11 março 2017

overdose

Três concertos numa semana - e teriam sido quatro se tivesse conseguido entrar no Lunchkonzert, mas fecharam a porta três pessoas antes de mim.

Três concertos, e três ensaios com o Rundfunkchor e o seu maestro que é muito tipo agarrem-me que se começo a pôr aqui coraçõezinhos nem sei que vos diga que vos conte.

Começo com um presente: este domingo o Digital Concert Hall transmite em directo e gratuitamente um concerto com Zubin Mehta e Pinchas Zuckerman. Vi-o hoje, e foi sublime. Concerto para violino de Elgar, e 5ª de Tchaikovsky. Domingo, 13.3, às 7 da tarde em Portugal.







Não sei como é que Zubin Mehta aguenta este ritmo aos 81 anos - já dirigia os Filarmónicos ainda eu não era nascida, ainda nem sequer era uma ideia. E aqui está ele: por estes dias tem dado vários concertos consecutivos em Berlim - o Elgar e o Tchaikovsky desta semana, a seguir ao Bartók e ao Ravi Shankar da semana passada. Ai, o concerto do Ravi Shankar, com a cítara tocada pela Anoushka Shankar!  Raramente bati tantas palmas - eram merecidas, e além disso queria que ela voltasse muitas vezes ao palco porque estava com uma roupa lindíssima, que eu não me cansava de ver.

Amanhã vai ser o concerto do meu coro com o Rundfunkchor. Trabalhámos muito durante vários meses para chegar aqui, e desta vez sinto que entendi o que estou a cantar e posso saborear melhor a alegria de fazer esta música.

Já tivemos vários ensaios com o coro profissional. Nos dois últimos optaram por separar os coros, em vez de misturar os profissionais com os amadores. A minha auto-estima agradeceu imenso.
No concerto de amanhã vamos cantar algumas peças juntos, outras cantam só eles, outras cantamos só nós. E há uma, uma das que vão ter estreia mundial no concerto de amanhã, do Frank Schwemmer, em que cantamos juntos três estrofes e a seguir canta apenas o Rundfunkchor. Ouvi-os ontem: estávamos formados em semicírculos concêntricos, os profissionais atrás de nós, e de repente fomos envolvidos por uma música de tal beleza, cantada de maneira tão bela, que tive de me conter para não chorar.


Por mim, nem precisava de concerto: já me basta o que aprendi e o que me ri na sua preparação. O maestro do Rundfunkchor é um holandês bastante jovem, muito expressivo e com enorme sentido de humor. Ontem, por exemplo: a ensaiar a primeira das Valsas de Amor de Brahms começou ele próprio a valsar à nossa frente. E pedia desculpa aos pianistas, dizia "oh pá, estou empolgado! Esta música é tão cool!" Exigente nos detalhes, quer que sintamos cada palavra que cantamos, que a cantemos de modo a ser claro o que ela significa. Mima-nos a música como a quer ouvir de nós. Faz comentários do género: esse "vem, vem" não me convence, assim não me convencem a vir - e põe cara de reticências, e ri. Dá o exemplo dos fãs de futebol a chamar nomes ao árbitro para nos explicar como é a cadência com ritardando que queria. "Se 30.000 holandeses acertam isto, vocês também vão conseguir". E quando os naipes masculinos cantaram uma frase de forma pouco nítida, ele contou que daqui a um mês vai haver eleições na Holanda, e que o Geert Wilders distribuiu uma folhinha com o seu programa, "não mais que uma folhinha"; um dos pontos é sobre cortar os apoios às televisões, às rádios, à cultura, à música clássica, etc. etc. - e acrescentou, virado para os homens: "vocês estão a cantar esta frase como etc. etc. - ahem, desculpem, isto não veio muito a propósito, mas é uma coisa que não me sai da cabeça, e preciso de falar."


Amanhã temos um dia de muito trabalho, depois temos o concerto, e depois virá o vazio. Já sinto saudades destes dias.



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