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06 outubro 2011

se é para ser Holanda, não tem de ser sempre Amesterdão... (5)

Se é para ser Holanda, não tem de ser sempre coffee shop...
Isso é o que eu penso, mas dois polícias da alfândega alemã parece que têm outra opinião, porque logo a seguir à fronteira vieram no meu encalço e fizeram sinal para os seguir. Não é nada agradável ter um carro da polícia à nossa frente com o letreiro "follow me": uma pessoa sente-se envergonhada em plena auto-estrada perante todos os camionistas que tinha vindo a humilhar em ultrapassagens sucessivas, que chatice, lá se nos vai o cool todo.
E lá fui eu rodar a passo de caranguejo atrás do carro deles, e lá me levaram para um descampado, onde me pediram os documentos e quiseram ver o que trazia no carro.
Os miúdos, que vinham a dormir (é a maneira que arranjam para sobreviver à música que gosto de ouvir quando conduzo), acordaram aflitos. Por uns momentos pensei "aimêdês, e se eles fizeram uma palermice de adolescentes, o que é que eu faço?"

Os polícias começaram a olhar para as malas e os sacos, iam vasculhar num deles mas desistiram quando chegaram à parte das toalhas molhadas, e optaram por me perguntar se tinha alguma substância perigosa ou armas. E eu, tentando honestamente ser-lhes útil e para isso fazendo um rápido brain storming e chegando à conclusão que o mais perigoso que trazia eram provavelmente as meias sujas, disse-lhes que não, quase com um ar condoído por estarem a perder tempo com tão mau cliente.

Disseram-me como podia regressar à auto-estrada, e foram-se embora fazendo uma manobra proibida por cima da linha contínua. Ah, valentes! No carro, a Christina riu-se: uma mãe com dois filhos, é mesmo o perfil mais certeiro de traficante.

Depois os miúdos adormeceram de novo, e eu pus-me a pensar em hipóteses teóricas: se eles tivessem encontrado nas coisas dos meus filhos alguma coisa que não deveria estar lá, como é que eu deveria ter reagido?

se é para ser Holanda, não tem de ser sempre Amesterdão... (4)

Não tem de ser sempre Amesterdão, Haia também já é mais que bom.
O plano inicial era ficar alguns dias com amigos que moram em Haia - passear de bicicleta pelas dunas, ir ver outra vez a casa do Maurício de Nassau, onde há uns Vermeer lindos y otras cositas mas, ir passar um ou dois dias a Amesterdão (sim, que o título desta série não é um fundamentalismo). Mas ficámos apenas uma noite, por causa do calateboca-que-aqui-há-senhoras do visto do Matthias.

Os nossos amigos: ela é holandesa, ele americano - e filho do casal em casa de quem o Matthias vai ficar. Resolveu fazer uma surpresa aos pais, acordou-os para skyparmos um bocadinho. O computador em cima do piano, os netos numa excitação total a mostrar habilidades aos avós, nós pelo meio. E o casal estremunhado, no outro lado do mundo, no ecrã do computador: sorriam felizes e abanavam a cabeça perante tanta confusão, pareciam uma fotografia dos livros do Harry Potter.

***

No regresso à Alemanha parámos no museu Kröller-Müller. Já me tinham falado muito dele - do passeio de bicicleta pelo parque, das esculturas espalhadas pelo meio das árvores, da paisagem no Outono ("que não sabemos se devemos olhar para as pinturas ou para as janelas"). Mas este ainda não chegou em toda a sua glória, o dia estava cinzento,  nós estávamos com alguma pressa: não houve nem bicicletas nem dilemas pintura/janelas. Havemos de voltar lá na Primavera, e havemos de voltar lá no Outono.




O museu conquistou-me. Mostra sobretudo pintura holandesa e francesa. E é a segunda maior colecção privada de Van Gogh (a seguir à da sua própria família).  

Estes quadros, por exemplo (em fotografias fraquinhas):


- "porque me olhas assim?" -
(todos os retratados por Van Gogh me olhavam assim neste museu, hei-de verificar como se portam nos outros)




Ou esta mistura de natureza e arte:


 Ou esta composição de Isaac Israels, em 1916, completada por mim em 2011, agora chamada: Mata Hari e Helena Araújo (hehehe):


O museu estava cheio de miúdos das escolas. Uns em grupos com o professor, outros sentados sob as pinturas, muito concentrados a tentar reproduzir uma delas, alguns a fotografar pormenores de cada quadro. Gostei especialmente de ver os professores: tinham os miúdos inteiramente atentos, sem precisarem de levantar a voz ou ralhar.








Também havia alguns turistas, obviamente. E eu a olhar para eles e para os quadros, tentando decidir qual era o mais interessante.



05 outubro 2011

se é para ser Holanda, não tem de ser sempre Amesterdão... (3)

Ainda não falei dos holandeses de Zeeland: uns simpáticos atenciosos e sem complicações.
Por exemplo: um senhor que estava sentado num banco ao lado do caixote do lixo, e levantou a tampa quando me viu chegar com as mãos cheias de coisas, algumas delas para deitar fora.

Ou o modo como tratam os cães (disseram-me que até os cães holandeses são diferentes, mais calmos e simpáticos). Ou o modo como não se chateiam por eu distraidamente impedir o caminho a quem passa de bicicleta.

Só não entendi uma coisa: se eu, com esta minha cara de portuguesa, lhes falava em inglês, porque é que me respondiam em alemão? 

se é para ser Holanda, não tem de ser sempre Amesterdão... (2)

Sábado: praia de manhã, Middelburg à tarde. Uma delícia de cidade, com imensas lojas pequeninas. Também algumas lojas das cadeias internacionais do costume, mas nessas ninguém nos obriga a entrar.

Uma sorte já não ter filhos pequeninos, porque as lojas de coisas para crianças nem vos digo nem vos conto. Uma sorte ter filhos grandes com juízo, que aceitam que talvez não seja boa ideia dar 70 euros por uma camisola, apesar de ser lindíssima. Um azar a Hema ter-se-me atravessado no caminho: é onde mais gosto de me desgraçar quando vou à Holanda, e fui mais uma vez seduzida sem dó nem piedade. Uma sorte as lojas fecharem às cinco da tarde, sempre se mantiveram os estragos a um nível relativamente comportável.




Demos um passeio de barco nos canais da cidade, com um condutor que palrava animadamente em holandês, e a gente só percebia "oppassen!", que era para ter cuidado porque o barco ia passar por uma ponte muito baixa. "Ponte baixa" é como quem diz: um eufemismo. Suponho que na Alemanha não deixavam construir pontes assim, ou então não deixavam barcos de passageiros passar por baixo delas.
A viagem foi uma autêntica aventura: o condutor, pelo meio de uma huis assim e uma huis assado, metia um "oppassen! oppassen!", a ponte cada vez mais perto, e nós, zimbas, como tartarugas a encolher a cabeça para dentro do casaco. E a rir.






Subimos à torre "Lange Jan", e os rapazes contaram os degraus. Chegados ao topo, tinham números diferentes. Por causa das dúvidas, enquanto descia contei também. Eram duzentos e sete. Mas tenho a certeza que na subida foram pelo menos quatrocentos.



Esta cidade, que parece tão bonitinha e antiga, sofreu uma grande destruição devido aos bombardeamentos alemães, primeiro, e depois aos dos aliados. Foi reconstruída quase de raiz por volta dos anos cinquenta do século passado (mas não lhe encontrei asneiras como em Weimar, onde há um edifício com uma fachada quinhentista e outra comunista; bom, em Roma também há o Collegio di Propaganda Fide, com uma fachada de Bernini e outra de Borromini, de modo que o melhor é não dizer muito mal de Weimar e das reconstruções à maneira da RDA, porque o exemplo vem de longe e de cima). Na igreja havia um quadro cronológico das destruições da torre: incêndios medievais, raios renascentistas e barrocos, e - ai! - aviões alemães. Ao passar pelo monumento que lembrava aquela tragédia, optámos por falar português. Disfarça, disfarça. 

Jantámos no restaurante Amizade - Vriendshap, que fica numa esquina da praça do mercado. Recomendo tudo, excepto o preço. Mas a verdade é que qualquer restaurante na Holanda é caríssimo, e já comi pior em restaurantes mais caros. 

se é para ser Holanda, não tem de ser sempre Amesterdão... (1)

Para o encontro anual da família do meu marido escolhemos desta vez a Holanda. Não é propriamente o local mais central, mas os miúdos pediram mar, e os crescidos acharam bem. A data estava marcada há um ano (sim, são todos alemães) e alguém deve ter andado a mover influências no andar de cima, porque não há memória de um princípio de Outubro radioso como o que tivemos.

Escolhemos a praia de Domburg, uma pequena cidade na região de Zeeland.
Mais propriamente: ficámos num castelo construído no século XIII, com fosso de água e tudo (confesso que o fosso cheio de água me impressionou, estava sempre à espera de ver crocodilos, e assim, e o capitão Gancho) e agora transformado em albergue relativamente barato. Enfim, barato... um quarto para quatro pessoas (dois beliches) com casa de banho custa cerca de 120 euros por noite (ou seja: afinal o capitão Gancho apareceu, estava sentado junto à caixa). Os interessados podem ler mais aqui: Hostel Domburg.



  


- vista da janela do quarto, mesmo em cima do fosso: e se as coisas pousadas no parapeito da janela caíssem para o lado de fora? a vida na Idade Média era mesmo muito difícil! -



- a sala do bar -


- o pátio da frente, com uma tília milenária - 




À parte as camas serem fracotas e o pequeno-almoço bastante simples, é tudo uma maravilha. E para chegar à praia, basta caminhar ao longo do lago, depois atravessar uma pequena floresta de carvalhos (carvalhos junto ao mar?! porque é que o D.Diniz não se lembrou de uma coisa destas? ficam umas florestas muito catitas), e já está - é logo ali, um passeio de cinco minutos.







Em tempos houve na cidadezinha de Domburg uma colónia de pintores. O caminho ao longo da costa está assinalado como "Mondriaan route", em homenagem aos muitos quadros que aquela paisagem  inspirou ao artista. E não, não eram apenas traços e blocos de cores... (mas podiam ter sido, de facto a praia está dividida em barras paralelas) (olha... não me digam que acabei de descobrir onde é que o Mondriaan foi buscar aquela ideia de dividir os quadros com linhas geométricas?!...)


 - Piet Mondriaan, 1909, praia de Domburg (fotografia muito mal tirada no museu Kröller-Müller, mas é o que foi possível arranjar) -


- no quadro anterior falta uma figura feminina, digo eu, mas é o problema do costume: ninguém me deixa mandar. Contudo, parte da culpa é minha: cheguei atrasada, o Mondriaan cansou-se de esperar (um impaciente, esse rapaz) - 


Para terminar em beleza, jantámos mexilhões da península num restaurante com vista para este pôr-do-sol.


E para ser ainda mais perfeito, depois do jantar a família ficou sentada no pátio do castelo, quase às escuras, ouvindo a Christina a tocar guitarra e a cantar, cantando com ela.

Recostei-me na cadeira, olhei para o céu cheio de nítidas estrelas (sempre que vejo o céu na Europa assim, lembro-me de Chaco e fico com vontade de rir da nossa figura...), olhei para o bando de primos encantados à volta da minha filha tão grande, e lembrei-me de uma frase que ouvi há anos, de um americano mais velho: "the most grateful pleasure is to have grown-up kids". Lá chegaremos, e parece-me que sim, que vai ser um muito grateful pleasure.

30 maio 2008

como um diário das férias

Acabada de chegar a Amesterdão para passar um dia na cidade, uma amiga que tenho para os lados do lago Constança reparou numa turista que levava sandálias, pensou "esta deve ter ouvido o boletim metereológico e sabe que hoje vai estar quente, enquanto eu vou sofrer nos meus sapatos fechados", olhou um pouco melhor, e viu que a turista era eu.
Eu, que tinha acabado de combinar com os miúdos o que faríamos nesse dia.
Como se não fosse já bem grande a coincidência, os nossos amigos queriam fazer exactamente o mesmo.

Na Mauritshuis, em Haia, oferecem para a visita guias áudio gratuitos. Grande ideia! Os miúdos interessaram-se realmente pelo que estavam a ver, repararam nos detalhes, contavam-me o que descobriam. E eu (dá Deus as nozes...) fazia má cara, porque eles passavam a vida a interromper o que eu estava a ouvir. No fim, riram-se de mim: "outras mães ficam felizes se conseguem meter os filhos uma meia horita no museu, e a nós calhou-nos uma assim mal-agradecida."

O guia áudio explicava que os holandeses se interessaram pelos novos territórios descobertos, mas eram vistos pelos portugueses como hóspedes não desejados. Gostei do eufemismo.
Falava disso porque o dono da casa, o Maurits, era o célebre Maurício de Nassau, comandante dos holandeses no Brasil - esses usurpadores, esses piratas (espero que nenhum brasileiro leia isto - curiosamente, parece que eles têm outra opinião sobre este assunto). Por sorte, digo eu, o Maurits zangou-se com o patrão e despediu-se antes de se lhe acabar a comissão. Mal voltou à sua casinha em Haia, nem 15 anos foram precisos para os restantes holandeses se porem a desandar. Com o que amealharam no Brasil lá terão comprado aqueles Vermeer e Rembrandt e Rubens que na altura se vendiam a um preço muito em conta. Eu vejo aqui, precisamente aqui, motivo suficiente para nos unirmos num esforço nacionalista, gritarmos juntos e bem alto "é nosso!", exigirmos a devolução dos quadros que foram comprados com o que seria o nosso rico dinheirinho se não no lo tivessem roubado.
(os brasileiros que não me ouçam, senão estamos perdidos: vêm já cá reclamar a transposição dos Jerónimos para Ouro Preto) (estou a escrever assim complicado, "no lo" e tal, a ver se eles não entendem...) (;-) para os amigos brasileiros que lerem isto).

Depois de três horas no museu Van Gogh e duas horas na casa de Anne Frank, no primeiro dia, e de três horas na Mauritshuis, no segundo, ao terceiro dia fomos ao Gemeentemuseum de Haia para ver o Mondrian. Comecei pela exposição temporária do Lucian Freud, mas os miúdos, que no dia anterior se tinham fartado de rir com simbolismos de bordel do séc. XVII, armaram-se em pudibundos, "mas que espécie de mãe és tu? parece impossível que nos mostres coisas destas!", escaparam-se sozinhos para o Mondrian e depois para o café do museu, onde se refugiaram no Jawbreaker do meu telemóvel.



E depois arranjámos bicicletas e fomos pelas colinas até um restaurante na praia, onde fazem umas panquecas formidáveis. E ficámos até ao pôr-do-sol, e voltámos pelas colinas.

O que aprendi nesta viagem: quando quiser ter uma máquina de fazer dinheiro, abro um restaurante de panquecas.

20 maio 2008

três fotografias que devia ter feito em Amesterdão e não fiz

1. Um carro estacionado a 2 cm da berma da rua - lá onde começa não o passeio, mas o canal.
(Amesterdão daria comigo em louca)

2. Um ninho de patos no meio de um canal, com patinhos acabados de sair da casca e tudo, feito com resíduos urbanos.

3. Um smart transformado em carro de bombeiros. Sim, que até conseguir passar com as habituais banheiras dos bombeiros pelas ruelas do centro antigo, já metade da cidade podia ter ardido.

E um vídeo: o ar do Matthias ao dizer "uma cidade onde os ciclistas têm prioridade sobre os peões?! mas isso é um sonho!"



Às vezes prefiro guardar os momentos na memória em vez de os armazenar em fotografias.
E depois arrependo-me.

19 maio 2008

instantâneos holandeses

À entrada de um museu, um homem pediu desconto como se fizesse parte de um grupo, alegando que era esquizofrénico.

Entrei no eléctrico e, para saber quantas tarjetas do bilhete devia usar, disse ao condutor que ia até à paragem fulano-de-tal. Ele respondeu: "how exciting!"

Na viagem de regresso, ao dar-me conta que não havia mais ninguém no cais, fui perguntar a um funcionário da estação o que se passava. Ele explicou que me venderam na Alemanha um bilhete para um comboio que não existia, porque no fim-de-semana essa linha estava fechada para obras. "E agora?", perguntei eu. "E agora, disse ele, vamos tentar mandá-la de táxi para a outra cidade", e telefonou imediatamente para combinar tudo. "E quanto é que isso me vai custar?", perguntei eu aflita, pensando nos mais de 100 km. "Nada", respondeu ele.