Duas adendas ao meu post recente sobre o 9 de Novembro:
- Seguindo uma sugestão da Junta de Freguesia, ontem os nossos vizinhos encheram a rua de velas e rosas, lembrando os judeus que foram levados daqui para os campos de concentração. Uma vela para cada uma das trinta e cinco Stolpersteine (as placas no passeio que devolvem o nome e a história a essas pessoas).
Não fotografei, e agora não encontro fotografias na net. É pena, porque era muito bonito.
(Só encontrei uma foto de uma vela junto a uma Stolperstein, mas a vela devia ser de cemitério ou igreja: estava lindamente decorada com cruzes. Há gente que não pensa cinco tostões...)
(Foto: daqui)
- Na ZDF, a notícia da memória da queda do muro apareceu (aparece sempre) ligada à memória da noite do pogrom organizado pelo Estado contra os judeus. Todos os anos repetem a informação: os ataques de 9.11.1938 marcaram a passagem para uma nova fase da perseguição às pessoas. Nessa noite mataram mais de mil, e enviaram dez mil para campos de concentração. Foi há 74 anos, e marcou para sempre esta data, juntamente com a consciência da responsabilidade do povo alemão na ajuda aos mais frágeis. Como os refugiados da Síria, por exemplo, dizia o apresentador, passando para a reportagem: numa localidade da antiga RDA, mais de duzentos neonazis fizeram uma manifestação contra um centro de refugiados estrangeiros. Não foram longe, porque grupos de esquerda se sentaram no chão horas e horas, bloqueando as ruas por onde eles queriam passar. Horas e horas sentados no chão, com este frio: grandes! Em entrevista, uma professora dizia que nas últimas semanas receberam alunos novos, "crianças amorosas que queremos proteger". Também mostravam uma senhora já de certa idade que teve de mudar de casa porque a cidade decidiu destinar o seu prédio aos refugiados. Ocupa-se voluntariamente das crianças filhas de sírios, afegãos e africanos - quer que elas se sintam acolhidas. "A princípio foi um choque, quando me disseram que tinha de sair imediatamente da casa. Mas depois caí em mim: estas pessoas têm uma história terrível, temos de ajudar. Ficaria de mal comigo se não as ajudasse." Os refugiados não percebem que alguém tenha inveja deles. Mas, entre os habitantes da pequena cidade, onde há muito desemprego e poucas perspectivas de um futuro risonho, há quem se deixe seduzir pelas ideias da extrema-direita: "Nós não temos nada, e estes chegam aqui e dão-lhes tudo. Até apartamentos!"
Podem ver a reportagem aqui, carregando no marcador "Wolgast und die Asylanten"
(Foto: daqui)
No mesmo dia, alguém arrancou todas as Stolpersteine de uma localidade vizinha.
Tudo isto é vergonhoso e triste, mas pelo menos tem uma vantagem: com tanta manifestação e contramanifestação, tanta discussão e tantos actos criminosos, não é possível adormecer sobre a História.
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