07 junho 2022

"manequim" (2)

 


Primeiro, fui eu que encontrei dois manequins cobertos com uma massa antracite encostados a uma sebe num parque ao longo da avenida 17 de Junho, e contei ao Joachim sobre aquela instalação.
Depois, foi o Joachim que os foi espreitar, e achou que a instalação ficava ainda melhor em frente à fachada da nossa casa. De modo que durante uns tempos tivemos os dois bonecos a espreitar quem passava na rua (e vice-versa, o que me provocava algum desconforto, porque prefiro ser discretinha).
Depois foi um temporal horroroso, que bateu na massa antracite de tal maneira que ela começou a descolar-se do peito de uma das bonecas, deixando à mostra a mama branca. Parecia ainda mais arte, mas também estávamos a incorrer em nudez feminina num bairro residencial com crianças e pessoas de outras religiões e pequeno-burgueses e tal.
Quando, devido aos temporais que se seguiram, aquilo deixou de ser arte e passou a ser óbvio desleixo, tirámos as bonecas da fachada da rua e encostámo-las à parede da garagem.
Depois veio mais outro temporal, despiu-as ainda mais, e largaram tinta para a parede da garagem. De modo que as pousei no chão, junto a uma palete que tirei do caixote do lixo de um vizinho porque o Joachim a queria usar como base para a sua tenda de sauna no jardim, mas depois arranjou outra melhor.
E agora ali estão, despojadas e nuas, à espera do destino final, que é o centro de entregas de lixo de Berlim.
A não ser que haja por aí alguém, ainda mais criativo que o Joachim, que ache que um #manequim mais nu que nu é uma extraordinária obra de arte, e que esta nudez provocada pelos temporais cada vez mais frequentes é uma excelente alegoria para a Humanidade exposta à fúria do planeta que está a destruir, etc.
Nesse caso, podem vir buscar. Dou o endereço em mensagem privada.


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