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11 agosto 2025

feirão

 

Por estes dias, há Feirão em Viana do Castelo: os ranchos da região alegram algumas praças da cidade com as suas danças, a música e os petiscos minhotos. Pataniscas fritas no momento. Vinho verde na malga. Bolos caseiros daqueles que parecem Páscoa. Rissóis de chouriça de sangue.
(Ide para o Algarve, ide. 😉 )







04 agosto 2025

ou Deus ou Newton

Apontamento de umas férias do ano passado: Fui a última a entrar no autocarro. O meu lugar à janela estava ocupado por um belo moçoilo muito musculoso, de pernas escanchadas tipo: a ocupar o lugar dele e metade do meu. “Pick your fights”, pensei eu, e sentei-me no lugar do corredor.

Mas depois - não sei se foi Deus, ou Newton - ao deixar cair a mochila pesadíssima para o chão ela resvalou um bocado para cima da coxa dele, e pedi muita desculpa. Agora aqui vou eu no meu lugar inteiro, em vez de ir toda torta em meio lugar, e não sei se agradeça a Deus ou ao Newton.

30 julho 2025

férias passadas

Apontamentos de férias repescados do Facebook, do Verão de 2019.
1.
O prédio Coutinho ainda aberto, e o Natário fechado...
Mesmo assim, Viana do Castelo continua a encantar.
2.
- Oh que linda troca de olhos -
A caminho da praia, naquele cruzamento onde já se sente o mar, espero para deixar passar um tractor conduzido por um lavrador velhinho que leva o seu cão empoleirado sobre a capota do motor. Tudo está certo neste momento: o ar pimpão do bicho, o ar sereno do lavrador. Sorrimo-nos. Depois eles vão à vida deles e eu à minha.
Pena não ter tirado uma fotografia daqueles dois. Contado, não é a mesma alegria.

3-
- barriga, perna e glúteos-
Ir do Rodanho à Amorosa com a água pelos joelhos, ou mais acima, ou mais abaixo, conforme as ondas.
Insularidade é isto: viver a mais de 2000 km do meu Fitness Studio favorito.



4.
E depois, no caminho para casa, encontro um senhor a vender melões casca-de-carvalho. Enquanto me escolhe dois, conta-me novidades da nossa freguesia. Ainda agora vendeu um melão ao carpinteiro, e mais à viúva não sei quê...
Ao cliente seguinte contará de certeza que ainda agora vendeu dois melões para a Alemanha. E bem se engana: um é para o Porto, mas escuso de lhe contar a minha vida toda. Conto só cá entre nós no Facebook... 5.
Podia falar da luz doce que ontem envolvia o Porto, ou da alegria de ver ouriços no castanheiro que plantámos no verão passado, ou dos abacates enormes na árvore que me acompanha ao pequeno-almoço, ou do marulhar das ondas, ou deste meu torpor de lagarto ao sol.
Mas são apenas os ganhos colaterais desta viagem a Portugal. A alegria maior está nos encontros com os amigos - e sabe sempre a pouco. Portanto...

6.
Depois de quase um mês em Portugal, regresso a Berlim. Vou e venho, venho e vou: estou sempre em casa.
Obrigada a todos os que em Portugal me oferecem o enorme presente de me fazer sentir uma pertença. Se fosse preciso definir Heimat, era por aí.
7. Deixa cá ver o que posso fazer para o jantar... (cozinha fusão: abacates e limões do Minho, tomates e rúcula berlinenses)

12 julho 2017

diário intermitente das férias (3)

VII.
No sábado foi a vernissage em Ponte de Lima, e de lá fomos directos à festa do café da nossa aldeia. Sardinhas, um porco inteiro assado, caldo verde. Miúdas a dançar num palco (caramba, no meu tempo as miúdas daquela idade quase nem existiam no espaço público, quanto mais dançar assim desempoeiradas e cheias de graça num palco!), muitas conversas alegres, espectáculo de bombos e concertinas. Muito gostava eu de saber como é que o chefe das concertinas consegue tocar tão bem e dançar tanto ao mesmo tempo.
Por volta da meia-noite avisaram-nos: amanhã de manhã vamos à vossa casa!
É dia de ir pedir dinheiro para a festa da freguesia, formaram-se dois grupos para ir de vizinho em vizinho.
Domingo, bem cedinho, em menos de um segundo passei do sonho para dentro do vestido. Vinham a subir a nossa rua, boom-boom-booom, boom, bombombom. Por sorte andam devagar, não nos apanharam de calças de pijama na mão.
Depois seguiram para a casa do lado, e nós fomos atrás. Apanharam uma laranja, ainda em bolinha verde, da laranjeira do pátio, e andaram a jogar vólei com os bombos. A laranjinha saltava de um para o outro, booom... booom... ....laklak... boooom... ....booom... laklak, conforme caía no bombo ou no tambor.
Pelo meio muitos palavrões alegres.
Estamos no Minho. Vida boa.



11 julho 2017

diário intermitente das férias (2)

IV.
E agora largo o cantinho internet debaixo da ramada e vou fazer uma fogueira com tábuas velhas de uma pipa de vinho, para depois grelhar uns bifes que trouxe ontem do Soajo.
Foi a vizinha que me deu. Uma braçada delas, "estão impregnadas de vinho, é o melhor que há para grelhar carne", disse ela.
Depois descobri que tenho uma árvore carregadinha de ameixas amarelas e não sabia, isto até parece que sou dona de um latifúndio, mas não: sou apenas distraída.
Em todo o caso, agarrem-me, que estou com vontade de ter inveja de mim própria.


V.
Joachim não me deixou queimar as tábuas. Guardou-as para uma pintura. Agora sei o que a mulher do Picasso sofria: ela a pegar numa travessa para pôr o almocinho em cima, e ele, zás, tirava-lha da mão e pintava-a.

VI.
Um amigo que soube desta história das tábuas no facebook ofereceu-me logo uns cascos de carvalho de metro e meio para o Joachim pintar.
Coitadinho do Picasso, coitadinhos de nós: que espantosas obras perdemos todos, só porque no tempo dele não havia facebook?


10 julho 2017

diário intermitente das férias (1)

I.
Outros têm o OK Google, eu tenho os amigos do facebook a quem ponho sempre questões que começam por "A ver se o facebook serve para alguma coisa".
A mais recente:

A ver se o facebook me serve para alguma coisa (hehehe, até parece que tenho dúvidas):
há alguma maneira de eu saber qual era a peça que estavam a passar na antena 2 ontem, 7 de julho, às 11:35 da manhã? É que gostei imenso, e tentei identificar mas parecia-me uma rapsódia de inúmeras peças e autores.
Não ouvi até ao final, para ver se diziam o nome da peça no fim, porque tinha a praia à minha espera e já parecia mal fazê-la esperar tanto.
(estava neblina, o sol do meio-dia ontem ficou de vir e não veio, não se preocupem)


II.
O problema é que estou a usar internet da idade da pedra lascada. 

III.
Convidaram-me ali ao lado - no facebook - para gostar da antena 2. Gosto, pois!
É a minha companhia favorita nos "rally Portugal" habituais das férias que faço neste país.

(Quer dizer: "férias". Depois regresso a Berlim para descansar das férias que tive.) 
(Isto não é uma queixa. Longe disso.)
Gosto da música, gosto das histórias que contam tantas vezes à volta da música, gosto do António Costa Santos a esfregar sal na ferida da minha insularidade (eu em Viana, ele a contar das coisas imperdíveis em Lisboa, eu em Lisboa ele a contar das coisas imperdíveis em Ponte de Lima) e gosto dos Dias da História do Paulo Sousa Pinto. Até já pedi ao Paulo uma ajudinha para melhorar ainda mais o nível da Enciclopédia Ilustrada, mas ele, tá queto, desde que é colaborador da antena 2 já não se dá com a arraia miúda.


09 julho 2017

"nu"

Aimeudeus, que o armazém de minis do Cristovam ainda rebenta com o carregamento que vou ter de lhe mandar por causa de escrever um post com tanto atraso (1), mas o que tem de ser tem muita força, tanto o escrever com atraso como o pagamento das minis, e por isso ala que se faz tarde rumo ao meu destino.
É que estou de férias, longíssimo da internet. É certo que ao fundo do quintal tenho a internet que a vizinha me empresta, mas como tem estado de chuva a internet fica-me muito para além da minha zona de conforto. Hoje está um dia mais agradável, posso aviar de uma vez as palavras todas dos últimos oito dias. Podia, se tivesse meios para pagar todas as minis, e o Cristovam armazém para as guardar. Ainda põe o Doutor (2) a dormir ao relento - sabe-se lá se o tempo muda e dá origem a uma nova frase idiomática, que seria o contrário de "tirar o cavalinho da chuva". Tipo, sei lá, "chover na careca do Doutor". De cada vez que um enciclopedista não cumpre as regras, chove na careca do Doutor. Ou então, só para usar a palavra mágica: anda um burro nu na rua.
(Não acredito que já escrevi isto tudo e ainda não disse ao que venho!)
Passa-se que no dia em que na enciclopédia a palavra mágica era "nu", eu estava a fazer férias com a modelo do grupo de pintores berlinense do meu marido. Durante os próximos dias a nossa casa minhota vai ser uma pequena colónia de artistas, e a modelo veio uns dias antes. Perguntem-me sobre nus, sei tudo: já vi esta mulher trabalhar, e é excelente. Muito diferente da mim, naquela manhã de sábado em que o Joachim perguntou "posso pintar-te?" e eu estendi-me nua na cama a ler um livro e disse "pinta praí". Outros têm musas, o Joachim tem uma megera. Mas faço isto para bem dele, diz que o sofrimento molda o carácter. Um dia ainda me há-de agradecer, e dizer "devo-te tudo o que sou".
(Quantas piscadelas de olho terei de pôr para perceberem que estou a brincar?)
Uma amiga, que é da área da Literatura e em tudo descobre o simbolismo e o filme, perguntou-me que tal estavam a ser os dias da esposa e da modelo. Não sei. Não me ocorreu pensar nessas categorias, embora agora, depois do que ela disse, me pareça que tinha aqui material para um belo filme. Ou livro.
As "férias da esposa e da modelo" têm sido assim: ontem andei desesperada atrás da empresa Hermes que não entregava os quadros que enviámos de Berlim para a exposição em Ponte de Lima. A vernissage é já amanhã, chama-se "Nudes from Berlin", e comecei a temer que íamos mostrar as paredes nuas: "Nudes from Ponte de Lima". Depois de as caixas aparecerem respirámos fundo e fomos à feira de Barcelos (Carlos, estavam lá as tuas cruzes!) e depois fomos apanhar uma chuvada valente na minha praia favorita, a de Forte de Paçô, comprámos congro no pescador do porto de Viana e fizemos um belo arroz.
Esta manhã a modelo - que é bailarina - levantou-se e começou a fazer exercícios de sentir o corpo. Balançava a sua figura esguia até o corpo inteiro vibrar com a graça da gelatina, convidou-me para a acompanhar. Que eram apenas vinte minutos. Ora, eu já estava a sentir o corpo há que horas, uma fome desgraçada, e já estava sentada em frente ao pãozinho branco, à compota de alperce deliciosa que a vizinha me deu, ao paio de Felgueiras. Bom apetite!, disse-lhe eu, e comecei a comer.
Fomos à praia. Estava cinzenta, e fizemos uma caminhada. Vamos até Lisboa?, propus. Vamos, pois!, respondeu. Mas decidimos não ir, porque não nos apetecia atravessar os rios a nado.
Depois tomámos um longo banho. Eu virava os pés para as vagas para ver as pequenas cataratas que nasciam entre os meus dedos, e ela dançava as suas voltas de dervixe no sítio onde as ondas se arrebentavam em espuma.
Ela diz que eu liberto o seu lado mais infantil. Sinto sempre uma enorme estranheza quando me dizem o que recebem de mim, quando não faço mais que dar água sem caneco.
E depois falámos de coisas muito sérias. Ela já trabalha como modelo há 15 anos, e está farta. Aceitou fazer este trabalho por ser com este grupo, mas sente-se cada vez mais vazia e cansada, suspeita cada vez mais de quem a pinta. É que, quando começou, decidiu trabalhar da forma mais exigente: mostrar a alma ainda mais que o corpo. E sente que as pessoas não dão o devido valor ao que ela lhes oferece.
Digo-lhe a frase que ouvi a um dos pintores: é preciso saber olhar com pudor para o corpo nu. Penso na riqueza desse exercício partilhado de nudez: a modelo que revela a alma, o pintor que revela o carácter.
E agora, mudando completamente de assunto: nos lagos alemães onde se pratica o nudismo aprendi que um corpo nu pode ser a coisa menos erótica do mundo. Talvez seja porque as pessoas deixam a alma em casa, e trazem apenas o corpo para a sonolência do sol.

(1) Na Enciclopédia Ilustrada as multas são pagas em minis.
(2) Provavelmente adivinharam (como eu): "Doutor" é o nome de um garboso burro - estou em crer que é o burro mais apreciado de todos os enciclopedistas.


o triângulo das Bermudas ataca de novo

Perdi-me por aqui:





31 março 2017

Coimbra-B

 
 


 
  


 



Coimbra-A

A chuva parou quando entrei na cidade. Depois de algumas voltas à estação Coimbra-A, acabei por estacionar o carro junto ao rio. Atravessei um parque com árvores capadas (deviam fazer testes psicológicos aos jardineiros da Câmara, suspeito que há entre eles um sociopata da flora!), e parei no seu reflexo em branco leitoso. "Coimbra, terra do leite e do mel", pensei.
O mel era afinal tinto, e do bom: da Quinta do Carmo. E duas amigas, e as conversas, e as gargalhadas, e o dono do restaurante, e as azeitonas, e a lampreia, e mais não conto.

(Lembrei-me muito da exclamação de um velho amigo: "ah, pqp, como é bom viver!")
(Decidi que hei-de voltar todos os anos em Março. Em Março, pelo menos.)