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27 setembro 2021

mais alguns episódios do admirável mundo novo




(...e depois há as cenas entre mim e o computador que me atende o telefone quando quero fazer movimentos na conta bancária:
- o que deseja fazer a seguir?
- transferência.
- não entendi. O que deseja fazer a seguir?
- transferência.
- não entendi. O que deseja fazer a seguir?
- transferência.
- não entendi. O que deseja fazer a seguir?
- transferência.
- não entendi. Escolha: saldo bancário, movimentos, transferência...
- transferência.
- não entendi. O que deseja fazer a seguir?
- transferência.
É o que dá ter máquinas de reconhecimento de voz insensíveis ao charme de falar alemão com pronúncia francesa.)


07 julho 2020

notícias da aldeia da roupa branca (2)



Parece que aqui em Brest não é costume - ou se calhar até é proibido - pendurar um estendal de roupa nas janelas viradas para a rua. Começo a suspeitar que o estendal maravilhoso que comprei no supermercado do meu bairro seja para o aquecedor ou para a banheira, e não para a janela onde assenta tão bem. 

Já devia ter desconfiado há mais tempo. Afinal de contas:

1. Nunca vi nenhum estendal assim na minha rua. 
2. Nem em nenhuma outra de Brest, excepto numa de traseiras. 
3. Nem em Brest, nem - pensando bem - em Berlim. Ou no Porto.

De modo que estou com a auto-estima na subcave: tantos anos a pensar que sou gente fina, para me dar agora conta de que afinal sou aquele tipo de emigrante que não respeita as regras do país onde se instala. Logo eu, que pensei tantas coisas feias sobre os vizinhos que faziam muito barulho nas escadas, não fechavam a porta da rua, e coisas assim; acabei de descobrir que tenho uns pés de barro quase até aos joelhos. E é para não dizer até ao pescoço.

Pior ainda: reincidi. Hoje lavei a capa do edredão. No estendal à janela seca a tempo de o poder voltar a usar hoje à noite. Dentro de casa, precisa de uns dois ou três dias. Podia ir à lavandaria do fim da rua metê-lo no secador, mas custa-me gastar energia eléctrica para algo que o sol e o vento resolvem sem problemas.

A única maneira de escapar disto com alguma dignidade é votar nos Verdes, e sugerir aos candidatos que os estendais à janela sejam um ponto importante do programa. Abaixo a proibição dos estendais por motivos estéticos!

Tanto mais que os estendais, além de permitirem poupar energia eléctrica, tornam as ruas bem bonitas. E informativas.
(Mas eu, hehehe, arranjo sempre de usar toalhas de banho ou lençóis para esconder certas informações mais privadas, hehehe)


23 novembro 2019

e então, Heleninha, que fizeste no teu aniversário?




Dei um saltinho a Portugal, ali no centro de Berlim. Havia magusto. E feijoada e pastéis de bacalhau, e Sagres e Super Bock para agradar a gregos e troianos. E uma concertina, e cantares brejeiros do Minho. E bombos.

Passei a tarde a conversar com amigos, a trocar informações sobre tudo e nada (inclusivamente esta, que vale ouro: um empreiteiro de confiança na zona de Ponte de Lima, Yeeeeey!), a rir em português. Ali no centro de Berlim.

(Foi uma sorte o Pacheco Pereira não morar numa daquelas casas em frente, e não escrever uma crónica a falar dos estrangeiros "que aos domingos invadem as nossas praças com os seus costumes diferentes" - como uma vez se referiu aos muçulmanos de Bruxelas. De cada vez que participo num magusto ou numa sardinhada de portugueses no centro de Berlim, lembro-me daquela crónica do Pacheco Pereira a rejeitar os estrangeiros no centro de Bruxelas.)


[ PS. Uma vez que falei dos bombos, aproveito para informar que a Associação 2314 dá aulas gratuitas de bombos às terças-feiras em Neuköln. Trata-se de um projecto financiado pelo MNE. ]