No Natal, o Wladimir Kaminer costuma fazer uma das suas divertidas sessões de leitura, e a seguir põe o pessoal a dançar na famosa Russendisko. É no teatro Volksbühne, no centro de Berlim, e já lhes podiam dar um prémio qualquer de saúde pública, porque não deve haver no ano momento mais sensível que o Natal para as pessoas que - cito do programa - "não têm nada de especial para fazer" na noite de 24 de Dezembro.
Em 2022, este evento natalício aparece assim anunciado pelo Wladimir Kaminer no seu mural de facebook:
Enquanto o exército russo continuar a cometer crimes de guerra na vizinha Ucrânia, a música russa não me dá gosto, e mudei o nome do meu evento de dança: de Russendisko para Ukrainedisko.
No entanto, no programa pouco muda, porque sempre tivemos muitos grupos ucranianos na nossa playlist.
Passámos o ano a discutir qual seria o nosso fim - de Aperol spritz com palhinha orgânica sustentável e biodegradável na mão -, se viria a ser consequência do colapso ecológico, da alimentação errada, do mau governo, da falta de pessoal, dos efeitos do Corona ou da guerra que se propaga pelas cabeças e pelo planeta. As possibilidades disponíveis para nos desgraçarmos parecem inigualáveis na sua diversidade. Será que os artistas e os trabalhadores culturais podem afinal mudar a situação catastrófica do planeta? A arte pode permanecer apolítica até ao fim? A arte é supérflua no Titanic? A resposta a estas três perguntas é: não. É certo que a arte não consegue impedir que o povo caia num esgoto, mas dá às pessoas uma oportunidade de se reequilibrarem, de se envergonharem, de se perturbarem e de se indignarem. Só por meio da arte seremos capazes de entender e de processar aquilo que está realmente a acontecer connosco. E é óbvio que a arte tem de ser política, uma arte que não o seja é mera massagem facial para a burguesia. Sem artistas, o planeta seria uma insuportável chatice.
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