22 dezembro 2016

aos terroristas de Berlim



Tradução:
(nota: o Rayk Anders estava furioso, e usou calão a torto e a direito. Eu traduzi o melhor que pude.)

Há menos de 24 horas aqui em Berlim, na Breitscheidplatz atrás de mim, uma pessoa entrou com um camião no mercado de Natal e, até agora - são 19:18 da terça-feira, 20 de Dezembro - contam-se 12 vítimas mortais. Também neste preciso momento o criminoso está a monte, e provavelmente anda armado. Tanto quanto eu percebo, e de acordo com as informações da polícia, esse criminoso, o homem que estava sentado ao volante, tanto pode estar a caminho de um país estrangeiro como pode estar a passar atrás de mim. Ninguém sabe. Ninguém sabe se essa pessoa é alta ou baixa, velha ou nova, se vem do Afeganistão ou do Paquistão ou da merda do Pólo Norte. Ninguém sabe.

Mas, ó pedaço de merda cobarde que estavas sentado ao volante, independentemente de onde vens e de onde estás agora: escolheste mal a cidade. Sorry! Berlim tem duas guerras mundiais nos ossos. Ainda hoje encontras em qualquer lar de terceira idade em Berlim alguém que te vai contar como os cadáveres estavam empilhados, e como esta cidade foi arrasada. A seguir foi dividida e separada por um corredor de morte com uns cabrões de uns atiradores de elite. Em Berlim, não consegues andar mais de 100 metros sem passar por um memorial contra a guerra, a perseguição e a morte. Ou seja: esta cidade sabe o que é o inferno.    
E agora vens tu, com o caralho do teu camião, aqui, a Berlim, assim, e pensas que consegues desestabilizar as pessoas? Os berlinenses?! Posso dizer-te o que se vai passar, posso dizer-to com exactidão: vamos cuidar dos feridos, vamos enterrar os mortos, e não vamos esquecer nunca. E depois vamos continuar. Os mercados de Natal estiveram fechados por um dia. Um dia. E não foi por medo. Foi por respeito. Em memória das vítimas. Os berlinenses são capazes de aguentar isto, e mais: cagam em ti. Em ti, a pessoa que ia ao volante, e nos possíveis cúmplices ou em qualquer outro que possa vir.

E este mercado de Natal aqui: pareceu-te o alvo perfeito, não foi? No coração de Berlim, junto à mundialmente famosa Igreja da Memória do Kaiser Wilhelm. Mas, será que olhaste bem, ó pedaço de merda? Viste que a torre da igreja está quebrada, viste que as paredes estão danificadas? Não é por acaso. Ó génio, foste atacar justamente o mercado de Natal que fica ao lado de um dos mais extraordinários monumentos de apelo à Paz. Não apenas para Berlim, mas para toda a Alemanha. E esta igreja vai estar em todas as imagens que darão a volta ao mundo, lembrando a todos que esta cidade já passou por situações bem piores, já passou por coisas horrorosas, e as pessoas ergueram-se de novo. Já passaram por muito pior, e continuaram a sua vida. É disso que as pessoas se vão lembrar. E é assim que vai ser. Os berlinenses serão livres. Irão rir, irão chorar, irão a festas, irão fazer o seu luto, mas serão livres. Talvez lhes roubes a boa disposição, talvez lhes estragues a leveza da atmosfera natalícia, talvez lhes possas até arrancar uma pessoa boa. Talvez possas fazer isso. Mas nunca lhes roubarás a liberdade.
Berlim é a cidade da liberdade. É o epítome da liberdade. O teu ataque cobarde não a mudou em nada.

[ADENDA: para quem fala alemão, recomendo muito a visita aos comentários deste vídeo. Muito informativo. Para quem não fala alemão: organizem aí um crowdfunding, e eu traduzo. :) ]


3 comentários:

ematejoca disse...

Todos os terroristas de Berlim deviam ver e ouvir esta fantástica homenagem à nossa Capital, a bela, tolerante cidade de Berlim.


ematejoca disse...

Publiquei o vídeo aqui: http://ematejoca.blogspot.de/2016/12/an-den-terroristen-von-berlin.html

Caso fique zangada com o meu atrevimento, é só dizer.

Helena Araújo disse...

Ora essa!
O vídeo é de todos.
:)