25 janeiro 2019
reais catástrofes
Programa para hoje: além do restante trabalho, aprender de cor os textos de cinco das canções que vou cantar com o meu coro no concerto de hoje. Os bilhetes já estão todos vendidos, os figurinos experimentados, o pianista (que é o português Rui Rodrigues, yay!) a postos - a única coisa que falta é eu fazer a minha parte e aprender a cantar tudo muito bem.
("Cinco para a meia-noite" é o meu nome do meio, triste vida.)
O coro foi criado em 2016 e já tem um belo histórico de façanhas. De todas, a que mais me impressiona é a capacidade de delegar do nosso maestro: praticamente todos os membros do coro assumiram a responsabilidade por uma tarefa concreta - partituras (cópias, distribuição, direitos), gestão da página na internet, listas de mailing por temas e naipes, informações várias, abrir e fechar as salas onde ensaiamos, instalar os pianos electrónicos e arrumá-los no fim, etc.
(A mim calhou-me: aprender a cantar bem as peças cinco minutos antes do concerto...)
O nome do programa do concerto de hoje e do próximo domingo é "reais catástrofes". Todas as peças são sobre reis ou rainhas - desde "All Creatures Now", de Bennet, até "König von Deutschland", de Rio Reiser - em grande diversidade de épocas e estilos musicais. Os apresentadores prepararam textos tão divertidos quanto profundos. Por exemplo, quando chamam a atenção para a atemporalidade do desespero do rei de Ungewitter, de Schumann: "no alto deste castelo / não sou rei com espada e coroa / sou o filho impotente e apreensivo / destes tempos de cólera".
(Ou pensaram que o nome "reais catástrofes" era em minha homenagem? heinhe?) (bom, reconheço que seria merecida)
A encenação deste programa esteve a cargo de uma dramaturga de teatro musical que já conhecemos de alguns projectos da Filarmonia, e de uma das cantoras do coro, também dramaturga, mas da área do cinema. De modo que chegámos ao ponto de treinar a expressão do rosto e a direcção do olhar em determinadas passagens de uma canção. Além de concerto, é um show.
(Cantar afinadinho, alinhados à frente do maestro, é muito século XX.)
Os figurinos, por sua vez, são um espectáculo. Do meio dos cantores, vestidos de preto, sobressaem dois soberanos por naipe, profusamente produzidos. A minha favorita é uma das rainhas das soprano, que vem de chapéu real e blusa, mas traz sobre as calças pretas apenas uma armação de arames para saia. Sempre que olho para ela dá-me vontade de rir.
(Convém que não olhe para ela durante a parte do Ungewitter, do Schumann).
De modo que agora cá vou eu ao trabalho: aprender de cor o texto do Bassa Selim e do König von Deutschland (logo eu, que sempre detestei a rapidez do rap!), o da Glor'würdge Königin, partes do Ungewitter e da Traurige Krönung. Ah, e treinar bem a tensão de "All creatures now", porque em certas passagens - aquelas em que me sinto mais segura - esqueço que se trata de música renascentista e espraio-me como se estivesse a cantar Schumann.
(Aprender textos alemães de cor, enquanto vou despachando as outras urgências do dia: "quadraturas do círculo" é o meu nome do meio.) (Com tantos nomes do meio, um dia destes o meu passaporte terá de vir com folhas desdobráveis.)
E além disso está a nevar. Se calhar também vai ser preciso ir limpar o passeio.
(Seria a primeira vez que alguém limpa um passeio a cantar a melodia do contralto no Bassa Selim.)
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1 comentário:
Pena não poder ir ouvir-te! Para me consolar vou aos Cardaes ouvir concerto 3 coros em Homenagem ao Victor Roque Amaro.
Canta bem e por favor nada de reais (ou outras) catástrofes
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