18 novembro 2020

em tempo de covid, que não nos falhem os lagos






Na semana das eleições norte-americanas regressámos à nossa tradição de terminar o domingo em frente ao pôr-do-sol no Wannsee. Como estava um dia lindo de Outono, e passear nas florestas é um dos prazeres que a crise da covid-19 não impede, havia demasiadas pessoas no mesmo lugar.

Encontrámos um cantinho longe delas, junto ao estaleiro de um castor.

O sossego do lugar levou-nos para um universo inteiramente alheio à barulheira eleitoral, às birras presidenciais, ao ruído da maldade do mundo. Às vezes basta um marulhar doce para nos lavar a alma.


No domingo passado fomos visitar amigos na sua casa de fim-de-semana na Suécia, digamos assim, a cinquenta quilómetros de Berlim. Ficámos a maior parte do tempo junto ao lago, ou sentados no terraço, bem longe uns dos outros. Até que o frio nos obrigou a acabar a refeição dentro de casa, onde comemos depressa e discutimos qual seria a melhor tradução para "Stoßlüftung" (ventilação forçada? ventilação relâmpago? ventilação brusca? arejamento intenso intermitente?) - enquanto a praticávamos.


Ontem fui passear na floresta com a Christina e o Matthias. O Fox corria alegremente, misturado com a paisagem de Outono. As suas feridas na pele estão quase inteiramente fechadas (e as psicológicas, aparentemente, também). Cruzámo-nos com vários grupos de crianças de infantários. Improvisámos um piquenique de bolo e café num tronco caído junto ao lago Teufelsee.



O terreno estava todo revolvido pelos javalis (e quem me dera que os javalis viessem revolver a parte do jardim onde quero semear flores para o próximo verão! cambada de incompetentes preguiçosos, que não querem trabalhar na minha rua).




Ao nosso lado esquerdo, duas mulheres mais velhas que eu tomavam banho nuas. E ao nosso lado direito um homem mironava-as descaradamente. Pedi aos miúdos para ficarmos de pé lado a lado, entre os olhos dele e os corpos delas. Eu olhava frequentemente para o homem, devolvendo-lhe sem vergonha a sua falta de pudor, até que ele se foi embora com ar zangado. O Fox aproveitou o tempo para tentar abrir um túnel até à Austrália, mas teve de interromper quando ainda só ia a meio do caminho, porque o piquenique chegara ao fim.

(Depois regressei a casa, e descobri que temos framboesas e rosas lindíssimas no jardim. Estando Dezembro à porta. Não sei como reagir a estes factos.) (Vou ver se na Primavera arranjo de o Fox me vir escavar túneis até à Austrália no jardim cá de casa. Se não posso contar com os javalis...)



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