Felix Klein, comissário do governo federal alemão para a vida judaica na Alemanha e o combate ao anti-semitismo, passou de um recente "Em princípio, não me parece mal que haja ideias novas e radicais"(estava a falar de "Trump Gaza") para um "É preciso repensar a solidariedade e o significado de raison d'État na relação entre o Estado alemão e Israel. (...) Temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir a segurança de Israel e dos judeus em todo o mundo. Mas também temos de deixar claro que este compromisso não desculpa tudo." Vai mais longe: matar os palestinianos à fome e piorar deliberadamente a situação humanitária não tem nada a ver com a salvaguarda do direito de Israel à existência. E também não pode ser raison d'État da Alemanha. Israel tem o direito de se defender contra o ódio genocida do Hamas. Mas o objectivo do exército deve ser lutar contra os terroristas do Hamas que utilizam a população civil como escudo, e libertar os reféns israelitas. Perante o que está a acontecer em Gaza, é legítimo questionar se Israel está a respeitar o princípio da proporcionalidade. É certo que, na entrevista num noticiário da televisão pública, se fartou de gaguejar. Pelo que uma pessoa se pergunta de que espécie de cavalo terá caído para ter esta transformação radical. Mas adiante: tudo está bem, quando vai na direcção certa. Ontem, o chanceler Merz também apareceu com um discurso muito mais incisivo que aquele a que estamos habituados na política alemã. Criticou abertamente as acções de Israel em Gaza, afirmando que a extensão dos danos causados à população civil já não pode ser justificada como uma luta contra o terrorismo do Hamas. “Quando os limites são ultrapassados, quando o direito internacional humanitário está a ser violado, também a Alemanha, também o chanceler alemão, tem de dizer alguma coisa sobre isso”, disse em entrevista à WDR. No seu governo de coligação, já se ouvem vozes do SPD a apelar ao fim da exportação de armamento para Israel. Vem cinquenta mil mortos demasiado tarde. Mas se servir para a Alemanha repensar o seu apoio e novas maneiras de assumir a sua enorme parte de responsabilidade na criação de Israel, e se servir para evitar a deportação da população de Gaza para outra tragédia qualquer, e se servir para começar a tratar seriamente de uma solução de dois Estados nas fronteiras anteriores a 1967... mais vale tarde que nunca. (Para isto andar realmente para a frente, e para Israel deixar de ter desculpas perante a comunidade internacional para continuar a dizimar os civis palestinianos, era o Hamas - por uma vez na sua vida - pôr os interesses da população palestiniana à frente dos seus próprios, e propor trocar a sua existência por um bem maior: a criação do Estado Palestiniano.)
5 comentários:
Mais vale tarde do que nunca, até que enfim os alemães se movem.
É uma mudança necessária e bem-vinda, mas também estranhamente repentina. Ainda há poucas semanas, Merz anunciou que estava capaz de convidar Netanyahu, à revelia do Tribunal Penal Internacional. Não sei o que se terá passado nos bastidores.
(Se calhar ligou a televisão, e viu as pessoas de Gaza...)
Na altura também me pareceu muito estranha essa disponibilidade do Merz para convidar o Netanyahu a visitar a Alemanha sendo este país muito estrito no cumprimento da lei. O único país signatário do TPI que foi visitado por Netanyahu foi a Hungria que no próprio do dia da visita saiu de signatário do TPI. A Alemanha não é a Hungria e mesmo esta sentiu necessidade de deixar de ser signatária do TPI.
A verdade é que nuca sabemos bem a verdade de tudo o que se passa...
Já somos dois a achar estranhíssimo.
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