30 novembro 2012

e agora, para algo realmente realmente importante





Campanha Tempo e Livros

Há crianças doentes em Berlim, sozinhas num quarto de hospital, que só precisam de quem fale português com elas - ajude-nos a ajudá-las! 

Em Berlim e arredores há várias crianças angolanas internadas em hospitais para tratamentos muitas vezes demorados, e que não falam alemão nem têm nenhum contacto social para além dos médicos e enfermeiras. Ficam na Alemanha, longe dos seus familiares, semanas e muitas vezes até vários meses, antes de terminarem os tratamentos e poderem regressar ao seu país de origem.
A sua vinda para a Alemanha é assegurada por organizações de ajuda humanitária que possibilitam a essas crianças tratamentos e curas hospitalares às quais de outra maneira nunca teriam acesso.
Elas precisam antes de tudo de conversar em português, de alguém que traduza os seus medos e as suas necessidades às equipas dos hospitais, e também quem lhes traduza a elas quais os procedimentos, operações e tratamentos que lhes vão ser aplicados. 
Algumas crianças nem sabem que estão na Alemanha. Sabem que estão num lugar estranho, longe dos pais, doentes, com muitas dores, „presas“ a uma cama e sem conseguirem comunicar.
As equipas dos hospitais são regra geral extremamente competentes e estão empenhadas em proporcionar às crianças o melhor tratamento possível. Mas sem compreenderem a língua, estas crianças têm medo do que lhes vão fazer, não entendem o que está a acontecer e passam o dia sozinhas.
O magazine Berlinda.org apela a todos os falantes de português a que dêm um pouco do seu tempo para aliviar a vida destas crianças.

NÃO QUEREMOS DINHEIRO. QUEREMOS UM POUCO DO SEU TEMPO, E DOS SEUS LIVROS.

Esta ajuda pode ser feita de várias maneiras:
  1. -preferencialmente, através de visitas às crianças. Os hospitais encontram-se nos arredores de Berlim, por vezes em Brandemburgo, a cerca de 1h do centro. É possível ir de transportes públicos, ou de carro. Uma vez por mês já é suficiente (quantos mais voluntários houver, maior a frequência das visitas para as crianças, mesmo que cada voluntário só visite uma vez por mês). 
  2. -doação e/ou empréstimo de livros infantis em português, cadernos, canetas, brinquedos, jogos, etc. Em caso de empréstimo, poderá reaver os objetos emprestados quando a criança tiver terminado o tratamento e regressar ao seu país de origem - a menos que prefira que sejam transmitidos a outra criança que deles necessite. Poderá a qualquer momento reaver os seus bens, bastando para isso comunicar o seu desejo ao nosso magazine.
  3. -ajuda na organização e coordenação dos voluntários. O magazine Berlinda propõe-se criar uma rede para ajudar a melhorar a qualidade de vida destas crianças e tirá-las do isolamento comunicacional em que se encontram. Tudo isto é feito de forma voluntária, e requer tempo e dedicação. Toda a ajuda na parte administrativa é muito bem-vinda!

Dê-nos um pouco do seu tempo e dos seus livros - as crianças agradecem.


Basta enviar-nos um email para: berlinda.social@berlinda.org indicando qual o tipo de ajuda para a qual se quer voluntariar (visitas, doação de livros/brinquedos, ou administrativa). 




P.S. - Felizmente, a maioria das pessoas não sabe o que é o dia a dia de crianças internadas com doenças ou lesões graves, sozinhas num mundo que não é o delas. O que pedimos é algo mais do que nada para lhes aliviar o sofrimento.



Uma iniciativa do Magazine Berlinda.org - Ação Social

(eu bem digo que esta cidade é um stress)



Ainda não tive oportunidade de contar como foi a grande festa de comemoração dos 25 anos da Kammermusiksaal (e foi fantástica), e já vem aí a próxima grande festa: a Orchester Academy dos Filarmónicos de Berlim, criada pelo Karajan, já vai em 40 anos. No próximo domingo haverá um concerto que é também um encontro de velhos amigos, criados nos bancos desta orquestra de jovens profissionais, e que agora são alguns dos mais famosos músicos do mundo.
O concerto vai ser transmitido em directo pelo Digital Concert Hall, e neste vídeo o maestro Simon Rattle fala sobre a Orchestra Academy e o programa desta festa.

(E eu caio nelas todas: aqui a pensar que ia ficar sossegadamente em casa a tomar café com um jogador de futebol não-me-façam-mais-perguntas-mas-não,-não-é-o-Cristiano-Ronaldo, e afinal acabei de chegar à conclusão que nem gosto de futebol nem é boa ideia ficar nessa conversa, que mais vale deixar os homens à sua vontade de volta da minha tarte de grão de bico, e lá vou eu ver se arranjo um bilhetinho para este concerto)

andam-me a dar música no facebook...

...e para que ninguém diga que eu guardo o que é bom só para mim, ó aqui:





(de nada, de nada - temos de ser uns para os outros)



PS (já me ia esquecendo!):

29 novembro 2012

então o Crato veio a Berlim aprender umas coisas sobre Educação, e esqueceu-se de perguntar o essencial?

Passo a vida a repetir isto, até pareço obsessiva:

- Na Alemanha, os abonos de família andam pelos 180 euros por mês, por criança, até esta acabar a sua formação (pode bem ser aos 25 anos). A partir do terceiro filho, o abono é maior.
- As escolas são gratuitas até ao fim do secundário. Apesar dos imensos cortes que têm sido feitos (sim, aqui também andam a poupar), tentam assegurar que o ensino seja realmente gratuito; por isso, as escolas emprestam os livros escolares aos alunos. No princípio do ano somos informados sobre qual o plafond máximo de custos escolares que as famílias têm de pagar (anda pelos 60 euros, para cadernos de exercícios, fotocópias, etc.). A escola não pode dar aos alunos uma lista de materiais para aquisição que exceda este plafond.
- As escolas privadas são comparticipadas pelo Estado, que em troca impõe algumas condições, e têm geralmente um preço muito acessível (nós pagávamos 70 euros mensais).
- Na altura em que a Alemanha teve de cortar drasticamente nas despesas do Estado porque não estava a cumprir o acordo do euro, fez cortes em praticamente todas as áreas, mas não cortou (até aumentou, em certos casos) a investigação e o ensino. A nível do ensino deu particular atenção aos filhos das famílias mais pobres, para que a nova geração consiga, por meio da educação, quebrar o ciclo de pobreza.

A ideia é simples, e não passa de mero economicismo: o nosso futuro depende dos nossos filhos. É preciso apoiar as famílias, e dar-lhes todos os meios para que criem uma geração de pessoas capazes de tirar o maior partido das suas capacidades. Não somos tão ricos que nos possamos dar ao luxo de ter pobres, nomeadamente pessoas que ficaram aquém do que poderiam oferecer à sociedade, por não terem tido acesso à formação melhor e mais adequada às suas potencialidades.

deficiência nossa



Não tenho tempo para ver séries na tv, e se calhar nem preciso disso, porque esta vida virtual é muito mais divertida. Como por exemplo recentemente, quando a Pólo Norte escreveu "peço-vos encarecidamente: não me enviem postais foleiros pintados com a boca por tetraplégicos porque são feios como a merda e depois eu não tenho coragem para os mandar para o lixo e poluem-me a casa, ok???" e aquela esquina da blogosfera foi percorrida por um estremecimento de schock and awe muito melhor do que várias épocas de várias séries todas juntas. Ao ler a resposta da Pólo Norte às críticas, lembrei-me de um miúdo que conheço, da idade do meu filho que, entre vários problemas, tem deficiência mental, mas pinta e desenha muito bem - ganha todos os concursos para postais de Natal, cartazes para exposições infantis, etc. Ora bem: o rapaz descobriu há tempos a sua sexualidade, e toca de passar essas novas impressões para o papel. No postal de Natal da escola as mulheres pareciam vénus pré-históricas. No desenho para um concurso fez um belo dinossauro em plena ejaculação. É verdade que pintou o esperma de preto, mas está lá. Eu olho para aquelas obras de arte e rio-me cá por dentro. Não acredito que os outros não vejam, e pergunto-me porque é que dão o primeiro prémio a coisas tão expressionistas. Mas a verdade é que nem com os pais dele, meus amigos, me atrevo a falar disso. Deficiência minha, claro. A Pólo Norte explica muito bem.

27 novembro 2012

preciso de um dicionário mais completo...

...porque o meu falha numa questão básica: quem revela desprezo por tias é uma pessoa misógina, ou tisógina?

(uma mulher pode ser misógina? tisógina pode: conheço algumas)

***

Adenda: na caixa de comentários, o Vítor Santos Lindegaard nota que devia ser misotia e misotio (ou misótia e misótio). Às vezes cometo argoladas tão grandes que bem corro o risco de me tornar misohelena...

(Gosto mais de misolena, mas por hoje não invento mais palavras, que isto está-me a correr mal.)


26 novembro 2012

a gente mete-se com políticos de vocalções e...





,,
(vídeo encontrado no Entre as Brumas da Memória)

Estou vocalmente estarrecida: será que entendi bem? Aumentaram os impostos a pessoas que têm pensões ANUAIS de 7000 euros?
E o que será que ele entende por "acumulação de privilégios"? Será o pagamento de um salário justo aos funcionários que asseguram o cumprimento das funções básicas do Estado (e do Estado Social)?

O Marcelo Rebelo de Sousa andou a perder tempo com aquele filme pateta para ensinar aos alemães umas coisas sobre os portugueses, sem perceber que lhe bastava pegar no material vocalmente oferecido pelo nosso primeiro-ministro, traduzi-lo para alemão, e passar o filme no youtube. Ia ser um fenómeno viral, e os alemães iam ter tanta pena de nós que até diziam à Angela Merkel que o melhor é perdoar a dívida por inteiro, porque já estamos castigados q.b. com um governo assim.

anjo da guarda


"Tu andas com um anjo da guarda atrelado", insiste uma amiga minha. Ainda há pouco, a propósito de eu querer partir com a Filarmónica como quem vai com o circo, me veio lembrar o anjo do Wim Wenders. Lembrança puxa lembrança, cheguei àquele dia em que me convidaram para participar numa peça Dada, "uma coisa muito engraçada", diziam, "em que partes do rosto têm a palavra, e tu serias o nariz". Seria uma encenação mais ou menos caseira, feita entre amigos. Calha de esses amigos virem um pouco de toda a Europa, e serem gente importante na área da cultura, e de quem me convidava organizar estes eventos no espírito dos antigos salões de Goethe, Anna-Amalia e toda a sociedade culta da Weimar clássica.
Eu declinei. Esses encontros calham sempre na altura em que o Joachim e eu temos um fim-de-semana inadiável na França, com amigos muito especiais.
Soube depois que o "teatro caseiro" juntou um público de 400 pessoas, e que eu, se tivesse participado, teria contracenado com o Bruno Ganz.

Às vezes desconfio que o meu anjo da guarda bebe.

25 novembro 2012

decidi que na próxima vida afinal não quero ser condutora de TIR

Andava eu a pensar que ser condutora de TIR era a profissão ideal para mim, porque podia ouvir muita música, eis senão que vi esta fotografia


no blogue das tournées da Orquestra Filarmónica de Berlim, e decidi que afinal na próxima vida quero ser membro daquela orquestra. Nem que seja a tocar os ferrinhos, pronto.
Como é que não me lembrei disto antes?! Além de ouvir boa música, faria viagens recheadas de maravilhas (acabei de ver, e estou aqui a segurar os olhos, que querem ficar naquele blogue).

Vinha lá escrito que este foi o highlight da tournée. Era, era, mas foi até chegarem a Lisboa e o Paulo os ter levado a ouvir fado à Mesa dos Frades.

(Vão ver o blogue: dá mesmo vontade de fugir com o circo - no caso, com a orquestra)

o FIB e o Fox

Entalado entre duas pernas da minha cadeira, o Fox enrola-se a dormir. Estico a mão, faço-lhe uma festinha. Ele espreguiça-se no gozo do mimo. Depois levanta-se, olha para mim. Vai buscar os brinquedos e larga-os todos aos meus pés. Faço de conta que não reparo. Ele dá saltos e ladra, "olha para mim, estou aqui, brinca comigo!"
"Agora não, Fox, espera, agora não."
Ergue-se nas patas traseiras (estamos a treiná-lo para suricate), estendo-lhe a mão, mergulha nela, às lambidelas.

Este cão dá-me cabo da produtividade, mas aumenta o índice de Felicidade Interna Bruta para níveis astronómicos.

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Hope Springs



Meryl Streep: excelente, como é o seu middle name. Passa o filme quase todo à beira de um ataque de lágrimas, consegue gerir de forma extraordinária esse lugar de fronteira entre a fragilidade e a contenção, de um lado, e uma extraordinária força de vontade, do outro.
Tommy Lee Jones insuportável. Ou seja: muito bom.
E um Steve Carell que não deve nunca cair na asneira de ser conselheiro matrimonial, porque corre o risco de confundir ainda mais as suas clientes... (mas já estou à espera de um Hope Springs 2, quando o casal for internado na clínica do terapeuta, e este estiver permanentemente presente no écran)

A história não é nada plausível - pois se os dois actores principais até usam sapatos de pele em vez de sapatilhas! Contudo, pelo meio das cenas hilariantes, do exagero e das situações irreais, passam temas que tocam um novo grupo importante de consumidores de cinema. A indústria de Hollywood atenta ao mercado, olhando para uma faixa etária mais velha, e oferecendo-lhe algo para mastigar com vagar.

A gente ri-se muito, mas não é uma comédia.

24 novembro 2012

por estes dias vou ficar a saber QUE Deus existe mesmo e me ama mais que aos outros todos


Acabei de concorrer a um concurso cujo prémio é uma semana para dois na Noruega, nas ilhas Lofoten. Também já vi que têm lá guias especializados em "Hunting the Northern Lights", que além disso também percebem muito de máquinas fotográficas e me podiam ensinar umas coisinhas. Portanto, é assim: se ganhar, fico a saber sem qualquer margem para dúvidas que Deus existe mesmo e me ama mais do que aos outros. Se não ganhar, fico como estou - e também estou muito bem, porque no fundo não me dava muito jeito saber de um Deus que me põe à frente, e os outros atrás. Depois ainda ia ter de arranjar um guarda-costas para andar pela vida, que isto a inveja justificada é uma coisa por demais. Depois conto-vos como se resolveu esta grande questão teológica.

23 novembro 2012

quotidianite crónica

Ontem marcaram-me uma reunião de trabalho, com uma empresa onde não conheço ninguém, para dois dias antes. Respondi agradecida, mas lamentando não poder estar presente, porque a minha máquina de viajar no tempo estava avariada.
Do lado de lá do e-mail devem ter dado uma boa gargalhada, e logo veio a data correcta, com uma explicação e muitos smileys: "De momento estou com algumas dificuldades com datas, porque não consigo acreditar que  2012 acaba já daqui a cinco semanas. Felizmente você não é muito picuinhas...  ;-)"

E eu a pensar que este problema de os anos se acabarem antes de terem entrado em velocidade cruzeiro era só comigo.
(Os anos - que digo eu? Os dias! Já são três e meia da tarde, e o meu monte de papéis para abater ainda só vai nas dez da manhã!)

they teach life, sir.

O que se segue é um post roubado quase por inteiro ao blogue sem-se-ver. Indescritível, este poema e esta forma de o fazer sair da dor:





é bom que se perceba muita coisa. a mais básica é esta:

todas as outras advêm daqui.

mais uma dúvida existencial

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Será que o Fox está gordo, ou tem uns peitorais fantásticos?

22 novembro 2012

passo a passo se faz a Paz

Alvíssaras! Alguma coisa está a mudar para melhor na Turquia. 
Fiquei tão contente com um programa de rádio que ouvi há dias na Deutschlandradio Kultur, que resolvi traduzi-lo aqui (rapidíssimo, que a minha vida é um bocadinho mais que isto):

KURSIV International: Hasan Cemal: "1915. Ermeni Soykirimi (O Genocídio dos Arménios)"

De Gunnar Köhne

Ao longo dos anos, o genocídio dos arménios tem sido um tema tabu da História na Turquia. Um tabu com o qual também o jornalista Hasan Cemal cresceu. No seu livro "1915. O Genocídio dos Arménios" conta o seu confronto pessoal com o genocídio, as questões que se coloca a si próprio e o que aprendeu. 
Na capa vê-se o autor, na vasta sala do memorial do genocídio em Yerevan, depondo cravos brancos junto à chama eterna. Há cinco anos, Hasan Cemal visitou a cidade integrado na comitiva do presidente turco Gül. Uma viagem histórica, por ocasião de um jogo de futebol entre a Arménia e a Turquia. O colunista do Milliyet lembra-se de ter ponderado longamente sobre uma visita a esse memorial:

"Sentia que isso rasgaria um tabu profundamente enraízado em mim. Mas lembrei-me das palavras de Hrant Dink, que disse ao povo turco: 'Sejamos capazes de nos unir e de, por fim, mostrar respeito mútuo pela nossa dor'."

Hrant Dink, amigo e colega de Cemal, tinha sido morto a tiro um ano antes, numa rua de Istambul - por ser arménio, e por lutar tanto pela reconciliação entre arménios e turcos como pela verdade histórica. O livro "o Genocídio dos Arménios" é-lhe dedicado. Cemal escreve logo no início que foi esta morte violenta que lhe deu o impulso decisivo para se confrontar intensamente com este capítulo sinistro da História do seu país. O livro trata deste doloroso processo de reconhecimento, que inclui a história da sua própria família. Ao contrário do que o título nos faz pensar, não é um trabalho sobre a expulsão e o assassínio de talvez mais de um milhão de arménios, durante a primeira guerra mundial, pelo regime otomano em declínio. Já tudo foi dito e escrito sobre o planeamento e a execução deste genocídio - e, mesmo na Turquia, só os nacionalistas mais extremos põem em causa os factos históricos. O que mais surpreende no livro é o facto de não ter provocado praticamente qualquer controvérsia - revela uma mudança histórica na Turquia. Ainda há poucos anos Cemal foi processado por apoiar a realização de uma conferência de historiadores sobre este tema, por alegada contribuição para "denegrir a identidade turca". Lembra vários acontecimentos trágicos que o abalaram. Por exemplo, nos anos 70 um amigo próximo, que era diplomata nos EUA, foi assassinado pela organização arménia clandestina ASALA, num acto de vingança tardia pelo genocídio. E também se lembra disto: na casa da sua família falava-se muito pouco do avô paterno, Cemal Pascha, e ainda menos da causa da sua morte. Cemal Pascha era um dos chefes dos Jovens Turcos, e comandante do exército durante a primeira guerra mundial. Em 1922, na cidade de Tbilisi na Geórgia, foi morto a tiro por um arménio devido à sua participação no genocídio. Durante a sua visita a Yerevan, Hasan Cemal, o neto do militar criminoso, encontrou-se com o neto do assassino daquele.

"A princípio estava um pouco nervoso. Armen Gevorgyan tinha trazido duas fotografias, amareladas e com os cantos já gastos, cheirando a tristeza. Na primeira via-se a casa onde o seu avô vivera até 1915. Na segunda via-se um turco barbudo que salvara das torturas e da deportação duas crianças arménias, parentes do avô de Gevorgyan. Escondeu-as durante dois anos, no fim dos quais as entregou sãs e salvas à família. Estávamos sentados frente a frente, bebemos chá e café e falámos da necessidade de uma Paz. Trocámos os nossos números de telefone. Da próxima vez que vier a Istambul vai-me ligar, e vou levá-lo a comer peixe e beber raki no Bósforo."

Hasan Cemal, nascido em 1944, cresceu na república de Kemal Atatürk. Como todos os outros, aprendeu muito na escola sobre as conquistas da moderna Turquia. O império otomano não chegava a ser tema. Também não se falava dos povos que tinham habitado e habitavam ainda a região da actual Turquia: curdos, gregos, caucasianos e, claro, arménios. E muito menos se falava das injustiças cometidas contra estas minorias. Cemal chama a estes tabus "o medo da História".

"Quem olha para o passado com compaixão em vez de ódio consegue libertar não apenas a História das suas correntes, mas também a si próprio."

Na qualidade de neto de um dos criminosos, Cemal tem passado muito tempo dos últimos anos no estrangeiro, a contactar com a diáspora arménia. Em Salzburgo ou em Los Angeles, ouve pacientemente os testemunhos chocantes de descendentes das vítimas. Muitos deles estão reunidos no livro. É um livro honesto - especialmente no que diz respeito à família de Cemal. Só incomoda um pouco o facto de estar demasiado escrito na primeira pessoa, e ter tantas referências a artigos seus. Contudo, para os 20.000 arménios que continuam na Turquia é consolador saber que há turcos influentes e liberais como Hasan Cemal. Em 2015 lembrarão no mundo inteiro o centenário da "Grande Catástrofe" - o nome que dão ao genocídio. Será que até lá a Turquia vai conseguir fazer as pazes com os arménios e a sua História? Pessoas corajosas como Hasan Cemal podiam ajudar.

Hasan Cemal: "1915. Ermeni Soykirimi (O Genocídio dos Arménios)", Edições Everest Yayinlari (Istanbul) 2012, 230 páginas, 11,99 Euro

por outro lado...



Encontrei este vídeo no mural do facebook do Vítor Santos Lindegaard.
Grande gargalhada - grandes brincalhões!
Depois de rir, fui ler o link que o Vítor acrescentou para explicar o porquê deste filme.
Repasso:


WHY AFRICA FOR NORWAY?

Imagine if every person in Africa saw the “Africa for Norway” video and this was the only information they ever got about Norway. What would they think about Norway?
If we say Africa, what do you think about? Hunger, poverty, crime or AIDS? No wonder, because in fundraising campaigns and media that’s mainly what you hear about.
The pictures we usually see in fundraisers are of poor African children. Hunger and poverty is ugly, and it calls for action. But while these images can engage people in the short term, we are concerned that many people simply give up because it seems like nothing is getting better. Africa should not just be something that people either give to, or give up on.
The truth is that there are many positive developments in African countries, and we want these to become known. We need to change the simplistic explanations of problems in Africa. We need to educate ourselves on the complex issues and get more focus on how western countries have a negative impact on Africa’s development. If we want to address the problems the world is facing we need to do it based on knowledge and respect.

WHAT DO WE WANT?

  1. Fundraising should not be based on exploiting stereotypes.
    Most of us just get tired if all we see is sad pictures of what is happening in the world, instead of real changes.
  2. We want better information about what is going on in the world, in schools, in TV and media.
    We want to see more nuances. We want to know about positive developments in Africa and developing countries, not only about crises, poverty and AIDS. We need more attention on how western countries have a negative impact on developing countries.
  3. Media: Show respect.
    Media should become more ethical in their reporting. Would you print a photo of a starving white baby without permission? The same rules must apply when journalists are covering the rest of the world as it does when they are in their home country.
  4. Aid must be based on real needs, not “good” intentions.
    Aid is just one part of a bigger picture; we must have cooperation and investments, and change other structures that hold back development in poorer countries. Aid is not the only answer.


***

Vale a pena passear pelo site Radi-aid. Para além de muitas informações, tem momentos hilariantes. Como este artigo sobre uma criança fotografada para uma dessas campanhas de solidariedade, que depois de crescer processou a ONG que usou a sua fotografia sem permissão. O que até podia ser verdade...


20 novembro 2012

o melhor da vida é a própria vida



Com o passar dos anos, aprendemos a olhar para o essencial: a frase "o melhor da vida é a própria vida" vinha escrita num postal de aniversário que uma amiga me enviou - hehehe, eu tenho amigas que ainda usam o correio! - e não podia ser mais verdade.
(Lá estou eu outra vez: lapalissadas logo pela manhã.)

Num SMS, um amigo dizia-me: "sem DRESDENhar a tua escolha, preferia que estivéssemos no Wannsee".
O Wannsee, no ano passado. Uma festa de aniversário tão perfeita, que é melhor nem tentar repetir nos próximos anos. Mais vale partir ao encontro de outros mil lugares e maneiras de ser igualmente feliz. Como Dresden, este fim-de-semana. E já me falaram em Varsóvia, em Cracóvia. Espero que descubram o elixir da eterna juventude nos próximos anos, e pouco depois apareça a preços acessíveis no Aldi e no Lidl. Bem jeito me fazia, que estou a gostar muito deste tanto que é a minha vida. 

roubalheira perfeita

(não, não vou falar do governo português, nem nada disso)

Acabei de receber um e-mail de uma amiga (o endereço de e-mail era o dela) dizendo isto:

Hello, I hope this e-mail reaches well. Just to let you know that I'm presently in Philippines for a Conference but I'm in a serious fix; I was mugged and lost all my money & cards. I'm so glad I wasn't hurt.  Please, will you be able to help me with some cash(USD3500) or any amount you could afford to lend me. I'll definitely pay you back immediately I return back home next weekend.

I am really sorry for bothering you, but I would really appreciate your positive response and 'll forward you the transfer details upon your response.
Thank you in advance for your response.

Sincerely, 


XXX


Carregando em "responder", vi que a minha resposta seria enviada para um e-mail praticamente idêntico ao da minha amiga. Estes gatunos da internet estão cada vez mais requintados. Um dia destes ainda os convidam para elaborar orçamentos de Estado. 

(ai, afinal falei!)

ao piano: Gatmaninoff



(do facebook)

16 novembro 2012

Semperoper, Zwinger, Alte Meister, Frauenkirche, Residenzschloss...


O muro já caiu há 23 anos, eu já moro nesta região da Alemanha há 12 anos, e ainda não fui a Dresden?! Pois lá iremos este fim-de-semana.

(Queria treinar o Fox para atender os telefonemas na nossa ausência, mas ele foge aos saltos com o telefone na boca. Talvez seja melhor voltar ao plano A, um atendedor de chamadas: "boa tarde, daqui fala o papagaio...")

(foto)




oh, céus!


Yosemite, foto do Matthias, Dezembro 2011


Vista da casa da Christina na Bolívia, Novembro 2012

Tenho andado calada por aqui, e não é por falta de assunto, é por excesso de trabalho. Lá para meados da próxima semana as coisas vão ficar mais leves - espero! 

***

Hoje, no Governo Sombra, o Ricardo Araújo Pereira disse que eu disse que no Sony Center só há dois turistas (à hora a que o Marcelo queria passar o seu lindo filme). Maldita austeridade: anda tudo a cortar onde não deve! Eu disse "um punhado", e vai o Ricardo (será que está feito com o Gaspar?) e zás, "isso são gordurinhas da retórica, vamos acabar com elas que o país não tem dinheiro para tanto." E que sobrou, no fim? Dois turistas!
- Às tantas um chama-se Manel e o outro Joaquim. 

15 novembro 2012

mudam-se os tempos



O presidente da República Federal Alemã, Joachim Gauck, vive "amancebado" com uma jornalista - a Daniela Schadt. Ele está separado, mas não divorciado (imagino os motivos que terá, mas não vou escrever aqui especulações). Por estes dias, o casal "amancebado" esteve em Londres, e foi recebido pela rainha. Como se fosse perfeitamente normal. A única dificuldade é encontrar uma forma de tratamento digna para a companheira do presidente. Se se trata de casados, o protocolo não tem muito que pensar: "sua excelência, o presidente bla bla bla e a esposa". Neste caso tem sido "sua excelência, o presidente bla bla bla e a Frau Schadt". Talvez arranjem outra forma, talvez nos habituemos a esta. Mas o mais importante está aí: a amante - a amada - já não tem de ficar escondida nas traseiras da casa, longe dos olhares críticos da sociedade. Já ninguém se importa.
Volta, Christiane Vulpius, estás redimida.

**

A Christiane Vulpius viveu cerca de vinte anos com o Goethe sem serem casados. A casa onde moravam, no centro de Weimar, tinha duas alas, separadas por um pátio interior. Uma era virada para a rua, a outra para o jardim. A ala da frente era a parte representativa da casa; a de trás, inacessível ao mundo exterior, era reservada à família. Com as invasões francesas os acontecimentos precipitaram-se. Os franceses entraram pela cidade a saquear e violar, e a Christiane Vulpius soube proteger a casa em que viviam (em Weimar há variadas versões sobre este episódio. Eu gosto da minha: a Christiane Vulpius a abrir a porta do casarão, e a correr os franceses à bordoada verbal). Certo é que logo depois se celebrava o casamento dela com o famoso escritor, e Johanna Schopenhauer, a mãe do filósofo, a pedido de Goethe quebrava o cerco de hostilidades da cidade. Com uma frase que ficaria para a história, anunciou que a convidaria para o seu salão: "Se Herr Goethe lhe dá o nome, eu não posso negar-lhe uma chávena de chá".
Um chá como esmola.
Na longa história de humilhações infligidas às mulheres, o que mais choca é o papel tantas vezes desempenhado pelas próprias mulheres.

14 novembro 2012

o que será? que será?


Aqui jaz um pássaro cor-de-laranja, aquele que foi o primeiro brinquedo do Fox. E uma ratazana amorosa - provavelmente o último brinquedo do Matthias.

Junto à mesa onde trabalho, o Fox transforma o tapete num autêntico campo de batalha.
O Joachim olha para o desastre, e diz: "Fox, arruma!"
O Fox arrebita meia orelha, e nada. Será que é surdo?
Ou será que não entende português? Ou será que estamos perante um problema grave de autoridade?

13 novembro 2012

cabaneiro


Fiz esta fotografia enquanto esperávamos pelo Joachim, dentro do carro.
O cabaneiro do Fox estava à janela, a controlar o que se passava na rua (e eu atrás dele, toda torcida, a tentar fazer fotografias com o telemóvel).

O Matthias diz que já sabe o nome da cor do Fox: cor de Outono.

***

Fui consultar os dicionários: parece que só na minha aldeia é que se usa "cabaneiro" para dizer "coscuvilheiro". Por estas e por outras é que depois ninguém me entende...

"tratar dos assuntos de todos nós com outro rigor e transparência"

Comentário de um leitor, a propósito do post "praticamente metade dos 78 mil milhões de euros emprestados é para juros?":

Todos nós falamos imensamente da dívida publica portuguesa e dos respectivos juros. Fala-se de agiotismo e de muitas coisas mais. Todos nós especulamos, mas quase tudo não passa de pura especulação, pois a informação que nos chega é quase nada.

Como é possível, numa altura em que se pedem tantos sacrifícios aos portugueses e que se traduzem numa irracional subida de impostos, numa cascata de falências e num desemprego assustador, que não se publique uma listagem dos empréstimos existentes, a forma como estes estão titulados, identificação dos credores, montantes, prazos e datas de amortizações e taxas e montantes dos respectivos juros?

Da mesma maneira, como é possível que se diga diariamente que a Banca se financia junto do BCE a 1% e depois empreste esses capitais ao Estado Português a 5%, e que ninguém da Banca ou sobretudo do Estado, venha clarificar de uma forma transparente esta questão, já que a sensação que se cria é que existe o conluio entre governantes e banqueiros num processo descarado de agiotagem, em que a vítima são mais uma vez os cidadãos?

E isso faz-me lembrar também o silêncio à altura sobre as dezenas de PPPs constituídas para construir aquelas auto-estradas em que passa um carro a cada dez minutos, e em que a grande maioria dos portugueses imaginava que essas obras eram financiadas pela "riqueza" do Estado, e nunca através de pesadíssimas dívidas que sobrariam para si, para os seus filhos e possivelmente para os seus netos.

No fundo, o que eu estou a querer dizer, é que enquanto a nossa exigência enquanto cidadãos não obrigar Governantes e Imprensa a tratar dos assuntos de todos nós com outro rigor e transparência, tudo se passará como até aqui e nós seremos sempre defrontados com uma política de factos consumados e vitimas das armas de arremesso da partidocracia nacional que as utiliza sem qualquer pudor ou respeito pelos cidadãos.

yo te cielo


"¿se pueden inventar verbos? quiero decirte uno: yo te cielo, así mis alas se extienden enormes para amarte sin medida.

Siento que desde nuestro lugar de origen hemos estado juntos, que somos de las misma materia, de las mismas ondas, que llevamos dentro el mismo sentido. Tu ser entero, tu genio y tu humildad prodigiosas son incomparables y enriqueces la vida; dentro de tu mundo extraordinario,
 lo que yo te ofrezco es solamente una verdad más que tú recibes y que acariciará siempre lo más hondo de ti mismo. Gracias por recibirlo, gracias porque vives, porque ayer me dejaste tocar tu luz más íntima y porque dijiste con tu voz y tus ojos lo que yo esperaba toda mi vida".

Fragmento de una carta escrita por Frida Kahlo a Carlos Pellicer en noviembre de 1947. 

(encontrado no facebook de um amigo. Origem: Perota Chingo; vejam também Acción Poética - uma pequena mina de tesouros assim)

12 novembro 2012

momento ¡hola! neste blogue

La canciller alemana, Angela Merkel, ha visitado hoy una Lisboa que la recibió con protestas contra ella y contra las medidas de austeridad del gobierno conservador de Pedro Passos Coelho. La canciler llevaba una chaqueta beige, como la usada en Berlín, cuando recibió el primer ministro portugués. A pesar de tener muchas, no es la primera vez que Angela Merkel repite chaquetas, como se vio en su reciente visita a Grecia. El tiempo de otoño estaba muy agradable, y ella apareció muy optimista y sonriente.




ainda o vídeo do Marcelo Rebelo de Sousa

(foto: Paulo Almeida)

Custava alguma coisa fazer um scan da carta que recusa o uso deste espaço? Podíamos ler os motivos invocados, e ficávamos com as informações necessárias para aferir da justeza do título "Alemanha rejeita bla bla bla Portugal" e para saber se foram mesmo as "autoridades alemãs" ou se foi a administração do Sony Center.

Pensei mais dois tostões sobre este assunto, e:
- O Sony Center e a Potsdamer Platz são espaços construídos por alguns dos mais famosos arquitectos do mundo, e pretendem mostrar uma Alemanha moderna, vital, plena de glamour. Os brincalhões dos berlinenses chamam-lhe "little Manhattan", e não é por acaso que fizeram ali o "walk of fame". No princípio deste mês estenderam nesse chão um tapete vermelho para o Daniel Craig abrilhantar a première alemã do mais recente James Bond. Passar neste espaço público um filme que mais parece feito por diletantes da Coreia do Norte estraga o ambiente. É "unpassend".
- Também pode dar-se o caso de pura e simplesmente estar há muito decidido que naquele espaço não se passam filmes de conteúdo político.


***

Sobre o conteúdo do filme:
- Erro original: o filme é feito para desfazer a "imagem péssima que os alemães têm dos portugueses". Pois é, mas os alemães não têm uma "imagem péssima". Aquelas cenas do Carnaval e dos nossos emigrantes são um tiro em cheio a milhas da mouche. Se o Marcelo Rebelo de Sousa fosse o Guilherme Tell, não acertava nem na maçã nem no filho: vazava um olho à avó perdida no meio do público.
- A alfinetada do plano Marshall era perfeitamente desnecessária. Em 1974, esse plano já tinha passado à História. Em compensação, muito do esforço de desenvolvimento português dos últimos trinta anos foi financiado pela UE a fundo perdido. Se fizermos as contas, às tantas ainda vamos concluir que, per capita, os portugueses receberam muito mais da UE que os alemães receberam do plano Marshall.
- Alguns dos números apresentados no filme são muito pouco credíveis. Por exemplo: se a idade da reforma na Alemanha já ia nos 67 anos quando em Portugal ainda era 62, como é que chegam àqueles números? E as horas de trabalho semanais: onde foram buscar aquele valor para a Alemanha?
- Os submarinos alemães, ai, os submarinos alemães. Os empresários alemães, que pagaram luvas a alguém ligado ao governo português para conseguirem vender os seus submarinos, já foram julgados e condenados. E que aconteceu a quem recebeu as luvas, em Portugal? O que aconteceu ao ministro da tutela?
- Os gastos desnecessários de Portugal: os portugueses que decidiram fazer esses investimentos e assinaram esses contratos são todos menores de dezoito anos?
- Os estádios portugueses construídos por consórcios onde havia empresas alemãs: obrigado, igualmente. Até parece que não há consórcios com empresas portuguesas a ganhar dinheiro na Alemanha...
- O desequilíbrio no comércio externo: sim, é verdade - e tem de ser alterado.
- Sobre a antiga dívida externa da Alemanha: se Portugal entende que os povos têm de pagar as dívidas criadas por regimes ou sistemas já extintos, convém que detalhe um pouco mais: todos os povos, ou só o alemão? Dívidas criadas a partir de 1933, ou também as anteriores (por exemplo, desde o século XVIII)? É que assim sem pensar muito, ocorre-me um negócio de enviar moçambicanos para minas na África do Sul, com entrega de 1/3 do salário dessas pessoas, em forma de ouro, ao governo português - o que resultou num aumento, e grande, das reservas de ouro portuguesas. (Por favor, digam-me que isto não é verdade. Queria muito que isto não fosse verdade.)

***

Para terminar, comentário de um jovem alemão, que fez recentemente um trabalho sobre propaganda nos documentários do III Reich: "acho que já vi disto em algum lado..."

uma aposta na madrugada do dia 12 de Novembro


Aposto que a Angela Merkel vai levar um casaco amarelo torrado.
E vocês?

(Verde não pode ser, porque já levou à Grécia; vermelho também não, porque é a cor dos que querem dominar (v. gravatas nos debates eleitorais); cinzento é triste, preto é demasiado oficial.)

A pergunta do milhão é: com três ou quatro botões?


(foto

11 novembro 2012

Portugal, o melhor destino



Os chanceleres alemães só podem receber presentes num valor até 25 euros - ou talvez 50, já não me lembro bem. Esses chouricinhos, o vinho, o azeite, praticamente tudo, vão reverter para o Estado.
(Ah, pudesse eu chamar-me Estado, é que ia agora mesmo resolver esta questão a meu proveito)

até já

Fui levar um dos meus turistas ao aeroporto.
À despedida, eu disse: adeus.
Ele, artesão das palavras, disse: até já. 

Até já. Tão mais bonito.


***

Em Adenda, transcrevo uma mensagem que recebi de uma amiga, a propósito deste apontamento: 

O "até já" é muito usado em África. Começou por ser um jogo de palavras com o até Jah (Jah é o deus dos rastafaris, que por uma série de trocas e equívocos passou a ser associado a uma certa "resistência" cultural africana, a história da Babilónia/África ancestral de onde nos tiraram e para onde regressaremos, os nossos valores contra os da hegemonia europeia branca). Muitos escrevem precisamente com o H no fim; e outros fazem-no só com o duplo sentido, de ser uma palavra chave africana, e de nos voltarmos a ver em breve. Mas é assim uma espécie de código, para ver se o outro o sabe ler. Acho delicioso ver os até jás e até Jahs que pululam por todo o lado, como se dissessem: nos não somos os desgraçadinhos, temos muito orgulho de onde viemos e sabemos para onde vamos. 

"e tudo faremos para que a mensagem do filme chegue ao seu destinatário"


Este é o Sony Center ao fim de um dia frio. Podia ser às 19 horas do dia 11 de Novembro, véspera da visita da chanceler alemã a Portugal.

Imagino que o écran no qual o Marcelo Rebelo de Sousa queria passar um filme que "visa a realidade portuguesa atual e contém uma explicação dos sacrifícios a que os portugueses estão a ser sujeitos com a aplicação das medidas do memorando da troika" é esse que se vê do lado direito, em baixo - numa praça que em Novembro é gelada, e onde praticamente só há turistas.

Dando de barato que - ao contrário do que temo quando leio que o povo alemão "tem uma ideia péssima dos portugueses" - o filme estará bem feito, gostava de perguntar:
- Quanto custa o aluguer desse espaço? Quem paga?
- Qual foi a "autoridade alemã"que proibiu a sua projecção? Com base em que lei? (e é melhor não tecer comentários sobre a formulação do Expresso "A Alemanha recusou a divulgação no país do vídeo sobre Portugal")

O Marcelo Rebelo de Sousa podia ter preparado um filme informativo para oferecer às televisões alemãs, podia ter optado por divulgá-lo na internet, mas não: escolhe uma praça fria, a uma hora onde no máximo há um punhado de turistas a caminho do restaurante ou de algum espectáculo, para "fazer chegar a mensagem aos seus destinatários".

Não é por nada, mas quer-me parecer que os destinatários desta mensagem são os portugueses, e isto é um mero acto de campanha eleitoral. Sendo assim, ainda bem que lhe recusaram a projecção do filme: fez um brilharete perante os verdadeiros destinatários, e poupou o dinheiro do aluguer. Mission accomplished. 

(as aspas referem-se a este artigo do Expresso)

***

Adenda:
Entretanto o filme já está no youtube.


Segunda adenda:
Vejam o filme sem som. Era assim que ele ia ser visto no Sony Center - porque naquele espaço semi-aberto não há condições para se ouvir bem o som dos filmes que lá passam.
(O melhor é parar de fazer adendas - isto está cada vez pior.)

10 novembro 2012

10.11.12

10.11.12: mas que bela data.


Duas adendas ao meu post recente sobre o 9 de Novembro:

- Seguindo uma sugestão da Junta de Freguesia, ontem os nossos vizinhos encheram a rua de velas e rosas, lembrando os judeus que foram levados daqui para os campos de concentração. Uma vela para cada uma das trinta e cinco Stolpersteine (as placas no passeio que devolvem o nome e a história a essas pessoas).
Não fotografei, e agora não encontro fotografias na net. É pena, porque era muito bonito.
(Só encontrei uma foto de uma vela junto a uma Stolperstein, mas a vela devia ser de cemitério ou igreja: estava lindamente decorada com cruzes. Há gente que não pensa cinco tostões...)


(Foto: daqui)

- Na ZDF, a notícia da memória da queda do muro apareceu (aparece sempre) ligada à memória da noite do pogrom organizado pelo Estado contra os judeus. Todos os anos repetem a informação: os ataques de 9.11.1938 marcaram a passagem para uma nova fase da perseguição às pessoas. Nessa noite mataram mais de mil, e enviaram dez mil para campos de concentração. Foi há 74 anos, e marcou para sempre esta data, juntamente com a consciência da responsabilidade do povo alemão na ajuda aos mais frágeis. Como os refugiados da Síria, por exemplo, dizia o apresentador, passando para a reportagem: numa localidade da antiga RDA, mais de duzentos neonazis fizeram uma manifestação contra um centro de refugiados estrangeiros. Não foram longe, porque grupos de esquerda se sentaram no chão horas e horas, bloqueando as ruas por onde eles queriam passar. Horas e horas sentados no chão, com este frio: grandes! Em entrevista, uma professora dizia que nas últimas semanas receberam alunos novos, "crianças amorosas que queremos proteger". Também mostravam uma senhora já de certa idade que teve de mudar de casa porque a cidade decidiu destinar o seu prédio aos refugiados. Ocupa-se voluntariamente das crianças filhas de sírios, afegãos e africanos - quer que elas se sintam acolhidas. "A princípio foi um choque, quando me disseram que tinha de sair imediatamente da casa. Mas depois caí em mim: estas pessoas têm uma história terrível, temos de ajudar. Ficaria de mal comigo se não as ajudasse." Os refugiados não percebem que alguém tenha inveja deles. Mas, entre os habitantes da pequena cidade, onde há muito desemprego e poucas perspectivas de um futuro risonho, há quem se deixe seduzir pelas ideias da extrema-direita: "Nós não temos nada, e estes chegam aqui e dão-lhes tudo. Até apartamentos!"
Podem ver a reportagem aqui, carregando no marcador "Wolgast und die Asylanten"

(Foto: daqui)

No mesmo dia, alguém arrancou todas as Stolpersteine de uma localidade vizinha.

Tudo isto é vergonhoso e triste, mas pelo menos tem uma vantagem: com tanta manifestação e contramanifestação, tanta discussão e tantos actos criminosos, não é possível adormecer sobre a História.

09 novembro 2012

"praticamente metade dos 78 mil milhões emprestados é para juros"?

Gaspar dixit: Portugal recebe da UE e do FMI 78 mil milhões de euros, e vai ter de pagar 34,4 mil milhões em juros.
Conclusão que se tira? Ai! Grandes agiotas, esses amigos da troika!

Bom, isso é para quem não tem noções básicas de matemática financeira. Eu já me esqueci de praticamente tudo, mas estive a fazer umas continhas. Parece-me que estamos a falar de juros acumulados por um processo de capitalização composta, ou seja: recebemos o dinheiro hoje, mas só reembolsamos esse dinheiro e pagamos os respectivos juros no fim do período do empréstimo. Os juros anuais não pagos vão-se somando à dívida, e teremos de pagar juros também sobre eles. Juros de juros. Se pagássemos os juros todos os meses, como é mais normal, obviamente o montante total do custo do empréstimo era muito menor.

Contudo, esses 112,4 mil milhões de euros que pagaremos daqui a 11 anos (estou a simplificar um bocadinho) não são equivalentes a pagar 112,4 mil milhões de euros hoje. (Olha, olha: Bonjour, Monsieur de la Palisse, avec qu'alors par ici?) (gostava de ter sido eu a inventar esta gracinha, mas não fui)

Os 112,4 mil milhões de euros que teremos de pagar daqui a 11 anos correspondem hoje a:
- 90,4 mil milhões de euros, com uma taxa de inflação de 2%. Descontando os 78 do capital emprestado, sobram 12,4 mil milhões de euros - os juros totais pagos, a preços de hoje
- 85,67, com uma taxa de inflação de 2,5%  - o que dá um total de 7,67 mil milhões de euros para juros.

OK, concedo que 7,7 mil milhões de euros pagos em juros ainda é muito dinheiro. Mas está muito longe de ser o que se anda a apregoar por aí: que os agiotas da troika nos roubam em juros praticamente metade do que emprestam.

Outra coisa: aquela frase "eles recebem dinheiro a juro negativo, para nos emprestar a juros agiotas" também não é muito exacta. Os empréstimos a fundo negativo que a Alemanha tem andado a receber são para prazos extremamente curtos. Ninguém está a emprestar à Alemanha com taxa zero a dez ou onze anos.

(Os jornalistas e a oposição não sabem fazer contas? Anda aqui meio mundo a enganar o outro meio?)

(O Gaspar não soube explicar isto ao povo, ou alguém optou por não passar a mensagem? É que se ele não se lembrou de explicar isto, parece-me que precisa de uma assessora. Eu, infelizmente, já lá vai o tempo em que era uma promissora jovem de vinte e poucos anos, mas também me dava por satisfeita com um salário um pouco mais baixo que o dos jovens génios que andam a assessorar o governo...)

9 de Novembro - e o muro que não cai



Como todos os anos neste dia, alguém terá vindo pôr flores na placa que lembra a sinagoga incendiada, aqui perto de casa. O que este país gasta e gastará em flores no dia 9 de Novembro...
(O Holocausto e  as centrais nucleares têm isso em comum: séculos depois de terem passado à História, ainda darão trabalho a muita gente.)  

*

Há 23 anos e 3 dias cheguei à Alemanha. Era uma segunda-feira. Na quinta-feira, quando o muro caiu, estava sentada no sofá dos meus sogros - eles de mão dada, a chorar, eu sem perceber quase nada. Na televisão, o que mais se via era bananas. E Trabis que passavam, e pessoas a chorar e a rir ao mesmo tempo. Só muito depois comecei a dar-me conta de como era esse mundo, tão outro, de onde vinham.

Depois veio a euforia, as imagens (se tiverem seis minutos,vejam este filme, é um belo resumo desses dias).

Há tempos, num táxi, tive uma conversa muito interessante com o motorista, que falava no dialecto berlinense. Disse-lhe para onde queria ir, e ele recitou o encadeamento de ruas que nos levaria a esse destino.
- Vejo que não é principiante nesta profissão...
- Pode crer! Já fazia isto no tempo do muro. Era mais fácil. Uma pessoa sabia logo: esta rua, por exemplo, Hohenzollerndamm, a seguir vem a Clayallee, depois a Potsdamer Chaussee, a Königsstrasse, a fronteira. Quando o muro caiu, tive de aprender as ruas todas do outro lado. Ruas com nomes lá dos políticos deles, comunistas, socialistas, gente que eu não conhecia. Depois mudaram os nomes, as ruas voltaram a chamar-se como antes da RDA. Tive de aprender tudo de novo. E aprendi! Outro dia, uma senhora disse-me: quero ir para a Cecilienstrasse, em Marzahn. E eu: ah, a antiga Albert-Norden-Strasse! E ela: você é um dos nossos?
Veja-me lá isto: só porque eu sabia o nome da rua quando tinha o nome de um daqueles políticos da RDA, ela pergunta-me se sou "um dos nossos"! "Um dos nossos"! Por pouco não me caiu o volante das mãos. Então, quase um quarto de século depois da queda do muro, ainda se diz "um dos nossos"?!

a ver se acabo com alguns mal-entendidos


A propósito de um comentário no post finalmente uma carta que me apetece assinar!:
reconheço que há bastante violência no modo como tenho comentado as cartas à Angela Merkel, que é sobretudo fruto do tom insultuoso das mesmas. Para insulto, insulto e meio...?

Talvez pareça que eu penso que a Merkel tem toda a razão e que a austeridade é o deserto que temos de atravessar para nos salvarmos. Não é. O que eu tenho andado a escrever é sobretudo uma reacção aos excessos retóricos de alguns portugueses.

Para evitar mais mal-entendidos, e sinteticamente:
penso que Portugal cometeu excessos graves (se me lembro que, na altura em que as PPPs começaram a rebentar nas mãos dos contribuintes, ainda queriam construir um TGV e um aeroporto - quando os limites de endividamento acordados em Maastricht já estavam largamente ultrapassados!), que tem um problema de corrupção e promiscuidade entre o Estado e as empresas, problemas com a Justiça e a Comunicação Social, e que - last but not least! - a economia tem problemas estruturais complicados que urge resolver. Penso que o Estado tem de reduzir a sua dívida, mas esse processo deve ser muito mais lento e controlado, e respeitando sempre os critérios básicos de um Estado Social. Penso que é preciso repensar a economia, que para isso precisamos da ajuda da UE (nomeadamente um esforço comum de melhoria do tecido produtivo da União, para que se torne mais homogéneo), e que o futuro da Europa não passa, de modo algum, por ter países que tentam competir com a China ao nível dos custos da mão-de-obra. Penso que o euro é um erro terrível, mas está feito e agora há que construir a partir daqui, porque as alternativas, no contexto actual, são ainda piores: se a Alemanha sair do euro, os outros países ricos não vão querer ficar; se se criar um euro-norte, nenhum país vai querer ficar no euro-sul; se a Grécia e Portugal saírem do euro, vão ficar em muito maus lençóis - os outros países também, aliás). Penso que a Europa está num ponto de viragem muito difícil, porque o caminho necessário é o federal, mas os povos estão a refugiar-se no nacionalismo. Irrita-me que, perante problemas tão grandes, os portugueses entrem numa dinâmica simplista que culmina na frase "vem aí a gorda!"  (excelente povo: além de saber agonizar de pé, ainda tem força para trocar as exigências da realidade por uma piadinha de mau gosto) (ai! descaí-me outra vez!)

Posto isto, volto ao comentário que deu origem a este post, no qual se dizia que a minha diferença de perspectiva deriva naturalmente do facto de viver na Alemanha. É, com certeza: por um lado, tenho acesso aos debates que aqui se fazem sobre esses temas. Por outro lado, por conhecer este povo, sou mais sensível e reajo muito às palermices que em Portugal se dizem sobre os alemães e a sua Merkel.

Mas também conheço muitas pessoas que vivem em Portugal e pensam da mesma maneira que eu - ou bem pior. Alguns exemplos do que ouvi no Verão passado:
- Numa aldeia do Douro, uma mulher com um ordenado muito baixo dizia-me que ainda bem que o Governo estava a acabar com o rendimento social de inserção, porque ela irritava-se muito por ter de trabalhar tanto para se sustentar, e ver ao mesmo tempo o espertalhão do vizinho a passar os dias no café, por conta do RSI.
- No Minho, um empresário dizia-me que todas as semanas lhe apareciam desempregados a pedir que assinasse o papel a provar que eles tinham ido lá pedir emprego. Só quando o período em que têm direito a subsídio de desemprego se está a acabar é que se começam realmente a esforçar por arranjar trabalho.
- Um desabafo de uma amiga, ao passar numa das milhentas rotundas com "obras de arte" no meio: pelo menos a crise teve a vantagem de me acordar. Agora olho para isto e penso: "está aqui o meu rico dinheirinho!" Dantes, achava que era feito com o dinheiro dos outros, e não me preocupava.


08 novembro 2012

notícia no Spiegel sobre a carta aberta de intelectuais e artistas portugueses

O Spiegel traz uma notícia sobre as manifestações da próxima segunda-feira e a carta aberta de alguns intelectuais e artistas portugueses. 
Como se não tivesse mais nada para fazer, traduzo num instantinho (num instantinho, OK? quer dizer: sem tempo para virar cada uma das palavras do avesso, para ter a certeza absoluta que corresponde inteiramente à intenção do autor. Portanto: se se irritarem com alguma coisa, perguntem-me a mim se não terá sido erro de tradução, antes de concluirem que os alemães são todos uns nazis...):

***

Carta para Merkel

"Persona non grata em Portugal" 



Protesto em Lisboa: anunciadas manifestações contra Merkel

Em Portugal, país que está a sofrer a crise do euro, cresce a resistência à visita anunciada da chanceler Merkel. Alguns dias antes da sua viagem, mais de cem intelectuais e artistas do país publicaram uma carta aberta na qual declaram que ela não é bem-vinda.

Lisboa - A visita que na próxima semana Angela Merkel fará a Portugal não ficará, provavelmente, entre as melhores recordações do seu mandato. A chanceler alemã vai ser recebida em Lisboa, na próxima segunda-feira. Vai-se encontrar com Pedro Passos Coelho, o primeiro-ministro do país que tem sido severamente atingido pela crise. Também está prevista uma reunião com o presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. Além disso quer visitar uma fábrica da VW, perto da capital portuguesa.

Cinco dias antes da sua viagem, mais de cem intelectuais e artistas do país declararam-na "persona non grata". "Devido ao carácter da visita anunciada, e tendo em conta a catastrófica situação social e económica de Portugal, sublinhamos que não é aqui bem-vinda", diz-se na carta aberta a Merkel, que foi publicada na internet na quarta-feira passada.

A carta foi assinada por Alice Vieira, uma escritora de literatura infantil também conhecida na Alemanha, pelo realizador António Pedro Vasconcelos, e outras personalidades famosas. Descrevem Merkel como "principal promotora da doutrina neoliberal que está a arruinar a Europa". Estão a ser preparadas manifestações anti-Merkel para a próxima segunda-feira, quer pela CGTP, quer pela influente iniciativa no facebook "Que se lixe a troika (de onde vem o dinheiro)". Dois dias depois da visita, a CGTP organiza no país mais pobre da Europa ocidental uma greve geral contra a política de poupança do governo de centro-direita de Pedro Passos Coelho. Em 2011, o país em crise recebeu um pacote de ajuda de 78 mil milhões de euros da troika (fundos da UE, do BCE e do FMI). Em troca, pretende-se que até 2014 o défice baixe para o nível definido pela UE como limite máximo - 3% do PIB. Como consequência das medidas de poupança, o PIB português vai baixar pelo menos 3% em 2012, segundo estimativas governamentais; a taxa de desemprego já atingiu o valor record de 15,9%.

***

Com uma palavrinha apenas, sintetiza o que eu tentei explicar há meses, a propósito da má escolha do nome "que se lixe a troika". Escrevem "Zum Teufel mit der (Gelgeber-)Troika" = "Que se lixe a troika (de onde vem o dinheiro)". Não é preciso dizer mais nada. Um pequeno toque mordaz, e todo este movimento, que é legítimo e fundamental, é arrumado na gaveta errada.

"se não nos unirmos agora..."


Esta fotografia, que trouxe do Entre as Brumas da Memória, lembra-me um episódio do princípio dos anos trinta, na Alemanha: Ernst Thälmann, chefe do partido comunista, terá dito aos socialistas (mas não encontro a citação na internet): "se não formos capaz de nos dar agora as mãos, antes das eleições, acabaremos depois a dá-las nos campos de concentração".
Porque é que estes países não foram capazes de falar uns com os outros e de se unir há dez anos, quando perceberam que o Euro lhes iria asfixiar a economia? Porque é que não pensaram nessa altura numa maneira de resolver o problema, porque é que não foram falar com a UE para alertar a comunidade para este problema, para mudar as políticas comuns?
Ou só se aperceberam do problema do Euro quando os mercados deixaram de lhes emprestar dinheiro barato?
Por outras palavras: o que é que os governantes e os responsáveis destes países andaram a fazer durante dez anos?

Já é tarde para voltar atrás, e recomeçar tudo de novo. Mas que fique o aviso: a Europa precisa de governantes atentos ao seu país e ao dos outros, capazes de identificar atempadamente os problemas e de debater com os parceiros maneiras de os resolver. Por isso mesmo me apetece insultar o Passos Coelho por ter faltado ao encontro com os representantes da Itália, da Grécia e da Espanha. Em vez de um primeiro-ministro, temos um marçano da troika!