19 novembro 2020

roupa para lavar e durar



No verão passado regressámos à costureira que já nos atura há mais de três décadas, e o Joachim fez a reclamação que lá nos levara: "uma camisa de linho que ainda só tem vinte anos, e o colarinho já está gasto! Espero que ainda esteja dentro da garantia."

Ela riu-se. E por graça pôs-lhe um colarinho novo sem cobrar nada.

Fomos ao outlet da Vianatece comprar linho para mais camisas, fez-se a encomenda e a prova, e um belo dia chegou-nos a Berlim um pacote com as camisas novas, e uma surpresa: colarinhos suplementares, para o caso de daqui a vinte anos se começar a notar a idade.

As camisas não ficam baratas, é certo. Mas se dividirmos o preço pelos anos de vida útil, o caso muda radicalmente de figura.

(Para quem mora entre Esposende e Viana do Castelo, e anda à procura de uma costureira de confiança: Carolina Pena Sampaio, em São Romão do Neiva.)

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A Christina gosta de comprar jeans Levi's, porque diz que têm o corte ideal para ela e são muito resistentes. Eu costumava protestar, por causa do preço, mas entretanto deixei-me disso. É que uma vez ela levou as suas Levi's a uma loja para serem consertadas, e deram-lhe umas novas, porque -segundo informaram - ainda estavam dentro da garantia. Recentemente, essas calças voltaram a romper no mesmo lugar, e ela voltou à loja. Disseram-lhe que aquele modelo tem esse problema (como se estivéssemos a falar de carros!), mas desta vez só lhe remendaram o rasgão. Gratuitamente.

Tal como as camisas de linho do exemplo anterior: as calças são caras, mas tendo em conta a durabilidade e o serviço, ficam bem mais baratas do que as compradas na feira.

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A OKAIDI, marca francesa de roupa de criança, oferece a possibilidade de revender na própria loja a roupa usada dessa marca quando deixou de servir. Os interessados levantam as etiquetas na loja, depois entregam a roupa etiquetada, e ao fim de um determinado período vão levantar o dinheiro e o que não se vendeu. Bem sei que é um bom truque de marketing, mas é também um risco que obriga a empresa a fazer roupa que tenha realmente boa qualidade, para não fazer má figura na revenda dentro da própria loja.

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Conheço muito boa gente que aproveita uma vinda a Berlim para ir comprar a sua roupa na loja da Humana da Adenauerplatz. Têm meios para comprar novo, mas preferem comprar usado para não esgotarem ainda mais o planeta. E, pelos vistos, Berlim é a cidade certa para comprar roupa usada: óptima qualidade, e roupa para todos os gostos.

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A avó do Joachim - que atravessou duas guerras, e por duas vezes perdeu tudo o que tinha, primeiro na hiperinflação e depois nos bombardeamentos - dizia: "não somos suficientemente ricos para desperdiçar o dinheiro em porcarias baratas".

A Greta Thunberg (que é como quem diz: os nossos filhos e os nossos netos) acrescentaria: "o nosso planeta não é suficientemente rico para se desperdiçar neste sistema de produção de porcarias baratas de usar meia dúzia de vezes e deitar fora."

E assim vai a vida, no que diz respeito aos nossos consumos de vestuário: tentando comprar apenas roupa de excelente qualidade, tanto nova como usada, e escolhendo modelos atemporais que continuarão a ser usados daqui a dez ou vinte ou quarenta anos. Por respeito pelo planeta, e em nome do futuro.


1 comentário:

Unknown disse...

boa Helena, tb uso a Humana, uma das várias que há no Porto. por razões de sustentabilidade mundial e pessoal, e tb porque, à parte a qualidade, como gosto pouco de fazer compras, compro muitas vezes mal, me dá alguma paz pensar que se depois afinal não gostar é só entregar de volta e o estrago foi mínimo.