(em tradução do Speedy Gonzalez, como de costume)
Para os políticos, algumas perguntas dos jornalistas podem ser incomodativas e enervantes. Como é óbvio, é desagradável ser confrontado com críticas e com pontos fracos ou contradições na estratégia política ou nas promessas eleitorais. Mas, em Democracia, uma das regras do jogo é disponibilizar-se para as perguntas directas e o debate público.
O futuro presidente Donald Trump parece não ter muita vontade de o fazer. Desde a sua eleição não deu uma única conferência de imprensa - a primeira terá lugar na próxima semana. O anúncio foi feito por ele no Twitter, o seu meio de comunicação favorito: comentários breves e pobremente articulados, que não implicam nem aprofundamento nem reacção às questões que suscitam. Ideal para o ataque instantâneo. Assim, deu a saber via Twitter o que pensa sobre os serviços secretos dos EUA.
Ines Trams sobre a política de Twitter do president elected:
[Reportagem]
Brilhante recepção na passagem de ano: a mais recente aparição de Donald Trump em público. Desde então não voltou a ser visto. No entanto, está muito presente. O futuro presidente já governa a partir da Trump Tower, com a ajuda do Twitter, a sua ferramenta de eleição. Muito útil para Trump: tem o controlo e pode contornar a imprensa que odeia.
Hadas Gold, jornalista do Politico (USA): Ele quer mostrar que está no comando. Sem a ajuda dos seus assistentes para a imprensa, fala directamente para as pessoas, para os deputados. Para ele, este é o meio mais eficiente de tornar públicas as suas mensagens.
[Imagens da Câmara dos Representantes] Política via Twitter. O exemplo mais recente: ontem, quando os deputados republicanos tentaram reduzir o poder da Comissão de Ética, Trump travou os seus colegas de partido:
........may be, their number one act and priority. Focus on tax reform, healthcare and so many other things of far greater importance! #DTS— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 3. Januar 2017
Esse tweet, a par do protesto público, mostrou-se eficaz: os deputados recuaram.
Os dois partidos mostram apreensão quanto ao futuro quer da política de bastidores em confidencialidade, quer da exactidão das análises.
Chuck Schumer, futuro chefe dos Democratas no Senado: Com todo o respeito, a América não pode arcar com uma presidência por Twitter. As questões são complexas, exigem pensamentos e acções cuidadosos, não nos podemos desembaraçar delas por Twitter.
Contudo, fragmentos de informação em vez de artigos de fundo é o que melhor corresponde a Donald Trump. Meias verdades em 140 caracteres.
Também pressiona empresas via Twitter - sem se preocupar com as consequências na Bolsa. A Boeing foi ameaçada com o cancelamento da encomenda do novo Air Force One após o chefe da empresa ter formulado uma crítica a Trump.
Boeing is building a brand new 747 Air Force One for future presidents, but costs are out of control, more than $4 billion. Cancel order!— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 6. Dezember 2016
Ford também levou a Ford ao pelourinho do Twitter, fazendo ameaças caso a Ford decidisse investir fora do país. E um elogio, agora que a Ford tornou pública a decisão de permanecer nos EUA.
Thank you to Ford for scrapping a new plant in Mexico and creating 700 new jobs in the U.S. This is just the beginning - much more to follow— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 4. Januar 2017
Hadas Gold, jornalista do Politico (USA): Perante a hipótese de um investimento no estrangeiro, agora as firmas perguntam-se "será que isto provoca desemprego nos EUA?" Os empresários passaram a definir a sua estratégia em função de não serem criticados no Twitter do Trump. O que nem sempre é inteligente - para a empresa, e para a economia em geral.
Trump também apareceu esta semana no palco internacional via Twitter. Voltou a fazer ameaças a políticos poderosos e perigosos, sem medir as consequências.
North Korea just stated that it is in the final stages of developing a nuclear weapon capable of reaching parts of the U.S. It won't happen!— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 2. Januar 2017
[19:36, imagens de uma conferência de imprensa e de uma jornalista a discutir com Trump] A última conferência de imprensa que deu foi em fins de Julho do ano passado. O que não surpreende, porque foi muito tumultuosa. Ao contrário do Twitter, os jornalistas não se deram por satisfeitos com respostas curtas.
2 comentários:
À semelhança do Passos Coelho no Teatro Politeama (com o La Feria) e do próprio Adolfinho na Escola de Belas-Artes vienense, este escrevinhador de frases curtas e grossas parece mesmo ter sido recusado, pelo American Transportation Institute, como... TAXISTA!
Em Portugal, um homem desta craveira ímpar facilmente atingiria o topo da carreira, na praça de táxis das Chegadas do Aeroporto de Lisboa...
hahahaha
(Bom ano novo, ó Conde!)
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