(fonte)
A propósito do post em que contava a cena de enorme violência de Hamelin, alguém perguntava sobre a nacionalidade do atacante. Confesso que também tive essa curiosidade - o eterno "nós" e "eles". Tanto o atacante como a vítima tinham nacionalidade alemã e eram de famílias curdas. Antes de começar a arrumar o caso na gaveta do "ah, curdos, claro, não é de admirar", deixem-me contar daquele alemão de família alemã que matou a mãe do seu filho e tatuou no seu braço a data do nascimento e da morte dela, com a frase "obrigado por tudo". Antes de começar a arrumar o caso na gaveta do "ah, alemães, claro, não é de admirar" deixem-me lembrar a história do Palito, ou a das 43 mulheres vítimas mortais de violência doméstica em Portugal em 2014.
Voltando aos curdos desta cena, e às pessoas que assistiram a tudo das suas janelas, sem fazer nada: admito que essa passividade se tenha devido justamente ao facto de ser uma cena entre curdos, uma dessas coisas lá entre "eles". "Eles" que se amanhem...
Passo de novo a palavra à minha filha, que tem isto muito mais claro que eu:
Violência não tem uma religião, violência não tem cor e não tem uma nacionalidade. Não sei que nacionalidade tinha o homem de ontem, mas não vou procurar na minha memória porque não muda nada. Eu sei que faz muito medo confrontar atacantes mas, para dizer a verdade, tenho muito mais medo quando estou sozinha na rua do que quando ajudo outra pessoa. Por um lado: já somos duas pessoas! Por outro lado: às vezes é suficiente uma pessoa ouvir "tu estás a fazer mal, eu estou a ver e não vou permitir que continues a fazer isso!" para essa pessoa parar. O que é mais importante para mim numa situação destas é dizer à vítima: estou a ver e não te deixo sozinho/a.
Acho triste que as pessoas pensem logo que a violência é questão de nacionalidade e etnia. Isso é muito mais fácil que reconhecer que há bem e mal em todas as pessoas e todas as nacionalidades. Isso é racismo (é triste ter de dizer assim, mas é a verdade).
1 comentário:
É bem verdade.
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