Em Setembro de 2018, em férias na Serra da Arrábida, uma verdade que sabia há muito encontrou finalmente as palavras certas para se afirmar em mim com toda a nitidez:
No nosso planeta, a extinção de espécies é um fenómeno quotidiano - e para a Natureza os seres humanos são apenas mais uma espécie. A Natureza subtrai e segue, impassível.
Perante a constatação, desenhou-se também com nitidez um sobressalto: sem nós, que vai ser do Goethe?
(Antes que se lembrem de me tirar a nacionalidade portuguesa, em meu favor argumento que Goethe é um gigante que ainda não consegui alcançar, e a sua conquista é um daqueles projectos que guardo para realizar quando for grande. Talvez por isso tenha sido o seu o primeiro nome a ocorrer-me ao tomar consciência da nossa transitoriedade como espécie.)
Em tempos de covid, a vulnerabilidade do homo sapiens é bastante palpável. Mas em 2018 o que realmente me assustava - e continua a assustar bem mais do que este vírus - é o que estamos a fazer ao planeta, e o preço que os nossos filhos vão pagar pela irresponsabilidade generalizada.
Ao longo dos séculos temos progredido como - para usar a famosa metáfora - anões sobre os ombros de gigantes. O inverso também é válido: os gigantes precisam dos nossos ombros para serem levados às gerações seguintes. Se cairmos, caem connosco.
O egoísmo e a cobiça dos privilegiados - indivíduos, grupos, países - que estão a conduzir o equilíbrio planetário para pontos de descarrilamento irreparável, constituem uma dupla traição: aos que vêm depois de nós, e vão receber das nossas mãos a herança de um planeta profundamente doente, e aos gigantes que nos trouxeram até aqui - esses que deram o seu melhor para oferecer aos vindouros um mundo mais justo, mais solidário, mais pacífico e mais humano.
2 comentários:
Se me é permitido faço minhas as palavras escritas da Helena Araújo. Tocou num ponto sensível. O homem, na sua ânsia de poder, está a destruir o mundo e, consequentemente, a destruir-se a si mesmo.
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Feliz inicio de semana
Proteja-se.
Não gosto dessa classificação entre gigantes e anões, cada um deve tentar ser o melhor que conseguir. Todas as gerações têm pessoas que se destacam mas o ADN varia muito pouco em intervalos de tempo históricos.
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