01 maio 2018

primeiro de Maio: de Kreuzberg para Grunewald (5)



O que eu vi correu (quase) muito bem. Na parte em que caminhei com eles também correu bem. A polícia contava com 200 manifestantes, e apareceram alguns milhares (terão sido entre três mil e cinco mil). Não havia black block e não incendiaram carros. Mas li notícias de que partiram vidos e danificaram 39 carros com tinta. Algumas câmaras das campainhas foram cobertas com tinta ou autocolantes.

Na própria página de facebook do evento alguém publicou esta foto, criticando a polícia por não intervir:


Do mesmo jornal de onde tirei a foto acima tirei também esta, do início da demonstração:

O cartaz dentro de uma moldura cor-de-rosa diz:
Fazer fogueiras de acampamento com as cercas!
Moradores de Grunewald: Tear down these walls!

Assisti à marcha em dois lugares diferentes, e foi isto que vi:

 Camião (onde se lê, sobre a cabine do condutor: "Expropriação - porque não?") parado, a recolher a plataforma rebatível, para não correr o risco de estragar o BMW descapotável.




 
 
 Ah, berlinenses! A bandeira que se vê - mal - no meio da foto tem um punho erguido, 
                                                      com o dedo do meio estendido...




É estranho ver polícias com esta farda a fechar o cortejo, junto aos carrinhos de crianças.


 O trânsito impedido de avançar, pacientemente à espera.





Câmaras danificadas, e autocolantes nas campainhas.
 Esta miúda estava ostensivamente sentada à janela a olhar para o telemóvel, fazendo de conta que não havia ninguém na rua. Numa rua anterior, um casal já de certa idade estava à varanda a acenar simpaticamente a quem passava. Convém acrescentar que o apartamento do casal era bem mais modesto que esta casa. 
 
A polícia protegeu a entrada de um hotel instalado num palacete. Lá dentro, os empregados deram um ou dois adeuzinhos aos manifestantes. Entre os polícias, um miúdo com protectores nos ouvidos olhava com interesse para o jardim. E por cima dele o pessoal agitava as suas câmaras de filmar de cartão, como faziam sempre que viam uma câmara numa casa. 



Vi um manifestante que mostrava um cartaz onde se lia "estou à procura de um quarto". Quase lhe ofereci o pequeno apartamento que vagou hoje na nossa casa. Durante um mês podia viver lá. Ia ter graça o homem mudar-se para o "bairro problemático" contra o qual estava a protestar...

Noutras partes de Berlim as coisas correram um bocado pior. Houve uma manifestação da AfD e respectiva contramanifestação. A polícia prendeu alguns contramanifestantes. Houve alguma agitação de um Black Block com cerca de 300 pessoas, que a polícia dominou rapidamente. E houve também um grupo BDS contra Israel (boicote, desinvestimento, sanções) que se juntou à manifestação no centro da cidade. Na Alemanha, BDS a Israel é uma questão extremamente sensível, porque lembra imediatamente a frase com que o Holocausto começou a dar passos seguros: "não compres aos judeus".

A polícia berlinense, que hoje tinha 5400 agentes na rua, parece bastante satisfeita com o dia. Comparado com outros primeiros de Maio, foi um dia bastante calmo.


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