16 dezembro 2025

embarcadouro

 

Pensamento avulso do dia: tendo em conta as alterações climáticas, e o modo como simples ribeirinhos se podem tornar de repente em torrentes destruidoras, que sentido faz continuarem a vender casas junto à água como se fossem um bom investimento?
Ainda agora vi uma casa, "objecto raro, com embarcadouro em frente à sala", por dois milhões. Ainda se tivesse a Arca de Noé atracada em frente à sala, pelo sim pelo não...

15 dezembro 2025

olhar para o passado para entender o presente: o caso da Síria

 


Agora que assinalámos um ano da Síria sem guerra civil, partilho um vídeo muito informativo sobre como se chegou àquela tragédia.


para reequilibrar a percepção do mundo

 


Em Portugal, se não me engano, foi a SIC que transformou uma experiência de uma pequena escola de cães de uma cidadezinha alemã numa "nova tendência na Alemanha: passear cães... invisíveis".
A mentira está a espalhar-se como fogo em palha seca, acompanhada de um coro de "está tudo maluco?!", "este mundo está roto, chove nele como na rua".
(Onde está a ERC quando faz falta?)
Os factos: uma treinadora de cães quis experimentar algo novo nas suas aulas. Antes de deixar os respectivos cães entrar em campo, faz alguns exercícios apenas com os donos, para que estes se concentrem bem no que ela lhes está a tentar ensinar.
Tão simples como isso. Depois, a treinadora publicou alguns filmes desses treinos no seu instagram, e teve muitas reacções, ou seja: nasceu um novo trend na internet.

A seguir, um repórter resolveu falar do assunto, e para isso fez uma paródia: foi passear uma trela sem cão no centro de uma cidade alemã, e filmou a reacção das pessoas. No meio da paródia, incluiu algumas imagens da treinadora de cães a dar a primeira parte da sua aula, na fase ainda sem cães. A SIC faz uma notícia onde troca a ordem dos acontecimentos (primeiro veio o curso, depois veio a sátira do jornalista), confunde um caso de trending na internet com "nova tendência na Alemanha", torna plural o que é um caso único ("a moda já tem workshops") e inventa motivações dos "praticantes desta actividade".

Irrita-me muito que no jornalismo português aconteça um desastre destes, absolutamente escusado. E irrita-me ainda mais assistir à reacção que este erro grave de jornalismo provoca nas pessoas, porque lhes alimenta uma percepção enviesada do nosso tempo.
O mundo, no triste estado em que se encontra, não precisa que andemos a espalhar mentiras que aumentam o pessimismo e o descrédito na humanidade. De modo que deixo aqui um repto a todos os que partilharam esta pseudo-notícias, e aos que comentaram com um "ai que horror!": para reequilibrar a percepção do mundo, quem comentou partilha agora três notícias positivas verdadeiras. E quem partilhou a notícia partilha dez, porque teve maior responsabilidade na propagação do mal.

14 dezembro 2025

sobre o poder de escolher (aviso já: estou a brincar!)

 

Neste belo domingo tomei uma decisão radical: vou tornar-me senhora do meu destino, mudar eu própria as agulhas e os rumos que dou à minha vida. E vou até mais longe: escolho eu própria as ofertas que a vida me dá!

(Embrulha, universo!)

Estou a falar do Facebook, e o truque tem a simplicidade de um ovo de Colombo: basta entrar várias vezes em páginas de publicidade de um tema que nos alegre o dia sem nos tentar a carteira, e o algoritmo passa a oferecer-nos apenas publicidade disso. O meu tema é meias nórdicas. Não compro, porque já as tenho em número suficiente, mas agora o meu facebook enche-se, de tantos em tantos posts, com as cores garridas dessa publicidade, e deixou de me oferecer homens de meia idade, sapatos manhosos que faz de conta que são portugueses, tralha vária de empresas que "infelizmente" têm de fechar e estão a saldar tudo, medicamentos para cães que comem ervas, etc.

Para o caso de algum passante querer também agir radicalmente sobre o seu destino, aqui deixo um link aleatório.

12 dezembro 2025

*dança*

Depois de longa ausência, voltei ao Largo. O tema desta semana é "dança", e "dança" lembra-me muitas vezes um poema de Santo Agostinho, que termina mais ou menos assim: 

Oh, gentes,
aprendei a dançar!
Caso contrário
no céu os anjos
não saberão
o que fazer convosco.

Obrigada, Santo Agostinho, pela imagem tão feliz para uma ideia da Eternidade: dançar com os anjos!
Mais ainda: dançar como preparação para a Eternidade é uma bela maneira de atravessar a vida. Porque, como diz o poema,
(e desde já peço desculpa pela tradução a partir de uma versão alemã)


Eu louvo a dança
que tudo exige e estimula
saúde, mente clara,
uma alma leve.

Dança é transformação
do espaço, do tempo, do ser humano
sempre em risco de se fragmentar:
cérebro só, ou vontade, ou emoção.

A dança, contudo,
chama o ser inteiro
ancorado no seu centro.
Esse que não está possuído
pelo desejo de seres e coisas
e pelos demónios
da solidão interior.

A dança pede o homem livre
vibrando no equilíbrio
de todas as forças.

Eu louvo a dança.

Oh, gentes,
aprendei a dançar!
Caso contrário
no céu os anjos
não saberão
o que fazer convosco.

E agora que falei da vida e do seu depois, acrescento também uma imagem dilacerante de luto que não me sai da cabeça desde que comecei a pensar no que gostaria de escrever sobre o tema "dança":
Eis o homem que se despede da sua amada, dançando de mão dada com a sua ausência. 



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Mais dançarinas no Largo:

A Curva 
A Gata Christie
Boas Intenções
Gralha dixit 
O blog azul turquesa 
Quinta da Cruz de Pedra

09 dezembro 2025

mambembe

 


Meto-me pelos caminhos da tentação, e cá vou eu...
(o mais divertido neste vídeo é a cara do Marcelo Gonçalves - e também o momento "foi bom pra você?" do fim...)
(e agora boas noitinhas, que aqui já é quase amanhã - lá vou eu ter de dormir o mais depressa que posso)

06 dezembro 2025

o nosso destino: amar sem conta


 

(além de tudo o mais, saber poesiar)
(cuidado: depois deste vêm muitos mais poemas de Carlos Drummond de Andrade, muito bem ditos por várias pessoas - cuidado, portanto: arriscamo-nos todos a passar o resto do dia aqui) (ou cuidado nenhum - atirar-se de cabeça, de orelhas, para esta beleza)

02 dezembro 2025

solidariedade



Esta imagem tão drástica fez-me pensar numas alminhas que havia mesmo ao lado da casa da minha avó. Não podia andar descansada na minha vida, que me apareciam aquelas almas do purgatório com um olhar lancinante a implorar nem sei bem o quê. Que rezasse por elas, ao menos.

E eu rezava, pois claro. Porque nos bons velhos tempos a solidariedade social ia para além das fronteiras da vida e da morte.

30 novembro 2025

uma ideia de Marte


 

Uma pessoa descobre imagens panorâmicas feitas em Marte e pergunta-se: - Caramba, com tantas possibilidades, tinham mesmo de ir aterrar no meio do deserto?... Coitadinhos, sabe-se lá quando passará a próxima caravana de camelos verdes!...
(E terão levado uma daquelas cartinhas da ONU, e será que na cartinha vão desenhos muito engraçados? Como se os marcianos tivessem olhos e entendimento iguais aos nossos...)

Advento na Kurfürstendamm




Chega o Advento, e a Kurfürstendamm ilumina-se em mil estrelinhas. Depois, quando chove aquela chuva miúda, nada como subir ao andar de cima do autocarro, sentar-se num dos lugares da frente, e fotografar.






sem rodriguinhos

 


Para terminar o dia docemente.

(depois alguém explique como é possível dedos assim em serviços mínimos despertarem no piano algo tão expressivo e belo)

(vês, Lang-Lang? Nem sempre é preciso dançar o lago dos cisnes em frente ao piano...)

29 novembro 2025

foi a neve

 

"O Baile", Paula Rego

Deixem-me contar-vos do momento em que descobri que a lua cheia tem o poder de fazer sombras: aconteceu na minha cozinha de Weimar, que era num jardim de inverno com enormes paredes de vidro sobre o quintal, e havia neve. 

Foi a neve: o luar brilhante desenhava as sombras das árvores nuas no branco do chão, e eu fiquei ali encantada, na casa às escuras, sem saber o que fazer com tanta beleza.




26 novembro 2025

Portuguese Cinema Days in Berlin 2025

 



Por estes dias tenho andado tão ocupada - e tão feliz - que até me esqueço de contar. Senhoras e senhores: este ano, os Portuguese Cinema Days in Berlin estão a ser assim. Estão a ser demais.


















25 novembro 2025

25 de...

 

25 de...

Cada um é livre de escolher o seu 25 favorito. Mas não é livre de impor a todo um povo a alteração da sua memória e do seu sentir.

Tinha 10 anos, e lembro-me bem: no dia 1 de Maio de 1974, vi as ruas e as praças do Porto repletas de pessoas que sorriam e choravam comovidas, que olhavam e falavam com desconhecidos como se fôssemos todos uma enorme família. Se me perguntassem qual foi o dia mais feliz do povo português, diria que foi esse primeiro de Maio, uma semana depois daquilo que começou como golpe militar e ao fim de poucas horas era uma revolução de base popular.

No 25 de Novembro não vi essa extraordinária adesão popular, não vi flores nas armas nem mulheres a servir cafés aos soldados. Não vi junto aos soldados uma multidão sedenta e expectante de mudança.
E nos dias que se seguiram ao 25 de Novembro, não vi um povo feliz a inundar as ruas.

Alguns dirão: "pois, mas se não tivesse havido 25 de Novembro, queria ver a alegria do povo português a ser vítima de desmandos de sinal contrário."

No que até podem ter razão. Mas isso não faz do 25 de Novembro a data mais importante da revolução - foi apenas um marco e uma inflexão no caminho de liberdade que o 25 de Abril nos abriu.


(Mal comparado, era como quererem dizer que a data mais importante da Revolução Francesa não foi a da tomada da Bastilha, mas a da morte do Robespierre.)

24 novembro 2025

pão nosso de cada dia

 


Fui ao pão.
No caminho, vi um homem a ter um rendez-vous com uma árvore. Abraçou-a, encostou-se a ela longamente...
Se não houvesse mirones (como eu), se calhar fazia o mesmo. Deve ser muito bom.
(Sim, nevou. Mas ainda não dá para descer encostas de trenó. E recuperei o meu andar de pinguim. E também recuperei os transportes públicos, porque o carro está com pneus de Verão. E Berlim está coberta por uma camada densa de nuvens.)
(Nada disto é uma queixa.)
(As fotografias estão uma bela porcaria, reconheço. Ainda pensei espetar-lhes um filtro em cima, mas depois lembrei-me das minhas teorias sobre o botox, e ficámos assim.)

23 novembro 2025

passeio dominical

 


Há dias, ao falar sobre o dom que uma amiga minha tem para fazer composições de objectos decorativos, em vez de os deixar expostos pelos móveis como se fosse numa loja, lembrei-me do Parajanov.
Em 2014, passei fugazmente pela sua casa-museu em Yerevan, e anotei: tenho de voltar aqui com muito tempo. Com muito, muito, muito tempo: porque aquelas salas estão cheias de pequenas composições que são fruto de um espírito de criação mirabolante e inesgotável.
Quero muito voltar à Arménia. E no topo da lista está este museu.
Deixo o link [ https://parajanovmuseum.am/ ], para passearem por ele. Vejam o museu, e vejam a galeria: garanto que vai ser um belo passeio.
(Mas, se querem saber a verdade toda: a minha lista de lugares que quero ver e rever na Arménia é um caso de muitos ex-aequo, todos no topo. Tantos lugares que admiro, tantas saudades!)

22 novembro 2025

mirone

 

Coisas da minha vida: ofereceram-me um galo de Barcelos fantástico, mas o Joachim não gosta dele.
De modo que eu pu-lo na casa de banho meio misturado com umas hortênsias secas, na esperança de que o Joachim não repare.

Mas ontem deram-me uma ideia genial: esconder o galo por trás das flores. Escondido na moita, a bem dizer.
E agora, de cada vez que entro na casa-de-banho, desato a rir.





20 novembro 2025

dois anos sem a Sara Tavares

 


Dois anos sem a Sara Tavares -- e continua imortal.
(Há passagens nesta canção que são momentos para sempre.)

conforme a reacção

 

(hehehe)
Já agora, acrescento esta que li no instagram, em forma resumida: quando alguém atira uma frase provocatória está a testar a reacção do seu meio-ambiente. Ficar embaraçado, ficar calado ou afastar-se é ser, de certo modo, cúmplice.
Mais vale treinar uma resposta padrão tipo "isso que acabaste de dizer cheira um bocadinho a merda nazi". Mas tenhamos também em mente um truque antigo das polícias políticas das ditaduras: atirar uma provocação para registar a reacção de cada um. Ficar calado, nesse caso, é uma atitude inteligente de sobrevivência.

Portanto: enquanto vivemos num Estado de Direito, há que apontar tudo o que fede a "merda nazi". Deixar banalizar o fedor é mais de meio caminho andado para o beco sem saída.

19 novembro 2025

aqui e agora

 




Ontem não quereria ter estado em mais lugar nenhum do mundo, senão no aqui e agora do concerto do Salvador Sobral e da Sílvia Perez Cruz.
Foi muito mais do que a música genial que brota deles e dos seus músicos (embrulha, IA: nunca serás capaz de fazer nada assim).
Foi o ambiente de amizade e carinho entre todos, foi a leveza e a naturalidade. Foi a emoção.
Foi ver um palco cheio de gente boa, a mostrar que um outro mundo é possível.
Foi passar o concerto a sorrir. Foi o esquecer-me de aplaudir, de tão encantada que estava.
Só é pena ter sido tão curto. Podia ter durado cinco horas, e ainda assim seria demasiado breve.

18 novembro 2025

preciso de um cardiologista


Ontem fiz anos. Outra vez! Caramba, é assim que uma pessoa se põe velha... Tivemos uma sessão muito especial nos Portuguese Cinema Days in Berlin: Mulheres do Meu País, de Raquel Freire. Sala cheia, Q&A com a realizadora, interessantíssimo e longo, até nos mandarem sair da sala porque ia começar a sessão seguinte. Bolo de limão e vinho do Porto na lounge do cinema, e muitas conversas animadas.
Em casa, tinha o computador cheio de comentários simpáticos que escreveram por ocasião do aniversário dessa notável façanha que foi ter nascido. 😉

Se alguém souber de um cardiologista que faça preço de amigo para tratar uma coisa assim tipo quentinho no coração, agradeço.

17 novembro 2025

to leave or not to leave

 


"Don't leave until you leave."
Foto: minha. Legenda: A.B.

15 novembro 2025

em bicos de pés

 

Do diário no facebook: 15.11.2021 Pára tudo! Acabaram de me dizer que tenho uma voz igual à da Maria de Medeiros.
Um dia que precisem de alguém para dobrar a voz dela, para falar em português, já sabem: contratem-me. 🙂
(Ai, espera...)

15.11.2021
E por falar em voz semelhante...
A primeira vez que ouvi Arpi Alto pensei que seria um caso tipo Conchita Wurst, mas em mais bonito. Estava realmente surpreendida com aquele registo tão grave. Afinal, não: é mesmo uma arménia que tem uma extraordinária voz de contralto.
Hoje, ao ouvir este You Are So Beautiful, dei-me conta que ela canta no mesmo tom que eu. Enfim, canta mais bonito e com mais graça, mas eu consigo cantar no mesmo tom confortavelmente.
Ora bem: este é o segundo post consecutivo em que me ponho em bicos dos pés para poder dizer "ó pra mim, sou eu e ela".
Vou é trabalhar, que nós somos muito parecidas muito iguais, mas nenhuma delas me vem ajudar a traduzir um livrinho interminável que tenho em mãos.


13 novembro 2025

mais queixas

 


Ontem, o telemóvel ouviu que estávamos a falar em comprar um pinheirinho de Natal como deve ser, com o seu aroma a floresta, e mais as velas de cera de abelha, e os pássaros de vidro checos, e tudo. É que vamos ter um convidado especial, directamente vindo da Trumpsilvânia(*), e queremos impressioná-lo e mostrar-lhe como tudo é lindo e aprazível aqui no nosso continente onde impera o comunismo. Mas não gostamos nada da ideia de comprar uma árvore para deitar fora logo a seguir (nós, os da seita do clima, somos assim). 

Como ia dizendo: ontem, o telemóvel ouviu a conversa em português, e esta madrugada já me estava a informar em alemão que é possível comprar um abeto anão no vaso, com links e preços e tudo. Só cresce até 1,5 m, pode passar o ano todo na varanda, e no Natal vem para dentro de casa, e todos são felizes para sempre. 

Agora, digam-me cá como devo reagir.

É que devia ficar chocada e aterrorizada por isto estar a acontecer, mas a verdade é que me sinto grata e muito tentada a aceitar a sugestão. 

Será síndrome de Estocolmo?

[ pssst, ó telemóvel: se me dissesses onde arranjar mais pássaros de vidro com plumas na cauda, sem ter de ir ao mercado de Natal de Erfurt ali por volta de 2005, agradecidinha! ]


(*) o seu a seu dono: quem me dera ter inventado esta piadinha da Trumpsilvânia, mas não - ouvi-a à Nina Hagen, pouco depois de Trump ter ganho as eleições pela primeira vez. 

10 novembro 2025

queixinha

 

Venho cá fazer queixinha do chatgpt: pedi-lhe para me corrigir uma frase em alemão, e ele deu um erro de gramática na resposta.

Primeiro problema: atão como é que é, heinhe?!!!! Se nem na gramática acerta...

Segundo problema: alertei-o para o erro, e deu-me logo razão.
Mas ele tem um ar tão sabujo quando o corrigimos que tenho sempre a sensação que é daqueles que diz sempre que sim à voz do dono.

Terceiro problema: só sei que nada sei, e o chatgpt menos ainda.

E ainda só é segunda-feira de manhã.

09 novembro 2025

doçaria aleatória

 





Ontem gastei um tempo que não tinha, e mais duas toneladas de açúcar, uma de manteiga e uma de natas para fazer shortbread com creme de caramelo salgado e cobertura de chocolate.
É que hoje o meu coro dá um concerto (dá mesmo, a entrada é gratuita) para festejar a primeira década, e no fim há beberete e comerete.
Esta manhã, ao tentar cortar em bocadinhos, foi o drama, o horror e a tragédia.
O chocolate parte onde não deve, o creme de caramelo escorre por todos os lados, e o bolo sabe àquilo que é: uma mistura explosiva de açúcar e gordura.
Ora bem: uma pessoa tem amor próprio q.b. para ir para a festa de mãos a abanar, em vez de levar uma bandeja de harakiris.
Portanto, a quem interessar possa, e more em Berlim: quem quer uns fantásticos quadradinhos aleatórios de shortbread?

07 novembro 2025

o que é preciso é ter saudinha...

 

Ontem de manhã fui à ginecologista para uma consulta de rotina. O consultório tem um ambiente muito cuidado, com móveis caros e obras de arte nas paredes, mas as assistentes irritam-me sempre, porque atendem as pessoas de forma mecânica, antipática e arrogante, dão ordens secas, não fazem um único sorriso. Fazem-nos sentir como se tivéssemos ousado entrar numa Chanel ou numa Valentino (as lojas ali ao lado) sem termos cara de jovem esposa de um oligarca russo.
Enquanto esperava, liguei para um otorrino na parte Oxfam da mesma rua (é a avenida Ku'damm, há muita diversidade ao longo dos seus 3,5 km) para saber de uma vacina covid, fui atendida de forma extremamente simpática, e disseram-me para aparecer a meio da tarde, mesmo sem marcação.
O consultório tinha paredes vazias, cadeiras sólidas e sem graça, alguns brinquedos. E duas senhoras extremamente simpáticas na recepção. Uma delas usava hijab. A terceira, que veio falar comigo para me explicar que sou uma velhinha muito jovem e portanto devia tomar a vacina mais leve da gripe, era ainda mais simpática e calorosa que as da recepção.
Não resisti a fazer um comentário:
- Há algo neste consultório que o torna muito diferente dos outros...
- É por termos muitas crianças?
- Bem, estava a pensar na maneira calorosa como tratam as pessoas.
Ela sorriu.
Daí a pouco chegou o médico. Vacinou-me, falou um pouco, contei-lhe que este mês não posso apanhar gripe nem covid porque está a decorrer o Portuguese Cinema Days in Berlin, ele explicou que estas vacinas não me livram de apanhar as doenças, mas limitam os estragos, e depois quis saber mais sobre a nossa mostra de cinema. Dei-lhe um flyer, ele folheou, chamou a mulher (era a terceira senhora que me tinha atendido), pediram-me recomendações dos filmes, e saí de lá feliz da vida a pensar:
- Será que também fazem ginecologia?

05 novembro 2025

Ipanema

 


Diz que é Ipanema. Vejo a Lagoa, os Dois Irmãos, e até acredito.
Mas não sei se acredite: pensava que os prédios (e o passeio cheio de pareos à venda) sempre tinham estado lá...

Não tenho uma foto assim de Ipanema, mas tenho uma recordação ainda mais bonita: no dia 31 de Dezembro jantámos em casa de uns amigos, e saímos depois para a praia, que estava deserta. Alguém tinha feito covas enormes na areia, e pusera velas acesas lá dentro. A luz saía do nosso chão, o mar ronronava doce. Atirámos flores às ondas, para levarem a Iemanjá o que nos pesava, "vê tu isto, Iemanjá, que eu não estou a dar conta" - e a seguir fomos para o bulício de Copacabana.