Não sei como são as vossas manhãs, mas espero que sejam melhores que esta minha, que começou - ossos do ofício! - com a leitura de um excerto de um discurso de Trump em 2016.
Nem sei porque lhe chamo "discurso" - "discurso" e "Trump" na mesma frase é uma impossibilidade, mas adiante. Era sobre o waterboarding, e ali estava o homem a dizer com toda a convicção "bring back a hell of a lot worse than waterboarding".
É assim que os populistas ganham eleições: inventam ou exageram o poder de um inimigo que "nos tem um ódio de morte", criam uma emoção generalizada de "aimêdês, nem debaixo da cama estamos seguros", e depois apresentam-se como o super-homem que não se deixa estorvar por essa contrariedade que são as regras de um Estado de Direito. Ou seja: é assim que os populistas ganham eleições e corroem as bases do sistema democrático ao mesmo tempo.
(Imagino o Bin Laden a rir lá no fundo do mar: "olha, não temos de nos esforçar nem um bocadinho, o Ocidente consegue autodestruir-se sem a ajuda de terceiros, hahahaha.")
E depois lembrei-me de uma teoria que ouvi há tempos, sobre o nosso cérebro se adaptar às palavras que dizemos. Se calhar não é o nosso cérebro, se calhar é a nossa boca.
Com aquela boquinha de órgão genital externo da galinha que acabou de pôr um ovo, é impossível saírem palavras e frases mais elaboradas que "bring back a hell of a lot worse than waterboarding".
Experimentem: ponham a boca assim em modo "ai que bem que me saiu este ovinho, ai que frenicoques tão bons que estou a sentir ali!", reparem como a língua fica subitamente mais aconchegada e táctil, e digam "bring back a hell of a lot worse than waterboarding".
Não é que a letra combina lindamente com a careta?
(As galinhas que me desculpem, bem sei que não é bonito associá-las a este badalhoco profissional)
(Por acaso, pensando bem, o bicho é outro, o órgão é outro e o ovo é outro, mas como isto é uma página de respeito...)
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