Regressei das férias em Portugal a tempo de ir ao último concerto dos Rolling Stones desta tournée europeia, e temia que alguma coisa se me atravessasse no caminho. Nem era pelo concerto em si, era pelo preço do bilhete, que nunca na vida pensei que seria capaz de pagar. Mas nem apanhei covid, nem fui atropelada, nem mais nenhuma desgraça do género, nem de outro género qualquer. Ufa!
Três horas antes do concerto dos Rolling Stones, os comboios já iam apinhados de velhotes com t-shirts a rigor. Eu ia de branco. A princípio pensei que era por causa do calor que fazia em Berlim, mas no comboio percebi que era muito mais que isso: era a minha grande oportunidade! Vi logo ali o filme todo: no palco, o Mick olharia para aquela profusão de línguas de fora, e os seus olhos iriam repousar na Wally, esta vestida de branco e - vocês desculpem lá, mas o que tem de ser tem muita força - nunca mais teria motivos para cantar I can’t get no satisfaction.
Velhotes, claro: porque os bilhetes custavam entre 200 e 500 euros, e a juventude de hoje não tem esse dinheiro para gastar num concerto.
As cancelas abriram com atraso. De cada vez que a multidão à espera rumorejava de zanga, eu estremecia.
Na imensa fila de espera, quando estava a escrever o relatório da situação para o facebook, ocorreu-me verificar se tinha o telemóvel no bolso. Um susto: "ai! roubaram-mo!" Depois apercebi-me que o tinha na mão, porque estava a escrever para o facebook. O sol já estava a fazer efeito, e eu podia ser a próxima pessoa a cair ali redonda.
Um casal perto de mim: - Alguém viu o meu bilhete? - Está aqui! - Oh, obrigada! Não sei como, caiu-me da mão. - Ia entregar na entrada, mas assim já se resolveu. - Dava-lhe algum dinheiro de recompensa, mas não tenho comigo. - Deixe estar, no Natal vamos à sua casa. Berlinenses...
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