12 outubro 2024
concertos que tal
09 outubro 2024
concerto "Estranhos e Amigos"

07 junho 2023
e porque andas tu tão calada, ó Helena?
Ultimamente tenho andado muito calada por cá. Não é que não se passe na minha vida nada digno de contar, é mesmo só porque se anda a passar tudo ao mesmo tempo. Este fim-de-semana, por exemplo: juntaram-se a festa da minha rua, que organizo com os vizinhos do lado, mais a fantástica Festa da Cultura Portuguesa, no 10 de Junho, mais o extraordinário concerto do meu coro, que de facto são quatro, dois no sábado e dois no domingo, em cuja organização tenho grandes responsabilidades.
Se quiserem saber mais sobre a Festa da Cultura Portuguesa no 10 de Junho...
- a extraordinária festa do tudo em bom, com uma enorme diversidade de artistas (desde o grupo folclórico ao Carlos Bica, passando por cantoras líricas, música pop e outra que nem sei bem descrever, mas é muito boa, e ainda, claro claro, o fado que não poderia faltar) e os habituais petiscos portugueses, incluindo sardinha assada. Ah, e poncha! Mas não precisam de contar a ninguém que vai haver poncha, quero muito que sobre toda para mim... -
...podem seguir este link.
Se quiserem saber mais sobre o concerto Misatango...
- o fantástico concerto do meu coro, com uma pequena orquestra que inclui bandonéon (foi preciso afinar o piano de cauda alemão para o ajustar ao bandonéon, nem sei que me parece, vêm estes instrumentos estrangeiros mudar as nossas referências, em vez de tratarem de se integrar nesta sociedade, enfim, se os estrangeiros continuam a desrespeitar a nossa cultura desta forma, o melhor é fechar as fronteiras e passar a fazer unicamente cultura nacional...) (confesso que me rio sempre quando digo "nossa" e "nacional" quando estou a falar da Alemanha e dos alemães; lembro-me logo dos emigrantes portugueses em França que votam Le Pen), mas adiante: para além de a Misatango ser um peça lindíssima, no palco vai haver artistas de uma escola de dança berlinense a interpretar aquela música com as suas danças. Desde um amoroso bailado clássico de meninas de seis anos, até street dance e sapateado. Sim, podem esbugalhar os olhos, que eu também esbugalhei. É Berlim mais uma vez a experimentar caminhos -
...podem seguir este link. Eu, propriamente dita, estarei na festa da minha rua na sexta-feira à noite, na Festa da Cultura Portuguesa no sábado e nos dois concertos do Misatango no domingo. Isto, nos intervalos de fazer os trabalhos que me pagam a conta da luz (estive a pagá-la hoje, ainda não recuperei do trauma).
31 maio 2022
a paz perpétua
O projecto de 2022 do meu coro é - podem crer! - espectacular: vamos "dançar" o Requiem de Fauré, e ligá-lo à tradição mexicana do Dia de los Muertos. A doçura da abordagem de Fauré, que nos propõe a morte como passagem para o paraíso, e o reencontro festivo com aqueles que amamos e passaram para o lado de lá. E também a reapropriação dos sentidos do nosso corpo, bastante maltratados durante a crise da covid: um evento para ver, ouvir, cheirar, saborear e viver em proximidade.
Desde o princípio que penso que este projecto é muito actual, e um grande presente que fazemos à população de Berlim. Na ânsia de sobreviver à crise e de regressar depois à normalidade, restou pouco espaço para nos confrontarmos com o que nos aconteceu nestes dois anos: o stress do quotidiano transtornado, o medo da morte e da doença, a ameaça da falência, a dor de despedidas que não foram possíveis.
Sim, é um grande projecto, mas: como sempre, falta o dinheiro para o realizar. Temos andado a pensar nas várias possibilidades de financiamento, e uma delas foi pedir patrocínios às agências funerárias.
Uma delas deu um pequeno apoio, combinado com várias condições - a costumeira publicidade, mas também um ensaio do nosso coro nas suas instalações. Comecei por revirar os olhos, pensando que estavam a exagerar nas contrapartidas para um apoio tão minúsculo. Mas estivemos lá recentemente, e viemos de lá muito mais ricos.
Mostraram-nos a sala dos velórios, o armazém de caixões com todo o tipo de modelos (escolhi logo para mim o mais simples: a caixa de pinho não tratado, que eles usam para recolher ossadas) e a sala onde preparam os cadáveres para os expor no velório. Têm uma máquina parecida com as de diálise, para trocar líquidos e mudar a cor da pele ("Se o corpo estiver mais bonito na morte do que era em vida, é sinal que exageramos nos nossos esforços", disse o guia, e eu a pensar "bem, se o nicho de mercado pegar, as pessoas ainda vão começar a encomendar aparências post mortem, ai eu queria ficar tipo Brad Pitt, ai eu queria ficar tipo Brigitte Bardot...").
Falámos muito da morte, esse tema tão evitado. O pudor no trabalho com os corpos indefesos (as zonas genitais, obviamente, mas também o detalhe de, no exame para técnico de preparação do corpo, se chumbar caso se pouse por um momento a cabeça do cadáver na mesa, em vez de a pousar no suporte que ali existe para esse fim. A relação com o corpo como última homenagem à pessoa que vivia dentro dele - por exemplo, a história de uma família que entregou um lenço para pôr no corpo, e o tanto que eles pensaram sobre como usar o lenço (na mão? na cabeça, com um nó à frente, como quem vai para a apanha das batatas? na cabeça, com um nós atrás, como quem anda a limpar o pó?); repararam que aquela mulher tinha uma cicatriz na cabeça, e usaram o lenço para a cobrir, prolongando-o com um nó elegante num dos lados, entre o pescoço e o ombro: a homenagem que é também observação e reinvenção da pessoa. As decisões sobre o funeral: o que a própria pessoa quer, mas também o que é conveniente para os vivos - um enterro na floresta não é grande ideia no caso de o cônjuge sobrevivo ter dificuldades graves de mobilidade; ou a história da família que ia enterrar a mãe ao lado do pai, e foi apanhada de surpresa ao saber que a mãe deixara indicações para deitarem as suas cinzas ao mar ("conversem sobre isso antes de morrer, ponham-se de acordo quanto à melhor solução" - dizia ele).
No fim, alguém perguntou ao responsável da agência funerária, que trabalha todos os dias com mortos, se acreditava num além da vida. A resposta dele:
- Espero que não haja nada depois desta vida. A verdadeira paz perpétua é o fim absoluto.
Gostei da formulação: "espero que". E ocorreu-me que esse ponto absolutamente final pode ter um lado positivo: nada de viver na inquietação eterna de tudo o que se fez mal nesta vida, nada de voltar à terra para tentar melhorar. A nossa vida é aqui e agora, e todos os dias contam, todos os gestos contam. A nossa vida é um rascunho gravado na pedra.
A nossa vida eterna seria essa herança que aqui deixamos: o bem e o mal que espalhámos. E, nesse caso, não entraríamos no paraíso depois da morte, como em Fauré, mas estaria nas nossas mãos recomeçar todos os dias gestos de oferecer ao mundo o paraíso à medida das nossas possibilidades.
08 junho 2021
o meu coro a ver a luz ao fundo da travessia do deserto
Por causa deste vírus que se transmite por aerossóis, cantar em grupo é uma actividade de altíssimo risco e os coros foram proibidos de ter ensaios presenciais. Muitos coros perderam o hábito de si próprios logo na primeira vaga da covid-19. O nosso continuou a preparar a Misatango de Palmeri em sessões zoom. No verão de 2020 aligeiraram as regras: permitiram ensaios ao ar livre, com as pessoas a cantar a 2 m de distância umas das outras. O meu coro encontrou-se na esplanada do espaço cultural onde costuma ensaiar, para cantar conviver - com as pessoas sentadas longe umas das outras. A presidente da associação pagou os comes e bebes de todos porque, como ela disse, por causa da pandemia não pôde fazer a viagem que tinha previsto para as férias, e tinha todo o gosto em pagar essa festinha com o dinheiro que lhe ficara a sobrar.
Os ensaios ao ar livre prolongaram-se até finais de Outubro. Nós a cantar no escuro com lanternas presas às folhas da pauta ou na testa, nós a cantar à chuva, nós a cantar cheios de frio. Ainda tivemos um encontro de fim-de-semana para interpretar em conjunto a Misatango (com testes, com imensa distância entre todos, com excelente ventilação), mas logo a seguir o país entrou de novo em lockdown, e nós voltámos ao zoom.
Até à semana passada. O primeiro ensaio ao vivo desde há sete meses foi na terça-feira, e parecia aqueles reencontros com bons amigos que não se vêem há eternidades mas com quem a conversa brota imediatamente com toda a naturalidade. Eu, desabituada de falar e cantar (é que já nem sequer no duche!), redescobri a minha voz. Comentei essas descobertas com a cantora ao meu lado, que disse ter ouvido alguém afirmar na rádio que quando a pandemia passar vamos regressar rapidamente à normalidade e esquecer os tempos difíceis. Desde terça-feira da semana passada que estou capaz de acreditar que sim.
O nosso maestro é que nem por isso: depois de tantos meses a dirigir um coro sem o ouvir, estava - como comentou depois - com problemas de sinapses.
No fim-de-semana passado tivemos novo encontro para cantar e conviver. Reservámos a Haus am Waldsee - que tem um café, espaço de exposições e um relvado em declive até um lago, cheio de esculturas impressionantes - para cantar e conversar no jardim.
Já era normal os ensaios deste coro decorrerem recheados de sorrisos e sinais de bom entendimento, com animadas conversas nos intervalos. O que é novo é que agora comecei a dar-me conta disso, e do enorme valor do que tínhamos e estamos a recuperar. E reparo muito mais nas expressões faciais. Só não sei dizer se não reparava antes, ou se todos nós ficámos muito mais expressivos depois de tantos meses em isolamento e a comunicar com o rosto tapado por uma máscara.
Em todo o caso: venha o futuro! Tinha muitas saudades dele.
--- O futuro do nosso coro já tem roteiro: o nosso projecto para Outubro de 2022 chama-se "Fiesta Requiem - um abraço". Quem puder estar em Berlim nessa altura, marque no calendário e arranje de reservar os bilhetes. (Quem avisa, amiga é.)
16 dezembro 2020
uma festa de Natal muito zoomarenta
Depois fui trabalhar muito, e muito depressa, e daí a nada já estava assim outra vez:
Foi no zoom, e foi a melhor festa de Natal de um grupo grande em que alguma vez participei. Por mim, passávamos a fazer todas as festas de grupos de empresa ou tempos livres assim, por um motivo muito simples: o zoom permite que todos ouçam o que cada um está a dizer. Ao passo que nas festas de grupos grandes o pessoal rapidamente se divide em pequenos grupos.
Alguns dias antes enviaram um questionário para nós respondermos sem pensar muito:
1. O que foi o melhor e o pior deste ano?
2. Se o nosso coro fosse um animal, que animal seria?
3. Se pudesses dar livre curso à tua fantasia, qual seria o teu desejo para o próximo ano?
Também pediram que enviássemos algumas fotos tiradas nos eventos do coro, e preparássemos uma história engraçada de Natal que quiséssemos contar a todos.
- uma fotografia com mais de 10 anos
- um sapato de ir a concertos (esse foi fácil: uma pantufa, porque ultimamente só vou aos concertos no digital concert hall)
- algo feito à mão por nós próprios
- algo de desporto
- o meu livro favorito
- um postal com uma paisagem
Quando o piano se calou voltámos aos nossos lugares, e cada um mostrou as suas coisas e contou as respectivas histórias. Para mim, este foi o momento alto da festa de Natal: nunca estive tão próxima dos meus colegas de coro como neste momento em que mostravam uma fotografia do casamento, ou de algum filho, ou de uma palermice qualquer, ou o leque de tai-chi, ou o colchão de yoga, etc.
Depois estivemos a apreciar os adereços de Natal que alguns tinham posto em si próprios (o meu favorito foi a nossa solista, que meteu a cabeça dentro de embrulhos de Natal, com luzinhas a piscar à volta).
Outro dos momentos altos da festa foi a leitura das nossas respostas, arranjadas num texto muito bem composto que nos fez sorrir e soltar uma ou outra lágrima: ouvindo o que alguns têm encontrado de bom neste estranho tempo, sorrindo com os desejos mais divertidos, rindo com os animais malucos que inventaram.
As pessoas foram saindo a pouco e pouco, até que ficou apenas um pequeno grupo a saborear até ao último momento o copo de vinho e a presença dos outros.
Nunca pensei que uma festa de Natal no zoom me pudesse deixar com o coração tão cheio.
E já combinámos que na próxima festa - que será com certeza ao vivo! - vamos repetir o jogo dos objectos.
25 março 2020
o meu coro em zoom
Ontem o meu coro teve um ensaio via zoom, e o melhor de tudo foi quando as pessoas começaram a entrar em linha: pipocavam muito alegres no meu ecrã.
(Não sabia que gostava tanto deles.)
O ensaio começou com o maestro no centro, nós muito bem arrumados cada um na sua janelinha, e ele a explicar como é que o sistema funcionava. Confessou, a rir, que o que mais lhe agrada neste sistema é poder pôr-nos em silêncio - "quem me dera ter esta tecla durante todos os ensaios convosco!"
Fizemos os exercícios de aquecimento, e cantámos várias vezes:
Evening rise. Spirit come.
(Para quem quer saber tudo: a versão que cantámos foi esta, com arranjos de Meinhard Ansohn. Mas optei partilhar o vídeo que está no princípio deste post porque me soube muito bem aquele passeio inicial pela floresta tropical.)
Depois cantámos em conjunto uma parte da peça que estamos a preparar para o concerto de Novembro. "Cantar em conjunto" é uma maneira de dizer: cada um cantava para si, olhando para o maestro que, de facto, estava a dirigir uma gravação no piano. As diferentes ligações de internet implicam velocidades diferentes para cada uma das vozes do coro, fazendo com que o conjunto seja, digamos, uma interessante cacofonia.
Ao ver o meu maestro a dirigir o vazio lembrei-me de uma cena contada por Konrad Latte, um músico judeu berlinense que conseguiu escapar ao Holocausto arrancando a estrela da roupa e usando um nome falso. O jovem Latte tinha aulas com um maestro que teve a delicadeza de não lhe fazer qualquer pergunta sobre a sua vida. Durante os terríveis anos da guerra e da perseguição ensaiavam apenas com a partitura da orquestra, e Latte contaria mais tarde no seu livro "E nem que ganhemos apenas uma hora" que os vizinhos deviam achar estranhíssimo ver pela janela os dois homens a gesticular com movimentos largos, fechados numa sala em silêncio.
(Para quem quer saber tudo: Konrad Latte foi o criador da Berliner Barock-Orchester, que dirigiu de 1953 a 1997.)
No fim do ensaio falámos dos ajustamentos que teremos de fazer. Provavelmente haverá ensaios por naipes. E vamos usar o zoom também para ter aulas de canto individuais ou em pequenos grupos.
Outro ajustamento que temos de fazer é um controlo melhor da nossa imagem. As cenas que nós fazemos no coro, que vergonha! Os bocejos, os olhares, os esgares...
O maestro diz que para ele não foi nada de novo, porque vê disso em todos os ensaios.
Ou seja: mais uma vez se prova que este tempo estranho serve ao menos para nos revelar algo que que não sabíamos sobre nós mesmos.
À despedida, uma das cantoras anunciou muito orgulhosa que os vizinhos dela estavam todos à janela a aplaudir.
(O que me lembrou uma gracinha que li há dias no instagram: a sugestão para ter sexo uns minutos antes da hora a que começa o aplauso aos profissionais da saúde.)
Quando desliguei, por volta das nove da noite, dei-me conta de que, pela primeira vez em muito tempo, tinha passado duas horas sem me lembrar de sentir fome. Jantei tristonha e nostálgica, ligeiramente atormentada pela dor de ter lembrado como era a minha vida antes.
Mas tenho esperança que lá para Julho as medidas de segurança vão abrandar, e sei que em fins de Setembro regresso à Alemanha e recupero o meu coro em carne e osso.
Isto não passa de um intermezzo.
25 novembro 2019
meu Requiem de Mozart
(Enfim, o segundo melhor. O primeiro melhor teria sido sabermos todos a partitura de cor, estarmos bem ligados a todas as vozes do nosso naipe, não tirar os olhos do maestro.) (Ah, e ter uma boa acústica, que uma boa acústica dá sempre jeito, e naquela igreja não conseguíamos ouvir as pessoas da fila da frente nem da fila de trás.)
Depois do ensaio desastroso, ficamos em modo alerta total. À frente do nosso público, numa casa cheia a rebentar pelas costuras, demos tudo. Simultaneamente tensos e calmos. E foi assim que no dia 24 de Novembro de 2019 inventei uma nova lei da Física - a Lei da Relatividade Música-Tempo: quando a música corre bem, o concerto conclui-se muito mais depressa. Ontem, não me durou nem cinco minutos, e cheguei à última página em luto antecipado por termos chegado ao fim. Se me deixassem mandar, inventava concertos destes em repeat. Enquanto estivesse a correr bem, ninguém parava.
(Não liguem a esta proposta, esqueçam. Era falar por falar. Mesmo antes de pôr o ponto final parágrafo já me tinha ocorrido que seria uma espécie de priapismo, e dizem que é doloroso. Esqueçam.)
Resumindo e concluindo: às vezes vejo os filarmónicos de Berlim a sair de um concerto, e trazem um brilho diferente nos olhos. O melhor do meu requiem de Mozart de ontem foi descobrir em mim o que existe por trás e por dentro desse brilho.
23 novembro 2019
desculpa lá, ó Mozart
Também estou um bocado preocupada com aquela coisa de cantar a consoante do início da palavra antes do pulso ainda me baralha um bocado (o nosso maestro que não saiba disto!).
Hoje, no duche, descobri que já sei a fuga do Kyrie quase toda de cor. Quase toda. O problema é que me escapa a passagem para o movimento final, que é diferente, e pareço um disco riscado a repetir sempre e sempre a mesma frase. Desisti ao fim de inúmeras voltas, e agora estou a pensar quanto é que este Kyrie me vai custar na conta da luz no fim do mês.
Lux aeterna, aeterna, aeteeeeeerna...
---
Agora, a sério: chegar mais perto de Mozart nota a nota e frase a frase, e sentir o seu génio a tentar traduzir-se pelas minhas cordas vocais, foi das melhores coisas que me aconteceram este ano. Ainda estou muito longe de tocar a verdade de Mozart, mas sinto-me grata por este encontro entre a beleza da sua música e a minha incompletude. Apesar da minha incompletude.
25 janeiro 2019
reais catástrofes
Programa para hoje: além do restante trabalho, aprender de cor os textos de cinco das canções que vou cantar com o meu coro no concerto de hoje. Os bilhetes já estão todos vendidos, os figurinos experimentados, o pianista (que é o português Rui Rodrigues, yay!) a postos - a única coisa que falta é eu fazer a minha parte e aprender a cantar tudo muito bem.
("Cinco para a meia-noite" é o meu nome do meio, triste vida.)
O coro foi criado em 2016 e já tem um belo histórico de façanhas. De todas, a que mais me impressiona é a capacidade de delegar do nosso maestro: praticamente todos os membros do coro assumiram a responsabilidade por uma tarefa concreta - partituras (cópias, distribuição, direitos), gestão da página na internet, listas de mailing por temas e naipes, informações várias, abrir e fechar as salas onde ensaiamos, instalar os pianos electrónicos e arrumá-los no fim, etc.
(A mim calhou-me: aprender a cantar bem as peças cinco minutos antes do concerto...)
O nome do programa do concerto de hoje e do próximo domingo é "reais catástrofes". Todas as peças são sobre reis ou rainhas - desde "All Creatures Now", de Bennet, até "König von Deutschland", de Rio Reiser - em grande diversidade de épocas e estilos musicais. Os apresentadores prepararam textos tão divertidos quanto profundos. Por exemplo, quando chamam a atenção para a atemporalidade do desespero do rei de Ungewitter, de Schumann: "no alto deste castelo / não sou rei com espada e coroa / sou o filho impotente e apreensivo / destes tempos de cólera".
(Ou pensaram que o nome "reais catástrofes" era em minha homenagem? heinhe?) (bom, reconheço que seria merecida)
A encenação deste programa esteve a cargo de uma dramaturga de teatro musical que já conhecemos de alguns projectos da Filarmonia, e de uma das cantoras do coro, também dramaturga, mas da área do cinema. De modo que chegámos ao ponto de treinar a expressão do rosto e a direcção do olhar em determinadas passagens de uma canção. Além de concerto, é um show.
(Cantar afinadinho, alinhados à frente do maestro, é muito século XX.)
Os figurinos, por sua vez, são um espectáculo. Do meio dos cantores, vestidos de preto, sobressaem dois soberanos por naipe, profusamente produzidos. A minha favorita é uma das rainhas das soprano, que vem de chapéu real e blusa, mas traz sobre as calças pretas apenas uma armação de arames para saia. Sempre que olho para ela dá-me vontade de rir.
(Convém que não olhe para ela durante a parte do Ungewitter, do Schumann).
De modo que agora cá vou eu ao trabalho: aprender de cor o texto do Bassa Selim e do König von Deutschland (logo eu, que sempre detestei a rapidez do rap!), o da Glor'würdge Königin, partes do Ungewitter e da Traurige Krönung. Ah, e treinar bem a tensão de "All creatures now", porque em certas passagens - aquelas em que me sinto mais segura - esqueço que se trata de música renascentista e espraio-me como se estivesse a cantar Schumann.
(Aprender textos alemães de cor, enquanto vou despachando as outras urgências do dia: "quadraturas do círculo" é o meu nome do meio.) (Com tantos nomes do meio, um dia destes o meu passaporte terá de vir com folhas desdobráveis.)
E além disso está a nevar. Se calhar também vai ser preciso ir limpar o passeio.
(Seria a primeira vez que alguém limpa um passeio a cantar a melodia do contralto no Bassa Selim.)
12 março 2017
aqueles cinco minutos de sol entre as nuvens grossas e o horizonte
Ontem ia no S-Bahn a caminho do nosso grande concerto quando o entardecer se encheu de luz.
Sentada no banco do comboio, fui disparando. É daqueles momentos em que até de olhos fechados se acerta. Tive pena de não ter a máquina melhor ao passar no Hansaviertel, com os seus prédios da exposição internacional de arquitectura de 1957. Num deles, havia uma bicicleta na varanda num dos andares mais altos.
O concerto correu bem. Muito bem. Agora temos duas semanas de férias, e depois começa o novo desafio: uma viagem à lua, uma ópera novinha em folha.
11 março 2017
In the spring time, the only pretty ring time, / When birds do sing, hey ding a ding, ding; / Sweet lovers love the spring.
Mais um daqueles dias em que bem me podia dar inveja de mim própria: esta manhã, no ensaio geral, ouvimos o Ravel dos dois pianistas ("Ma mère l'oye"), e o Rundfunkchor a cantar cheio de swing "It was a Lover and his Lass", canção de George Sharing sobre um poema de Shakespeare.
O maestro deles disse-lhes que os queria a cantar aquilo no espírito On the Road de Jacques Kerouac. "Como a descrição que faz daquele clube de jazz em Nova Iorque", explicou.
Ai, a correspondência das artes: agora para cantar Shakespeare é preciso ler Kerouac e frequentar bares de jazz em Nova Iorque...
Ainda está frio em Berlim, mas esta música dá-nos primavera.
(A peça começa a 4:25 - e o Rundfunkchor canta isto muito melhor, mas ainda não gravaram, por isso deixo aqui o que encontrei.)
IT was a lover and his lass, With a hey, and a ho, and a hey nonino, | |
That o'er the green corn-field did pass, | |
In the spring time, the only pretty ring time, | |
When birds do sing, hey ding a ding, ding; | 5 |
Sweet lovers love the spring. | |
Between the acres of the rye, | |
With a hey, and a ho, and a hey nonino, | |
These pretty country folks would lie, | |
In the spring time, the only pretty ring time, | 10 |
When birds do sing, hey ding a ding, ding; | |
Sweet lovers love the spring. | |
This carol they began that hour, | |
With a hey, and a ho, and a hey nonino, | |
How that life was but a flower | 15 |
In the spring time, the only pretty ring time, | |
When birds do sing, hey ding a ding, ding; | |
Sweet lovers love the spring. | |
And, therefore, take the present time | |
With a hey, and a ho, and a hey nonino, | 20 |
For love is crown`d with the prime | |
In the spring time, the only pretty ring time, | |
When birds do sing, hey ding a ding, ding; | |
Sweet lovers love the spring. |
overdose
Três concertos, e três ensaios com o Rundfunkchor e o seu maestro que é muito tipo agarrem-me que se começo a pôr aqui coraçõezinhos nem sei que vos diga que vos conte.
Começo com um presente: este domingo o Digital Concert Hall transmite em directo e gratuitamente um concerto com Zubin Mehta e Pinchas Zuckerman. Vi-o hoje, e foi sublime. Concerto para violino de Elgar, e 5ª de Tchaikovsky. Domingo, 13.3, às 7 da tarde em Portugal.
Não sei como é que Zubin Mehta aguenta este ritmo aos 81 anos - já dirigia os Filarmónicos ainda eu não era nascida, ainda nem sequer era uma ideia. E aqui está ele: por estes dias tem dado vários concertos consecutivos em Berlim - o Elgar e o Tchaikovsky desta semana, a seguir ao Bartók e ao Ravi Shankar da semana passada. Ai, o concerto do Ravi Shankar, com a cítara tocada pela Anoushka Shankar! Raramente bati tantas palmas - eram merecidas, e além disso queria que ela voltasse muitas vezes ao palco porque estava com uma roupa lindíssima, que eu não me cansava de ver.
Amanhã vai ser o concerto do meu coro com o Rundfunkchor. Trabalhámos muito durante vários meses para chegar aqui, e desta vez sinto que entendi o que estou a cantar e posso saborear melhor a alegria de fazer esta música.
Já tivemos vários ensaios com o coro profissional. Nos dois últimos optaram por separar os coros, em vez de misturar os profissionais com os amadores. A minha auto-estima agradeceu imenso.
No concerto de amanhã vamos cantar algumas peças juntos, outras cantam só eles, outras cantamos só nós. E há uma, uma das que vão ter estreia mundial no concerto de amanhã, do Frank Schwemmer, em que cantamos juntos três estrofes e a seguir canta apenas o Rundfunkchor. Ouvi-os ontem: estávamos formados em semicírculos concêntricos, os profissionais atrás de nós, e de repente fomos envolvidos por uma música de tal beleza, cantada de maneira tão bela, que tive de me conter para não chorar.
Por mim, nem precisava de concerto: já me basta o que aprendi e o que me ri na sua preparação. O maestro do Rundfunkchor é um holandês bastante jovem, muito expressivo e com enorme sentido de humor. Ontem, por exemplo: a ensaiar a primeira das Valsas de Amor de Brahms começou ele próprio a valsar à nossa frente. E pedia desculpa aos pianistas, dizia "oh pá, estou empolgado! Esta música é tão cool!" Exigente nos detalhes, quer que sintamos cada palavra que cantamos, que a cantemos de modo a ser claro o que ela significa. Mima-nos a música como a quer ouvir de nós. Faz comentários do género: esse "vem, vem" não me convence, assim não me convencem a vir - e põe cara de reticências, e ri. Dá o exemplo dos fãs de futebol a chamar nomes ao árbitro para nos explicar como é a cadência com ritardando que queria. "Se 30.000 holandeses acertam isto, vocês também vão conseguir". E quando os naipes masculinos cantaram uma frase de forma pouco nítida, ele contou que daqui a um mês vai haver eleições na Holanda, e que o Geert Wilders distribuiu uma folhinha com o seu programa, "não mais que uma folhinha"; um dos pontos é sobre cortar os apoios às televisões, às rádios, à cultura, à música clássica, etc. etc. - e acrescentou, virado para os homens: "vocês estão a cantar esta frase como etc. etc. - ahem, desculpem, isto não veio muito a propósito, mas é uma coisa que não me sai da cabeça, e preciso de falar."
Amanhã temos um dia de muito trabalho, depois temos o concerto, e depois virá o vazio. Já sinto saudades destes dias.
01 março 2017
e então, Heleninha, como correu o ensaio com o compositor?
Numa passagem em crescendo, o compositor - sempre a sorrir - pediu aos naipes femininos que não respirassem entre duas frases longas. Ah, malandro, desconfiei logo que se queria ir armar depois com os amigos: "as mulheres, oh, à minha frente: desmaiam todas!"
Pouco faltou.
Na segunda peça que lhe mostramos pediu mais velocidade. Já viram uma locomotiva a vapor a tentar fazer de TGV? Fomos nós, ontem. Mas ele gostou, e explicou que queria ter naquela música uma cacofonia de feira e festa popular, queria que nós cantássemos desirmanados e estridentes. Ora, já podia ter dito antes, veio falar com as pessoas certas! E tinha-nos poupado boas horas de ensaio no fim-de-semana do coro. O que nós nos esforçámos para cantar bem, e afinal ele queria era uma demonstração do que fazemos facilmente e com a maior das naturalidades!? O maestro deu o pontapé de partida, e nós largámos à desfilada, a ver quem chegava primeiro ao fim.
O compositor sorriu.
(Qual será a marca do calmante que toma?)
Em casa, contei ao Joachim. Que agora quer um bilhete para o nosso concerto. Disse-lhe que é muito caro, 25 euros, e até estão esgotados, mas ele insiste. Não sei se é sadismo, se é masoquismo, se é amor. Às tantas é por saber do que a casa gasta, e de como gosto de fantasiar quando falo do que me enche o coração.
Ponho-me a brincar com estas coisas, mas estou certa que o concerto vai ser bom. E para o meu coro, esta é uma oportunidade única de aprender com os melhores e de fazer caminho. Eu, por exemplo: mais 400 anos disto, e vou parecer o Farinelli. Tiques e tudo.
28 fevereiro 2017
F*** day
Conhecem o famoso "F-word"? O meu é "Filarmonia". Foi hoje, outra vez.
Comecei por preencher a ficha de inscrição para participar na ópera que vai ser estreada em Junho. Quando cheguei à parte da motivação, escrevi:
- Então, trata-se de um education project da Filarmonia de Berlim e ainda me perguntam a motivação?! :)
(Eu sei que o mundo real não é assim, mas insisto em tentar ajustá-lo à minha maneira. A ver se corre bem.)
Depois fui ao Lunchkonzert. Era dia de duetos de piano e clarinete, como não ir?
Gostei muito do segundo andamento da sonata para piano e clarinete f-Moll op 120 nr. 1 de Brahms (no vídeo, a partir de 7:12). Estou ansiosa pelo próximo entardecer de domingo, é a música certa para adoçar essa hora.
Também gostei muito do Tema con variazioni para clarinete e piano, uma peça composta em 1974 por Jean Françaix. Ouçam, ouçam. Devolvo o dinheiro a quem não gostar.
Almocei com uma amiga, e por mim ainda agora estávamos lá na conversa. Mas o dever chama. Daqui a nada saio para o ensaio do coro. Em duas semanas vamos estrear uma peça de um compositor berlinense, e ele vai assistir hoje ao ensaio. Ai! A ver se não me acontece como da outra vez, quando me fui pôr num sítio onde não estava ninguém, e depois percebi que era mesmo ao lado do compositor da peça que íamos estrear, e no fim de cantarmos o Simon Rattle perguntou ao compositor o que achava e ele respondeu que não estava nada mal, mas era bom se conseguíssemos cantar em uníssono, e por azar estava a falar de mim. Triste vida, sou sempre o único soldado que vai a marchar bem na parada inteira.
e ainda perguntam?!
O novo Education Project da Filarmonia de Berlim é "A Trip to the Moon", uma ópera infantil encomendada a Andrew Norman, inspirada num filme francês de ficção científica de 1902. A première será no dia 17 de Junho, na Filarmonia. O coro vai cantar em "moonish", uma língua nova inventada de propósito para esta história, só com vogais e cheia de ritmo. O projecto inclui trabalhar com o Simon Halsey (aaaaiiii, o Simon Halsey) (que já nem sequer está em Berlim) e com o Simon Rattle (aaaaiiii!) (que vai deixar os Filarmónicos em 2018).
Tenho a ficha de inscrição à minha frente, cheguei à parte em que me pedem a motivação para participar neste projecto, e estou a agarrar-me para não escrever:
"e ainda perguntam?!"
22 fevereiro 2017
amor, prazer e dor
Comprei com meio ano de antecedência bilhetes para um concerto da Maria João Pires, e andei este tempo todo em estado de Vorfreude (mais uma palavrinha alemã para enriquecer o léxico de todos: aquele estado de alegria antecipada por alguma coisa que vai acontecer, seja um concerto especial, umas férias, ou as batatas azuis que vou plantar aqui na minha quintinha).
Entretanto o meu coro começou um projecto especialíssimo com o Rundfunkchor - o coro profissional que costuma cantar com a Filarmónica de Berlim - e o segundo ensaio com eles coincidia com o concerto da Maria João Pires. Ainda pensei fazer gazeta, mas depois do primeiro ensaio percebi que a questão não é a obrigação de estar presente, é mesmo a oportunidade extraordinária de cantar ao lado daqueles cantores profissionais, e de aprender com o maestro deles, que é um espanto, vários espantos juntos. Um dia ainda escrevo um ensaio de teologia sobre este Deus que insiste em encher-me de nozes sem critério, como estes dois imperdíveis à mesma hora.
Com muita pena, desisti do concerto da Maria João Pires. E logo a seguir um amigo avisou-me que ela o cancelou. Ia anunciar alegremente que Deus existe, mesmo e sem margem para dúvidas, quando me lembrei que sou a Calamity Jane da música clássica. Ai! E se aconteceu alguma coisa à pianista? Low profile, que as conclusões teológicas ainda me saem pela culatra: arrisco-me a que me tirem a nacionalidade e me metam na cadeia por alta traição. Espero sinceramente que o concerto só tenha sido cancelado porque ela percebeu que eu já não podia ir assistir, e portanto não valia a pena dar-se ao incómodo de vir a Berlim. Claro que foi isso.
Ontem foi o segundo ensaio com o Rundfunkchor, na sala em que eles trabalham, com piano de cauda, estantes de madeira, painéis para melhorar a acústica - um luxo. Desta vez, fiquei entre a cantora que às vezes vem ajudar o nosso maestro com ensaios dos naipes, e uma solista do Rundfunkchor. Que maldade! Parecia aquela vez que puseram o o António Zambujo a cantar com o Milton Nascimento, mas muito pior. Parecia a anedota do elefante e da formiguinha, e eu de tal maneira intimidada que nem consegui brincar com a ideia da areia que estávamos a levantar. Não se faz isto a uma simples mortal! Lado a lado, ela tão insuperavelmente acima de mim, tudo era abismo entre nós: a sua voz cheia e segura, a dicção perfeita, a concentração absoluta, as palavras separadas com primor (quantas vezes o nosso maestro nos pede para meter uma folha de papel entre as palavras, e nos pergunta quem é esse "Willich" de que falamos quando devíamos dizer "will ich"), as consoantes finais no milésimo de segundo certo, a tensão, a exactidão dos crescendos, a doçura dos pianos ("piano não é um forte frustrado", dizia o maestro deles), a respiração, a frescura inteira no fim das frases. E eu ao lado dela, a morrer de vergonha. Sadismo puro.
No intervalo, perguntei à cantora do outro lado (a estudante de canto que às vezes nos ensaia) se queria que eu trocasse de lugar com a solista, para ela a ouvir melhor. Disse que não, tranquilo tranquilo, que estava tudo bem como estava. E depois, a meio da segunda parte do ensaio, no fim de uma peça de Brahms, acrescentou: "não preciso nada da solista ao meu lado, já te tenho a ti, cantas como uma profissional". Aaaah, comecei logo a cantar melhor.
Sou uma rapariga muito sugestionável.
("Amor, prazer e dor" é uma excerto da canção de Brahms. Que é a minha favorita das suas 18 "Valsas de Amor".)
12 fevereiro 2017
cantorias e andanças
O fim-de-semana com o coro foi muito cansativo e muito proveitoso. Treinámos imensos detalhes: "inspirem em u e cantem i", o momento certo para terminar as palavras (malditos s, malditos t e dt...), a respiração como umas férias curtíssimas a meio das frases, para atacar a segunda metade com toda a energia, a proibição de "ir de elevador" entre as notas (gostei imenso da expressão).
Para nos obrigar a estar concentrados e a ganhar segurança, o maestro pôs-nos a andar desencontrados na sala, cantando ao mesmo tempo. Gostei imenso dessa combinação de enorme concentração na partitura e combinação aleatória e alternada com os outros naipes. E gostei ainda mais quando o nosso maestro, que é muito exigente e ambicioso, interrompeu uma cadência para anunciar com orgulho "este é o meu coro!"
(Sim, eu sei, síndrome de Estocolmo.)
No último bloco tentámos um ensaio geral do concerto, porque o próximo ensaio já é com os profissionais do Rundfunkchor. Correu mal: demo-nos conta de que é em voltas erráticas pela sala que cantamos melhor. De modo que agora temos um mês para aprender a cantar bem, arrumados disciplinadamente por naipes. Ou isso, ou o Rundfunkchor vai dar o concerto mais sui generis da sua vida. E talvez nós mudemos o nosso nome para "coro andanças".
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A viagem de regresso a Berlim não foi tão bonita como a de ida. O dia estava cinzento, e tornava tudo ainda mais triste. Passámos por algumas unidades de produção agrícola da RDA com os estábulos em ruínas e os prédios de habitação abandonados, atravessámos aldeias sem um único café ou loja.
Esta região pagou um preço altíssimo para a reunificação da Alemanha.