14 abril 2020

proposta da Academia Alemã das Ciências para o regresso à normalidade

Alguns especialistas da Nationalakademie Leopoldina (a academia nacional das ciências da Alemanha) juntaram-se para oferecer ao governo alemão um conjunto de recomendações para o regresso à normalidade. Sintetizo e traduzo partes do artigo do Spiegel que revela o conteúdo do documento:

Os investigadores da Leopoldina apresentam um plano concreto

A Nationalakademie Leopoldina recomenda que o regresso à escola ocorra em breve. Segundo o documento em poder do Spiegel, as lojas e os serviços públicos também devem reabrir a pouco e pouco, e as viagens devem ser autorizadas - mas sob determinadas condições.

Artigo de Von Gerald Traufetter, publicado a 13.04.2020, 12:11

Numa conferência de imprensa na quinta-feira passada, Angela Merkel informou que conta com o trabalho da Academia Nacional das Ciências como "numa base sólida" para as decisões que têm de ser tomadas. Só isso permitirá a suspensão das limitações drásticas actuais à vida pública.

O documento de 19 páginas combina as questões médicas, económicas, constitucionais e psicológicas, e dá recomendações precisas de acção. É necessário "desenvolver critérios e estratégias para um regresso gradual à normalidade após as enormes restrições dos direitos mais básicos, como a liberdade de circulação".

Este é o resultado do trabalho de 26 cientistas reunidos por vídeo-conferência. Entre estes, encontram-se Lars Feld (presidente do grupo "Sábios da Economia"), Claudia Wiesemann (Ética), Reinhard Merkel (Filosofia do Direito), Armin Nassehi (Sociólogo). O presidente da Academia, Gerald Haug, disse ao Spiegel: ""No acalorado debate político, queríamos adoptar uma atitude calma e ponderada, oferecendo aos cidadãos uma perspectiva optimista".

A prioridade máxima é a protecção de cada pessoa contra a infecção pelo coronavírus. "Temos de evitar a todo o custo uma segunda vaga de infecções", disse Haug. "A regra básica deve continuar a ser a de observar a distância mínima e as medidas de higiene que já todos conhecem". No entanto, poder-se-ia aliviar algumas das medidas em curso, desde que se cumpra a regra: dois metros de distância e, se tal não for possível, usar máscaras de protecção.

Segundo os académicos, "a optimização dos cuidados de saúde e a rápida retoma da vida social, que actualmente se encontra em grande parte paralisada, não estão, em princípio, em tensão uma contra a outra, antes dependem uma da outra". Mesmo sem base científica sólida, as medidas drásticas tomadas no contexto de forte agitação do início da pandemia foram justificadas. Mas agora é necessário melhorar drasticamente. Recorrendo a amostras adequadas, é necessário investigar o estado de infecção e imunidade da população (ou seja: quantas pessoas estão infectadas e quantas já recuperaram) de modo a poder fazer previsões para um horizonte de uma a duas semanas. Só desse modo é possível avaliar, no caso de abrandamento da imposição de isolamento físico das pessoas, como é que os valores das infecções estão a evoluir e se é necessário reajustar as regras. Nas entrelinhas lê-se uma crítica ao facto de estes números actualmente não estarem disponíveis na internet a nível nacional.

Por esse motivo, os académicos também apelam para a utilização de apps para smartphones, à semelhança do que foi feito na Coreia do Sul: dados GPS fornecidos voluntariamente, em combinação com o rastreio de contactos - ou seja, o intercâmbio entre smartphones utilizando a tecnologia Bluetooth. Isso facilitaria a identificação das pessoas que estiveram em contacto com alguém recentemente infectado, para poderem ficar em quarentena. 

O presidente da Academia Alemã das Ciências está consciente da problemática ligada ao arquivo de dados de GPS dos cidadãos. "Por esse motivo, o uso dos apps deve ser voluntário, e os dados têm de ser apagados ao fim de quatro semanas". Os cidadãos devem ser sensibilizados para a razoabilidade da app, pois esta é a única forma de a aceitarem e ficarem motivados. Esta app é crucial para assegurar uma previsão diferenciada do curso da pandemia. A pedido do governo alemão, as empresas de software já estão a preparar uma app adequada.

Partindo do princípio de que isso será posto em prática, os académicos recomendam um regresso à normalidade o mais rapidamente possível, e identificam três áreas principais: educação, vida pública e política económica futura.

As escolas devem ser abertas o mais rapidamente possível para evitar que o ensino em casa agrave ainda mais as desigualdades sociais no acesso à formação, já de si muito grandes. Uma vez que isto se aplica sobretudo às escolas primárias, estas devem ser as primeiras a abrir, começando pelos anos mais próximos da transição para o ensino secundário. Os alunos devem usar máscaras de protecção da boca e do nariz, devem começar por ter aulas apenas de alemão e matemática, trabalhar em grupos de, no máximo, 15 crianças, e gozar o recreio em momentos diferentes das outras turmas.

3 comentários:

Unknown disse...

Um artigo muito interessante. Obrigado Helena

Jose Fortuna disse...

Depois de ler com atençao as sugestoes feitas neste Blog sugiro que o Governo Portugues tire algumas conclusoes sobre estas sugestoes e que tome as medidas necessarias para que o Pais comece a voltar a normalidade e sempre com as medidas de restriçoes necessarias para que nao tenhamos que assistir uma uma segunda vaga.
Acho muito importante estas medidas que foram sugeridas pela Academia Alemã das Ciencias. A Alemanha tem sido em minha opiniao o Pais que melhor soube gerir esta crise em tempo de Covid 19 . Em minha opiniao acho que todos deviamos seguir estes exemplos.

Helena Araújo disse...

Não é assim tão simples. Este documento suscitou críticas enormes, nomeadamente por parte do sector da Educação. Vou tentar traduzir hoje uma notícia sobre isso.