Uma playlist para nos sossegar os dias de quem por aqui passa.
Que seja para todos um Natal daqueles de encher o coração de tranquilidade e confiança - como bem precisamos, para continuar na luta quotidiana por melhores mundos para todos.
É fascinante.
(Mas se calhar vão parar mais de 15 segundos. Porque depois vão tentar outra vez, e depois vão mostrar a mais alguém...)
(Portanto: caso alguém aí queira passar um tempinho bom, a maravilhar-se e a sorrir com outros...)
Quando os nossos filhos eram pequenos, um dos nossos rituais de Natal era ir ver o bailado Quebra-Nozes.
Malditos rituais de Natal! Ganhei alergia a esta música, mas ninguém quer saber da minha saúde. Chega o advento, o rádio parece que risca o disco no Quebra-Nozes.
Por sorte aparecem coisas como esta, e eu quase me reconcilio com a peça.
(Uma pessoa aprende. Devagar, mas aprende: chega o advento, desligo o rádio, e assim atravesso esse tempo sem pensamentos pouco apropriados ao espírito da época - pelo menos no que diz respeito a mandar o Quebra-Nozes desta para melhor.)
"É isto a matemática: se houver cinco pessoas num autocarro e saírem sete, então duas têm de entrar outra vez para o autocarro ficar vazio."
...é que consegui entender esta:
"Um biólogo, um físico e um matemático estão em frente a um elevador. Um homem e uma mulher entram no elevador e as portas fecham. Pouco depois, as portas abrem de novo e do elevador saem dois homens e uma mulher.
- É o fenómeno da procriação, diz o biólogo.
- Há aqui um erro de medição, diz o físico.
- E se agora entrar uma pessoa, o elevador fica vazio, diz o matemático."
Pensamento avulso do dia: tendo em conta as alterações climáticas, e o modo como simples ribeirinhos se podem tornar de repente em torrentes destruidoras, que sentido faz continuarem a vender casas junto à água como se fossem um bom investimento?
Ainda agora vi uma casa, "objecto raro, com embarcadouro em frente à sala", por dois milhões. Ainda se tivesse a Arca de Noé atracada em frente à sala, pelo sim pelo não...
A mentira está a espalhar-se como fogo em palha seca, acompanhada de um coro de "está tudo maluco?!", "este mundo está roto, chove nele como na rua".
(Onde está a ERC quando faz falta?)
Os factos: uma treinadora de cães quis experimentar algo novo nas suas aulas. Antes de deixar os respectivos cães entrar em campo, faz alguns exercícios apenas com os donos, para que estes se concentrem bem no que ela lhes está a tentar ensinar.
Tão simples como isso.
Depois, a treinadora publicou alguns filmes desses treinos no seu instagram, e teve muitas reacções, ou seja: nasceu um novo trend na internet.
A seguir, um repórter resolveu falar do assunto, e para isso fez uma paródia: foi passear uma trela sem cão no centro de uma cidade alemã, e filmou a reacção das pessoas. No meio da paródia, incluiu algumas imagens da treinadora de cães a dar a primeira parte da sua aula, na fase ainda sem cães.
A SIC faz uma notícia onde troca a ordem dos acontecimentos (primeiro veio o curso, depois veio a sátira do jornalista), confunde um caso de trending na internet com "nova tendência na Alemanha", torna plural o que é um caso único ("a moda já tem workshops") e inventa motivações dos "praticantes desta actividade".
Irrita-me muito que no jornalismo português aconteça um desastre destes, absolutamente escusado. E irrita-me ainda mais assistir à reacção que este erro grave de jornalismo provoca nas pessoas, porque lhes alimenta uma percepção enviesada do nosso tempo.
O mundo, no triste estado em que se encontra, não precisa que andemos a espalhar mentiras que aumentam o pessimismo e o descrédito na humanidade. De modo que deixo aqui um repto a todos os que partilharam esta pseudo-notícias, e aos que comentaram com um "ai que horror!": para reequilibrar a percepção do mundo, quem comentou partilha agora três notícias positivas verdadeiras. E quem partilhou a notícia partilha dez, porque teve maior responsabilidade na propagação do mal.
Neste belo domingo tomei uma decisão radical: vou tornar-me senhora do meu destino, mudar eu própria as agulhas e os rumos que dou à minha vida. E vou até mais longe: escolho eu própria as ofertas que a vida me dá!
(Embrulha, universo!)
Estou a falar do Facebook, e o truque tem a simplicidade de um ovo de Colombo: basta entrar várias vezes em páginas de publicidade de um tema que nos alegre o dia sem nos tentar a carteira, e o algoritmo passa a oferecer-nos apenas publicidade disso. O meu tema é meias nórdicas. Não compro, porque já as tenho em número suficiente, mas agora o meu facebook enche-se, de tantos em tantos posts, com as cores garridas dessa publicidade, e deixou de me oferecer homens de meia idade, sapatos manhosos que faz de conta que são portugueses, tralha vária de empresas que "infelizmente" têm de fechar e estão a saldar tudo, medicamentos para cães que comem ervas, etc.
Para o caso de algum passante querer também agir radicalmente sobre o seu destino, aqui deixo um link aleatório.
Depois de longa ausência, voltei ao Largo. O tema desta semana é "dança", e "dança" lembra-me muitas vezes um poema de Santo Agostinho, que termina mais ou menos assim:
Oh, gentes, aprendei a dançar! Caso contrário no céu os anjos não saberão o que fazer convosco.
Obrigada, Santo Agostinho, pela imagem tão feliz para uma ideia da Eternidade: dançar com os anjos! Mais ainda: dançar como preparação para a Eternidade é uma bela maneira de atravessar a vida. Porque, como diz o poema, (e desde já peço desculpa pela tradução a partir de uma versão alemã)
Eu louvo a dança que tudo exige e estimula saúde, mente clara, uma alma leve.
Dança é transformação do espaço, do tempo, do ser humano sempre em risco de se fragmentar: cérebro só, ou vontade, ou emoção.
A dança, contudo, chama o ser inteiro ancorado no seu centro. Esse que não está possuído pelo desejo de seres e coisas e pelos demónios da solidão interior.
A dança pede o homem livre vibrando no equilíbrio de todas as forças.
Eu louvo a dança.
Oh, gentes, aprendei a dançar! Caso contrário no céu os anjos não saberão o que fazer convosco.
E agora que falei da vida e do seu depois, acrescento também uma imagem dilacerante de luto que não me sai da cabeça desde que comecei a pensar no que gostaria de escrever sobre o tema "dança": Eis o homem que se despede da sua amada, dançando de mão dada com a sua ausência.
(cuidado: depois deste vêm muitos mais poemas de Carlos Drummond de Andrade, muito bem ditos por várias pessoas - cuidado, portanto: arriscamo-nos todos a passar o resto do dia aqui) (ou cuidado nenhum - atirar-se de cabeça, de orelhas, para esta beleza)
Esta imagem tão drástica fez-me pensar numas alminhas que havia mesmo ao lado da casa da minha avó. Não podia andar descansada na minha vida, que me apareciam aquelas almas do purgatório com um olhar lancinante a implorar nem sei bem o quê. Que rezasse por elas, ao menos.
E eu rezava, pois claro. Porque nos bons velhos tempos a solidariedade social ia para além das fronteiras da vida e da morte.
Uma pessoa descobre imagens panorâmicas feitas em Marte e pergunta-se:
- Caramba, com tantas possibilidades, tinham mesmo de ir aterrar no meio do deserto?...
Coitadinhos, sabe-se lá quando passará a próxima caravana de camelos verdes!...
(E terão levado uma daquelas cartinhas da ONU, e será que na cartinha vão desenhos muito engraçados? Como se os marcianos tivessem olhos e entendimento iguais aos nossos...)
Chega o Advento, e a Kurfürstendamm ilumina-se em mil estrelinhas. Depois, quando chove aquela chuva miúda, nada como subir ao andar de cima do autocarro, sentar-se num dos lugares da frente, e fotografar.
Deixem-me contar-vos do momento em que descobri que a lua
cheia tem o poder de fazer sombras: aconteceu na minha cozinha de Weimar, que
era num jardim de inverno com enormes paredes de vidro sobre o quintal, e
havia neve.
Foi a neve: o luar brilhante desenhava as sombras das árvores nuas
no branco do chão, e eu fiquei ali encantada, na casa às escuras, sem saber o
que fazer com tanta beleza.
Por estes dias tenho andado tão ocupada - e tão feliz - que até me esqueço de contar.
Senhoras e senhores: este ano, os Portuguese Cinema Days in Berlin estão a ser assim. Estão a ser demais.
Cada um é livre de escolher o seu 25 favorito. Mas não é livre de impor a todo um povo a alteração da sua memória e do seu sentir.
Tinha 10 anos, e lembro-me bem: no dia 1 de Maio de 1974, vi as ruas e as praças do Porto repletas de pessoas que sorriam e choravam comovidas, que olhavam e falavam com desconhecidos como se fôssemos todos uma enorme família. Se me perguntassem qual foi o dia mais feliz do povo português, diria que foi esse primeiro de Maio, uma semana depois daquilo que começou como golpe militar e ao fim de poucas horas era uma revolução de base popular.
No 25 de Novembro não vi essa extraordinária adesão popular, não vi flores nas armas nem mulheres a servir cafés aos soldados. Não vi junto aos soldados uma multidão sedenta e expectante de mudança.
E nos dias que se seguiram ao 25 de Novembro, não vi um povo feliz a inundar as ruas.
Alguns dirão: "pois, mas se não tivesse havido 25 de Novembro, queria ver a alegria do povo português a ser vítima de desmandos de sinal contrário."
No que até podem ter razão. Mas isso não faz do 25 de Novembro a data mais importante da revolução - foi apenas um marco e uma inflexão no caminho de liberdade que o 25 de Abril nos abriu.
(Mal comparado, era como quererem dizer que a data mais importante da Revolução Francesa não foi a da tomada da Bastilha, mas a da morte do Robespierre.)
No caminho, vi um homem a ter um rendez-vous com uma árvore. Abraçou-a, encostou-se a ela longamente...
Se não houvesse mirones (como eu), se calhar fazia o mesmo. Deve ser muito bom.
(Sim, nevou. Mas ainda não dá para descer encostas de trenó. E recuperei o meu andar de pinguim. E também recuperei os transportes públicos, porque o carro está com pneus de Verão. E Berlim está coberta por uma camada densa de nuvens.)
(Nada disto é uma queixa.)
(As fotografias estão uma bela porcaria, reconheço. Ainda pensei espetar-lhes um filtro em cima, mas depois lembrei-me das minhas teorias sobre o botox, e ficámos assim.)
Há dias, ao falar sobre o dom que uma amiga minha tem para fazer composições de objectos decorativos, em vez de os deixar expostos pelos móveis como se fosse numa loja, lembrei-me do Parajanov.
Em 2014, passei fugazmente pela sua casa-museu em Yerevan, e anotei: tenho de voltar aqui com muito tempo. Com muito, muito, muito tempo: porque aquelas salas estão cheias de pequenas composições que são fruto de um espírito de criação mirabolante e inesgotável.
Quero muito voltar à Arménia. E no topo da lista está este museu.
(Mas, se querem saber a verdade toda: a minha lista de lugares que quero ver e rever na Arménia é um caso de muitos ex-aequo, todos no topo. Tantos lugares que admiro, tantas saudades!)
Já agora, acrescento esta que li no instagram, em forma resumida: quando alguém atira uma frase provocatória está a testar a reacção do seu meio-ambiente. Ficar embaraçado, ficar calado ou afastar-se é ser, de certo modo, cúmplice.
Mais vale treinar uma resposta padrão tipo "isso que acabaste de dizer cheira um bocadinho a merda nazi".
Mas tenhamos também em mente um truque antigo das polícias políticas das ditaduras: atirar uma provocação para registar a reacção de cada um. Ficar calado, nesse caso, é uma atitude inteligente de sobrevivência.
Portanto: enquanto vivemos num Estado de Direito, há que apontar tudo o que fede a "merda nazi". Deixar banalizar o fedor é mais de meio caminho andado para o beco sem saída.
Ontem fiz anos. Outra vez!
Caramba, é assim que uma pessoa se põe velha...
Tivemos uma sessão muito especial nos Portuguese Cinema Days in Berlin: Mulheres do Meu País, de Raquel Freire. Sala cheia, Q&A com a realizadora, interessantíssimo e longo, até nos mandarem sair da sala porque ia começar a sessão seguinte. Bolo de limão e vinho do Porto na lounge do cinema, e muitas conversas animadas.
Em casa, tinha o computador cheio de comentários simpáticos que escreveram por ocasião do aniversário dessa notável façanha que foi ter nascido.
Se alguém souber de um cardiologista que faça preço de amigo para tratar uma coisa assim tipo quentinho no coração, agradeço.
Do diário no facebook:
15.11.2021
Pára tudo! Acabaram de me dizer que tenho uma voz igual à da Maria de Medeiros.
Um dia que precisem de alguém para dobrar a voz dela, para falar em português, já sabem: contratem-me.
(Ai, espera...)
15.11.2021
E por falar em voz semelhante...
A primeira vez que ouvi Arpi Alto pensei que seria um caso tipo Conchita Wurst, mas em mais bonito. Estava realmente surpreendida com aquele registo tão grave. Afinal, não: é mesmo uma arménia que tem uma extraordinária voz de contralto.
Hoje, ao ouvir este You Are So Beautiful, dei-me conta que ela canta no mesmo tom que eu. Enfim, canta mais bonito e com mais graça, mas eu consigo cantar no mesmo tom confortavelmente.
Ora bem: este é o segundo post consecutivo em que me ponho em bicos dos pés para poder dizer "ó pra mim, sou eu e ela".
Vou é trabalhar, que nós somos muito parecidas muito iguais, mas nenhuma delas me vem ajudar a traduzir um livrinho interminável que tenho em mãos.
Ontem, o telemóvel ouviu que estávamos a falar em comprar um pinheirinho de Natal como deve ser, com o seu aroma a floresta, e mais as velas de cera de abelha, e os pássaros de vidro checos, e tudo. É que vamos ter um convidado especial, directamente vindo da Trumpsilvânia(*), e queremos impressioná-lo e mostrar-lhe como tudo é lindo e aprazível aqui no nosso continente onde impera o comunismo. Mas não gostamos nada da ideia de comprar uma árvore para deitar fora logo a seguir (nós, os da seita do clima, somos assim).
Como ia dizendo: ontem, o telemóvel ouviu a conversa em português, e esta madrugada já me estava a informar em alemão que é possível comprar um abeto anão no vaso, com links e preços e tudo. Só cresce até 1,5 m, pode passar o ano todo na varanda, e no Natal vem para dentro de casa, e todos são felizes para sempre.
Agora, digam-me cá como devo reagir.
É que devia ficar chocada e aterrorizada por isto estar a acontecer, mas a verdade é que me sinto grata e muito tentada a aceitar a sugestão.
Será síndrome de Estocolmo?
[ pssst, ó telemóvel: se me dissesses onde arranjar mais pássaros de vidro com plumas na cauda, sem ter de ir ao mercado de Natal de Erfurt ali por volta de 2005, agradecidinha! ]
(*) o seu a seu dono: quem me dera ter inventado esta piadinha da Trumpsilvânia, mas não - ouvi-a à Nina Hagen, pouco depois de Trump ter ganho as eleições pela primeira vez.