Em Setembro de 2018, em férias na Serra da Arrábida, uma verdade que sabia há muito encontrou finalmente as palavras certas para se afirmar em mim com toda a nitidez:
No nosso planeta, a extinção de espécies é um fenómeno quotidiano - e para a Natureza os seres humanos são apenas mais uma espécie. A Natureza subtrai e segue, impassível.
Perante a constatação, desenhou-se também com nitidez um sobressalto: sem nós, que vai ser do Goethe?
(Antes que se lembrem de me tirar a nacionalidade portuguesa, em meu favor argumento que Goethe é um gigante que ainda não consegui alcançar, e a sua conquista é um daqueles projectos que guardo para realizar quando for grande. Talvez por isso tenha sido o seu o primeiro nome a ocorrer-me ao tomar consciência da nossa transitoriedade como espécie.)
Em tempos de covid, a vulnerabilidade do homo sapiens é bastante palpável. Mas em 2018 o que realmente me assustava - e continua a assustar bem mais do que este vírus - é o que estamos a fazer ao planeta, e o preço que os nossos filhos vão pagar pela irresponsabilidade generalizada.
Ao longo dos séculos temos progredido como - para usar a famosa metáfora - anões sobre os ombros de gigantes. O inverso também é válido: os gigantes precisam dos nossos ombros para serem levados às gerações seguintes. Se cairmos, caem connosco.
O egoísmo e a cobiça dos privilegiados - indivíduos, grupos, países - que estão a conduzir o equilíbrio planetário para pontos de descarrilamento irreparável, constituem uma dupla traição: aos que vêm depois de nós, e vão receber das nossas mãos a herança de um planeta profundamente doente, e aos gigantes que nos trouxeram até aqui - esses que deram o seu melhor para oferecer aos vindouros um mundo mais justo, mais solidário, mais pacífico e mais humano.
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04 maio 2020
28 abril 2020
reconquista
Há dias disse a uma amiga, que mora mesmo à frente de uma bela montanha dos Alpes, que para ela devia ser horroroso morar junto à montanha onde adora fazer caminhadas, e não poder afastar-se mais do que 1 km da sua casa.
Ela riu-se: "Mas os animais andam felicíssimos! Nunca se viu tanta bicharada por lá!"
Isso, e estas imagens, lembram-me o batido poema de Brecht: "do rio que tudo arrasta..."
O que não terão sofrido estes animais quotidianamente durante todos os anos em que os humanos andaram à solta?
28 fevereiro 2020
fase de aquecimento
E vocês: o corona vírus já vos estragou alguns planos?
No nosso caso:
- Perdemos uma reserva no nosso airbnb, porque cancelaram uma feira de moda asiática aqui em Berlim.
- Cancelaram um congresso ao qual o Joachim ia, em Taiwan, de modo que eu vou para a Bretanha já no próximo domingo, em vez de ir só depois do seu regresso da Ásia.
- Está a ficar cada vez mais difícil encontrar certos medicamentos, porque são produzidos na China.
Diz que a economia alemã vai passar mal, porque a China é um parceiro muito importante, mas essa parte ainda não se fez sentir directamente na minha vida. Já na vida dos trabalhadores da Lufthansa Cargo...
Fico a pensar: o capitalismo criou a globalização para optimizar processos (enfim, "optimizar" é como quem diz - o planeta, por exemplo, tem outra opinião) e depois vem uma gripezinha nova e começa a meter grãos de areia na engrenagem.
Ah, por falar em doença nova: sabe-se lá que surpresas nos reserva o permafrost da Sibéria. Aquilo é uma espécie de congelador cheio de vida interior: bacilos de doenças que se julgavam extintas, por exemplo. É, como quem diz: era. A vida interior do permafrost siberiano já começou a partilhar-se generosamente com o nosso mundo. Por exemplo: vítimas mortais de antraz, por causa de um cadáver de rena vítima dessa doença, que estava ali bem guardado há séculos. Recomeçaram a vacinar as renas selvagens e os humanos contra uma doença que se julgava extinta.
Dantes - quer dizer, antes do Trump, do Bolsonaro, do Höcke - eu pensava com perplexidade nos alemães dos anos 20 do século passado: como foi possível assistirem à ascensão do nazismo sem fazerem nada? Agora começo a perceber melhor. E um dia destes, temo, também me vou sentir bem mais próxima dos indígenas das Américas quando começaram a morrer de doenças que não conheciam.
Já agora, outra pergunta: também ouvem muitas vezes notícias sobre o custo de projectos em curso para reagir ao aquecimento climático? Tipo: quase mil milhões de euros para reflorestar a Alemanha, porque as árvores actuais estão a ser dizimadas por um insecto que se tem multiplicado exponencialmente devido à ausência de frio invernal nos últimos anos.
De cada vez que leio comentários dos bots a espalhar a ideia de que o aquecimento climático é uma invenção dos governos de esquerda para aumentarem os impostos com desculpas parvas penso nos custos de reflorestamento, de reforço dos diques holandeses, de vacinar as renas siberianas. E isto, a bem dizer, ainda nem começou a ser a sério. Que fará quando for.
Já agora, outra pergunta: também ouvem muitas vezes notícias sobre o custo de projectos em curso para reagir ao aquecimento climático? Tipo: quase mil milhões de euros para reflorestar a Alemanha, porque as árvores actuais estão a ser dizimadas por um insecto que se tem multiplicado exponencialmente devido à ausência de frio invernal nos últimos anos.
De cada vez que leio comentários dos bots a espalhar a ideia de que o aquecimento climático é uma invenção dos governos de esquerda para aumentarem os impostos com desculpas parvas penso nos custos de reflorestamento, de reforço dos diques holandeses, de vacinar as renas siberianas. E isto, a bem dizer, ainda nem começou a ser a sério. Que fará quando for.
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