30 maio 2008

como um diário das férias

Acabada de chegar a Amesterdão para passar um dia na cidade, uma amiga que tenho para os lados do lago Constança reparou numa turista que levava sandálias, pensou "esta deve ter ouvido o boletim metereológico e sabe que hoje vai estar quente, enquanto eu vou sofrer nos meus sapatos fechados", olhou um pouco melhor, e viu que a turista era eu.
Eu, que tinha acabado de combinar com os miúdos o que faríamos nesse dia.
Como se não fosse já bem grande a coincidência, os nossos amigos queriam fazer exactamente o mesmo.

Na Mauritshuis, em Haia, oferecem para a visita guias áudio gratuitos. Grande ideia! Os miúdos interessaram-se realmente pelo que estavam a ver, repararam nos detalhes, contavam-me o que descobriam. E eu (dá Deus as nozes...) fazia má cara, porque eles passavam a vida a interromper o que eu estava a ouvir. No fim, riram-se de mim: "outras mães ficam felizes se conseguem meter os filhos uma meia horita no museu, e a nós calhou-nos uma assim mal-agradecida."

O guia áudio explicava que os holandeses se interessaram pelos novos territórios descobertos, mas eram vistos pelos portugueses como hóspedes não desejados. Gostei do eufemismo.
Falava disso porque o dono da casa, o Maurits, era o célebre Maurício de Nassau, comandante dos holandeses no Brasil - esses usurpadores, esses piratas (espero que nenhum brasileiro leia isto - curiosamente, parece que eles têm outra opinião sobre este assunto). Por sorte, digo eu, o Maurits zangou-se com o patrão e despediu-se antes de se lhe acabar a comissão. Mal voltou à sua casinha em Haia, nem 15 anos foram precisos para os restantes holandeses se porem a desandar. Com o que amealharam no Brasil lá terão comprado aqueles Vermeer e Rembrandt e Rubens que na altura se vendiam a um preço muito em conta. Eu vejo aqui, precisamente aqui, motivo suficiente para nos unirmos num esforço nacionalista, gritarmos juntos e bem alto "é nosso!", exigirmos a devolução dos quadros que foram comprados com o que seria o nosso rico dinheirinho se não no lo tivessem roubado.
(os brasileiros que não me ouçam, senão estamos perdidos: vêm já cá reclamar a transposição dos Jerónimos para Ouro Preto) (estou a escrever assim complicado, "no lo" e tal, a ver se eles não entendem...) (;-) para os amigos brasileiros que lerem isto).

Depois de três horas no museu Van Gogh e duas horas na casa de Anne Frank, no primeiro dia, e de três horas na Mauritshuis, no segundo, ao terceiro dia fomos ao Gemeentemuseum de Haia para ver o Mondrian. Comecei pela exposição temporária do Lucian Freud, mas os miúdos, que no dia anterior se tinham fartado de rir com simbolismos de bordel do séc. XVII, armaram-se em pudibundos, "mas que espécie de mãe és tu? parece impossível que nos mostres coisas destas!", escaparam-se sozinhos para o Mondrian e depois para o café do museu, onde se refugiaram no Jawbreaker do meu telemóvel.



E depois arranjámos bicicletas e fomos pelas colinas até um restaurante na praia, onde fazem umas panquecas formidáveis. E ficámos até ao pôr-do-sol, e voltámos pelas colinas.

O que aprendi nesta viagem: quando quiser ter uma máquina de fazer dinheiro, abro um restaurante de panquecas.

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