12 julho 2020

burocracia francesa

Em termos de burocracia, disseram-me que "a França é uma União Soviética que deu certo". Custa a crer, mas estou a viver há quatro meses e meio em Brest e ainda não consegui ser registada como utente do serviço de saúde. O Joachim - que está aqui a convite do Estado francês - conseguiu para ele algo mais ou menos provisório, mas para isso teve de accionar o topo da hierarquia da Universidade. 

(Veio a Brest em Novembro, quatro meses antes da mudança, resolver as questões burocráticas. Disseram-lhe que não se preocupasse, que quando cá chegássemos se tratava de tudo. Mais parece que vão começar a tratar de tudo depois de nós termos regressado a Berlim. O que é inteligente e altamente produtivo: não gastam energia nem recursos com problemas que se resolvem sozinhos, esperam simplesmente que o tempo faça o seu trabalho.)

(Nunca mais me digam que os alemães é que não sei quê! Que eu bem sei o que os alemães são capazes de fazer: como daquela vez que uma estudante búlgara, que estava a fazer um estágio no laboratório do Joachim, descobriu que tinha cancro. Em menos de dois dias o Joachim conseguiu arranjar-lhe um pequeno contrato de trabalho, inscreveu-a no sistema alemão, e ela começou imediatamente a ser tratada.)

Uma pessoa habitua-se a tudo, não é assim?, e eu já me habituei à ideia de estar aqui com uma rede bastante lassa. E a lentidão da burocracia francesa continua a fazer tranquilamente o seu caminho. Há duas semanas informaram o Joachim que em Setembro começariam a tratar do processo para a execução de dois dos projectos que ele queria realizar com a equipa de Brest. "Mas em Setembro já estou a fazer as malas para regressar a Berlim!", respondeu-lhes. Encolheram os ombros. O sistema é assim. 

Em menos de 24 horas, e com três telefonemas, o estudo passou de Brest para Sófia. O dinheiro (muito) que estava previsto para uma universidade francesa vai agora para a Bulgária. Em Setembro, quando a burocracia francesa começar a pensar em eventualmente tratar da possibilidade de dar início ao processo, provavelmente já os resultados estarão publicados em alguma revista da especialidade. Em termos de União Europeia, fica tudo em família. Mas a inércia da burocracia francesa que tenho observado nestes meses faz temer um futuro menos fácil para este país: a concorrência não dorme. 

Esta madrugada o Joachim partiu para Sófia, onde vai ficar pelo menos duas semanas. Fez, como de costume, o café do pequeno-almoço. Eu preferi não tomar nada, porque depois de o levar ao aeroporto tencionava retomar o sono interrompido. Acordei já ele estava a sair de Paris, e agora estou a beber o café que ele fez. Até fins de Julho não tenho quem me faça o pequeno-almoço, e é triste.
Raixparta a burocracia francesa!


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