Deve ter sido a constelação à minha nascença, é a única explicação que tenho para tanta sorte na vida.
Por exemplo: 2020 foi um ano bom para mim. Muito bom. Quase diria: cinicamente bom. Especialmente se penso nas resistências que tive à ida para a Bretanha, "porque ia perder a vida cultural de Berlim", e mal me instalei em Brest a vida cultural de Berlim foi reduzida a zero (excepto o que passou a ser online, e chegava a França e ao mundo inteiro).
Os sete meses que passámos na Bretanha foram um tempo muito rico de paz e de descobertas.
Por isso regresso hoje, neste 31 de Dezembro de 2020, aos melancólicos dias da despedida, quando levámos o "Boletim Meteorológico" da Sandra Costa para o último mergulho ao fim do dia na nossa Sainte-Anne du Portzic, ou quando o erguemos a iluminar o farol de Pontusval e a praia de Brignogan, na nossa saída de Finisterra.
O mar estava encapelado e verde como nunca o víramos antes.
"Podia ser o mar de Finisterra onde andei à procura
dos poemas que não escrevi, o mar do Golfo da
Biscaia, o dos faroleiros que vazaram os olhos,
o mar de Skagen onde sou uma daquelas mulheres
de Krøyer que caminham na orla da maresia, o
mar que sustenta as falésias da Irlanda, sem que
as vertigens me invadam, o mar de Cacela Velha
onde nunca estive e os poetas vivem e morrem
de um amor mais profundo. Podia ser todos
estes mares. Em todas as estações. É tão só
este mar que contemplo. Eu no mar.
O mar em mim."
Que não te falte nunca o mar em ti, querida Sandra.
Que não falte nunca a ninguém: o mar em si, em si.
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