31 março 2014

breviário para a quaresma (12)

Um sistema que só funciona com crescimento...

...e entra em crise sempre que o crescimento pára, não é estável nem do ponto de vista social nem do económico. De momento, há a tendência para reduzir a política ecológica à tecnologia e ao "crescimento verde" - o que é compreensível, mas também é errado.

Os avanços tecnológicos são muito necessários. Tão necessários quanto inovações sociais e uma mudança cultural que nos leve para lá da obrigação do "eterno mais" e (re)cultive valores imateriais: de uma formação alargada até novos sistemas de troca alheios à economia monetária, passando pela participação cívica.

Actualmente, e por todo o mundo, as metrópoles são espaços privilegiados de experiências, e laboratórios sociais para inovações culturais. Fenómenos como "Transition Towns" (cidades em mudança), "Commoning" (utilização, manutenção e desenvolvimento comunitário de bens públicos), ou "Social Banking" (regresso do sector financeiro à sua função de apoio ao desenvolvimento sustentado da sociedade e da economia real) deviam ser cuidadosamente observados e entendidos pela Política. Caso contrário, ela ficará à margem destas mudanças e continuará a perder legitimidade.


Reinhard Loske, "A técnica verde não basta! Por uma verdadeira mudança cultural."

(aqui, März 31)

(e aqui, todos os dias)


manual de boas maneiras para quem frequenta arménios


Há dias tive uma reunião com três arménios, na casa de um deles. Na mesa havia café, frutos secos cobertos de chocolate (uma delícia), biscoitos e um prato com maçãs. Eles iam falando e cortando maçãs, e com toda a naturalidade partilhavam o fruto que tinham acabado de descascar. Eu ia tomando notas e fazendo perguntas, e de repente, zimbas, tinha mais um pedaço de maçã pronto a comer, que um deles pousara delicadamente no meu prato.

Era tão inesperado para mim, e faziam-no com tal naturalidade, que fiquei insegura. Preciso urgentemente de um manual arménio de boas maneiras. A ver se o arranjo, leio e entendo até ao dia 11 de Abril, que é quando parto para Yerevan.


29 março 2014

Salomé Lamas em Berlim



Transcrevo a notícia em inglês:

DAAD Fellow Salomé Lamas 31.3. & 1.4.2014, 8 pm, Cinema Arsenal

The Portuguese filmmaker and artist Salomé Lamas (*1987) is currently the guest of the 
DAAD's Artists-in-Berlin program. Her installations and films are shown at festivals and 
in art institutions. Our selection of her shorts ranges from classic documentary work to a 
more complex approach involving installation. In A COMUNIDADE (The Community, 
Portugal 2012) Salomé Lamas observes the oldest campsite in Portugal, talking to 
people there about camping. ENCOUNTERS WITH LANDSCAPE (3X) (Portugal 2012)
 shows the filmmaker in nature – with Kant’s ideas of the sublime in mind. 
Unexpectedly, her excursions into the country become an existential experience. 
For the viewer, they represent an audiovisual adventure. 
THEATRUM ORBIS TERRARUM (Portugal 2013) tells a very different kind 
of adventure story - on water, on land, in the light, in the dark, in space and in time. 
(Birgit Kohler)


Programm

31.3., 20h No final, debate com Salomé Lamas
TERRA DE NINGUÉM No Man’s Land Salomé Lamas Portugal 2012 OmE 72‘

1.4., 20h No final, debate com S Salomé Lamas
A COMUNIDADE The Community Salomé Lamas Portugal 2012 OmE 23'
ENCOUNTERS WITH LANDSCAPE (3X) Salomé Lamas Portugal 2012 OmE 29‘
THEATRUM ORBIS TERRARUM Salomé Lamas Portugal 2013 OmE 26‘In


Für weitere Informationen:

Nora Molitor & Angelika Ramlow I arsenal distribution

030 269 55 -110 / -250 oder ara@arsenal-berlin.de



Kino Arsenal 1 & 2 | Potsdamer Straße 2 | 10785 Berlin | www.arsenal-berlin.de


breviário para a quaresma (11)




"I was texting back and forth with my wife"

Se conduzir, não escreva. Um filme do Werner Herzog.

Gosto especialmente das entrevistas com os condutores que provocaram os acidentes. Se isto não nos abrir os olhos!...

Eu já sabia, mas agora é definitivo: nem telemóvel, nem gps. Encostar o carro, desligar o motor, escrever. A vida não é tão curta que não se possa arranjar 30 segundos para isso. Melhor assim que encurtar definitivamente a vida dos outros, from one second to the next.




28 março 2014

publicidade nos blogues

Volta e meia é isto: por uma estranha coincidência, vários blogues começam a falar do mesmo produto (como se o autor do blogue tivesse descoberto repentinamente um leite não-sei-quê de uma marca particular, ou estivesse cheio de vontade de fazer uma cozinha*, coisas assim). Se fosse só um, e o soubesse fazer com jeitinho, uma pessoa não desconfiava. Mas quando na mesma semana meia dúzia de bloggers com bastante fama na praça falam do mesmo produto...

Convinha que alguém informasse as empresas que no multiplicar está a perda.  Ao aparecer repetido em páginas diferentes, o que podia parecer um apontamento do quotidiano revela o que é - publicidade paga - e ridiculariza todos os blogues envolvidos. Mais valia darem-me a mim o dinheiro todo que meteram nessa campanha. Eu ficava muito caladinha, e pelo mesmo preço o produto deles não ficava associado a uma cena de escárnio blogosférico.

Mas se fazem mesmo questão de dar que falar por péssima publicidade, pois então ofereço-me para mamar também dessa vaquinha. Prometo que lhes faço posts inesquecíveis, de tão medíocres.

Por exemplo, e usando o texto do post anterior, assim: "Se um dia forem convidados para um evento de uma loja maçónica, não é boa ideia porem creme das mãos da marca XPTO que torna a pele macia como a de um bebé (ainda que o façam muito discretamente, por baixo da mesa) mesmo antes de o evento começar."

A falsa modéstia que me perdoe, mas quase rebento de orgulho. Isto sim: se é para fazer má publicidade, é uma frase imbatível. Será que me pagam um pequeno extra por eu conseguir fazer ainda pior que os outros?




(*) Fica solenemente declarado que o referendo que aqui houve em tempos sobre a minha cozinha nova não era, infelizmente, um post pago.


manual de boas maneiras para quem frequenta a Maçonaria

Aviso importante: se um dia forem convidados para um evento de uma loja maçónica, não é boa ideia porem creme nas mãos (ainda que o façam muito discretamente, por baixo da mesa) mesmo antes de o evento começar. É que no início levantam-se todos e fazem uma cadeia de mãos dadas, enquanto o anfitrião dá as boas-vindas. E ali está uma pessoa com as mãos todas besuntadas de fresco a pensar "e agora?" mesmo antes de se envergonhar com o desconhecido da esquerda e o desconhecido da direita.

Aconteceu-me ontem.

***

No fim da palestra aproveitei o intervalinho de fumar e desentorpecer as pernas para ir à minha vida. Alguém me pode informar se devia ter pago o chá que me foi servido com todo o luxo?

(Ainda agora comecei a frequentar a Maçonaria, e já meti água q.b. para meio dilúvio. Por este andar nunca conseguirei um tachito poderoso.)


25 março 2014

24 março 2014

hoje estou a leiloar um filho por um preço baratinho...

- Mãe, de que é que te lembras da vossa revolução?
- Nessa manhã uma mãe entrou na minha sala para vir buscar a filha. Estava muito aflita e segredou à professora que o exército tinha cercado Lisboa. Nós estávamos a dar a Idade Média em História, e eu imaginei canhões apontados ao castelo de São Jorge.
- Hehehehe. Tinhas dez anos, não era? E quando é que morreu o Salazar?
- Caiu da cadeira em 1968 e morreu em 1970.
- Em 1970? Mas que grandes incompetentes que vocês me saíram! Então o ditador morre e o regime ainda se aguenta quatro anos?!


notícias da casinha de imigrante

Os trabalhos vão adiantados, já puseram o isolamento exterior e o cimento por cima dos tubos do aquecimento no chão (que impressão faz ver aqueles tubos e o cimento, e pensar que se algum tubo se rompe...).
Já posso afirmar sem qualquer margem para dúvidas: é a casa mais linda da rua toda. Os vizinhos terão outra opinião, mas por acaso desta vez quem tem razão sou eu.

Na próxima semana vão pôr os azulejos, e mudamos em fins de Maio.

O que mais me fascina é a luz que a casa tem.
Com o jeito que tenho para decidir contra mim, acabei por ficar com o escritório mais escuro da casa. Não é que seja escuro-escuro, afinal de contas tem uma janela enorme virada a sul. Mas comparado com o escritório do Joachim, que tem uma parede toda em vidro...
(Consolo-me pensando que se um dia me apetecer fazer coisas inconfessáveis como escarafunchar no nariz e assim, tenho a necessária privacidade, hehehe, nada como saber dar valor aos pequenos lucros nas grandes perdas, como dizia o outro.)


***

Adenda - a pedidos, aqui vai uma foto do meu "quartinho escuro":



e do quarto das visitas, na cave:




19 março 2014

a cidade comestível




Como é que não nos lembrámos antes disto? Em vez de jardins municipais com flores e relvados, jardins municipais com plantas para alimentar a comunidade.

(Pensando bem, já nos tínhamos lembrado disto há séculos: as laranjeiras de Vila Viçosa, por exemplo. O Alentejo sempre na dianteira do futuro!)


18 março 2014

outras maneiras de ver a crise ucraniana

Neste meu papel de vai-vem europeu das ideias, levei para alguns amigos russos as teorias que ouço em Portugal sobre as culpas da Alemanha e a da Polónia na crise da Ucrânia. Recebi respostas iradas (hei-de ver se arranjo de blindar o vai-vem, que isto às vezes o perigo é a minha profissão...). Frases assim:

- O presidente russo não se sente provocado pela Polónia ou pela Alemanha, está-se nas tintas para esses países que não podem ameaçar o seu poder. O problema é que ele se sente provocado pelos cidadãos ucranianos, que tiveram a ousadia de expulsar um presidente criminoso. Não quer que o seu povo siga o exemplo, e por isso está a castigar os ucranianos.

- Pergunta aos ucranianos que se aguentaram no frio durante três meses, sujeitos às balas dos mercenários contratados pelo seu governo, pergunta aos que deixaram lá a sua vida se receberam alguma ajuda dos polacos.
A revolução não se pode apoiar de fora, é um processo íntimo. As pessoas decidem que o respeito por si próprias lhes é importante, e que preferem correr risco de vida a ter de corar quando os filhos lhes perguntarem "o que é que fizeste naquela altura para impedir o país de cair no buraco em que estamos hoje?"
Nenhuma Polónia, nenhuma América, nenhum estrangeiro pode ajudar. Pode aplaudir, como fazem os polacos, ou ter medo, como os patifes no Kremlin. Mas quem, em Kiev, deu a vida para a liberdade não foram os polacos - foram os ucranianos.


antes vermelhos que mortos



Não sei se tem alguma coisa a ver com o referendo da Crimeia, mas hoje descobri - nesta foto, e noutras do Alexey Kljatov - que Moscovo é uma cidade muito bonita...

Brincadeiras à parte: quem se terá lembrado da frase "antes vermelhos que mortos"? Que projecto de vida é esse?! Como escolha individual, não é brilhante: cadáver adiado que procria. Como publicidade ao socialismo é um tiro pela culatra.
A Realpolitik não devia ditar palavras de ordem.


flocos de neve

Frágeis, perfeitos, efémeros.

Alexey Kljatov, um fotógrafo russo, descobriu como fotografar flocos de neve em todo o seu esplendor. Para ver mais fotos - e são todas lindíssimas -, entrem no seu blogue: Snowflakes, night city and other things. Também explica o truque.








17 março 2014

o Malparado traduzido para minhotês

Apontamento de Pedro Mexia, no Malparado:

TAUTOLOGIA

«Confiar» significa «ter confiança em» ou «entregar alguma coisa a». Mas talvez aquilo que se «entrega a» seja justamente isso: «a confiança».





Nas aldeias minhotas é (era) costume as raparigas desfilarem nos cortejos com o peito coberto de ouro - não apenas da sua família, mas também da vizinhança. O que exibiam ao sol com enorme orgulho era, mais do que a riqueza familiar, a confiança que outros depositavam nela. A verdadeira riqueza.


16 março 2014

o 71º é alemão


Ao ler uma entrevista que Helmut Schmidt deu ao jornal Bild, por ocasião do seu 95º aniversário, suspeito que o manifesto dos 70 tem na Alemanha o seu 71º subscritor: um antigo chanceler que já se pode dar ao luxo de dizer a sua opinião em frases claras. Em Dezembro passado, quando festejava os seus 95 anos, deu várias entrevistas (como esta, em inglês). À pergunta sobre o presente que gostaria de receber nesse aniversário, respondeu:

"Desejo que os alemães entendam que a União Europeia tem de ser concluída, e que nós não nos podemos elevar acima dela."

Traduzo (à pressa, aviso já) parte da entrevista no jornal Bild, porque se dirige a um público-alvo importantíssimo: pessoas dos níveis sociais mais baixos e menor acesso à Educação, que gostam de jornais com letras grandes e frases simples.

BILD: Parece-lhe que o contrato da coligação está bem feito?

Schmidt: Parto do princípio que acordos como estes são erróneos. Com o tempo, a realidade revela-se de outra forma, independentemente do que foi debatido em 2013. No meu tempo não se faziam estes acordos.


BILD: Sente a falta do FDP no Parlamento?

Schmidt: Não. Os princípios básicos do liberalismo na Alemanha - liberdade e tolerância - já foram há muito assimilados por outros partidos (CDU, SPD, e também os Verdes). E um FDP que, pelo seu lado, afunilou na direcção do liberalismo económico, não é um partido necessário.


BILD: Teme, como muitos outros socialistas, que o SPD possa voltar a ser prejudicado por uma coligação com o CDU?

Schmidt: Para o futuro do país, na actual constelação, não vejo outra solução senão esta.


BILD: Quais são os problemas que a grande coligação terá de enfrentar?

Schmidt: Para mim, é a crise da UE e das suas instituições. Infelizmente, este tema praticamente não foi falado no acordo da coligação. Mas a realidade é que, no próximo ano, a crise da UE vai ser um problema central, e vai relegar os outros temas para segundo plano. Mal o governo entre em funções, os nossos vizinhos europeus vão fazer uma enorme pressão sobre a Alemanha. O mais tardar, na primavera de 2014.


BILD: Vão exigir dinheiro para os países em crise, como Grécia, Chipre, Portugal, Espanha?

Schmidt: Sim. A Europa precisa de uma Conferência da Dívida como a que se realizou em Londres em 1953. Vamos ter de reduzir as dívidas de alguns países, alongar prazos de crédito, baixar as taxas de juro. Todos esses temas vão estar na ordem do dia. E vão ocupar o espaço dos temas debatidos no acordo da coligação.


BILD: Isso significa que a temida redução da dívida - por exemplo, da dívida grega - vai acontecer. E a Alemanha vai ter de pagar?

Schmidt: Sim. De outro modo, não vamos conseguir salvar a economia grega. Depois da Conferência de Londres nós, os alemães, também andámos a pagar as dívidas até 2011. E nem sequer demos por isso...


BILD: No próximo ano há eleições europeias. A UE precisa de reformas?

Schmidt: A UE precisa de instituições que funcionem. De momento, nada funciona. Nem o Parlamento, nem o Presidente da Comissão, nem o Presidente do Conselho nem a Delegada para os Assuntos Externos. O único que, de momento, aguenta a UE viva, é o chefe do BCE, Draghi. Sem ele, não havia nada. O que não admira, se olharmos para 28 comissários que se bloqueiam mutuamente.


BILD: Vê alguma hipótese de tornar os acordos europeus mais eficientes?

Schmidt: Não, se continuarmos a insistir na tendência de ratificar os acordos por referendo. Há insegurança nos povos, devido às pseudo-actividades da Comissão Europeia. As pessoas não entendem o que se está a passar. Precisam de políticos competentes, e não de referendos ou votos directos. O mesmo se vê actualmente de forma muito clara na América.  


BILD: Foi correcto que a SPD tenha abdicado do cargo de ministro das Finanças?

Schmidt: Depende de quem temos para ocupar esse cargo. Só há um par de pessoas, entre os políticos, que são capazes de entender o que se passa no mundo financeiro. Wolfgang Schäuble e Peer Steinbrück fazem parte desse grupo.


BILD: E Sigmar Gabriel?

Schmidt: Não seria a minha primeira escolha para ministro das Finanças. Mas é, sem dúvida, uma pessoa com capacidades para se desenvolver.


BILD: No programa do governo há um extraordinário número de pontos ligados às reformas - de um modo geral aumentos e alargamentos. É possível financiar tudo isto?

Schmidt: Por enquanto sim, mas a longo prazo não. Quando nasci, em 1918, a esperança média de vida era 60 anos. Hoje está em 80 anos, e vai aumentar. Isso significa que não podemos continuar a ir para a reforma com 58 ou 62 anos. Vamos ter de trabalhar até aos 67, 68, 70 anos. Vamos precisar de escolas profissionais para que operários da construção civil com 50 anos, cujo corpo não permite mais fazer esse tipo de trabalho, mas ainda são demasiado jovens para a reforma, comecem uma nova carreira com computadores, por exemplo. É uma alteração profunda no mundo profissional, que vamos ter de levar a cabo. E os Estados Sociais europeus vão ter de saber lidar com este desafio.


BILD: Este também é um projecto para a grande coligação.

Schmidt: Com certeza. Mas esta mudança vai precisar de trinta anos, e não de quatro. No entanto, ainda não encontrei no acordo da coligação nada que vá nessa direcção.  


15 março 2014

post-it para o Carlos Reis



No seu mural de facebook, o Carlos Reis protestou devido ao facto de políticos que ele diz serem homossexuais (e revelou o nome de dois deles, forçando-lhes o outing) terem tido uma atitude diferente daquela que seria de esperar.
Convém lembrar dois factos óbvios:

1. A orientação sexual não é uma escolha pessoal. A divulgação que o próprio quer dar a esse facto é uma escolha pessoal que exige o máximo respeito. Revelar em público aquilo que os envolvidos preferem que não seja tematizado é mesquinho e torpe.

2. A orientação sexual, como a cor da pele ou o dom para a música ou a matemática não é uma escolha pessoal. Mas as ideias e as tomadas de posição em questões que de algum modo têm a ver com essas características são escolhas pessoais. Ninguém pode obrigar um Obama a defender os interesses dos African-American (ou sequer a sentir-se mais próximo deles e dos seus problemas), nem um político a tomar partido a favor de uma proposta da agenda LGBT* apenas porque é homossexual.




* Por acaso o que se votou ontem no Parlamento não era uma proposta da agenda LGBT, era uma medida para proteger os interesses de crianças concretas que já vivem com um casal do mesmo sexo. Independentemente do que a sociedade possa pensar sobre esse contexto familiar, há que proteger os laços afectivos que a criança já criou. O que torna a acusação, e a tentativa de dominar alguém instrumentalizando a sua orientação sexual, ainda mais ridícula. Ninguém precisa de ser homossexual para entender a situação de precariedade que a sociedade impõe a essas crianças, pensando que está a protegê-las.


um catraio anda com o mundo nas palminhas

Um texto de Wladimir Kaminer:



O meu país, a União Soviética, era não apenas uma ditadura totalitária mas também uma união voluntária de muitos povos, que deviam coexistir de forma pacífica e solidária. O rapazinho gostava disso. Só não sabia até que ponto essa aliança era autêntica. Em 1991, a aliança desfez-se. “Não perdem pela demora, traidores!”, pensou o rapazinho, que entretanto crescera e se tornara presidente. “Ou voltamos a ficar amigos, ou verão com quantos paus se faz uma cangalha. Vamos começar pela Crimeia.” Na realidade, conseguiu que todos se zangassem. Parentes, amigos, colegas de trabalho. Operários e camponeses, pensadores e poetas, o mundo inteiro. Algumas barricadas surgiram no meio das cozinhas, o homem a favor, a mulher contra. Uma parte da sociedade sente vergonha, outra rebenta de orgulho e, com tanto patriotismo, mal consegue andar. A maioria acha bem, o país vai ficar maior, a Crimeia é nossa. O referendo de domingo é à prova de bala, nove em cada dez balas vão ser a favor, calculo eu.  


as saudades que eu já tinha de notícias merkelizadas...

Os factos são estes: Uli Hoeneß, o manda-chuva do FC Bayern München, "esqueceu-se" de declarar lucros astronómicos (com jogos nos mercados financeiros, parece-me, mas não acompanhei o caso com todo o detalhe) e de pagar os impostos devidos. O caso foi descoberto há cerca de um ano, e esta semana Uli Hoeneß foi condenado a três anos e meio de prisão, e a pagar o que deve, com juros. Em vez de tentar um recurso e estratégias várias para escapar airosamente, aceitou a decisão do tribunal sem mais delongas, e demitiu-se dos cargos que tinha no clube de futebol.
Os meios de comunicação social foram no encalço dos políticos para saber a reacção deles. A Angela Merkel disse "obviamente não comento decisões dos tribunais, mas posso dizer que o facto de Uli Hoeneß  ter aceitado assim este veredicto merece a minha admiração"; o Seehofer (chefe do governo bávaro) disse que esta decisão do Hoeneß mostra que ele é uma "pessoa com formato"; Yasmin Fahimi, secretária-geral do partido socialista, afirmou que esta decisão é também uma aceitação da culpa, e congratulou-se pelo bom funcionamento do Estado de Direito e pela reafirmação do princípio "a fuga aos impostos não é um delito de cavalheiro, é um crime". (aqui, em alemão)

O jornal Record merkelizou assim a notícia:

(e as saudades que eu tinha destas notícias portuguesas que fazem a Alemanha parecer uma soap opera de totós, e a Angela Merkel um Salazarinho de saias...)


Angela Merkel respeita decisão de Uli Hoeness
DIRIGENTE DO B. MUNIQUE CONDENADO



A chanceler alemã, Angela Merkel, revelou esta o seu "respeito" pela decisão de Uli Hoeness aceitar a condenação a três anos e seis meses de prisão por fraude fiscal, não impor recurso e se ter demitido de presidente do Bayern Munique.

A posição da chanceler foi transmitida através do seu porta-voz Steffen Seibert, que se escusou de comentar a condenação propriamente dita.

"O juiz decidiu e o senhor Hoeness assumiu uma posição pessoal que há que respeitar", afirmou Seibert.

O primeiro-ministro alemão, Horst Seehofer, também expressou o seu respeito pela decisão do dirigente e ex-futebolista.

"O meu respeito. A decisão mostra que Hoeness continua a ser uma pessoa íntegra", afirmou Seehofer.

Por seu lado, Yasmin Farihimi, secretária-geral do SPD, que faz parte da grande coligação de governo liderada por Merkel, sublinhou que a decisão de Hoeness não interpor recurso mostra que reconheceu a sua culpa.

O presidente do Bayern Munique, Uli Hoeness, anunciou esta sexta-feira que não vai recorrer da condenação a três anos e meio de prisão por fraude fiscal e que se demitiu da liderança do campeão europeu de futebol.

Hoeness foi condenado na quinta-feira a uma pena de prisão efetiva, devido a uma dívida fiscal de 27 milhões de euros.

No início da investigação, que se iniciou com uma confissão de Hoeness, o valor da fraude fiscal era de 3,5 milhões de euros, que aumentou para 18 milhões.

Mais tarde, uma inspetora das finanças falou em "pelo menos" 23,7 milhões, aos quais o Ministério Público junta o montante inicial, pelo que o total ascendia aos 27,2 milhões.



14 março 2014

é para te proteger, minha filha

Uma vez, ia eu com a minha filha de nove anos por uma rua de Weimar (já contei aqui esta história, mas adoro repetir-me, e além disso hoje vem a propósito) e chegámos a um cruzamento muito complexo onde há muitos semáforos e não passa carro nenhum. Estava vermelho para peões, nós estávamos já bastante atrasadas, e aquele semáforo demora eternidades até nos deixar passar, pelo que expliquei à miúda que íamos fazer uma coisa muito perigosa, blablabla, e que eu só fazia porque era muito mais alta que ela e por isso podia ver muito bem que não vinha carro nenhum a mais de meio quilómetro, e que ela nunca podia fazer aquilo sozinha, blablabla, atravessámos a rua e parámos no semáforo seguinte, também vermelho. Um condutor que estava à espera do sinal viu o que fiz, abriu a janela do carro e começou a chamar-me nomes num tom impressionante.
A minha filha perguntou:
- Mãe, porque é que este homem te está a chamar vaca estúpida?
- É para te proteger, minha filha...

É mais ou menos por aí:
- Mãe, se tu morreres, porque é que o Estado não deixa que eu fique a viver com a tua companheira na nossa casa? Porque é que ela não pode ir à minha escola tratar dos meus assuntos?
- É para te proteger, meu amor.


breviário para a quaresma (9)



Encontrado há dias no facebook:

Lá fora passa um carro de som com uma voz esganiçada a mobilizar as gentes destas aldeias para um carnaval em plena Quaresma já que o S. Pedro tramou o original.
Eu, a ateia, fico indignada: mas será que já nada é sagrado?!

E volto à página 17 do livro que acabei de ler e cujo efeito na minha vida ainda não sei bem como avaliar.
Chama-se Eating Animals e o autor Jonathan Safran Foer.
Estava na estante há uns anos e calhou lê-lo agora. Se quisermos ser muito simplistas poderemos dizer que é um livro sobre a crueldade sobre os animais (os que comemos) e sobre a possibilidades do vegetarianismo. É muito mais do que isso. Como suspeitarão se tiverem paciência de ler este excerto.
É que há coisas que têm de ser sagradas.


LISTEN TO ME
“We weren’t rich, but we always had enough. Thursday we baked bread, and challah and rolls, and they lasted the whole week. Friday we had pancakes. Shabbat we always had a chicken, and soup with noodles. You would go to the butcher and ask for a little more fat. The fattiest piece was the best piece. It wasn’t like now. We didn’t have refrigerators, but we had milk and cheese. We didn’t have every kind of vegetable, but we had enough. The things that you have here and take for granted. . . . But we were happy. We didn’t know any better. And we took what we had for granted, too.
“Then it all changed. During the war it was hell on earth, and I had nothing. I left my family, you know. I was always running, day and night, because the Germans were always right behind me. If you stopped, you died. There was never enough food. I became sicker and sicker from not eating, and I’m not just talking about being skin and bones. I had sores all over my body. It became difficult to move. I wasn’t too good to eat from a garbage can. I ate the parts others wouldn’t eat. If you helped yourself, you could survive. I took whatever I could find. I ate things I wouldn’t tell you about.
“Even at the worst times, there were good people, too. Someone taught me to tie the ends of my pants so I could fill the legs with any potatoes I was able to steal. I walked miles and miles like that, because you never knew when you would be lucky again. Someone gave me a little rice, once, and I traveled two days to a market and traded it for some soap, and then traveled to another market and traded the soap for some beans. You had to have luck and intuition.
“The worst it got was near the end. A lot of people died right at the end, and I didn’t know if I could make it another day. A farmer, a Russian, God bless him, he saw my condition, and he went into his house and came out with a piece of meat for me.”
“He saved your life.”
“I didn’t eat it.”
“You didn’t eat it?”
“It was pork. I wouldn’t eat pork.”
“Why?”
“What do you mean why?”
“What, because it wasn’t kosher?”
“Of course.”
“But not even to save your life?”
“If nothing matters, there’s nothing to save.”



13 março 2014

a quem interessar possa, sobre as comemorações do 25 de Abril

Ao ler nesta notícia que os militares que fizeram o 25 de Abril vão ter apenas papel de espectadores nas comemorações deste ano, lembrei-me do comentário de um judeu sobrevivente de Buchenwald, quando se comemoravam 60 anos após a libertação desse campo:

"É pena terem posto os sobreviventes todos arrumadinhos em cadeiras a ouvir os discursos dos políticos. Teria sido muito melhor pedirem-nos para repetir a última chamada na parada, como fizemos voluntariamente de forma simbólica após a libertação."

Ouvi-o com um enorme sentimento de perda. Era uma oportunidade única de dar a essas pessoas o relevo merecido e de cunhar um carácter único e inesquecível naquela comemoração.

Uma oportunidade perdida, e irrecuperável.





às vezes são os seres mais insignificantes que nos revelam as maiores verdades...





11 março 2014

sai daííiííí! vais-te molhar todo! ai! olha que vais apanhar! aqui, já! olha lá o que fizeste, molhaste-te todo! eu não te disse para sair da água?! uma palmada nesse rabo era o que merecias agora!

Sempre que vejo cenas destas, lembro-me de como deve ser horroroso ser filho de certos pais...

(Roubei o post por inteiro à Andrea Hanki. Encontrei-o num link do seu blogue Adventures in Pinksugarland, que praticamente não tem texto, mas é todo um compêndio sobre pais e filhos.)

(Para ver as fotografias correctamente, é melhor seguir o link: http://5minuteproject.com/puddle-jumping-andrea-hanki/)


puddle jumping . andrea hanki

5-minute-project-puddle-jumping-andrea-hanki

08 março 2014

a propósito da Crimeia

(foto)

I.
Cada país possui uma região de férias muito elegante, da qual se orgulha particularmente. Para a população soviética, essa região ficava na península da Crimeia, um lugar fantástico onde os sonhos se tornavam realidade. Visitar a Crimeia pelo menos uma vez na vida era obrigatório para praticamente todas as pessoas do país. Como Maiorca para os alemães ocidentais e Hiddensee para os alemães orientais. Com o passar do tempo, a Crimeia tornou-se uma metrópole independente, adornada com toda a espécie de lendas. Era o lugar onde o sol brilhava sempre e em cujas praias as mulheres mais belas de todo o país se passeavam dia e noite, escassamente vestidas. Os mais famosos poetas, artistas, cientistas e generais russos procuraram lá inspiração – e em vez dela encontraram uma casa com jardim e barco. Posteriormente, as suas propriedades foram todas convertidas em museus. As casas de Tchékhov, Pushkin, Kutusov, Suvorov, Aivazovskii e outros contribuíam assim para a oferta cultural da península.
A história pós-soviética do país também deixou as suas marcas na região. Gorbachev, o primeiro presidente russo, esteve preso em Faros, às mãos de militares conspiradores. E Ieltsin, o segundo presidente russo, gostava muito de lá ir a banhos. Entre as atracções da Crimeia contam-se ainda: o maior jardim zoológico do país, a maior queda de água, o maior campo de férias dos pioneiros e a maior pintura da Rússia. Trata-se do quadro panorâmico de F. J. Rubo, com mil seiscentos e dez metros quadrados: “A defesa da cidade Sebastopol contra os exércitos inglês, francês e turco”. Olhando para a imagem, pode-se concluir que desde sempre todos os governos do mundo tiveram inveja desta pérola do mar Negro, e já no terceiro século antes de Cristo tentavam conquistar a península. Até os genoveses e os mongóis se lançaram nessa aventura.
A Crimeia já não pertence oficialmente à Rússia há mais de dez anos, o que irrita valentemente a maior parte dos meus compatriotas. O que exércitos inimigos não conseguiram ao longo dos séculos, foi despachado ao pequeno-almoço pelos políticos russos. Durante a desintegração da União Soviética, quando o país foi retalhado como uma tarte, o presidente russo da altura, Ieltsin, provavelmente não estava atento: de um momento para o outro, já não havia Crimeia. Presentemente, esta preciosidade pertence à República Ucraniana. Talvez mais tarde a vendam de volta à Rússia, quando não conseguirem pagar as facturas da energia.

Wladimir Kaminer, Viagem a Tralalá, Tinta-da-China 2012



II.
Ontem, no noticiário da noite da ZDF, mostraram uma reportagem feita na Ucrânia, perto da fronteira russa. A capital fica a apenas 700 km de distância, diziam, mas, para os habitantes desta região, Kiev pertence a um mundo diferente, que eles não compreendem e do qual desconfiam. Entrevistaram mulheres ucranianas, que responderam assim à pergunta sobre preferirem a aproximação à Rússia ou à Europa:
- A Rússia é um país estável. Lá pode-se ganhar dinheiro. Aqui não há trabalho. E se entrássemos para a UE, isso é que era o fim - mais valia enterrarem-nos logo.
- Queremos continuar a ter uma relação amigável com os russos. Sempre foi assim, não nos podemos separar. Não vemos nenhuma perspectiva na Europa. Em especial aquelas ideias que eles têm, o casamento de pessoas do mesmo sexo...

III.
Para quem vive em Berlim: hoje à noite há Russendisko com o Wladimir Kaminer, e vai ser só com música ucraniana.



dia internacional da mulher



Uma da tarde, e já levei o cão à rua, estendi uma máquina de roupa e pus outra a lavar, fiz as compras da semana, descarreguei a máquina da louça e carreguei-a com a louça suja, adiantei os jantares dos próximos dias e escrevi algumas mensagens de trabalho. Estava a pensar que neste dia internacional da mulher não deixo os nossos créditos por mãos alheias, quando o telefone tocou. Era o Joachim, a ligar do trabalho (não perguntem...) para dizer:
- Hoje é o dia internacional da mulher. Já fizeste o almoço?

(Não, não é o que eu pensei quando me desatei a rir. Era um convite para irmos almoçar fora.)



breviário para a quaresma (8)

(continuo a numeração do ano passado)




As pessoas procuram raízes - nem que seja de rabanete ou beterraba. No meio da cidade, entre contentores de reciclagem de vidro e caixas de esgoto, começam a cavar, a regar, a arrancar ervas daninhas - desligam o telefone e trabalham a realidade com a enxada. Aqui, o homem deixa de ser o utilizador de Pods e Pads, deixa de ser o objecto de interesses exteriores. É ele próprio quem cava e quem colhe, dá-se conta do seu ser com todos os sentidos, especialmente quando é atacado pelas urtigas. Durante muito tempo a cidade foi considerada o lugar cujos habitantes se sentiam felizes por estarem finalmente livres dos trabalhos do campo e independentes das intempéries. Parece que este processo de emancipação está a tomar um novo sentido: livre é aquele que tira cenouras da terra. O Urban Gardening está a tornar-se algo muito mais importante que um mero sonho de Verão dos filhos da sociedade de bem-estar. Nas hortas urbanas cresce, ao lado dos legumes, uma mudança cultural.

Hanno Rauterberg

(aqui, März 8)


a Arte de SobreViver

Do Breviário para a Quaresma de 2014, preparado pela Misereor:

Estar a salvo da fome é um direito humano básico. Inclui o direito a alimentação saudável e adequada, que se cumpre quando "todos os homens, mulheres e crianças, sozinhos ou em conjunto com os outros, têm a qualquer momento acesso físico e económico a alimentação adequada, ou meios para sua aquisição."
A realidade é outra: actualmente há 840 milhões de pessoas vítimas de fome ou subalimentação - facto que deve ser considerado como uma das maiores violações maciças dos direitos humanos do nosso tempo. O número de pessoas cronicamente subnutridas ou a passar fome não tem baixado ao longo das últimas décadas, e ultimamente tem até tendência para crescer. 

Para a Misereor isto é motivo suficiente para, como já tem feito tantas vezes, pôr o dedo nas feridas destas violações de direitos humanos. Apontando o exemplo do Uganda, e sob o lema "a coragem é dar quando todos os outros tiram", procura-se identificar as causas evitáveis da fome e provocar as mudanças necessárias a nível nacional e internacional na política agrícola, nas empresas agro-industriais e no comportamento dos consumidores, procurando até uma autêntica mudança de cultura. 

São estes também os objectivos deste breviário para a quaresma de 2014. O título "a Arte de SobreViver" refere-se tanto ao esforço de sobrevivência de muitas pessoas, como à arte de viver que, perante a fome que grassa no mundo, nos confronta com a nossa responsabilidade. "Arte de viver" significa viver de modo a que todos possam ter uma vida digna, significa justiça social e sobretudo solidariedade para com aqueles que lutam pela sua sobrevivência.

***

Durante a quaresma, a Misereor envia todos os dias por e-mail um pequeno texto (eu recebo em alemão, inscrevi-me aqui). Em vez de nos propor as habituais privações voluntárias desta época litúrgica (não beber álcool, tornar-se vegan por umas semanas, não comer doces, ou outros do género), sugere que usemos uns minutos do nosso dia para pensar num futuro diferente, e no nosso papel na sua construção.


06 março 2014

escola portuguesa, escola alemã

Os comentários de admiração pelo sistema escolar alemão suscitados pelo post anterior, "Fado", obrigam-me a lembrar uma diferença importante entre os sistemas escolares alemão e português.
O que se segue é uma opinião pessoal e proposta de debate (nem sei porque escrevo sobre um tema que não domino - deve ser, provavelmente, na esperança de que um dia destes um jornal qualquer me comece a pagar crónicas).

No sistema alemão, os alunos são separados logo no fim da escola primária (4 ou 6 anos, conforme o Estado em que vivem) seguindo para vias diferentes de ensino, segundo as suas aptidões. De um modo geral, os que são capazes de raciocínios mais abstractos e de trabalhar intensa e autonomamente vão para o Gymnasium, os que têm menos pedalada vão para a Realschule, e os que têm, digamos, uma inteligência essencialmente prática vão para a Hauptschule.

A elite da nação é preparada pelo Gymnasium, e não pela Universidade - esta acrescenta apenas um aprofundamento de conhecimentos numa área determinada, e a exigência de um trabalho ainda mais autónomo e responsável. Os alunos daquele ramo de ensino acabam o secundário com uma vastíssima cultura, com um enorme treino da reflexão crítica e da capacidade de análise, e capazes de um discurso articulado e diferenciado com recurso a excelente vocabulário.

A Realschule oferece aos alunos uma adolescência mais descansada, porque não exige tanto deles, e dá-lhes a possibilidade de fazerem um sprint no final, de modo a terminar o secundário com o diploma de Gymnasium (Abitur) e ter acesso à Universidade; a saída habitual deste ramo de ensino é a formação técnica ou comercial.

Os alunos da Hauptschule são os claros perdedores deste sistema, porque no fim da escola primária lhes é dito que nunca irão longe na vida (isto sou eu a resumir cá para nós, em português - o discurso alemão é mais elaborado e muito mais neutro). A frustração e o facto de se juntarem demasiados alunos provenientes de famílias com problemas sociais graves (as famílias que funcionam melhor, ou que estão bem integradas nesta sociedade, cuidam de pôr os seus filhos nos outros ramos de ensino) faz com que essas turmas sejam uma dor de cabeça para todos. Tem-se falado muito em acabar com este terceiro ramo - e é ver a famosa "mão invisível" (a tal que faz com que a sociedade fique melhor quando cada um é movido pelo seu interesse egoísta...) a trabalhar: muitos pais dos alunos do ramo intermédio, a Realschule, desatam a puxar pelos miúdos, e nem que seja com Ritalina, para os conseguirem meter no Gymnasium, "a salvo dos delinquentes que vêm da Haupschule". E os que já têm os filhos no Gymnasium protestam, dizendo que esta invasão vai baixar o nível daquele ramo de ensino.

Apesar do cuidado do Estado alemão em apoiar as crianças das famílias com menores rendimentos, para que possam escapar ao círculo vicioso da pobreza, este sistema de ensino acaba por ser um entrave à mobilidade social. A sociedade forma uma elite já ao nível do ensino secundário, e paga um preço alto por isso: reforça a estratificação social e rouba a motivação aos mais desprotegidos.

É-me difícil escolher entre um modelo de sociedade que aposta em formar uma elite, dando e exigindo o máximo àqueles que têm mais capacidades, e um modelo de sociedade que dá a todos as mesmas oportunidades. Não tenho dificuldade em aceitar que as pessoas não são todas iguais nem têm todas as mesmas capacidades, pelo que não faz sentido meter numa mesma turma alunos com competências e interesses muito diversos - e seria um empobrecimento para a sociedade no seu conjunto se o nível do ensino tivesse de baixar para o mínimo denominador comum. Mas também é um empobrecimento para a sociedade se pessoas com muitas capacidades acabarem por ser arrumadas num nível de ensino menos exigente, só porque tiveram o azar de nascer num contexto familiar e social desfavorável.

Parece-me que a única maneira de resolver este dilema é uma terceira via: dar a todos e a cada um a possibilidade de tirar o máximo partido das suas possibilidades. Um ramo de ensino muito exigente para os alunos cujas capacidades e contexto sócioeconómico familiar propiciam esse esforço, e um ramo de ensino mais personalizado, com turmas mais pequenas e a preocupação de, para lá da transmissão e aquisição de conhecimento, reduzir as desvantagens resultantes do contexto familiar e social do aluno, para que ele se consiga libertar das peias que o impedem de ir mais longe.


Na prática, o que proponho é um sistema de ensino público com diversos ramos, oferecendo a possibilidade de cada criança aceder ao projecto pedagógico mais adequado para si (um Gymnasium, uma "Escola da Ponte", uma escola Montessori, etc.) e com uma atenção particular às turmas/escolas onde há maior número de alunos com dificuldades de aprendizagem e motivação. Nesses casos, a solução não é afastar os "burros" para não incomodarem os "espertos", mas reduzir o tamanho da turma, oferecer horas suplementares para explicações e o apoio de psicólogos e assistentes sociais.    

- Um Estado que anda com as pessoas ao colo? Talvez. A alternativa é um Estado que deixa cada um entregue à sua sorte, gastando em prisões o que podia ser gasto em Ensino, e resultar em desenvolvimento.

- E a crise, pá, e a falta de dinheiro? É uma pergunta legítima, à qual respondo com outra pergunta: será que alguma vez vamos sair da crise se fizermos a opção de sermos um povo pouco qualificado cuja vantagem relativa é a oferta de mão-de-obra barata? Queremos realmente agravar a crise com um novo problema estrutural que é o de haver cada vez mais pessoas a trabalhar e produzir abaixo das suas possibilidades?


05 março 2014

fado

O Matthias andou uns dias muito ocupado a preparar uma apresentação sobre o tema "fado". Contei-lhe o que sabia, com teorias estapafúrdias que o faziam rir muito (por exemplo, quando explicava que o fado não podia ter origem mourisca, porque à música mourisca falta o plim-plim das guitarras no final) (é tão bom ter filhos que se riem connosco!) e ele pesquisou o resto. Esta manhã disse-me que ia terminar com o Carlos do Carmo na Eurovisão. "Isso não é fado!", disse eu, muito atrapalhada, e fui ao youtube ver de perto a confusão em que o rapaz se ia meter.



Fiquei comovida. Já nem me lembrava do Carlos do Carmo na Eurovisão, e afinal ainda sei mais de metade desta canção de cor. Aquelas guitarras de fadistas no palco europeu. O Carlos do Carmo a referir o fado em 1976, numa altura em que ainda estava tão conotado com o regime anterior.
Meu rico povo. Meu rico filho, que inadvertidamente me pôs uma cor especial no princípio da manhã.

A apresentação correu bem. Os outros alunos riram muito - desconfio que o Matthias levou para a aula as piadas que me foram escapando enquanto fazia o jantar. A Amália foi muito aplaudida, num registo entre a brincadeira e a sincera admiração. A turma chegou à conclusão que fado com a Amália é que é, e que as cantoras modernas são diferentes, mas não vão tão longe. Perguntaram qual era a origem do sentimento "saudade" (ele desenrascou-se como pôde com algumas considerações sobre os descobrimentos), e se se pode beber quando se está a ouvir fado (respondeu que sim - se não se pode, e virem alguns alemãezitos em Lisboa a fazer isso, já sabem: vão falar com eles e perguntem-lhes se conhecem o Matthias).
A professora agradeceu-lhe por ter alargado os horizontes de todos, e deu a nota máxima.

**

Aulas de música no último ano do ensino secundário, numa escola vocacionada para as ciências - às vezes dá-me vontade de trocar de vida com o meu filho. Por exemplo outro dia, quando ele contou que tiveram um teste sobre um Lied de Schubert. A professora deixou ouvir a canção três vezes, e depois os alunos ficaram muito aflitos quando descobriram que só tinham 70 minutos para escrever sobre aquela peça. Quando é que eu alguma vez saberei o suficiente sobre Schubert e sobre Lieder para sentir que 70 minutos é pouco tempo para analisar uma canção?
Se alguém me vier dizer que no meu tempo é que a escola era boa, vai ter que ouvir.


Szymon Goldberg







Em trio, com Hindemith e Feuermann:




Por estes dias, e até 16 de Março, há uma exposição no foyer da Filarmonia sobre o violinista Szymon Goldberg. "Sobre quem?..." foi a minha primeira reacção. Imaginei que, para lhe fazerem uma exposição, seria um violinista ainda mais extraordinário que os outros - e descobri que é bem mais que isso.

Um músico extraordinário, sem dúvida: na inauguração, ao ouvir num gramofone a Sicilienne de Maria Theresa von Paradis (a primeira peça desta série de vídeos), fiquei rendida: como é possível pôr tanta intensidade em frases assim contidas e elegantes?

A par da homenagem ao músico, a exposição é um marco importante no árduo trabalho de confronto com o passado da orquestra, iniciado há alguns anos. Furtwängler não conseguiu proteger os seus músicos judeus, e os Filarmónicos seguiram em frente sem eles. O maestro ficou furioso com a debandada provocada pelos nazis, porque "precisava daqueles músicos para bem servir a música". Ainda se zangou com o Goebbels e abandonou a orquestra, mas acabaria por voltar, para continuar a servir a música ao serviço dos nazis. Os músicos judeus foram esquecidos, e o nome de Szymon Goldberg só recentemente voltou a aparecer no contexto da Filarmonia de Berlim, após quase oitenta anos de silêncio.

Szymon Goldberg era um judeu polaco, nascido em 1909, de tal modo dotado para o violino que aos nove anos veio para Berlim para fazer carreira como violinista. Aos quinze anos já tinha conquistado os melhores palcos, e aos vinte foi convidado por Wilhelm Furtwängler para concertino dos Filarmónicos de Berlim. Em 1934, quando os nazis proibiram os músicos judeus, fugiu precipitadamente para Inglaterra. Conseguiu escapar aos nazis na Alemanha em 1934, mas em 1942 foi apanhado pelos japoneses durante uma tournée na Indonésia. Ficou preso em Java até 1945. Curiosamente, muitos anos mais tarde viria a casar com uma japonesa, indo viver para o país da sua mulher, onde morreria aos 84 anos.

A exposição mostra alguns documentos que hoje nos parecem chocantes e incompreensíveis. Por exemplo, a carta escrita em 1964, na qual o director da orquestra recusa a reincorporação do antigo concertino, pedida em 1955, apesar da recomendação da Agência de Restituição. Pagaram-lhe os anos de salários não recebidos por andar a fugir aos nazis, e foi tudo. O que se terá passado nos bastidores? Porque é que Karajan não se interessou por ele, ao contrário de Furtwängler?
E como é que um músico destes reage a tamanha afronta? Szymon Goldberg só voltou a tocar em Berlim uma única vez, acompanhado ao piano por Ashkenasi. Diz-se que, quando tinha de atravessar a Alemanha de comboio, fechava as cortinas do seu compartimento.


04 março 2014

"Mein Kampf für mein Land"

(Estava eu aqui a tentar lembra-me das referências irónicas que há na Viagem a Tralalá aos tártaros da Crimeia, e eis que descubro que o Kaminer escreveu no seu blogue, muito a sério, a propósito da crise da Crimeia. O que se segue é uma tradução, rápida como de costume, desse texto)



A minha luta pelo meu país




Envergonho-me do meu país que, seguindo irresponsavelmente aquele que se diz presidente, está a conduzir o mundo para uma guerra. Não, nem todos os russos rejubilam com a invasão russa da Ucrânia, é óbvio que as pessoas na Crimeia não querem ser governadas por uma unidade armada. Dificilmente se encontram dois povos mais próximos que os russos e os ucranianos.

Ando há anos a lutar, aqui na Alemanha, para defender o bom nome da minha gente. Não, repito eu nas entrevistas, nem todos os russos são homofóbicos, nem todos são racistas, nem todos apoiam os jogos de guerra do presidente. Os anos passam, e torna-se cada vez mais difícil defender a Rússia.

Sempre que vou à Rússia, pergunto aos meus amigos: "que se passa aqui? Como é que vocês conseguem viver assim? A liberdade de expressão, melhor dizendo, qualquer tipo de liberdade é reprimido, na televisão mentem com quantos dentes têm na boca, vocês não vêem como as pessoas andam nas ruas, olham em volta a cada cinquenta metros para verificar se não estão a ser seguidas?" "Sim, isso vemos nós, não somos parvos", dizem os meus amigos. "Mas porque pensas tu que a liberdade iria salvar estas pessoas? Que liberdade? E de quê? As pessoas daqui não precisam de liberdade, precisam de créditos baratos e apartamentos que consigam pagar, e o Putin dá-lhes isso. Tudo o resto são valores ocidentais, que nos são impostos para confundir os espíritos fracos. Ninguém precisa de liberdade aqui, a não ser os homossexuais, os menores e um par de jornalistas. Nunca foi de outra maneira, e nunca será de outra maneira. Só assim é que este país pode funcionar, com um tirano em vez de um governo, com uma burocracia corrupta, preparada para pisar os fracos e lamber as botas aos fortes, e um povo pensativo, que tudo vê, mas nada diz contra isso. Os Estados não têm de se desenvolver todos da mesma maneira. Esta também pode ser uma possibilidade, ou não?

A amarga experiência tem mostrado que quando um povo renuncia à sua liberdade, mais tarde ou mais cedo acaba em guerra, e no caixote de lixo da História. O tirano actual não foi eleito, foi apresentado há 15 anos ao povo como "sucessor". Desde então fez-se eleger algumas vezes e, pelo sim pelo não, faz ele próprio a contagem dos votos. Um homenzinho educado na escola do KGB soviética, sem mulher nem amigos, afastado do mundo, atormentado por complexos de inferioridade, dirige um país gigantesco cujos habitantes já perderam há muito qualquer esperança de fazer uso dos seus direitos de cidadãos e de elegerem eles próprios o presidente. O Ocidente esforça-se para entender o que se passa na cabeça daquele homem, os russos nem se dão a esse trabalho. Limitam-se a segui-lo. Se ele é homofóbico, eles saem às ruas para fazer manifestações contra os homossexuais; se ele não gosta de arte moderna, eles saqueiam galerias. Se ele deixa o exército invadir o país vizinho, eles gritam "a Crimeia é nossa". E não pensam na vida depois de Putin, que virá daqui a alguns anos. Se ele um dia se despenhar durante um voo com cegonhas, ou mergulhar a demasiada profundidade, ou for comido por um leopardo - o que é que vão fazer?


P.S. No próximo sábado, na Russendisko só haverá música ucraniana.

P.P.S. O homem da fotografia está a ser preso porque tem um cartaz onde se lê "Paz para o Mundo".



"her"

Parece que fizeram um filme sobre um homem que se interessa muito por uma mulher que não existe, a não ser em forma de voz num computador:



Ah, finalmente uma novidade. Para variar de homens que se interessam muito por mulheres que não existem, a não ser em forma de imagem num computador:




03 março 2014

o mundo em que vivi


Este fim-de-semana falei com uma portuguesa, há muitos anos residente na Alemanha, que me contou sobre os tempos em que começaram a chegar compatriotas nossos para trabalhar neste país. Foi há menos de meio século, e alguns nem sabiam o que era luz eléctrica. Outros iam trabalhar com o cabelo cheio de piolhos, e inscreviam esse facto na ordem natural das coisas.
Essas histórias também são minhas: lembro-me perfeitamente de quando a minha avó pôs água canalizada em casa. Eu tinha seis ou sete anos. Até então, era a Bina - a criada de toda a vida, e também de certo modo pessoa da nossa família - que tinha como função ir buscar a água ao poço, ao fundo do quintal. E acender a lareira, para cozinhar e termos sempre água quente no pote. Nessa casa havia electricidade, mas à noite não podíamos ler na cama, porque era demasiado caro (muito caro, apesar de a minha avó ser uma das proprietárias mais ricas daquela terra). Estávamos proibidos de comer na casa dos vizinhos, porque - percebi mais tarde - eles passavam fome. Um dos meus irmãos contou que viu três miúdos disputarem uma cabeça de sardinha.
Aos dez anos, uns meses depois do 25 de Abril, fiz férias numa aldeia sem electricidade na região de Basto. Férias de luxo num solar, o meu momento "a cidade e as serras". Os lençóis de linho esticados numa enorme mesa de pedra, usando ferros aquecidos à boca do forno a lenha. Lembro-me bem do filho do caseiro que, ao ver o nosso entusiasmo para apanhar uma boleia no carro de bois, comentou: "as meninas gostam de andar no carro de bois, e eu gostava era de andar no carro do pai das meninas". Tinha a minha idade, não sei se ia à escola, mas dominava na perfeição a gramática do respeitinho - e nunca lhe deram essa boleia.
Aconteceu há 40 anos no país onde nasci.

Este fim-de-semana falei também com uma alemã que cresceu na RDA. Uma mulher nos seus quarenta anos. Contou-me que aos 15 era punk e resolveu provocar o regime, que proibia os punk de frequentar os mercados de Natal. Juntou-se um grupinho de adolescentes, e ala que se faz tarde para o mercado de Natal da Alexanderplatz. A polícia não demorou, arrastou-os brutalmente para um canto cheio de pinheirinhos, e levou-os em carrinhas para a esquadra. Seguiram-se 48 horas de interrogatório quase ininterrupto. Os interrogadores iam-se revezando, ela estava sozinha à mercê deles. Tinha 15 anos.
Durante dois dias praticamente nenhum dos interrogados dormiu, e a polícia não se deu sequer ao incómodo de avisar os pais daqueles miúdos sobre o seu paradeiro.
Aconteceu há 25 anos na cidade onde vivo.

A moral da história são perguntas: de que falamos quando dizemos que dantes é que se estava bem? estamos conscientes do que entretanto conseguimos conquistar? e estamos mesmo a fazer tudo o que está ao nosso alcance para que estas histórias não se repitam?


02 março 2014

Johannes-Passion



Ontem, durante o concerto da Paixão segundo São João com encenação de Peter Sellars, lembrei-me várias vezes de um cartaz que vi há mais de uma década: uma criança sentada à janela de um carro com formas inovadoras, perguntando: "mãe, como eram os carros dantes?"

Como era esta Paixão de Bach antes do Peter Sellars, do Simon Rattle com a sua Filarmónica, do Simon Halsey com o seu Rundfunkchor, e do Mark Padmore?

Como ser tocado por esta obra sem o equilíbrio da voz de um Mark Padmore no papel de evangelista, e sem a sua linguagem corporal a sublinhar a intensidade das frases que outros cantam? Como entender todo o alcance do berro "Crucifica-o!" sem um coro transformado em mob contra Jesus? E que melhor maneira haverá para nos dar conta da intensidade do diálogo joanino entre um Cristo fisicamente subjugado e um Pilatos aterrorizado com a História que se desenrola nas suas mãos, e à qual ele quer escapar, se não for esse Pilatos a ajoelhar e a deitar-se ao lado do Cristo prostrado?

Estava sentada no palco, junto aos músicos e cantores. Várias vezes quis fotografar o momento para deixar aqui, e não o fiz. Não valia a pena - aquilo tem de ser vivido em toda a sua intensidade.

No final, saboreámos longamente a sala aplaudindo em delírio, Simon Rattle e Simon Halsey mostrando a amizade que os une, o brilho nos olhos de todos os que participaram neste projecto, o entusiasmo redobrado para acolher Peter Sellars quando subiu ao palco, e no fim o gesto simples e amoroso dele dirigindo-se ao coro para lhes dizer "I love you", e depois "I love you" virado para os músicos da orquestra.
We love you too, Peter Sellars - podes voltar sempre a Berlim.

Daqui a alguns dias o Digital Concert Hall vai disponibilizar este concerto. Apesar de eles não me pagarem uma comissão pela publicidade, insisto: quem puder, use 9,90 € para entrar nos arquivos do DCH durante uma semana. Por esta Paixão segundo São João, pela Paixão segundo São Mateus, e por tantos outros concertos que lá há.

Com certeza que a encenação de Peter Sellars virá mais vezes a palco, mas há algo que torna este concerto único: a figura de Maria Madalena junto ao Cristo em agonia, composta por uma Magdalena Kožená vastíssima de fertilidade. O Evangelho segundo São João em edição revista e melhorada.