01 janeiro 2021

Carlos do Carmo

 


Uma vez o Carlos do Carmo foi à aldeia da minha avó. Havia de ter sido nos anos 70, ou talvez no início dos anos 80. Ele e o Adriano Correia de Oliveira, a cantarem num palco improvisado no terreno por trás do Café Novo, junto à estrada nacional.

A parte em que o Carlos do Carmo chamou os miúdos ao palco para cantarem o refrão de Os Putos correu um bocado mal, porque os miúdos olhava para as avós e para as mães ali sentadas a ouvir, e sabiam que se dissessem aquele palavrão em público se arriscavam a levar poucas e boas em casa. De modo que o Carlos do Carmo dizia "cantem, cantem" e eles, muito enfiados, tá queto.

Mas aquilo de que eu queria mesmo falar hoje era dessa generosidade de se fazer à estrada e levar a sua música a uma aldeia remota do Minho nesse tempo em que Lisboa ficava a um longo dia de caminho, e onde os palcos eram improvisados, e os miúdos tinham medo de apanhar se dissessem "os putos".

Obrigada, Carlos do Carmo.


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