05 julho 2025

o cinismo do mundo

 


Gaza continua a ensinar-nos que, em termos de horror, nenhuma situação está de tal modo no limite do mal que não consiga ficar ainda pior. Todos os dias bate no fundo, e em cada dia é ainda mais fundo do que era na véspera.
E é sempre a mesma sensação de impotência: pouco podemos fazer para melhorar a situação dos palestinianos, como pouco podemos fazer para impedir que o nosso país e todos os países da Europa infernizem a vida dos refugiados e imigrantes pobres, ou para impedir Putin de continuar a bombardear cidades e pontos nevrálgicos da Ucrânia.
Neste momento, há pessoas a ser assassinadas a sangue frio quando tentam ir buscar comida para alimentar a sua família de famintos, há dois milhões de pessoas encurraladas numa terra destruída de onde não deixam ninguém fugir.
Neste momento, Kyiv está a arder.
Entretanto, o chamado homem mais poderoso do mundo, que podia tentar ao menos conter os danos, anda entretido a vender perfumes e a criar um centro de gaiolas de deportação num lugar terrivelmente inóspito, cheio de vaidade de si próprio.
E nós: descobrimos amargamente que o "vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar", da antiga canção de resistência, nada pode contra o cinismo do mundo.

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