19 fevereiro 2020
Berlinale 2019 - décimo dia
Dafne, de Federico Bondi. Dafne tem síndrome de Down, e uma infinita tagarelice. Uma força da natureza. Após a morte da mãe, Dafne vê-se obrigada a lutar contra a sua própria dificuldade de aceitar esse facto e a ajudar o pai a sair do estado de letargia em que caiu.
Um filme simultaneamente muito tocante e muito divertido.
Foi o segundo filme da Berlinale de 2019 que vi no qual a actriz principal era uma pessoa que tinha realmente a anomalia de saúde constante no guião (o primeiro foi 37 segundos), e mais uma vez se verificou que os filmes ficam a ganhar com estes actores.
O realizador contou, a sorrir, que a actriz Carolina Raspanti viu o filme pela primeira vez na première na Berlinale, e ficou muito entusiasmada. "Federico, fizeste uma obra-prima!", disse-lhe ela no seu tom alegremente peremptório. "Não exageres...", respondeu ele, e a resposta pronta: "pois se te digo que é uma obra-prima!" Já depois de a actriz ter regressado à Itália, o filme recebeu o prémio da Fédération Internationale de la Presse Cinématographique, e Carolina Raspanti não cabia em si de contente. Passou a noite a enviar mensagens ao realizador, com todas as variações de "eu bem te disse que era uma obra-prima, e tu não quiseste acreditar!"
Estou me guardando para quando o Carnaval chegar, de Marcelo Gomes, é um documentário que descreve a vida numa pequena cidade do Nordeste brasileiro, responsável pela produção de 20% dos jeans do país. O trabalho intenso ao longo do ano, com os olhos na miragem do carnaval passado na praia. Um retrato triste do nosso tempo e deste eterno correr numa roda de gaiola.
Werk ohne Autor / Never look away, de Florian von Donnersmarck. Um bom filme, mas desconfortável por usar a vida do artista Gerhard Richter sem o nomear, nem aos seus amigos. Uma pessoa vê o filme, vê as obras de arte nas quais aquelas pessoas estão a trabalhar, e pensa: mas por que raio lhes deram nomes diferentes?
Depois lê uma entrevista a Gerhard Richter, e entende: o artista não concordou com o guião, por distorcer demasiado a sua biografia, e o realizador resolveu contar a história que tinha preparado mudando simplesmente o nome dos envolvidos.
Fico na dúvida sobre o que preferiria: esta história com obras de arte "verdadeiras" e nomes falsos, ou uma história com os nomes certos e a biografia falsa. Estamos mais habituados a conviver com essas biografias romanceadas, e temos tendência a acreditar que aquilo que nos contam é a verdade. Mas quando nos mostram a história romanceada que tomamos como verdade mas trocam os nomes dos seus sujeitos, a sensação de desconforto que nos criam permite-nos abrir os olhos para o jogo de ilusões que gostamos de fazer.
Sois belle et tais-toi, de Delphine Seyrig. Falei deste filme aqui.
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Finalmente acabei a lista da Berlinale 2019. Pronta para a Berlinale 2020, que começa amanhã.
A ver se acabo aqui mesmo esta tradição de só fechar contas da Berlinale anterior quando a seguinte já está a começar, que isto não é vida. Agora vou estudar o programa com afinco, que amanhã já saio de casa às sete da madrugada em busca dos primeiros bilhetes.
(que a força esteja comigo...)
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1 comentário:
Olá, boa noite!
Estou atrasadíssima em relação ao que tem publicado. Quem me dera poder tirar um fim de semana só para mim e 'pôr a leitura em dia'! Abraço!
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