16 setembro 2025

factos sobre a "Burgerfest"

 


A confusão entre "cidadãos" e "hambúrgueres" tem sido acompanhada por muita informação, contra-informação e mentiras descaradas. Deixo aqui uma compilação dos factos, para memória futura.


1. O projecto de resolução que foi votado no Parlamento português no dia 9.9.2025 falava em "deslocação à Alemanha a convite do presidente alemão, incluindo a participação na Burgerfest".

É verdade que estava escrito "Burgerfest" e não "Bürgerfest". Mas a redacção do texto deixa claro que se está a responder a um convite oficial do presidente alemão, e atribui um lugar subsidiário à festa. A posteriori, comprova-se que a proposta de resolução descrevia de forma directa e concisa o que estava em causa: primeiro, o presidente da República português foi recebido com todas as honras no palácio presidencial. Os dois presidentes tiveram oportunidade de conversar a sós, e seguidamente houve uma reunião alargada com a comitiva presidencial. Pelas seis da tarde, os dois presidentes vieram para o jardim, discursaram perante os convidados daquela festa, e visitaram os stands. Os stands alemães apresentavam o trabalho de organizações de voluntariado, que são o elemento central desta festa. Na área de Portugal, o país convidado, apresentava-se a língua portuguesa, a inovação científica na área dos têxteis, os oceanos, o turismo, a gastronomia, os vinhos e uma grande conquista do futebol português.

Na realidade, para o caso pouco importa se a festa era de cidadãos ou de hambúrgueres. O mais importante desta deslocação - e isso foi formulado com clareza na proposta apresentada à Assembleia Parlamentar - era o convite oficial feito pelo presidente alemão.


2. Se, no dia 9 de Setembro, quando a proposta foi votada na Assembleia, houvesse dúvidas sobre esta festa, seria possível informar-se no site da Embaixada de Portugal na Alemanha. A notícia estava em lugar de destaque desde o dia 1 de Setembro. O próprio título já revelava algo muito importante: "Portugal é o País Convidado da Bürgerfest 2025"



3. O partido que votou contra a deslocação do presidente da República português à Alemanha, a convite do seu homólogo alemão, tem sessenta deputados. Não consegui apurar quantos assessores trabalham de momento para esses sessenta deputados, mas na legislatura anterior, quando o partido tinha menos dez deputados do que actualmente, já empregava trinta assessores e quatro secretárias. Depreendo, assim, que este partido tem pelo menos noventa e quatro pessoas pagas pelos nossos impostos, que auferem de salários superiores à média dos trabalhadores portugueses, uma vez que o Estado reconhece a grande responsabilidade do cargo que ocupam.


4. Destas cerca de cem pessoas, não houve uma única que lesse as poucas linhas da proposta com atenção, se desse conta do logro e alertasse o grupo parlamentar: "atenção, a proposta que vai ser votada é sobre um convite oficial do presidente da República alemão!". E muito menos que se fosse informar e acrescentasse: "incluindo a participação num evento importante que tem Portugal como país convidado. Atenção, que isto não é sobre beber umas cervejolas num festival gastronómico".

Em suma: o grupo parlamentar deste partido deixou-se confundir com uma questão acessória no texto da proposta e votou contra uma visita oficial a convite do presidente alemão sem que alguém daquela centena de pessoas remuneradas pelo Estado português se tivesse dado ao trabalho de recolher mais informações sobre o que ia a votação.

Fica a pergunta: é assim que os deputados deste partido trabalham no Parlamento português? É com este fraco sentido de responsabilidade e esta falta de seriedade no cumprimento das suas funções que vão "limpar Portugal"? Fica uma hipótese: de tanto repetirem os seus chavões populistas contra os políticos e o sistema, acabam por acreditar que o sistema político português é realmente como eles dizem, e que seria natural um presidente da República deslocar-se a outro país com todo o aparato de Estado apenas para beber umas cervejas. De tanto repetirem os seus chavões, perderam a noção da realidade.


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