E mais um post no Eleições 2009:
Antes de mais, gostaria de lembrar que no Domingo se vão eleger as pessoas que vão conduzir os destinos da Europa (e nossos, portanto) nos próximos anos. Tendo isto em conta, até é ridículo andarem a fazer contas de cabeça sobre as bofetadas que querem dar a este ou àquele político nacional. Para esse efeito, seria mais lógico usarem as legislativas.
Quando este artigo foi publicado pelo semanário “Die Zeit”, há pouco mais de um mês, achei-o interessante, mas não o suficiente para traduzir e publicar aqui.
Hoje, depois do resultado das eleições na Holanda, cheguei à conclusão que me enganei redondamente, e que é fundamental falarmos sobre isto. Por isso fiz (apressadamente) a tradução que se segue.
Eleições para o Parlamento Europeu
“O Ocidente Cristão é dos cristãos”
de Werner A. Perger © ZEIT ONLINE 30.4.2009 - 13:20
(…)
Apenas 21% dos austríacos (…) tencionam participar nas eleições para o PE a 7 de Junho. O resultado desta sondagem realizada no princípio de Abril foi alvo das atenções, em especial por parte dos partidos - já não tão importantes mas ainda assim maioritários - que ocupam o centro do espectro político. E isto não apenas na Áustria. A falta de interesse pela Europa em geral, e em especial pela sua política, atinge tanto os partidos tradicionais de Viena como os de outras capitais europeias. Aparentemente, os partidos não se dão conta do modo como eles próprios contribuíram para este desenvolvimento fatal. A sua sede de poder, o distanciamento dos cidadãos, e sobretudo o modo decidido como, ao arrepio de todos os desafios, defendem a sua mentalidade de self-service e privilégios, foram e são a base a partir da qual surgiram esses provocadores populistas que hoje, de eleição em eleição, e em quase todos os Estados europeus, os deixam cada vez mais assustados.
Na Áustria, são os dois partidos de direita (…) que nestas eleições conseguirão lucrar mais com a frustração dos eleitores afastados. Os cansados da política e os decepcionados ficam em casa, os irados vão às urnas. Esta é a mistura que dá origem a resultados eleitorais dramáticos.
Conversas em Viena, marcadas por resignação ou défaitisme, na melhor das hipóteses ironia ou sarcasmo: o centro político, como se ouve frequentemente, vai continuar a esboroar-se; a Direita - os herdeiros desavindos de Jörg Haider - continuaria a crescer de forma inalterada. De qualquer modo, os partidos democráticos do centro (…) não mereceriam mais que isso. De facto, e deixando de parte todos os erros e omissões que se permitiram na política, nem os democrata-cristãos nem os social-democratas souberam deixar transparecer que estão realmente interessados no projecto europeu. O fascínio pela Europa não é algo que se note nestes partidos.
Nos partidos da extrema-direita também não. Mas, neste caso, com grande eficácia. A campanha eleitoral dos populistas de direita em torno do chefe do FPÖ, Heinz-Christian (”H-C”) Strache, é uma macabra mistura de sucesso ao estilo dos supermercados baratos: primitiva, rude, de fácil recepção, louvada na lírica política das conversas de café. Alguns exemplos: “Verdadeiros representantes do povo em vez de traidores europeus”, “Para a Áustria, e não para a UE e a máfia financeira”, “Preocupações sociais x UE das multinacionais”, “o Ocidente Cristão é dos cristãos”. E ainda o slogan para o 7 de Junho: “dia do ajuste de contas”. Percebe-se porque é que “o H-C”, herói de eleitores jovens e do sexo masculino, se tornou para muitos conservadores austríacos a promessa de uma Europa berlusconizada, enquanto que para os democratas estabelecidos e exaustos se tornou um pesadelo.
O problema não é apenas dos austríacos. Na verdade, o contraprojecto populismo já ultrapassou a fase de teste na região da Áustria. Quase todos os países se tornaram entretanto objecto desta experiência de populismo. Por enquanto, os alemães foram atingidos em menor grau; no extremo oposto encontram-se os países do Leste europeu. Em Berlim, políticos preocupados falam de um conjunto de Democracias ainda precárias da Europa de Leste - membros da UE - que se preparam para parar a meio do caminho. Tem-se a impressão que agora, vinte anos depois das mudanças políticas mundiais, alguns dos novos membros da UE decidiram repensar a situação. Como se tivessem feito um balanço intermediário do caminho para a Democracia, e estivessem a corrigir a rota segundo o lema: menos é mais! Mais capitalismo de Estado, menos economia social de mercado. Mais direcção de cima para baixo, menos influência de organizações não-governamentais. Mais centralismo, menos direitos dos cidadãos e das regiões. Mais soberania nacional, menos coordenação supra-nacional. Mais Budapeste ou Bucareste, muito menos Bruxelas.
Nas velhas democracias encontram-se vários exemplos - não é preciso olhar sempre para Moscovo e copiar Putin. Democracias ocidentais exemplares têm dado disso prova, em especial na articulação dos agentes de poder e na praxis populista - a Itália à frente, mas também a França, talvez até a Áustria e a Dinamarca. Quanto à questão da segurança interna, ao entendimento autoritário do Estado e a uma arrogância do poder pré-democrática, podemos lembrar-nos da América de Bush e Cheney, mas talvez também - veja-se a acção da Polícia durante o encontro G-20 - do reino dos Labour.
Este cenário de recuo democrático é um dos sinais da crise que nos podem dar uma ideia do que poderia acontecer se as democracias europeias se enfraquecerem. O estratega eleitoral britânico, Philip Gould, que colaborou nas três vitórias eleitorais de Tony Blair, avisou os responsáveis para o risco de cansaço dos eleitores, que se podem manter afastados das eleições caso o projecto democrático não evolua de forma convincente. Aos planos reformadores de Blair chamava “revolução incompleta”. A sua divisa: não negligenciar nada, exigir permanentemente de si próprio e dos eleitores! É preciso manter-se sempre em campo. De outro modo, existe a ameaça de um cansaço geral dos democratas.
Ao efeito ameaçador do cansaço da Democracia, que começa por se manifestar em abstenção eleitoral, deu o nome de “Empty Stadium”. Jogar perante tribunas vazias é, de facto, o fim da actividade democrática. O desporto de massas precisa do seu público fiel, que conhece e respeita as regras, pelo menos na maioria das vezes. Os hooligans não podem pressionar os verdadeiros simpatizantes e actores - nem no campo, nem nas cadeiras da assistência. Caso contrário, o carácter do projecto altera-se.
Este é um ponto fundamental para as eleições para o Parlamento Europeu: que as eleições democráticas continuem a ser uma iniciativa dos democratas.
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