A desatinar como de costume na caixa de comentários de uma amiga, ocorreu-me isto:
Qual é a diferença entre - cuidado comigo, lá vou eu outra vez! - a Sophia e a Margarida Rebelo Pinto?
Uma enche o texto de nomes de árvores, a outra de marcas de roupa.
E eu com isso? A ler ambas, um boi a olhar para um palácio: "o que é que ela quererá dizer com isto? tem de ter um significado especial..."
(um duende que vive num carvalho tem de ser diferente de um duende que vive num sabugueiro, tal como um homem que usa cuecas Lacoste deve ser completamente diferente de um que usa cuecas Boss)
Quanto ao resto das diferenças: qualquer um sabe, não preciso de chover no molhado.
Digo apenas que tenho vários livros repetidos da Sophia, e continuo a pensar devolver o "sei lá" que comprei há muitos anos, completamente ao engano. É que li na contracapa que se tratava de "um relato crítico de um significativo estrato da actual sociedade urbana portuguesa" e pensei "ena que giro, um estudo sociológico em forma de romance", mas ao fim de muitos palavrões e marcas tira-se a conclusão que o problema daquelas meninas todas era falta de homem. Estas urbanas continuam iguaizinhas às rurais.
(Devolvam-me o dinheiro!)
(Além disso, aquilo não é um romance, é uma narrativa em contos - e, se fosse escrita agora, era em euros)
E os carvalhos, os sabugueiros?
Um amigo meu, excelente tradutor, andava uma vez à procura de um livro do séc.XIX sobre a linguagem das flores. Estava a traduzir o filme Kate & Leopold, e precisava de saber que significado Leopold dava às flores que escolhera para oferecer a Kate. Nenhum tradutor é pago para isto, claro - a parte do brio a gente faz de graça.
Lembro-me desse episódio quando leio Sophia: dava-me jeito um livro sobre a linguagem das árvores.
Às tantas, um dicionário visual de botânica já me bastava...
E, se voltar a cair na asneira de comprar um daqueles romances críticos sobre a sociedade urbana, pois lá precisarei de um sobre a linguagem das marcas. Estou cada vez mais longe do meu tempo.
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