O dia começou com - oh, surpresa! - chuva.
A caminho do hospital onde o Joachim trabalha passámos por uma torre com um conjunto de colunas a lembrar o jogo Mikado, que servem apenas para esconder as escadas de incêndio. Para quem vem da Alemanha, esta alegre concessão à leveza é refrescante.
Tomámos um café no bar em frente do hospital, e comemos os croissants que comprei na padaria ao lado - o dono do bar não se importou.
Perguntei-lhe onde podemos procurar um apartamento mobilado. Depois de pensar muito, sugeriu-me Le Bon Coin. Ora, tendo em conta que Le Bon Coin é o site mais óbvio, pergunto-me porque será que ele levou tanto tempo a responder. Será que esteve a decidir se me contava algo que eu não sei - e decidiu não contar?
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Em vez de regressar imediatamente à residência, saí sem mapa em busca do mar.
Na rádio France Culture falavam de mulheres apagadas da História: a Elisabete da Boémia que se correspondia com Descartes, descrita à época como mulher de enorme cultura e muito bela (sempre o corpo da mulher), a Alice Guy que fez o primeiro filme de ficção da história do cinema mas permaneceu desconhecida durante um século. No início, o cinema era visto como uma espécie de hobby, algo sem importância. O que permitiu que as mulheres e os judeus pudessem fazer experiências sem serem imediatamente arredados pelos detentores do poder.
Eu a ouvir e a pensar que podia passar o resto da vida assim: a caminho do mar ao som de conversas cultas. Esta rádio fascina-me.
Fiz planos para o futuro: um dia, caso dê comigo entrevadinha numa cama, hei-de apanhar boleia da France Culture para me levar a passear pelo mundo enquanto espero que me venham mudar as fraldas.
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Ao volante de um carro de matrícula alemã, a imagem da Alemanha em Brest depende do meu comportamento como condutora: "malditos alemães, sempre com manias!" ou "oh, mas que simpáticos, os alemães"?
Tanto poder!
(Escolhi ser simpática. Depois, quando for finalmente pedir a nacionalidade alemã, peço que me façam um desconto de amigo.)
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Sem espaço suficiente para arrumar tudo o que trouxemos, optámos por deixar a roupa nas malas. Passei a primeira manhã a mariekondar a minha mala maior, e estou muito satisfeita com o resultado.
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O Joachim marcou-me encontro no bar onde tínhamos tomado o pequeno-almoço, e quando entrei o dono perguntou-me se já tinha encontrado casa. Disse que não, e sorri para mim própria: há menos de 24 horas nesta cidade, e já começámos a entrelaçar-nos com gentes da terra.
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E de repente caiu a ficha: estes dois são meus vizinhos!
Quimper, a bem dizer: aqui ao lado.
1 comentário:
Maravilha.
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