30 outubro 2018

"fake news"

Ontem, o tema na Enciclopédia Ilustrada era Fake News.

Alguém lembrou o tempo em que as #fake_news vinham por e-mail, e eu pensei logo em 2003, quando uma conhecida minha, ultraconservadora dos EUA, desatou a mandar-me mensagens a afirmar que era o Saddam Hussein quem estava por trás do 11 de Setembro. Bush aquecia os motores para a guerra do Iraque, e o pessoal enviava mensagens a tudo o que mexia dizendo "lembrem-se das pessoas a cair das torres do WTC! Lembrem-se daquele casal que caiu de mãos dadas!"

Na altura aproveitava a falta de cuidado deles, que enviavam essas mensagens com os endereços de e-mail todos visíveis, e fazia um "responder a todos" mostrando porque é que estavam enganados e apelando a algum bom senso. Pelo que os eles aperfeiçoaram a técnica, e trataram de enviar as fake news de modo a evitar a hipótese de qualquer contraditório.

Moral da história: de certo modo, a culpa de isto se ter deslocado para o WhatsApp é minha...

Agora, mais a sério: pensávamos que as redes sociais seriam o espaço por excelência da polis grega, mas rapidamente se tornaram uma latrina romana, e agora estão a ficar uma sala de chute: descarregam o veneno customizado directamente para a veia de cada um dos toxicodependentes agradecidos.

Para terminar, e a propósito destes "toxicodependentes agradecidos por estarem a receber a droga que querem", recomento muito a leitura deste artigo do El Pais: A Longa História das Notícias Falsas



1 comentário:

jj.amarante disse...

Os americanos estão decadentes mas ainda são a superpotência, de vez em quando aparce uma palavra nova como "fake news" e toda a gente a começa a usar como se não existissem, por exemplo, os boatos. Quando estive na tropa em Mafra em 1972 era curioso constatar como naquela comunidade de cadetes fervilhavam os boatos sobre coisas importantes, como por exemplo, se iria haver instrução nocturna e teríamos que ficar todos no quartel para o jantar ou se poderíamos fugir à comida da cantina e eventualmente dar uma escapadela proibida até Lisboa. Parecia que as pessoas tinham um interesse, mesmo que desinteressado, em mostrar a capacidade de enganar os outros.
Em conversa de café eu diria que a mentira é um dos preços que temos de pagar por sermos capazes de imaginar situações diferentes das que existem.