12 outubro 2024

concertos que tal

 



Azares da vida: meses e meses sem acontecer nada em Berlim, e de repente estas mocinhas dão o concerto delas no mesmo dia em que eu tenho o meu!
Ainda pensei "perder-me" no caminho para o concerto do meu coro, mas ontem tivemos o ensaio geral e por duas vezes me comovi imenso. Quero lá saber destas mocinhas! Hoje e amanhã, o concerto mais especial que acontece em Berlim é o do coro Bancanta na igreja Christuskirche em Berlin-Oberschöneweide, a propósito dos 35 anos da queda do muro.


uma no cravo, outra na ferradura

 


Andava há décadas à espera deste momento, e foi esta semana: anunciaram o prémio Nobel da Literatura, e eu conhecia!
Na altura não comentei nada aqui porque estava muito ocupada a beber um champanhezito à minha saúde, que eu conhecer algum livro de um Nobel da Literatura não é coisa que me aconteça todos os dias. (Por acaso conheço vários livros de um Nobel que eu cá sei, mas, ano após ano, o comité engana-se no nome.)

Seguia-se o da Paz, e fiz apostas: Gisèle Pelicot, ou Guterres.

Caramba, sinceramente: será que os senhores do comité não conseguem dar duas consecutivas no cravo?

(Bem sei que a mensagem deste ano é particularmente urgente, quando países que têm armas nucleares se largaram no desvario da guerra. Mas a Gisèle Pelicot, e a sua coragem de obrigar a vergonha a mudar de lado, olhem: não me conformo.)

10 outubro 2024

a revolta do homem branco

 



Traduzir livros pode ser um prazer enorme (olá, Kaminer!) e pode ser um exercício penoso de perscruta de abismos. Foi o caso deste: à procura da palavra certa, frase a frase, tive de andar demasiado por dentro da cabeça de tipos que odeiam mulheres em particular, e o nosso mundo em geral.
Foi difícil fazer este trabalho, mas valeu a pena: por estes dias, quando o Trump diz uma das suas bacoradas, não fico chocada nem perplexa. Agora conheço a cartilha, sei o que quer atingir com frases que parecem tresloucadas mas, na realidade, são de enorme precisão estratégica: truques para ganhar eleições.
Curiosamente, depois de entregar a tradução, ouvi a investigadora Teresa Toldy falar do mesmo fenómeno. A princípio, pensei "hey! como é que ela leu o livro que ainda não foi para o prelo?!" Depois, percebi que tinha acabado de publicar um extenso trabalho sobre as ligações entre religião, questões de género e populismo no espaço mediterrânico. Falava com enorme preocupação, e repetia muito: "garanto que não se trata de teorias da conspiração - isto é mesmo o que está a acontecer no nosso mundo!"
(E nem vou dizer nada sobre o capítulo que descreve a responsabilidade da Igreja Católica na criação do monstro imaginário que dá pelo nome de "ideologia de género", que tão útil tem sido a Bolsonaros, Melonis, Le Pens e quejandos. Mas quase morri de vergonha enquanto traduzia essa parte do livro.)
Em suma: não é uma leitura leve, mas é um livro essencial para entender o mundo em que vivemos. Dá-nos ferramentas para observar com o recuo de quem sabe quais são os mecanismos por detrás do que acontece e parece incompreensível.
E: sosseguem, porque ler não é tão doloroso como traduzir. Vocês conseguem! 🙂
Já está em pré-venda na Zigurate. A sinopse do site da editora fala do ataque ao Capitólio, e eu acrescento o que se segue, só porque fazia ontem cinco anos que aconteceu: no dia de Yom Kippur, um incel alemão da extrema-direita meteu-se no carro, rumo à sinagoga de Halle, para massacrar todos os judeus ali reunidos. Tinha uma câmara a transmitir para a internet, queria que o pessoal da sua comunidade visse o massacre no próprio momento em que estava a acontecer. Pelo caminho, foi a ouvir o hino de louvor a Alek Minassian, o incel canadiano que usou uma carrinha para matar pessoas em cima de um passeio.
A letra é assim:
Runnin' through these hoes like I'm Alek Minassian
Hoppin' in the whip and I'm motherfuckin' crashin' it
Up over the curb like I'm Alek Minassian
Hoes suck my dick while I run over pedestrians
Este episódio alerta-nos para algo que temos vindo a ignorar: quando um tipo branco comete um acto de enorme violência contra alvos aleatórios, a tendência é dizer que é uma pessoa com problemas psiquiátricos. O que é só uma parte da questão. A outra, que o caso de Halle revela, é que essas "pessoas com problemas psiquiátricos" estão interconectadas na darknet mundial, trocam ideias e ressentimentos, e sonham tornar-se super-heróis daquela comunidade.
(E agora, só para verem o que sofre uma tradutora, peguem na letra daquela linda canção e tentem traduzir para português. Partilhem nos comentários, e depois veremos qual é a melhor versão. Mas entrem nisso por vossa conta e risco: não pago a sessão de psi de ninguém, aviso já!)

09 outubro 2024

concerto "Estranhos e Amigos"

 


Atenção, Berlim! 🙂
Este concerto foi um parto difícil, um autêntico "cenas da vida na Alemanha".
Começou com esta vossa artista a sugerir animadamente "olhem, em 2024 é o 50º aniversário da revolução portuguesa, e o 35º da queda do muro. Podíamos fazer um concerto com canções de protesto!"
Primeiro, acharam muito bem.
Depois, deixaram cair a parte "25 de Abril", e sobrou a queda do muro.
A seguir, apercebi-me que na tradição alemã não há canções de protesto como na portuguesa: em Portugal, facilmente nos juntamos mais de uma hora a cantar de cor todas essas canções que são património comum indiscutível; na Alemanha, é preciso pensar muito para conseguir juntar três canções deste tipo, e ninguém as sabe cantar de cor.
E foi então que chegou a parte mais complicada da questão: demo-nos conta de que, no nosso coro, há perspectivas muito diferentes sobre a reunificação alemã.
Esta vossa artista, por exemplo, estava a pensar num concerto em que cantávamos misturados com o público, todos de velas na mão e em movimento, em homenagem à imensa coragem dos manifestantes das segundas-feiras em Leipzig - e penso que foi justamente esta proposta que originou a crise: apareceram pessoas a lembrar que era preciso ter cuidado com a narrativa.
Está visto: na Alemanha, sou "Wessi". Tenho uma perspectiva demasiado romantizada (ou ignorante) do que a reunificação significou para as pessoas que de repente se viram a viver no país dos outros, onde não eram respeitadas.
E lá continuámos a partir pedra, até conseguir uma homenagem aos 35 anos da queda do muro que espelhasse o sentir de uns e outros.
Vamos apresentar o resultado este fim-de-semana, numa igreja nos confins da antiga Berlim-Leste. E o resultado é um belo naco de petite histoire contemporânea.
Em suma: recomendo muito. Desde o Fiesta Requiem que não fazíamos um concerto tão misturado com o nosso tempo.

07 outubro 2024

não podemos adiar mais

 

Ao longo deste período de 12 meses muito difíceis para Israel e especialmente tenebrosos em Gaza, no meio da mentira e da propaganda que nos fazem desconfiar de tudo e de todos, houve um momento de grande clareza: quando soldados israelitas mataram três reféns que tinham conseguido fugir ao Hamas e corriam para os seus compatriotas, em tronco nu, com uma bandeira branca, e a pedir ajuda em hebraico. Apesar da crueza das imagens de cidades destruídas e do pânico das pessoas, há muito quem duvide dos números de mortos e feridos em Gaza - mas não há como negar isto: um exército que pressente uma ameaça justamente na pessoa daqueles que vem libertar é um exército que não está capaz de agir com um mínimo de discernimento. O assassinato destes três reféns deita por terra a narrativa da autodefesa dentro dos limites do aceitável - e não sei como definir “aceitável” quando o campo de batalha é uma região urbana densamente povoada.
 
Neste 7 de Outubro de 2024, quando Israel já está a repetir no Líbano os ataques absolutamente desproporcionais contra a população civil de Gaza, e ameaça retaliar contra o Irão, que retaliou contra um ataque de Israel no Líbano, insisto na necessidade imperiosa de pôr fim à espiral de violência entre Israel e os seus inimigos.
Ou, nas palavras mais certeiras do papa Francisco: pôr fim à espiral de vingança.

A comunidade internacional tem de se unir em função de um único objectivo: a paz. Tem de ser o adulto na sala, para negociar e/ou impor o fim da guerra a todos os envolvidos, a imediata libertação dos reféns do Hamas e dos palestinianos presos em Israel sem julgamento, a criação a muito breve prazo de um estado palestiniano com as fronteiras de 1967, e o envio de capacetes azuis para garantir a segurança e a paz na região. Uma região sem exércitos ao serviço de extremistas, nem de um lado nem do outro.

Virá o dia em que falaremos das razões de cada um - e será um momento fundamental para alicerçar a paz. Mas a actual berraria que pretende impor a razão de uns contra a razão dos outros não tem outro efeito que não o de contribuir para uma tragédia ainda maior.

Insisto: temos de nos unir para impor um sistema que garanta a paz para todos os habitantes daquela região. A comunidade internacional já o devia ter feito na época da primeira intifada, ou antes, ou – o mais tardar – há exactamente um ano. Tem de ser agora. 

30 setembro 2024

sostra

 

Tenho andado longe deste blogue, desculpem. Muitas férias muito cheias de alegria, e depois muito trabalho, também com bastantes alegrias - o resultado de tanta azáfama está à vista neste pobre blogue esquecido. A ver se me emendo. Começo já hoje, com duas histórias: História nº 1:
Uma vez, em finais dos anos setenta do século passado, estava a ver um programa de variedades da RAI na casa de uma das minhas avós.
- Olha aquelas saias compridas, tão compostinhas, assim é que devia ser! - elogiava ela, muito satisfeita (era a avó que queria que eu andasse de combinação no verão, porque revelar as formas do corpo sob um vestido de tecido leve tinha o seu quê de indecente).
Mas eis que, de repente, no show da RAI alguém começou a cantar, as mulheres começaram a dançar, e as saias maxi afinal tinham rachas maxi pelas quais saíam pernas femininas elegantemente atiradas para o ar.
- Ai que sostras! - exclamou a minha avó, horrorizada, e chamou logo o marido para vir desligar a televisão, porque estava cheia de poucas-vergonhas.

Em 2024, bastou a Ana Moura levar um vestido menos habitual, digamos assim, aos Globos de Ouro, para descobrir que a minha avó, que morreu há 4 décadas, afinal está viva e bem viva dentro de muitas cabecinhas.

História nº 2: Nos anos 60 do século passado, a minha mãe tinha a audácia de entrar no café da aldeia para beber cervejas com uma amiga. Que desplante! E ousou fazer a gravidez do meu irmão mais novo, em 1970, com um fato de calças! Calças! E ainda por cima: grávida! (era um fato bem bonito, por sinal)
Olhavam-na de lado, criticavam, e até havia quem lhe chamasse leviana.
É certamente também por isso que me irrito tanto com esta vaga de achincalhamento de uma mulher que decidiu vestir o que lhe apeteceu num show que, de qualquer modo, precisa deste tipo de encenação para ser mais interessante. Para mim, a zombaria que por aí vai é um assassinato simbólico que não está muito longe da mentalidade dos guardas da revolução iraniana.
(A quem interessar possa: deixo de presente a palavra "sostra", para aplicarem às mulheres cuja liberdade vos incomoda, já que o "puta" está a ficar muito gasto...)

12 setembro 2024

há monstros debaixo da cama

 

Em Portugal, logo após aquelas eleições épicas em que um milhão de portugueses escolheu o partido do "falso amigo", ouvi uma senhora a dizer que o nosso país está cada vez mais inseguro, e que "andam por aí bandos de estrangeiros a raptar adolescentes para exigir resgate". Ela disse a nacionalidade das pessoas desses bandos, mas não me lembro - e, de facto, não é importante, porque é mentira (mais uma dessas mentiras que viralizaram nas redes sociais para levar as pessoas a votar no partido anti-imigrantes e pró-securitarismos).

Lembrei-me disso ao ouvir o Trump dizer que há estrangeiros a comer os cães e os gatos dos vizinhos.

A lógica por detrás destes boatos - que pessoas sem qualquer sentido de decência põem a correr - é muito transparente: vamos identificar um inimigo do tipo "os outros", vamos inventar que nos ameaça, e vamos inventar ameaças que nos atinjam directamente e despertem o nosso instinto de protecção: os nossos filhos, os nossos animais domésticos.
Já fizeram isso no Brasil, com excelente resultado: lembram-se quando puseram a correr o boato que o PT queria dar biberons aos bebés com forma de pénis? ("acudam, que o lobby gay que quer perverter os meus filhinhos!") O pessoal acreditou, e votou Bolsonaro.

As pessoas acreditam.
Desde que a terra se tornou plana, o mundo nunca mais foi o mesmo.

12 julho 2024

você comprava um carro a este homem?

 

Ouvi ontem na rádio que o George Clooney tomou uma posição clara sobre Biden continuar na corrida para a Casa Branca. Falou muito bem a dizer o evidente, e foi então que...

...foi então que me ocorreu: e que tal se fosse o George Clooney a concorrer pelos democratas? Não era certamente o primeiro actor a entrar lá, e tem muito mais probabilidades de ganhar que o Biden e todos os outros possíveis candidatos.

Além disso, a mulher dele não seria um enfeite para a Casa Branca. Tem vida própria e perfil. Dava uma boa primeira dama.

(Além disso, ando há que tempos curiosa para ver a cara dos gémeos deles, e ia ser agora.
🙂 )

Ai, quase me ia esquecendo do mais importante: Clooney seria um bom presidente? Não sei. Mas tinha de ser muito, mas mesmo muito péssimo, para ser pior que Trump.

(E depois tem aquele critério fatal de confiança num político: "você comprava um carro a este homem?" Eu cá comprava o carro, comprava a máquina do café, comprava tudo o que ele quisesse vender!)

** Biden continua a dar sinais de que não está bem. Os mais recentes: apresentou Selensky como "o presidente Putin" e chamou "presidente Trump" a Kamala Harris.

**

Lembram-se daquelas manhãs, na última semana de Fevereiro de 2022, quando nos levantávamos a pensar se o exército de Putin já tinha entrado em Kyiv?
Lembrei-me disso esta semana: tenho-me levantado todos os dias a pensar se Biden já abdicou.

11 julho 2024

mais uma viagem (3)




Para que não digam que faço caixinha, aqui vai: larguem tudo e vão a Saint Cirq Lapopie.


Hesitei entre essa e Albi, também medieval mas mais próxima de Toulouse, mas foi-me recomendada com tanto entusiasmo que lá me fiz a mais de uma hora de estrada. Valeu a pena, e de que maneira!

No caminho voltei a hesitar, porque passei por tantas aldeias antigas que me pareceu que o meu destino seria apenas mais uma. Spoiler: não era.

Na praça central de uma dessas aldeias que ficam no caminho para Saint Cirq Lapopie, parei num mercado regional e comprei queijos. A vendedora, amorosa, escreveu vache, chèvre e brebis nos pacotes. Ao lado havia uma portuguesa a vender rissóis e bolinhos de bacalhau a 50 cêntimos cada. Também lhe comprei um belo naco de torta de cenoura. Disse que custava dois euros, enquanto o metia numa caixinha.
- Dois euros? Isso quase nem paga a caixa.
Olhou para mim:
- Se todos fossem como você, o mundo era um lugar feliz.

Devia ter dito o mesmo à vendedora de queijo que me escreveu o nome dos bichos no papel da embalagem. É tão fácil tornar o mundo um lugar feliz!

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Mais imagens de Saint Cirque Lapopie:






No dia seguinte continuámos a viagem em direcção a Portugal. Dorminos nos Pirinéus, num cantinho de uma floresta junto a uma cidade de nome basco.






mais uma viagem (2)

 




Segundo post no Facebook sobre a viagem a Toulouse em 2021:

Espero que me perdoem a franqueza (e a fraqueza) mas ontem, ao fim da tarde, quando a luz do entardecer tornava Toulouse ainda mais doce, dei comigo a pensar que vocês todos são uma cambada de inúteis, pardon my french. Então somos há anos amicíssimos no Facebook e ainda ninguém teve a delicadeza de me avisar « Helena, larga tudo e vai a Toulouse ! » ?
Pergunto-me sobre que outras cidades estarão a fazer caixinha - Paris, Nápoles, Tóquio ?
Humpf !



O melhor deste post foram os comentários dos amigos. Aqui deixo alguns:

- Nápoles, Viarregio…
Vai a Dijon que também é uma grande surpresa.....fora a mostarda que detesto lol
Rio de Janeiro e Évora, sem dúvida....
Buenos Aires, obviamente
Hong Kong, Quioto, Atenas, Rio de Janeiro
Paraty e Siena
Ficas já a saber que o Luxemburgo, e a capital em especial, são de largar tudo e ir a correr por uns dias (se nunca o fizeste).
Paraty, Salvador-Baía Castro-ilha de Chiloé, Punta Arenas, Puerto Varas, Erice, Cefalu e Taormina na Sicília.
Praga
Com mapa ou sem mapa? Em que continente? Cuba, Buenos Aires Rio de Janeiro Sydney Melbourne Dili? São Petersburg? Açores. Cabo Verde Maputo. É para quantos anos?
SANTARÉM!!
ADELAIDE, SOUTH AUSTRALIA! É a "Cidade Festival" de Oz! Um coala em cada árvore!
Siena!
Das cidades que mais me surpreenderam, o que não significa gostar mais, foi La Rochelle. Amei. Que saudades de tudo a começar pela luminosidade.
Costa Amalfitana. Toda. Estive várias vezes nessa costa e considero-a um dos mais bonitos locais do mundo que conheço. Sorrento, Positano, Vico Equense, Capri, Ischia, o limoncello ao por do sol, o mar…
Bussana Vecchia
Guatemala. Larga, larga tudo! A cidade da Guatemala entranha-se na memória dos sentidos com uma tal força...Povo, cultura, cores, costumes, clima, arquitectura... 
Antígua, Antígua!
 e a Costa Rica e Chiapas, tudo perto.
o povo é especial em todos esses locais.
O da Costa Rica, sendo mais ocidentalizado, tem uma consciência ambiental como nenhum outro que tenha conhecido (em 1950 só 33% da superfície era arborizada, hoje é quase o dobro, alberga 5% de todas as espécies vivas conhecidas e 25% do território é reserva natural) e do Povo de Chiapas nem sei que te diga: conseguiram, na prática, ser independentes do resto do México e preservam a sua cultura e o seu meio ambiente dum modo incrível.
E a presença Maia é tão forte em Chiapas como na Guatemala
- A Costa Rica também me impressionou muito pelas razões que apontas, pela multiplicidade étnica e acima de tudo por dispensar a existência de um exército investindo tudo na cidadania. Chiapas não conheço, infelizmente, do México só conheço a capital, também ela inesquecível. À excepção da Venezuela de que não gostei nada, toda a América Latina que conheci me ficou gravada na alma para sempre. Ainda hoje é uma paixão.
- Toulouse é uma magnífica cidade, para turistas e para os seus habitantes. As margens do Garonne, as praças e largos onde se dança ao ar livre, os restaurantes onde se comem ótimas ostras, a ópera e a sua praça, os mercados...cheios de queijos e "canard". Adoro Toulouse!
- Se tu fosses, como eu sou,/ compincha do Nougaro, / tinha-te há muito avisado, / como a mim me avisou: https://youtu.be/wehrXJTA3vI
- Conheço Toulouse mas Nápoles é mais bonita. E se for a Nápoles na perca a visita da Costa
- Que não seja por isso. Nova Iorque, Roma, Tóquio, Castelo de Vide, Barcelona. - Sarajevo, Tbilisi, Salónica. - sim, vai a Tóquio e Quioto, mas não no Verão. - Aveiro - Helena, larga tudo e vai a Zanzibar, larga tudo e faz a união das ilhas dos Açores em veleiro com tudo incluído, larga tudo e vai fazer o lés a lés em scooter na nova Zelândia larga tudo e passa uma semana no centro velho de Amsterdam, larga tudo e visita três casas senhoriais no sul da Índia, larga tudo e faz uma visita às Galápagos, e se tiveres tempo visita as grutas de incas no peru... Desculpa lá o atraso. Kkkkkk - Largue tudo e vá à ilha do Príncipe no golfo da Guiné Não podendo, certamente Nápoles, Istambul ou qualquer parte do litoral da Dalmácia na Croácia. - Turquia e Croácia - Como é que me esqueci de São Tome????? Imperdoável esquecer-me de um dos últimos paraísos na terra. Leve leve... - Posso dar uma dica de um lugar que eu visitei e considero um lugar raro e imprescindível de conhecer e visitar Parque Nacional Plitvice, na Croácia. Aliás, toda a Croácia é inesquecível. - Marseille!! - Largue tudo e vá.
- Paris, Buenos Aires, Toda Itália (começando por Roma, Nápoles, a Sicilia e as suas ilhas, Bolonha, Ferrara, Florença...), Creta, Thessaloniki, Istambul... - -

mais uma viagem (1)

Lembra-me o facebook que há 3 anos estava a passar uns dias lindos na viagem entre a Alemanha e Portugal. Copio para aqui esses posts, e até - caso seja útil - alguns comentários. Começou com a Bretanha, na nossa carrocinha. Levá-la a ver o sítio onde o Joachim a sonhou pela primeira vez: "ah, ter um camper e dormir neste promontório junto ao mar, descer a falésia para dar um mergulho em praias quase desertas..." Depois, Toulouse. E é aqui que o facebook tem andado a lembrar-me lugares onde já fui feliz. Esta publicação, por exemplo:

A primeira coisa que disse em Toulouse foi uma interjeição pouco polida. É que estava fresquito e reparei que tinha trazido por engano um casaco azul marinho para um vestido preto. Já vi essa combinação de cores ao Viotti na Gulbenkian, mas eu não sou o Viotti. A segunda coisa que disse foi uma interjeição mais inócua, seguida de um „vou-me desgraçar“. Estava numa loja de BD grande como tudo. Só não me desgracei logo ali porque era no princípio do dia e eu não sou tola a ponto de comprar vários kg de livros antes de ir passar um dia inteiro a passear numa cidade. Mas não perdi pela demora...

(Por sorte a carrocinha é grande)




08 julho 2024

14 juillet

 

Este ano o 14 juillet veio uma semana mais cedo.

(E bem sei que isto me vai valer uma voltinha extra lá no grelhador do inferno, mas: a cara de melão da Le Pen... hihihi)


06 julho 2024

mas isto sou eu

 


Lembrando que futebol também é poesia, para além dos golos, aqui deixo este clássico da poesia portuguesa.
(Mas isto sou eu, que nem percebo de futebol nem de poesia)




05 julho 2024

relatório à margem do campeonato europeu

Só cheguei ao primeiro jogo de Portugal quando já ia a meio. Estava morno, mas mal cheguei os portugueses começaram a jogar a sério.

Não assisti ao da Geórgia, se calhar devia ter assistido. 2-0, os antipáticos! Apesar de tudo, não me pareceu bem que a UE logo no dia seguinte tenha congelado o processo de adesão da Geórgia. (Escusam de responder a sério, que eu bem sei que estou a brincar, OK?) (E foi lindo o Kvaratskhelia ter interrompido a celebração da vitória para dar um abraço ao Ronaldo) (Claro que escrevi o nome do Kvaratskhelia com copy & paste, não pensem)

A seguir, fartei-me de rir com isto:


Entretanto, os escoceses foram para casa e deixaram muitas saudades na Alemanha. Os holandeses também têm muita graça. E, de um modo geral, comenta-se que o ambiente é muito melhor na Alemanha do que foi no Qatar. Pudera! Aqui não é proibido beber cerveja nem parece mal andar com um grãozinho na asa ao fim do dia.



Passei rapidamente pela
fan mile, a avenida em frente à Porta de Brandeburgo, que está toda coberta de relva artificial. É um luxo de relva, até a mim apetecia estender-me ali e ficar a gozar a vida, mas ia com pressa, ia de A para B e aquele relvado estava no meio do caminho. Passei a correr.

(Se calhar já revia as minhas prioridades na vida...)


Até que chegou o fatídico jogo Portugal x Eslovénia. Dei comigo a torcer para que o Ronaldo acertasse com o penalti. Nem era para ganharmos, era mesmo só por causa do Ronaldo.

O Ronaldo marcou, yes!

E depois: o Diogo Costa, yes! yes! yes! Pus-me logo na fila para lhe dar um abracinho, depois de ser aviado pela equipa.
Uma amiga minha publicou no facebook, com fundo vermelho, "Diogo Costa, faz-me um filho". Aposto que não é a única a pensar no mesmo, pelo que: é agora que Portugal vai conseguir resolver o problema da taxa de natalidade. Vem aí uma nova geração boomers. (Querido Diogo Costa: está nas tuas mãos. Sê patriota!)
Tudo está bem quando acaba bem. Até ver.

À hora a que escrevo, a Alemanha já foi excluída. Não é por nada, mas parece-me que os espanhóis são gente que não sabe estar. Não é assim que se trata um anfitrião! (Devolvam Olivença, ao menos!)


Brincadeiras à parte, isto, que é muito sério e muito belo: Ronaldo a chorar como um menino, e a equipa a animá-lo, a abraçá-lo, a dar-lhe força. Afinal, parece que um homem pode chorar, e parece que os outros homens não ficam à rasca com isso. Que belo exemplo para mostrar em casa, a todos os rapazes.


04 julho 2024

"queima das fitas"


Encontrei nos arquivos da Enciclopédia Ilustrada este texto que escrevi no dia em que o tema foi "queima das fitas", ao seguir ao dia em que fora "Leonardo da Vinci", e partilho: Em finais dos anos sessenta, talvez princípios dos anos setenta, lembro-me de ter ido com os meus pais ao Porto ver o cortejo da #Queima_das_Fitas. Morávamos em Braga, e a viagem de carro fazia-se a uma média de 30 ou 40 km/h - uma estopada interminável atravessando aldeias e vilas. Mas todo esse tempo na estrada foi recompensado pelo que testemunhámos no Porto: a ousadia dos carros dos estudantes, que arriscavam criticar a academia e o sistema político.
Eu era pequena - não teria nem sete anos - mas lembro-me do interesse com que o público seguia aquele cortejo, da sensação de perigo iminente que pairava no ar, das gargalhadas, da curiosidade e do frémito.
Esse cortejo marcou-me, e fez nascer em mim uma enorme admiração pelos estudantes universitários.
Quando eu própria cheguei à universidade, no princípio dos anos oitenta, a Direita estava a reconquistar terreno na Academia, e ia-se instalando uma praxe como nunca ali fora tradição. No final do curso, naquela que seria a minha última semana académica, resolvi ir à missa na catedral onde o bispo fazia a benção das fitas. Vi a catedral repleta de pessoas fardadas a preceito, a agitar as fitas e a conversar com os amigos em grande animação, como se estivessem num estádio de futebol e não numa igreja. Perguntei-me o que levava o bispo a aceitar fazer aquela figura de palhaço na sua própria casa.
De longe, vou acompanhando o desconchavo crescente: a substituição do Zeca e do Vitorino pelo Quim Barreiros nos carros de som, a cerveja e os comas alcoólicos, os abusos sexuais, a ordinarice indescritível dos temas dos carros.
Estes estudantes universitários bêbedos e alarves, estas pessoas em quem o país tanto investiu e investe, em quem deposita tantas esperanças, estão nos antípodas do Leonardo da Vinci que ontem aqui homenageámos.
É embaraçoso ver as figuras que fazem.
E, para mim, é especialmente doloroso comparar estes cortejos àquele que vi no tempo da ditadura. Os que eu vi em finais dos anos 60 eram cidadãos adultos, responsáveis e empenhados na sociedade e no mundo.
Estes? A julgar pela imagem que dão de si durante a Queima das Fitas, são pessoas embotadas pelo egocentrismo de grupo, sem ética nem sentido de dignidade, apostadas num carpe diem ditado por uma "tradição" artificial e autoritária.

29 junho 2024

a propósito de Stonewall, por Frederico Lourenço (2)

 

Partilho mais um texto de Frederico Lourenço, que trouxe também do facebook:


Sôbolos rios que vão

Masculinidade tóxica. Este conceito tem adquirido o seu espaço na discussão mediática (e não só) quando se fala sobre o modo como certos comportamentos machistas influem negativamente na vida de pessoas humanas que não são homens adultos com comportamento de «macho alfa»: refiro-me a mulheres, a crianças e também a homens com défice desse tipo de masculinidade, aos quais se chamaram muitos nomes ao longo da História humana, mas a quem hoje chamamos gays ou queers ou outra coisa assim.
Ao longo da História, as principais vítimas da masculinidade tóxica foram as mulheres e as crianças. As mulheres pela forma como foram objectificadas, vistas como propriedade do pai, do marido ou do dono (no caso de serem escravas). Todos sabem como eu amo profundamente a poesia de Homero, mas sinto sempre um mal estar enorme quando leio aqueles versos em que Aquiles, ao celebrar jogos fúnebres em honra do seu amigo Pátroclo, institui um campeonato de boxe, em que ao vencedor cabe o prémio de um artefacto em metal, que valia doze bois. O segundo prémio (para o pugilista vencido, portanto) era uma mulher, excelente tecelã, cujo valor no mercado era de quatro bois (Ilíada 23.702-705). Como se não bastasse esta objectificação da mulher - que, sendo escrava no acampamento grego em Tróia, era uma cativa que tinha sido levada para a escravatura depois do saque de uma cidade ali à volta - ainda por cima ela é vista como valendo menos do que uma trípode e, humilhação suprema, é o SEGUNDO PRÉMIO, dado ao atleta vencido.
Que vida seria a dessa mulher? A que sofrimentos seriam sujeitas essas escravas? Violência de todo o tipo, claro: eram abusadas sexualmente (isso está logo escancarado no verso 31 do Canto 1 da Ilíada); certamente seriam espancadas se não obedecessem aos donos e não trabalhassem como eles queriam. Tinham condições de vida, nalguns casos, que lembram o campo de concentração nazi em que os prisioneiros tinham de produzir um número certo de artefactos por dia; se o não fizessem, eram chicoteados de forma bárbara. Esse regime de trabalho forçado das escravas está patente na Odisseia 20.109-110.
Mas o pior sofrimento das cativas era perder os filhos no momento de serem capturadas. Esse é o pior crime de guerra da Antiguidade, do qual temos vários ecos no Antigo Testamento e na literatura grega. Toda a gente conhece o caso do filho de Heitor e de Andrómaca, lançado das muralhas de Tróia para cima das pedras lá em baixo. Por vezes pensamos que isso foi uma crueldade excepcional. Não foi excepcional. Era normal.
Quando uma cidade era saqueada na Antiguidade, a população adulta que tinha sobrevivido ao cerco e ao saque da cidade era levada para a escravatura. As mulheres deixavam de ter qualquer identidade própria: já não eram filhas dos seus pais, já não eram esposas dos seus maridos: eram agora escravas de um dono. A maior crueldade era que deixavam de ser mães das crianças pequenas que tinham, porque essas crianças eram simplesmente mortas, muitas vezes com a barbaridade de serem apanhadas pelos pés e atiradas com a cabeça contra paredes ou pedras.
Porquê? Porque os novos donos dessas mulheres agora escravas, segundo o código da sua masculinidade tóxica, não iam ficar com filhos de outros homens a seu cargo. As novas escravas iriam a partir de agora engravidar dos donos e criar esses filhos como escravos dele. Os filhos de gravidezes anteriores tinham de morrer.
No Salmo 137 (na Vulgata, Salmo 136), ouvimos os lamentos dilacerantes dos judeus deportados para a Babilónia. «Sôbolos rios que vão...» (como escreveu Camões; «Super flumina Babylonis», na lindíssima versão da Vulgata). O último versículo deste salmo é chocante: pois os judeus bendizem e consideram bem-aventurado o soldado que pegar nos filhos pequeninos dos babilónios e os esmagar contra as pedras.
A desculpa dos judeus é que foram eles próprios vítimas dessas atrocidades por parte de assírios e de babilónios. A culpa? Essa cabe inteiramente à masculinidade tóxica. Não há volta a dar.
Ontem celebrámos os 50 anos de Stonewall. Não se trata apenas de mudar as mentalidades em relação aos direitos LGBT. Trata-se também de pensar que podemos querer uma sociedade em que os valores do machismo patriarcal não têm de ser dominantes. No «Daily Telegraph» de hoje, um alto funcionário do Banco de Inglaterra culpa o excesso de testosterona nos mercados de capitais pelos crimes financeiros em que os grandes bancos do mundo ficam com buracos e com fraudes de biliões. Na opinião dele, devia haver mais mulheres a trabalhar nos mercados de capitais e nas bolsas de valor. Felizmente, hoje uma mulher - até para o Banco de Inglaterra - vale mais do que quatro bois. (Texto de Frederico Lourenço, publicado, juntamente com a imagem, na sua página de Facebook em 29.6.2019)

a propósito de Stonewall, por Frederico Lourenço (1)

O Facebook, sempre ele, lembra-me que há cinco anos partilhei este texto de Frederico Lourenço. 
Deixo-o aqui, pela importância do testemunho do sofrimento que provocamos às crianças quando lhes queremos impor certas verdades que são apenas nossas. 



Orgulho Gay

Foi a 28 de Junho de 1969. Stonewall. Quem não souber, procure na net. Nesse dia começou algo que, para citar Thomas Mann, «ainda não parou de começar». Nesse dia, começou o início de uma nova consciência sobre pessoas que não só se sentem sexualmente atraídas, mas se apaixonam (até para toda a vida), por alguém que é do seu próprio sexo. Mulheres que amam mulheres. Homens que amam homens. Amor. Sexo, claro (consentido e entre adultos). «What's not to love?»

Nesse mesmo ano, o meu avô materno (a quem reconheço «post mortem» a feitura de fotos que exprimem toda uma época) achou por bem fotografar-me a mim, seu neto, e à minha irmã Catarina, sua neta, da forma que vocês vêem na foto. Azul para o menino. Rosa para a menina. Todo um universo de experiência humana numa fotografia tão simples.

O problema é que ao azul estava a ser adscrita uma mensagem que nada tinha a ver comigo. Eu era rapaz. Devia ter comportamentos de rapaz. Mas não tinha. Já escrevi sobre isso noutro texto («Terrorismo de Género», que foi o único texto que escrevi no Facebook que chegou aos 20.000 likes).

Quando o meu avô tirou esta fotografia, eu não sabia que era homossexual. Não sabia que existia homossexualidade. Mas sentia-me diferente dos outros meninos, que já sabiam, muito antes de eu próprio ter descoberto, que eu era gay. Chamavam-me maricas e paneleiro. Uma vez perguntei «o que é paneleiro?». Os meninos disseram-me que «é quem leva no cu». Isso não me fez sentido. «Leva o quê no cu?» Eu passei toda a minha infância num estado de inocência total em relação à sexualidade, mas fui permanentemente vítima de bullying por meninos e meninas (sim...) que sabiam «a missa toda» e que já tinham adivinhado, antes de eu próprio saber, a minha sexualidade.

Ter sido maltratado e insultado durante todo o meu percurso escolar teve um efeito em mim que durou para toda a vida. Fez-me permanentemente desconfiado em relação às pessoas. Cortou-me os mecanismos necessários para fazer amigos. Inculcou na minha cabeça a ideia paranóica que toda a gente «lá fora» me odeia - ideia com que luto ainda hoje, aos 56 anos, embora saiba racionalmente que não é verdade. Ser insultado e rejeitado na infância pela sexualidade que eu ainda não sabia que era a minha ocasionou também um dano de longo alcance: a dificuldade colossal que eu tenho de viver no presente. Estou sempre a fantasiar uma realidade alternativa à que é a real; e tenho de me obrigar a olhar à minha volta para aquilo que a realidade realmente é. A minha infância e adolescência deram-me a noção de que o Presente não é um espaço seguro; tenho de fugir dele, tenho de me defender dele. É difícil explicar os efeitos nocivos que isso teve em mim. Mas foram muito maus.

As pessoas dizem (de forma irresponsável) que ninguém tem de celebrar Orgulho Gay nenhum; e que ninguém tem de sair do armário; e que gays, lésbicas, bissexuais, etc. já cansam com a permanente chamada de atenção para a realidade que vivem.

Mas é óbvio para mim que o dia 28 de Junho tem de ser festejado e celebrado. Há países no mundo em que a homossexualidade ainda é punida com pena de morte (Irão, Arábia Saudita e por aí fora). Há países no mundo em que as pessoas pensam que a melhor coisa que os pais podem fazer com o seu filho homossexual é matá-lo (trata-se de países islâmicos, não vale a pena esconder esse facto; mas os países de religião cristã Ortodoxa russa e grega não andam lá tão longe). Os ataques a casais gays que demonstram afecto em público continuam em todos os países ditos «civilizados». O Brasil, com o seu presidente e com a sua ideologia boi/bala/Bíblia, é o que é.

Não venham dizer que não é fundamental celebrar o Orgulho Gay. É fundamental, sim.

Em 1969, no ano de Stonewall, puseram-me um balão azul nas mãos. A cor do balão implicava expectativas em relação a mim que eu não pude cumprir. Sofri por isso. Mas tudo bem. Muita coisa mudou para melhor desde aí. Pude ser quem sou. Pude casar com o André. Obrigado às mulheres e aos homens de Stonewall. Tenho o maior orgulho em ser gay.


(Texto de Frederico Lourenço, publicado, juntamente com a foto, na sua página de Facebook em 28.6.2019.)