25 novembro 2025

25 de...

 

25 de...

Cada um é livre de escolher o seu 25 favorito. Mas não é livre de impor a todo um povo a alteração da sua memória e do seu sentir.

Tinha 10 anos, e lembro-me bem: no dia 1 de Maio de 1974, vi as ruas e as praças do Porto repletas de pessoas que sorriam e choravam comovidas, que olhavam e falavam com desconhecidos como se fôssemos todos uma enorme família. Se me perguntassem qual foi o dia mais feliz do povo português, diria que foi esse primeiro de Maio, uma semana depois daquilo que começou como golpe militar e ao fim de poucas horas era uma revolução de base popular.

No 25 de Novembro não vi essa extraordinária adesão popular, não vi flores nas armas nem mulheres a servir cafés aos soldados. Não vi junto aos soldados uma multidão sedenta e expectante de mudança.
E nos dias que se seguiram ao 25 de Novembro, não vi um povo feliz a inundar as ruas.

Alguns dirão: "pois, mas se não tivesse havido 25 de Novembro, queria ver a alegria do povo português a ser vítima de desmandos de sinal contrário."

No que até podem ter razão. Mas isso não faz do 25 de Novembro a data mais importante da revolução - foi apenas um marco e uma inflexão no caminho de liberdade que o 25 de Abril nos abriu.


(Mal comparado, era como quererem dizer que a data mais importante da Revolução Francesa não foi a da tomada da Bastilha, mas a da morte do Robespierre.)

24 novembro 2025

pão nosso de cada dia

 


Fui ao pão.
No caminho, vi um homem a ter um rendez-vous com uma árvore. Abraçou-a, encostou-se a ela longamente...
Se não houvesse mirones (como eu), se calhar fazia o mesmo. Deve ser muito bom.
(Sim, nevou. Mas ainda não dá para descer encostas de trenó. E recuperei o meu andar de pinguim. E também recuperei os transportes públicos, porque o carro está com pneus de Verão. E Berlim está coberta por uma camada densa de nuvens.)
(Nada disto é uma queixa.)
(As fotografias estão uma bela porcaria, reconheço. Ainda pensei espetar-lhes um filtro em cima, mas depois lembrei-me das minhas teorias sobre o botox, e ficámos assim.)

23 novembro 2025

passeio dominical

 


Há dias, ao falar sobre o dom que uma amiga minha tem para fazer composições de objectos decorativos, em vez de os deixar expostos pelos móveis como se fosse numa loja, lembrei-me do Parajanov.
Em 2014, passei fugazmente pela sua casa-museu em Yerevan, e anotei: tenho de voltar aqui com muito tempo. Com muito, muito, muito tempo: porque aquelas salas estão cheias de pequenas composições que são fruto de um espírito de criação mirabolante e inesgotável.
Quero muito voltar à Arménia. E no topo da lista está este museu.
Deixo o link [ https://parajanovmuseum.am/ ], para passearem por ele. Vejam o museu, e vejam a galeria: garanto que vai ser um belo passeio.
(Mas, se querem saber a verdade toda: a minha lista de lugares que quero ver e rever na Arménia é um caso de muitos ex-aequo, todos no topo. Tantos lugares que admiro, tantas saudades!)

22 novembro 2025

mirone

 

Coisas da minha vida: ofereceram-me um galo de Barcelos fantástico, mas o Joachim não gosta dele.
De modo que eu pu-lo na casa de banho meio misturado com umas hortênsias secas, na esperança de que o Joachim não repare.

Mas ontem deram-me uma ideia genial: esconder o galo por trás das flores. Escondido na moita, a bem dizer.
E agora, de cada vez que entro na casa-de-banho, desato a rir.





20 novembro 2025

dois anos sem a Sara Tavares

 


Dois anos sem a Sara Tavares -- e continua imortal.
(Há passagens nesta canção que são momentos para sempre.)

conforme a reacção

 

(hehehe)
Já agora, acrescento esta que li no instagram, em forma resumida: quando alguém atira uma frase provocatória está a testar a reacção do seu meio-ambiente. Ficar embaraçado, ficar calado ou afastar-se é ser, de certo modo, cúmplice.
Mais vale treinar uma resposta padrão tipo "isso que acabaste de dizer cheira um bocadinho a merda nazi". Mas tenhamos também em mente um truque antigo das polícias políticas das ditaduras: atirar uma provocação para registar a reacção de cada um. Ficar calado, nesse caso, é uma atitude inteligente de sobrevivência.

Portanto: enquanto vivemos num Estado de Direito, há que apontar tudo o que fede a "merda nazi". Deixar banalizar o fedor é mais de meio caminho andado para o beco sem saída.

19 novembro 2025

aqui e agora

 




Ontem não quereria ter estado em mais lugar nenhum do mundo, senão no aqui e agora do concerto do Salvador Sobral e da Sílvia Perez Cruz.
Foi muito mais do que a música genial que brota deles e dos seus músicos (embrulha, IA: nunca serás capaz de fazer nada assim).
Foi o ambiente de amizade e carinho entre todos, foi a leveza e a naturalidade. Foi a emoção.
Foi ver um palco cheio de gente boa, a mostrar que um outro mundo é possível.
Foi passar o concerto a sorrir. Foi o esquecer-me de aplaudir, de tão encantada que estava.
Só é pena ter sido tão curto. Podia ter durado cinco horas, e ainda assim seria demasiado breve.

18 novembro 2025

preciso de um cardiologista


Ontem fiz anos. Outra vez! Caramba, é assim que uma pessoa se põe velha... Tivemos uma sessão muito especial nos Portuguese Cinema Days in Berlin: Mulheres do Meu País, de Raquel Freire. Sala cheia, Q&A com a realizadora, interessantíssimo e longo, até nos mandarem sair da sala porque ia começar a sessão seguinte. Bolo de limão e vinho do Porto na lounge do cinema, e muitas conversas animadas.
Em casa, tinha o computador cheio de comentários simpáticos que escreveram por ocasião do aniversário dessa notável façanha que foi ter nascido. 😉

Se alguém souber de um cardiologista que faça preço de amigo para tratar uma coisa assim tipo quentinho no coração, agradeço.

17 novembro 2025

to leave or not to leave

 


"Don't leave until you leave."
Foto: minha. Legenda: A.B.

15 novembro 2025

em bicos de pés

 

Do diário no facebook: 15.11.2021 Pára tudo! Acabaram de me dizer que tenho uma voz igual à da Maria de Medeiros.
Um dia que precisem de alguém para dobrar a voz dela, para falar em português, já sabem: contratem-me. 🙂
(Ai, espera...)

15.11.2021
E por falar em voz semelhante...
A primeira vez que ouvi Arpi Alto pensei que seria um caso tipo Conchita Wurst, mas em mais bonito. Estava realmente surpreendida com aquele registo tão grave. Afinal, não: é mesmo uma arménia que tem uma extraordinária voz de contralto.
Hoje, ao ouvir este You Are So Beautiful, dei-me conta que ela canta no mesmo tom que eu. Enfim, canta mais bonito e com mais graça, mas eu consigo cantar no mesmo tom confortavelmente.
Ora bem: este é o segundo post consecutivo em que me ponho em bicos dos pés para poder dizer "ó pra mim, sou eu e ela".
Vou é trabalhar, que nós somos muito parecidas muito iguais, mas nenhuma delas me vem ajudar a traduzir um livrinho interminável que tenho em mãos.


13 novembro 2025

mais queixas

 


Ontem, o telemóvel ouviu que estávamos a falar em comprar um pinheirinho de Natal como deve ser, com o seu aroma a floresta, e mais as velas de cera de abelha, e os pássaros de vidro checos, e tudo. É que vamos ter um convidado especial, directamente vindo da Trumpsilvânia(*), e queremos impressioná-lo e mostrar-lhe como tudo é lindo e aprazível aqui no nosso continente onde impera o comunismo. Mas não gostamos nada da ideia de comprar uma árvore para deitar fora logo a seguir (nós, os da seita do clima, somos assim). 

Como ia dizendo: ontem, o telemóvel ouviu a conversa em português, e esta madrugada já me estava a informar em alemão que é possível comprar um abeto anão no vaso, com links e preços e tudo. Só cresce até 1,5 m, pode passar o ano todo na varanda, e no Natal vem para dentro de casa, e todos são felizes para sempre. 

Agora, digam-me cá como devo reagir.

É que devia ficar chocada e aterrorizada por isto estar a acontecer, mas a verdade é que me sinto grata e muito tentada a aceitar a sugestão. 

Será síndrome de Estocolmo?

[ pssst, ó telemóvel: se me dissesses onde arranjar mais pássaros de vidro com plumas na cauda, sem ter de ir ao mercado de Natal de Erfurt ali por volta de 2005, agradecidinha! ]


(*) o seu a seu dono: quem me dera ter inventado esta piadinha da Trumpsilvânia, mas não - ouvi-a à Nina Hagen, pouco depois de Trump ter ganho as eleições pela primeira vez. 

10 novembro 2025

queixinha

 

Venho cá fazer queixinha do chatgpt: pedi-lhe para me corrigir uma frase em alemão, e ele deu um erro de gramática na resposta.

Primeiro problema: atão como é que é, heinhe?!!!! Se nem na gramática acerta...

Segundo problema: alertei-o para o erro, e deu-me logo razão.
Mas ele tem um ar tão sabujo quando o corrigimos que tenho sempre a sensação que é daqueles que diz sempre que sim à voz do dono.

Terceiro problema: só sei que nada sei, e o chatgpt menos ainda.

E ainda só é segunda-feira de manhã.

09 novembro 2025

doçaria aleatória

 





Ontem gastei um tempo que não tinha, e mais duas toneladas de açúcar, uma de manteiga e uma de natas para fazer shortbread com creme de caramelo salgado e cobertura de chocolate.
É que hoje o meu coro dá um concerto (dá mesmo, a entrada é gratuita) para festejar a primeira década, e no fim há beberete e comerete.
Esta manhã, ao tentar cortar em bocadinhos, foi o drama, o horror e a tragédia.
O chocolate parte onde não deve, o creme de caramelo escorre por todos os lados, e o bolo sabe àquilo que é: uma mistura explosiva de açúcar e gordura.
Ora bem: uma pessoa tem amor próprio q.b. para ir para a festa de mãos a abanar, em vez de levar uma bandeja de harakiris.
Portanto, a quem interessar possa, e more em Berlim: quem quer uns fantásticos quadradinhos aleatórios de shortbread?

07 novembro 2025

o que é preciso é ter saudinha...

 

Ontem de manhã fui à ginecologista para uma consulta de rotina. O consultório tem um ambiente muito cuidado, com móveis caros e obras de arte nas paredes, mas as assistentes irritam-me sempre, porque atendem as pessoas de forma mecânica, antipática e arrogante, dão ordens secas, não fazem um único sorriso. Fazem-nos sentir como se tivéssemos ousado entrar numa Chanel ou numa Valentino (as lojas ali ao lado) sem termos cara de jovem esposa de um oligarca russo.
Enquanto esperava, liguei para um otorrino na parte Oxfam da mesma rua (é a avenida Ku'damm, há muita diversidade ao longo dos seus 3,5 km) para saber de uma vacina covid, fui atendida de forma extremamente simpática, e disseram-me para aparecer a meio da tarde, mesmo sem marcação.
O consultório tinha paredes vazias, cadeiras sólidas e sem graça, alguns brinquedos. E duas senhoras extremamente simpáticas na recepção. Uma delas usava hijab. A terceira, que veio falar comigo para me explicar que sou uma velhinha muito jovem e portanto devia tomar a vacina mais leve da gripe, era ainda mais simpática e calorosa que as da recepção.
Não resisti a fazer um comentário:
- Há algo neste consultório que o torna muito diferente dos outros...
- É por termos muitas crianças?
- Bem, estava a pensar na maneira calorosa como tratam as pessoas.
Ela sorriu.
Daí a pouco chegou o médico. Vacinou-me, falou um pouco, contei-lhe que este mês não posso apanhar gripe nem covid porque está a decorrer o Portuguese Cinema Days in Berlin, ele explicou que estas vacinas não me livram de apanhar as doenças, mas limitam os estragos, e depois quis saber mais sobre a nossa mostra de cinema. Dei-lhe um flyer, ele folheou, chamou a mulher (era a terceira senhora que me tinha atendido), pediram-me recomendações dos filmes, e saí de lá feliz da vida a pensar:
- Será que também fazem ginecologia?

05 novembro 2025

Ipanema

 


Diz que é Ipanema. Vejo a Lagoa, os Dois Irmãos, e até acredito.
Mas não sei se acredite: pensava que os prédios (e o passeio cheio de pareos à venda) sempre tinham estado lá...

Não tenho uma foto assim de Ipanema, mas tenho uma recordação ainda mais bonita: no dia 31 de Dezembro jantámos em casa de uns amigos, e saímos depois para a praia, que estava deserta. Alguém tinha feito covas enormes na areia, e pusera velas acesas lá dentro. A luz saía do nosso chão, o mar ronronava doce. Atirámos flores às ondas, para levarem a Iemanjá o que nos pesava, "vê tu isto, Iemanjá, que eu não estou a dar conta" - e a seguir fomos para o bulício de Copacabana.

29 outubro 2025

como quem diz "boa noite"

 



Para acompanhar o momento de pura beleza, copio este comentário que estava na página de youtube do vídeo:
"From Jeff's manager Dave Lory's new book "Jeff Buckley: from Hallelujah to Last Goodbye" regarding this performance:
'We had a small shopping list of stuff Jeff had asked us to pick up: peppermint tea, black hair dye, and a CD of “Dido’s Lament.” The week after Glastonbury, Jeff had been booked to appear at Meltdown, another prestigious annual event, held in London at the Royal Festival Hall. Each year an artist known for being eclectic was made guest curator of a week of genre-crossing concerts, and that year’s curator was Elvis Costello, who had invited Jeff to sing with an orchestra. After discussing singing some Mahler in the original German, Jeff decided he wanted to try “Dido’s Lament.” Sam had located a music shop in Bath where we could pick up the CD. It was a tiny place up a steep hill, so small that six skinny people would fill it. There were no racks; you just asked at the counter for what you wanted. An old guy was serving, and when I asked for a copy of “Dido’s Lament” for one of my male artists, he laughed and told me no man could sing it. The only other person in the store was a young dude, around eighteen years old, who asked which artist it was for. “Jeff Buckley,” I said. He turned to the shopkeeper and said, “Jeff Buckley can sing it.” I laughed, tickled that word about Jeff had reached out here ...
The show was a few days later and, although not quite a black-tie event, the atmosphere was very formal—the crowd was seemingly classical music fans having a daring night out. There were some priceless looks on their faces when this rumpled dude came out and started singing. It was so much fun watching their reaction that I hardly watched Jeff. But he sounded incredible. That kid in the Bath music store knew what he was talking about. I got chills. Elvis Costello: “When he started singing ‘Dido’s Lament,’ there were all these classical musicians who could not believe it. Here’s a guy shuffling up onstage and singing a piece of music normally thought to be the property of certain types of a specifically developed voice, and he’s just singing, not doing it like a party piece but doing something with it.” “That’s an understatement,” says cellist Philip Sheppard, who was in the orchestra. “I remember the silhouette of his frame as he bent almost double to wrench every ounce of meaning from a song written three hundred years ago. Better than any classical musician I’ve ever heard. It’s probably the greatest musical experience of my life; it turned my world inside out…made me realize I was a musician who played through study rather than played through feel, an incredibly pivotal moment for me. I think about him nearly every day, which is quite strange really, because I only met him for about half an hour.”
I wish Jeff could have done more of that kind of thing. When you saw how he shone in those unique environments, there was definitely a conversation to be had about whether alternative rock was a big enough playground for him.' "

27 outubro 2025

"quem segue o seu caminho nunca ficará atrás de ninguém"

 


Vi uma vez o Zambujo a cantar com o Milton, tentando o registo do Milton, e parecia uma maldade que lhe fizeram, porque ficou aquém Milton e até aquém Zambujo.
Vejo agora a Carminho a seguir o seu caminho, ombro a ombro com o Milton. Maravilha.


prá terra deles...


 

As pessoas que concordam com um cartaz onde se lê "isto não é o Bangladesh" concordarão certamente que na Alemanha se escrevam cartazes onde se lê "Isto não é Portugal".

Em Roma, sê romano! Se as procissões nas ruas não são uma tradição alemã, os portugueses não podem fazer uma procissão de Nossa Senhora de Fátima no espaço público das cidades onde vivem como imigrantes! Vão fazer as procissões prá terra deles - certo?!

Errado. É bom viver num país onde as pessoas podem exprimir a sua religião também nas ruas.

E não é só procissões religiosas. Há tempos, os portugueses de Hamburgo ocuparam o parque maior de Hamburgo com o seu folclore, as suas músicas e as suas comidas. A reportagem da RTP diz abertamente ao que vêm: "Mais do que uma festa, a celebração representou uma afirmação de identidade, um reencontro com as raízes, e um abraço colectivo à saudade e ao orgulho de ser português além fronteiras."

Pus o link da reportagem no primeiro comentário. Escusado será dizer que gostei imenso da iniciativa e fico muito feliz pelos portugueses e demais população de Hamburgo que por lá passaram. Mas experimentem trocar "Portugal" e "portugueses" por Bangladesh, e tirem conclusões.

(Sugiro que as pessoas com vontade de argumentar "Ai, mas os portugueses sabem comportar-se bem na terra dos outros! Não respeitarão todos os costumes, mas cumprem a lei!" vão consultar as estatísticas dos sistemas prisionais dos países onde há comunidades portuguesas imprtantes. Só em 2024, houve 387 portugueses expulsos dos países onde viviam, devido ao seu comportamento criminoso. Nesse ano, a França e o Reino Unido, por exemplo, deportaram pelo menos 69 portugueses culpados de roubo, assalto e violência doméstica. Mas nem todos são "mandados prá terra deles". No ano passado havia quase 1300 portugueses nas prisões europeias (exceptuando Portugal). 1300 portugueses "a comer e a beber e a serem tratados com dignidade nas prisões, a viver à custa dos impostos dos nacionais honestos, bla bla bla..."
Ai se a AfD, a RN, o Vox, o Reform UK e todos os outros sabem disto!)

26 outubro 2025

*máscara*




"How are you today?"

A primeira vez que ouvi esta pergunta, na caixa de uma loja em Boston, pensei maravilhada que aquilo sim, era um país fantástico: com serviço de psicólogo em cada caixa. Hesitei sobre o que queria responder, e quanto iria custar, mas por sorte estava a sentir-me bem e optei por dar uma resposta curta. Ainda não foi nesse dia que a caixeira teve de ir ela própria ao psicólogo para se aliviar dos meus problemas.

Que seria de nós - que seria das conversas, que seria das relações - se respondêssemos sempre com seriedade à pergunta "olá, tudo bem?"

Não sei. Mas estou em crer que seria um mundo com mais empatia. Porque quem vê caras não vê corações, e muitas vezes reagimos à flor da pele da cara, completamente alheios ao que vai por dentro daquela pessoa.

--- As outras máscaras do Largo, na semana passada: - Carla - Mariana - Marisa - Rita



24 outubro 2025

e vocês, como foi o vosso lançamento do Astérix na Lusitânia?

 




E como foi o vosso lançamento de Astérix na Lusitânia?

O meu foi bom.
O Obélix é um doce (e não é nada tão gordo como dizem!) e o tradutor, que me autografou o livro, é outro doce. Andou vários meses a traduzir, depois o trabalho dele foi retraduzido para francês, para os autores reverem e aprovarem.
E tanto trabalho para quê?, perguntarão.
Bem… 1,8 milhões de exemplares chegaram hoje às livrarias alemãs.

Diz-se que há muito tempo não havia um Astérix tão bom. Diz-se que os autores quiseram pôr no livro o ambiente ensolarado de Portugal. Eu cá, a julgar pela amostra das pessoas com quem falei no lançamento, digo apenas isto: vão vir charters de turistas.




"sabe com quem está a falar?"


#Sabe_com_quem_está_a_falar? é uma pergunta que não vale a pena fazerem-me a mim. Nunca sei. Assim sem pensar muito:
- A passear por Lisboa, quase atropelei a Catarina Martins e mais uns tantos do Bloco que se cruzaram comigo no passeio apertado, e não a reconheci.
- Há tempos, o Pedro Nuno Santos estava a almoçar numa mesa ao lado da minha. Se a amiga com quem eu estava não tivesse desatado a bater com o pé na minha perna, teria pensado que era, sei lá, um contabilista lisboeta a almoçar com amigos.
- A mesma amiga que uma vez, num café em Paris, me disse "está ali a Natalie Portman (eu já estava a olhar para ela há muito, e a achar que as parisienses são giras como tudo).
- Aqui em Berlim, uma vez fui falar com o José Eduardo Agualusa convencidíssima de que era o Luiz Ruffato.
- Também já me aconteceu de estar a dançar com o Joaquim de Almeida e a pensar "conheço esta cara... será o Antonio Banderas?"
- Num restaurante na Borgonha, consegui confundir o dono, que servia às mesas, com o filho do François Miterrand, que estava a almoçar na mesa ao lado com a mãe e demais família. Só porque o Joachim me agarrou a tempo é que não disse ao filho do Miterrand, num momento em que ele provavelmente estaria a regressar da casa de banho, que a comida estava deliciosa e que bem podia dar os parabéns à cozinheira.
- O Facebook sabe, porque pus a fotografia e perguntei quem era, que já estive frente a frente com Benedict Cumberbatch sem o reconhecer.
(Espero nunca ser roubada na rua, ou pior ainda, porque se a polícia me pedir para descrever a pessoa, vou fazer uma tristíssima figura.)
- Mais recentemente, no "festival dos hambúrgueres", calhou de a delegação da Federação Portuguesa de Futebol ter vindo comer para a nossa mesa. A princípio, eram apenas uns portugueses simpáticos que ali estavam, mas o Joachim meteu conversa, "ai, com esses pins na lapela e com esse ar, devem ser pessoas importantes...", e daí a nada estava a queixar-se "ai aquele golo do Madjer em 1987 ainda me está aqui atravessado!" Um deles sorriu, e comentou "eu estava lá; por acaso nesse dia não joguei, mas estava lá". Outro, um mais velho, de bigode, começou a debitar nomes dos jogadores históricos alemães contra os quais já tinha jogado. O terceiro só sorria. Ao fim de meia hora, enchi-me de coragem e perguntei-lhes os nomes. Domingos Paciência, disse um. Maniche, disse outro. Quando me virei para o terceiro, houve um sobressalto e todos fizeram uma cara chocadíssima de "não sabe com quem está a falar?????"
Era o Toni.
Cai o pano, e eu desapareço para debaixo da cama.
Outra vez.

22 outubro 2025

em todas as ruas te encontro

 


Esta linda frase até me lembra daquela vez que andava a apanhar lenha com os miúdos no Golden Gate Park, para fazermos uma fogueirinha na praia, e apareceram uns polícias a cavalo. O mais disfarçadamente que pude, meti os miúdos no carro e ala que se faz tarde para outro lado do parque, onde recomeçámos a labuta. Daí a nada os polícias apareceram, e ao passar por mim comentaram: "you are everywhere!" E eu: "you too!" - mas não fui presa.

19 outubro 2025

entardecer

 

Lembra-me o facebook que neste dia, em 2013, parei encantada junto a um canal perto do antigo aeroporto de Tegel. Apesar de ter fotografado com o meu telemóvel jurássico, ainda agora consigo sentir a paz daquele momento.
Entardecer junto ao aeroporto de Tegel
(ou: das vantagens de fazer biscates de taxista)