O cancelamento do maestro Lahav Shani, por parte da direcção do Flanders Festival Ghent, é o escândalo do dia na Alemanha.
O texto que justifica a decisão encontra-se aqui. As passagens que mais questões me levantam são:
- "we have chosen to refrain from collaboration with partners who have not distanced themselves unequivocally from that regime".
Não basta este músico israelita, e director da Orquestra Nacional de Israel, ter feito repetidamente apelos à paz e à reconciliação, não basta que trabalhe com Barenboim e a sua East West Divan Orchestra. Tem de se demarcar "inequivocamente".
Pergunto: o que é "inequivocamente"? Para os grupos de pressão que desejam a extinção de Israel, que haja discurso e trabalho feito a favor da paz, da reconciliação e do diálogo entre os dois povos ficará naturalmente sempre aquém do "exigível".
- "Given the inhumanity of the current situation, which is also leading to emotional reactions in our own society, we believe it is undesirable to allow this concert to go ahead. We have chosen to maintain the serenity of our festival and safeguard the concert experience for our visitors and musicians."
Desde quando é que a cultura se tornou um espaço de serenidade?
Desde quando é que a cultura se deve ajoelhar para evitar "reacções emocionais"?
Uma nota final: têm sido feitas comparações com o maestro Valery Gergiev. O que é, a todos os títulos, abusivo. Valery Gergiev não é um simples maestro russo, é uma peça importante na máquina de propaganda do regime russo, põe deliberadamente a sua música ao serviço do imperialismo de Putin (mais detalhes: aqui). Quanto a Lahav Shani: se fala e trabalha a favor da paz e da reconciliação, não o podem acusar de defender a política e a ideologia genocida do governo de Netanyahu.
E não o acusam disso, de facto. O problema é outro: se não mostrar de forma "inequívoca" (seja lá o que isso for) que é um "judeu dos bons", não pode subir ao palco.
Já tivemos esse tique em relação a artistas russos, após a invasão da Ucrânia. Pensava que tínhamos aprendido alguma coisa desde então.
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