06 dezembro 2023

esta manhã


Esta manhã já nevou (há uma semana que neva em Berlim), já tentei limpar a neve nos caminhos mas estava muito colada e ia fazer uma barulheira ao raspar, pelo que preferi esperar um bocado antes de acordar os vizinhos todos, já fui levar o Joachim ao trabalho para trazer o carro para casa que me dá muito jeito depois, já fui ver se havia bilhetes para o Beethoven7 da Sasha Waltz (não há), já comprei croissants e autênticas bolas de Berlim para o pequeno-almoço e já dei um bocadinho de água sem caneco nas redes sociais e já morreram crianças num gueto cercado e sem possibilidade de fuga. Já mataram crianças hoje, e têm todas um nome e uma mãe e uma rede de amor, e ainda agora tinham a vida toda pela frente.

Agora estou em casa, na minha cadeira ergonómica xpto, e mais o chão aquecido, e tudo, e essas crianças aqui tão perto. Pertíssimo de uma Alemanha cujos políticos ainda não perceberam que dar carta branca ao regime antidemocrático e racista de Netanyahu é fazer o contrário do que seria imperioso para quem anuncia como raison d'Etat a segurança dos judeus no seu país e no mundo inteiro. Cada criança que por estes dias é morta naquele gueto-prisão reforça as trincheiras e o ódio que inviabilizam a paz e a segurança tão urgentemente necessárias para todos os que habitam aquela terra.

O que impede os governantes alemães de entender uma evidência tão gritante?

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