqui.
Gostei muito da parte de imagens.
Dizem que entende o nexo entre as palavras, mas isso já não sei: procurei por "onde comprar favas em Berlim (para a Rita)", e não me deu morada nenhuma...

Depois verei se prefiro googlar ou bingar - eu, que já não altavisto há séculos!

A propósito: foi há mais ou menos 12 anos que um mundo completamente se abriu para mim. Pesquisa na internet, acesso directo e rápido a informação que antes disso me custaria dias a encontrar, fenómenos incríveis de entreajuda. Depois veio o wikipedia, as bases de dados para grupos específicos de profissionais, os sites de comparação de preços, a e-bay, os grupos de discussão...
E o goyellow.de que me diz o nome e o número de telefone daquele restaurante ou da loja que fica naquela esquina aimêdês sei perfeitamente onde é mas não sei o nome...
Já nem sequer preciso de ter listas telefónicas em casa - nem faz sentido: o meu mundo é muito maior que a cidade onde habito, a lista telefónica local só cobre uma parcela ínfima das minhas necessidades.
E tudo isso, ou a maior parte disso, de acesso gratuito.
Como era possível trabalhar e viver antes de 1995?...

apontamento

Para o caso de hoje ainda não terem ido ao Segunda Língua: vão.

02 junho 2009

futuro@filarmonica.berlim

A orquestra filarmónica de Berlim tem um projecto de educação, chamado Zukunft@BPhil, que é financiado pelo Deutsche Bank e pretende tornar o trabalho desta orquestra acessível a um amplo público.
Mais informações aqui, em inglês.

O ponto alto deste projecto é o concerto com balett que a orquestra oferece todos os anos na arena Berlin em Treptow.
Foi este fim de semana. Comprei bilhetes (preço único: 8 euros!) para o Joachim e para mim, e mal começou já estava arrependida de não termos levado os miúdos. É que a primeira peça, The Young Person's Guide to the Orchestra, de Benjamin Britten, acompanhada por textos muito divertidos, era uma excelente introdução aos vários naipes da orquestra. E a segunda, Concerto para Orquestra Sz 116, de Béla Bartók, foi de tal modo bem interpretada pela coreografia de um grupo de 140 aprendizes de bailarino, que quase se podia dizer que vimos a música de Bartók.
A sorte é que para o ano há mais, e não há motivo nenhum para temer que não seja tão bom como este foi.

Trailer de um projecto semelhante, feito há alguns anos:



Ver para crer, e se não tivesse visto, não acreditava: a qualidade da performance daquele grupo de crianças e jovens, dos quais os mais novos teriam 10 ou 11 anos!
O projecto foi proposto a várias escolas de Berlim, e os participantes representavam também a população desta cidade. Daí que, entre os bailarinos, houvesse várias miúdas muçulmanas, que estavam em palco com o seu hijab, o corpo bem disfarçado, uma delas com um casaco que ia até bem abaixo dos joelhos.
Há algo paradoxal nesta combinação de dançar escondendo o corpo. E muito mais se poderia dizer, mas esta fotografia (tirada do folheto do programa) diz o principal:


01 junho 2009

bufaria (2)

O tema continua, com desenvolvimentos muito interessantes, no (onde é que havia de ser?...) Quase em Português.

A entrevista de José Gil ao Público (li o jornal na barbearia fina, enquanto esperava a minha vez) também acrescenta alguns elementos novos a esta discussão. Por exemplo, a da destruição da autoridade espontânea do professor, da criatividade e das relações afectivas.