"Fukushima"

 

No dia em que a palavra mágina na Enciclopédia Ilustrada foi "funâmbulo", andei à procura de vídeos de funâmbulos loucos (desculpem o pleonasmo) a caminhar no arame entre duas falésias a 1 km do solo e outros perigos do género, e senti o meu pior lado maternal a vir ao de cima. Só me apetecia gritar-lhes: "sai já daí! olha que, se caíres, de castigo não vou ao teu enterro!"

Passou-se algo semelhante ao ver a obra de Paul Scott: "nem penses em estragar esses pratos antigos! tu és maluco, ou quê? se voltas a tocar no serviço Vista Alegre da tua avó, deserdo-te!"

Partilho uma peça da sua série #Fukushima. Sinto uma espécie de fascínio por esta combinação da onda de Hokusai com a representação de uma paisagem oriental que provavelmente todos conhecemos bem. É verdade que outros artistas tiveram a mesma ideia de usar aquela onda tão ameaçadora para representarem a tragédia humana do tsunâmi de 2011 e a catástrofe de Fukushima, mas o trabalho de Paul Scott toca-me de um modo diferente, porque joga com paisagens que fazem parte do meu mundo quotidiano: esta onda ameaça não apenas o Japão, mas a minha própria história.

(Ao mesmo tempo, um aperto no meu coração mesquinho: ai que ele estragou aquela travessa!...)

Recomendo muito um passeio pelos trabalhos de Paul Scott, mas só para as pessoas capazes de resistir ao choque e ao horror da destruição do inventário.

Por exemplo - e agora já não estou a brincar - a sua leitura das tragédias na Síria, na Palestina e no Iraque: https://cumbrianblues.com/portfolio/palestine-syria-baghdad/

E ainda:

https://cumbrianblues.com/

https://arthur.io/art/paul-scott

https://cumbrianblues.com/news/

(Fiquei cheia de ideias para fazer eu também. Coitadinho do meu inventário, ainda lhe vai acontecer alguma coisa má...)