07 dezembro 2018

Kant e a czarina Isabel (ou: o regresso de Wladimir Kaminer a este blogue)

Traduzo do blogue de Wladimir Kaminer:

Agora é oficial, o aeroporto de Kaliningrado não vai ter o nome de Immanuel Kant. O filósofo perdeu o referendo popular a favor da czarina Isabel. Tradicionalmente, os aeroportos russos tomavam o nome da respectiva aldeia destruída para lhes dar lugar. Noutros países, os aeroportos recebem o nome dos presidentes e políticos mais importantes. Na Rússia, há vinte anos que só têm um presidente e político importante. Todos os seus antecessores foram desacreditados pelos media, e não estão previstos novos presidentes. Seguindo aquela lógica, todos os aeroportos russos deviam ter o nome de Putin, o que poderia dar origem a algum caos na aviação. Por esse motivo, as autoridades decidiram consultar o povo sobre o nome a dar ao aeroporto. O referendo resultou em acesa discussão. No caso particular de Kaliningrado o debate foi ao rubro a favor e contra Kant. O seu túmulo foi profanado, e atiraram sacos de tinta aos seus bustos. Membros do Parlamento e militares de alta patente foram à televisão dizer horrores do filósofo. O comandante da frota do Báltico, um almirante, viu em Kant um traidor: nem sequer um verdadeiro russo, antes um insidioso alemão que escrevia livros incompreensíveis que ninguém leu, afirmava o almirante. Antigamente, na União Soviética, Kant estava solidamente embutido na ideologia nacional, era tido como precursor do materialismo dialéctico. A União Soviética foi um fruto tardio do Iluminismo europeu, nome criado pelos filósofos alemães, Marx usou Kant como modelo para a sua ideologia, que na União Soviética era considerada "ciência". Impossível imaginar um almirante soviético a dizer mal de Kant.
No fim, Kant ficou atrás da czarina Isabel, a filha de Pedro o Grande, a mãe dela era de Mecklenburg.

2 comentários:

Abraham Chevrolet disse...

Nunca percebi o seu entranhado amor pela Rússia. Verdade seja que foi ela que derrotou o tio Adolfo,mais quand même...
Os aparentes amuos com os ex-súbditos dos Czares (não será Putin um Czar ?),caso do desastrado Almirante em terra firme que cita,mais não são que a vontade de união com seres perfeitos de países perfeitos!
Desça à Terra ! Passam-se cá bons bocados !

Helena Araújo disse...

O meu "entranhado amor pela Rússia"?!
Tem a certeza que está a falar de mim?