
*** E assim vai a vida. Acho que vou comprar a Bimby, mas primeiro tenho de ver que banco assalto, e depois tenho de ver como a escondo da minha amiga que tem tanta razão... ;)
... sobre o que nos desaquieta
Se quiserem saber mais sobre a Festa da Cultura Portuguesa no 10 de Junho...
- a extraordinária festa do tudo em bom, com uma enorme diversidade de artistas (desde o grupo folclórico ao Carlos Bica, passando por cantoras líricas, música pop e outra que nem sei bem descrever, mas é muito boa, e ainda, claro claro, o fado que não poderia faltar) e os habituais petiscos portugueses, incluindo sardinha assada. Ah, e poncha! Mas não precisam de contar a ninguém que vai haver poncha, quero muito que sobre toda para mim... -
...podem seguir este link.
Se quiserem saber mais sobre o concerto Misatango...
- o fantástico concerto do meu coro, com uma pequena orquestra que inclui bandonéon (foi preciso afinar o piano de cauda alemão para o ajustar ao bandonéon, nem sei que me parece, vêm estes instrumentos estrangeiros mudar as nossas referências, em vez de tratarem de se integrar nesta sociedade, enfim, se os estrangeiros continuam a desrespeitar a nossa cultura desta forma, o melhor é fechar as fronteiras e passar a fazer unicamente cultura nacional...) (confesso que me rio sempre quando digo "nossa" e "nacional" quando estou a falar da Alemanha e dos alemães; lembro-me logo dos emigrantes portugueses em França que votam Le Pen), mas adiante: para além de a Misatango ser um peça lindíssima, no palco vai haver artistas de uma escola de dança berlinense a interpretar aquela música com as suas danças. Desde um amoroso bailado clássico de meninas de seis anos, até street dance e sapateado. Sim, podem esbugalhar os olhos, que eu também esbugalhei. É Berlim mais uma vez a experimentar caminhos -
...podem seguir este link. Eu, propriamente dita, estarei na festa da minha rua na sexta-feira à noite, na Festa da Cultura Portuguesa no sábado e nos dois concertos do Misatango no domingo. Isto, nos intervalos de fazer os trabalhos que me pagam a conta da luz (estive a pagá-la hoje, ainda não recuperei do trauma).
Acabei de ler a newsletter semanal "Alles Gute" do Spiegel, que só tem notícias positivas, e fiquei com vontade de dar beijinhos ao mundo.
Na edição deste sábado (aqui, em alemão), são estes os temas:
- é possível reduzir o lixo de plástico no mundo inteiro em 80% até 2040;
- duas irmãs, de 10 e 13 anos, contam como viveram uma semana inteira sem consumir nada embrulhado em plástico ("uma amiga ofereceu-nos gomas, mas como vinham num saco de plástico, não aceitámos")
(onde está o emoji da lagriminha quando a gente precisa dele?);
- uma casa numa favela de Belo Horizonte ganhou um prémio internacional de arquitectura (podem ver imagens da casa aqui e vídeo da notícia numa TV brasileira aqui);
- mamografias acessíveis em regiões rurais da Índia, onde não existe o equipamento adequado: estão a ensinar mulheres com cegueira a usar o seu tacto apuradíssimo para detectar nódulos na mama;
- o neuropatologista Diego Sepulveda-Falla descobriu um gene que protege do Alzheimer;
- há uma nova liga de futebol: só com equipas de pessoas com excesso de peso, para lhes dar a oportunidade de praticar desporto em grupo sem se sentirem diferentes (título: "tivemos de mandar duas pessoas embora porque eram demasiado magras") (hehehe);
- o preço do gás na Europa, que em agosto de 2022 tinha subido aos 300 euros por MWh, esta semana esteve abaixo dos 30 euros;
- o WhatsApp tem agora uma função de senha para proteger conversas mais privadas;
- estão a trabalhar num sucedâneo do café, a partir do fruto do cafeeiro depois de extrair os grãos - em vez de os deixar a decompor e a largar metano para nos desgraçar ainda mais o clima. Também tem muita cafeína, é uma bebida saudável, chamam-lhe "Cascara", e a ver vamos;
- uma carta de um leitor: estava no café de uma estação de comboios à espera da ligação, trocou meia dúzia de frases com um passageiro a seu lado, e quando ia pagar o outro fez "pay forward": pagou o café dele, e da próxima vez ele pode fazer o mesmo a um desconhecido.
Tem mais alguns artigos, mas eu quero parar neste último, porque me lembrou algo que aconteceu no meu bairro por alturas do Natal. Num passeio da manhã com o Fox, vi um sem-abrigo a dormir num banco junto ao lago (esse banco por trás da fotografia do topo, com aquela mesma neve), apenas com um saco-cama para se proteger das temperaturas negativas. Pensei telefonar ao serviço que dá apoio a estas pessoas, e no inverno impede que morram de frio na rua, mas entretanto o senhor desapareceu. No dia seguinte, ao passar com o Fox, vi que já tinha uma tenda. No terceiro dia, quando ia a passar perto da tenda, apareceu uma vizinha com uma garrafa termos, que anunciou alegremente: "O pequeno-almoço está pronto! Café quentinho!" E no quarto dia, vi duas vizinhas a conversar e a rir muito com ele, os três no jardim em frente ao lago, com flutes de espumante na mão. Depois uma delas agarrou nos copos e na garrafa vazia e despediu-se "Desculpem, tenho de ir, são horas de fazer o almoço. Até amanhã!"
Na Alemanha, criaram uma enciclopédia online parecida com a Wikipedia, mas antifeminista. Como explica a versão espanhola, trata-se de uma "Contraposición humanista en la edad de misandria". Porque os homens que andam por aí com os tomates entaladitos precisam de espaços seguros na internet, só para eles. E assim, criaram uma página que resiste à "progressiva doutrinação feminista que grassa na internet" e lhes explica o mundo tal como lhes dava jeito que fosse, sem manipulações dos media que estão vendidos aos governos que estão vendidos aos gays, às cadelas e aos judeus (estou a tentar sintetizar a ideia).
Movida por uma curiosidade mórbida, fui espreitar essa wikimannia. No topo da página de entrada da versão alemã há vários apelos. Exige-se que a base aérea norte-americana em Ramstein seja fechada. Fala-se do escândalo de haver "tanques alemães a rolar contra a Rússia pela primeira vez desde há 80 anos", afirma-se que "a explosão do Nord Stream foi um acto de guerra contra a Alemanha e a Rússia. A soberania alemã jaz agora no fundo do Mar Báltico". Exige-se o fim da organização terrorista NATO. Também anunciam uma manifestação "pela vida", em Berlim.
Pensava eu que era um site para a tomatada precária, que sofre muito por causa da hegemonia das mulheres. E será, será... mas reconheço que as versões noutras línguas (inglês, espanhol, francês, etc.) disfarçam muito melhor o dedinho da Rússia por trás disto tudo.
Acabei de ver uma gralha enorme com uma das minhas abelhinhas no bico. A impertinente usa a entrada da colmeia como buffet. Põe-se ali a vê-las passar (até me lembra aqueles restaurantes com canoas de sushi) e às tantas: "apetece-me esta!"
Minha rica abelha!
Odeio gralhas. Pior: tenho-lhes respeitinho. Porque já vi uma a provocar o Fox, quando este ia pelo parque fora, muito descansado da vida, a tratar dos seus assuntos quotidianos. A gralha saltitava atrás dele, e de repente tomava lanço, dava-lhe uma bicada por trás e saía a voar (e a rir-se, imagino). Uma e outra e outra vez. E também porque uma amiga me contou que uma vez espantou uma gralha para fora da sua varanda, e depois disso nunca mais lá pôde ter vasos com plantas. Sempre que tentava, a gralha regressava para deitar as plantas e a terra ao chão. E ainda por causa de uma outra gralha, que foi chamar as amigas para se vingar de um rapaz que a tinha enxotado. De repente, ele viu-se confrontado com um bando de gralhas com ar de rufias, que o fitavam desafiadoramente.
Portanto: gralhas, quero é distância delas. Mas uma das minhas vizinhas gosta de as ver no jardim, e por isso dá-lhes comida. A horas certas, porque é alemã. Chega àquela hora, junta-se ali um par de gralhas, e ela sorri muito feliz. "Uns bichos muito inteligentes", comentou outro vizinho, ao ver a cena. Trabalha no aeroporto, e diz que as gralhas de Schönefeld aprenderam a pousar os frutos de casca dura na pista de descolagem. Depois é só esperar que passe um avião, e já têm o almoço pronto a comer.
Esta vizinha das gralhas é a que há tempos me mandou um link para um artigo onde se dizia que demasiadas abelhas num local podem espantar os outros insectos. Mandou o link, e a frase "olha que interessante, isto que descobri - também reparaste que ultimamente não se vêem besouros por aqui?"
Tinha razão: eu também não via besouros desde há muito. Nem besouros, nem nenhum outro insecto, porque ainda estávamos no inverno. Mas fiquei preocupada. De modo que quando vi um par de besouros de volta de umas ervas daninhas em flor, nunca mais toquei nessas plantas e fui logo avisar a vizinha que afinal ainda temos besouros na rua. Ela entretanto já tinha percebido que se calhar não tinha sido simpático enviar-me aquela mensagem naqueles termos, e fez-me uma festinha no braço para pedir desculpa.
E agora sou eu que estou com zanga às gralhas dela. Mas sei por experiência própria que é mais avisado ficar caladinha.
Em todo o caso: raixparta a natureza! Não podia ter inventado gralhas vegan?!
Quando a Rússia começou a invasão da Ucrânia, e o Zelenski disse aos americanos que não precisava de uma boleia, precisava era de armas, no meio do choque e da apreensão que senti ri-me muito com os memes ucranianos que logo encheram as redes sociais.
Hoje, ao ler no Spiegel online uma entrevista a um homem de negócios ucraniano que abriu um concurso especial para drones, lembrei-me de novo desses primeiros dias da guerra, quando um dos segmentos da defesa consistia em humilhar o invasor com bravatas divertidas nas redes sociais.
Diz o autor do tal concurso que amanhã, dia em que a Rússia comemora o fim da segunda guerra mundial com um grande desfile militar em Moscovo, dá um prémio de quase meio milhão de euros ao proprietário do drone que conseguir chegar à Praça Vermelha.
O Spiegel começa por dizer que ainda não há certeza sobre o que aconteceu na semana passada, quando foram alvejados dois objectos voadores não identificados por cima do Kremlin. Mas o entrevistado parece falar com grande conhecimento de causa do que aconteceu, afirma que o objectivo era humilhar Putin, e mostrar-lhe as fragilidades do seu sistema de defesa anti-aérea.
Diz ainda que, uma vez que o desfile militar de amanhã ainda não foi desconvocado, o concurso de drones ucranianos sobre Moscovo continua em vigor. Acrescenta que são drones muito modernos, com um sistema de orientação novo que a Rússia não consegue sabotar, e que o sistema de defesa anti-aérea está preparado para abater alguns aviões maiores, mas não um "enxame" de drones.
Não sei se é bazófia, bluff construído a partir daquele misterioso incidente, ou verdade. Mas já me divertiu, confesso.
E agora fico na expectativa: a ver vamos como decorre o desfile militar amanhã em Moscovo.
Peço desculpa aos dois leitores deste blogue pelas minhas reiteradas ausências. Ora por causa disto, ora por causa daquilo, ele é o concerto do meu coro daqui a poucas semanas, ele são os morangos a precisar de estrume, ele são as traduções que também não se fazem sozinhas (agora que falo nisso: se no caso de alguns textos dava jeito, no caso do livro actual quero ser mesmo eu a fazer - é tão bom que é realmente um prazer traduzir cada uma das suas frases). E ele são textos que vou escrevendo para a concorrência.
Por exemplo: a Fluir. Acabou de sair o novo número, de tema "Som". Convidaram-me para participar, imagino que estariam a pensar que eu falaria, sei lá, no som perfeito da Filarmonia de Berlim - mas é só porque não me conhecem. Coitados.
Temo que esta seja, portanto e provavelmente, a minha última contribuição para a Fluir. Que na primeira quem quer cai (Fluir nº 2), na segunda (Fluir nº 11) cai quem quer, mas na terceira - ai, parece que me esqueci da terceira frase desta piadinha...
Brincadeiras à parte: aqui deixo um abraço para o José Pacheco, pela sua imensa paciência.
Também tenho andado a escrever um diário bretão em forma de folhetim na Almanaque. As más-línguas do facebook dizem que já contei aquilo tudo, mas eu e o meu Alzheimer fincamos pé e anunciamos ao mundo que não, não senhores, nem pensar: é tudo tão novo que até parece acabadinho de inventar.
Está, como não podia deixar de ser, na secção "Boa Vida" da Almanaque. Para as secções de cultura, ciência, filosofia, literatura, desporto, política, sociedade e outros assuntos sérios: contrataram quem sabe. E há lá gente que sabe muito! É uma revista que dá gosto.
Como ia dizendo, só para verem o que eu sofro: ainda agora acabei o capítulo mais recente da Boa Vida, e tenho de me despachar para o jardim, para ir tratar das roseiras e dos morangos, regar a quintinha, fazer a mala a correr e partir para o fim-de-semana do coro, etc. Que é como quem diz: depois da Boa Vida, a boa vida. Parece-me que isto não é uma queixa...
Só que, por estas e por outras, acabo a fazer-me mais rara por aqui. É a (boa) vida!
O susto mais recente que me aconteceu foi este: Ai caraças, que o algoritmo descobriu o tipo de vestidos de que gosto! Ai caraças, vou ter de pedir a alguém que me esconda o cartão crédito, e não me diga nunca onde foi.
E está cada vez melhor.
Foi por via democrática que o partido NSDAP chegou ao poder. Começou - como começam todos - de forma incipiente:
- 6,6% - 1924, Maio - 3% - 1924, Dezembro - 2,6% - 1928, Maio
No inverno de 1929/1930, a Grande Depressão - que resultou do crash da bolsa nova-iorquina e rapidamente contagiou todas as economias de sistema capitalista - chegou à Alemanha. Para um partido oportunista como o de Hitler, foi muito fácil aproveitar aquela enorme insegurança económica para captar votos:
- 18,3% - 1930, Setembro - 37,4% - 1932, Julho
Entre 1930 e 1932, apesar do seu grande peso no Parlamento, o NSDAP não passava de um partido agitador da oposição. Atacava radicalmente o governo, e aproveitava os lugares no Parlamento para boicotar os trabalhos e roubar dignidade àquele órgão de poder. Uma foto da época mostra os deputados nazis de costas voltadas para o plenário. Em Fevereiro de 1931, em sinal de protesto contra uma alteração ao regulamento parlamentar que pretendia dificultar a permanente obstrução do trabalho parlamentar através da apresentação repetida de moções de censura, os deputados nazis abandonaram a sala a cantar o Horst-Wessel-Lied. Apenas Goebbels ficou para trás, a observar. Regressaram depois com nova provocação ao Parlamento: todos envergavam a farda castanha do partido - o que era proibido.
As imagens dessa provocação, em 9.2.1932, foram captadas pelo fotógrafo Erich Salomon, que viria a morrer em 1943 em Auschwitz.
Enquanto gozava o seu confortável papel de oposição parlamentar para boicotar a democracia, o partido de Hitler fazia simultaneamente propaganda diferenciada, ou seja, dizia a cada grupo aquilo que esse grupo concreto queria ouvir: para os operários, compôs uma máscara de preocupações sociais, chegando a organizar greves; para os pequenos comerciantes, a promessa de proteger os seus interesses contra os grandes armazéns (na época, estes eram um fenómeno relativamente recente, em boa parte criado pelos empresários judeus que emergiram quando se pôs fim às leis que restringiam fortemente as actividades económicas do povo judeu); para o mundo rural, o elogio dos seus valores idealizados e a ideologia "sangue e solo" (nacionalista, racista, anti-semita); para a grande indústria, a rejeição da luta de classes. A estrutura era nacionalista, e as propostas de acção eram suficientemente vagas para poderem fazer promessas a todos os grupos sociais sem assustar nenhum deles.
Em Julho de 1932, o povo alemão deu 37,4% dos votos ao partido nazi. Os partidos de direita começaram a pôr a hipótese de fazer com os nazis uma coligação contra a esquerda, mas Hitler impunha uma condição: ser ele o chanceler desse governo. Bastaram 3 meses para os alemães perceberem que fora má ideia acreditar que esse partido seria capaz de resolver os problemas graves que os afligiam, porque era bastante óbvio que Hitler estava bem mais interessado no poder do que no país. Nas eleições seguintes, o NSDAP perdeu dois milhões de votos: 33,1% em Novembro de 1932.
Mas o mal já estava feito. As negociações dos partidos de direita para uma coligação com os nazis tinham aberto o caminho para este partido ser considerado equiparável aos outros. Pressionado pelos seus conselheiros políticos e económicos, e também pelo presidente do Reichstag, que acreditava que assim seria mais fácil "domar" o chefe da oposição, o presidente Hindenburg aceitou enfim nomear Hitler como chanceler do Reich.
Foi então que tudo começou a acontecer a velocidade vertiginosa: no dia 27 de Fevereiro de 1933, o Reichstag foi destruído por um incêndio. No dia seguinte, Hitler aproveitou o ensejo para suspender temporariamente uma série de direitos constitucionais, retirar o mandato aos deputados comunistas e prender tantos opositores políticos quanto possível. Apesar de todos os esforços dos nazis para boicotar a campanha eleitoral dos outros partidos (suspensão das publicações dos seus jornais, destruição dos cartazes, intimidação e violência, perseguição dos representantes dos partidos), as eleições de 5 de Março não deram a maioria absoluta a Hitler - 43,9% dos votos foi uma subida substancial, mas ainda assim longe do poder absoluto. No dia 23 de Março de 1933, o parlamento reúne na Kroll-Oper, uma sala de ópera que fora convertida à pressa em salão parlamentar. Por trás do palco, ergue-se uma enorme suástica. Os deputados nazis rejubilam, os deputados da oposição, particularmente os sociais-democratas, são intimidados e insultados por inúmeros membros das SA e das SS ali presentes. Os deputados comunistas já não participam nessa sessão: sem mandato, estavam presos ou em fuga. Nesse cenário ameaçador, Hitler vem com falinhas mansas fazer promessas e pedir ao parlamento que aprove a sua "Ermächtigungsgesetz" - a lei que lhe permitirá fazer leis e acordos internacionais sem passar pelo controle parlamentar. Sem maioria absoluta, precisa da aprovação de 2/3 dos deputados. Otto Wels, representante dos socialistas, ergue-se para reafirmar o compromisso do seu partido SPD com os princípios básicos do humanismo, da justiça e do socialismo. Lembra os deputados perseguidos e presos, e afirma: "Podem tirar-nos a liberdade e a vida, mas não nos tiram a dignidade." Hitler regressa ao palco, furioso, e deixa cair todas as máscaras. Aos deputados, que se sabem cercados por membros das SA e das SS, diz sem rodeios: "apelo a que autorizem aquilo que, de qualquer modo, estaríamos em condições de conquistar." No final, 441 deputados votam a favor, contra os 94 votos dos deputados do SPD: o parlamento vota a sua própria supressão da vida política alemã.
(a imagem faz parte deste artigo, em alemão, de onde tirei as informações contidas no parágrafo anterior)Convém lembrar sempre: os nazis não assaltaram o poder - receberam-no por via democrática. Hindenburg entregou o poder a Hitler, no respeito pela constituição da República de Weimar. Depois de, sublinhe-se, os nazis terem feito tudo o que estava ao seu alcance para subverter as regras democráticas em proveito próprio, e de terem criado um ambiente de descrédito, intimidação e violência que, de facto, cercearam a liberdade dos eleitores e dos políticos.
O que é estranho e desesperante no nosso mundo, em 2023: as democracias têm consciência de tudo isto, mas continuam a não saber defender-se, quando os sinais da repetição da estratégia são mais do que evidentes.
Não sei que têm as nossas colmeias, que já três enxames vieram cá bater à porta. Há alguns anos foram dois, com poucas semanas de intervalo. O terceiro chegou este fim-de-semana. Vinham sem abelha-mestra, e deu-se um jeito para acomodar mais algumas centenas de abelhas junto das outras. Mais um capítulo para juntar à centenária tradição de Berlim de acolher refugiados com toda a simpatia. Ele são os protestantes da Boémia, ele são os huguenotes, eles são os sírios, eles são os ucranianos. E agora, as abelhas.
Digo "nossas colmeias", mas não é bem verdade: limitámo-nos a disponibilizar o lugar em cima da garagem, e a pedir aos vizinhos que plantem flores de outono (porque na primavera e no verão ça va sans dire, mas em começando a arrefecer as coisas complicam-se) e a avisar a dona das abelhas sempre que acontece algo fora do normal. Portanto: avisámos, ela veio logo. Verificou que o enxame estava sem abelha-mestra, pelo que, em vez de lhes dar uma colmeia nova, arranjou maneira de as integrar numa já instalada. Tudo em boa paz. Aprendam, humanos!
Esta manhã encontrei junto a uma das nossas janelas uma abelha enorme. Seria a rainha que faltava ao enxame? Fotografei-a ao perto, para perguntar à apicultora.
Mas, pelo sim pelo não, antes de enviar a imagem, fui ao google aprender a diferença entre abelhas-mestras e vespas. Era uma vespa.
Ups! Ainda bem que não enviei a imagem à apicultora, imagino a cara dela quando a visse... Por sorte, ninguém viu, ninguém deu conta, ainda não é hoje que passo uma grande vergonha em público.
Este post é dedicado aos passeios do Fox. Melhor dizendo: aos cenários dos passeios do Fox.
De facto, era sempre a mesma coisa. E sempre especial: as casas centenárias, os relvados, as árvores frondosas, os pavilhões em frente ao mar. A vida boa.