05 agosto 2025

vá para fora cá dentro

 


Uma das coisas boas de receber amigos em Berlim é sair com eles a redescobrir a cidade. Como por estes dias: uma velha amiga veio visitar-nos, e andámos a dar na boa vida à grande e à francesa (e à alemã, e à cingalesa, e à australiana, e a todas as nacionalidades que calha, que a vida, quanto mais se mistura melhor fica).





Começámos por ir à exposição de Pissarro no Barberini. Excelente, como é habitual neste museu.

Apesar de já estarmos cansadas no fim da exposição temporária, não nos fomos embora sem ver também a colecção de impressionistas de Hasso Plattner. E ainda bem, por todos os motivos, e também porque nos cruzámos com um senhor sentado em frente ao "Chemin Montant", de Caillebotte, mortinho por ter alguém com quem se maravilhar. De modo que ficámos a conversar com ele e a ajudá-lo a matar saudades daquele quadro que andou em digressão dois anos e meio e só agora regressou a casa.


Depois fomos almoçar numa casa de madeira do princípio do século XIX, na colónia russa Alexandrovka (será que já contei a história do czar que ofereceu um coro cossaco ao seu novo cunhado, e simplesmente mandou essa gente toda para a Prússia?).
Antes de regressar a Berlim ainda fomos visitar o palácio do velho Fritz. Continua lindo.







Conhecemos dois novos restaurantes: o alemão Engelbecken e o de inspiração cingalesa Sathutu (muito bom, mas se forem tão pelintras como eu é melhor comerem um kebab ou uma salsicha antes de ir ao restaurante, porque se calha de entrarem lá com fome levam um rombozito nas finanças domésticas). Também nos deram uma lista de outros restaurantes a explorar, que aqui deixo a quem interessar possa: Otto e Wen Cheng.


Ao anoitecer, fomos ao Chamäleon ver A Simple Space, o primeiro show da companhia australiana Gravity and Other Myths, que já caminha para uns 20 anos de existência mas continua fresco e adorável. Gostei muito da abertura: o anúncio "I'm falling!", o deixar-se cair, o confiar que alguém vai parar a queda. Gostei muito do humor do show.




E ainda nos rimos imenso com a nossa amiga, lembrando o dia em que chegámos em cima da hora e nos mandaram ir pelas traseiras, Mal nós sabíamos que nos punham a entrar directamente para o palco: o show passava-se num apartamento, e nós chegámos pela porta do frigorífico. A ideia seria talvez envergonhar os que chegavam por último, mas a nossa amiga não se atrapalhou. É mãe de um artista desses circos, conhecia metade das pessoas que estavam em palco, tudo a postos para começar e ela ali parada a conversar com eles animadamente: "olá, como estás? que giro encontrar-te aqui!"




Depois voltámos para casa, pelo centro da Berlim nocturna, e tirei uma fotografia à torre da televisão à maneira de um quadro que vi no Barberini: com uma ponte a atravessar a imagem separando motivos completamente diferentes. Acho que era uma ideia de Pissarro, mas não tenho a certeza. De modo que agora vou esperar pacientemente por algum outro amigo que nos venha visitar, para voltar lá e confirmar quem é o autor que plagiei. É isto a minha vida... Note to self: nunca, nunca, nunca! sair de casa sem a câmara fotográfica. Estas fotos de telemóvel ficam muito aquém.

Sem comentários: