29 fevereiro 2016

Berlinale 2016 - dia 6




Pequeno-almoço no instituto Ibero-Americano. Por aquelas empanadas de queso estava capaz de rever a minha posição sobre Aljubarrota.
Seguiu-se a sessão de apresentação da Pantalla CACI, uma nova plataforma que disponibiliza cinema da América Latina, da Espanha e de Portugal para instituições de formação, educação e cultura na América Latina.
Tem como objectivo:
- dar visibilidade ao cinema desta área geográfica e cultural, tirando os filmes do limbo em que desaparecem entre os festivais e os circuitos comerciais;
- romper o bloqueio à circulação das películas;
- educar e formar o público do cinema.
No debate falou-se das novas plataformas de distribuição, como o video on demand, e da importância de ter atenção às novas ondas tecnológicas, de modo a resistir também aí à hegemonia do cinema comercial.
A questão da universalidade e da diferença no cinema também foi focada. O cinema latino-americano parece preso às expectativas do público, que parte do princípio que deve ser um cinema diferente, obedecer a certos estereótipos. Mas será que há cinema universal? Cada país tem as suas diferenças culturais, humor e story telling diferentes.
Um outro tema importante foi a questão do público. O público dos festivais reage de modo diferente do público dos circuitos comerciais. Nunca se sabe qual será a reacção a um filme. Mesmo assim, é fundamental pensar desde o início nas estratégias de colocação junto do público, disseram eles. E deram números: na Alemanha, 99% dos filmes no circuito comercial são norte-americanos ou europeus. Anualmente, só chegam aos cinemas alemães uns 5 filmes falados em espanhol.

Fui ver o Havarie - o filme que menos me agradou nesta Berlinale. Depois fui a casa, adiantar o jantar e tratar do Fox. Por essa altura já estava a desejar que a Berlinale fosse bem longe do sítio onde moro, e eu fosse obrigada a escolher entre uma coisa e outra. É muito complicado tentar ver cinco filmes por dia, e ainda ir a casa para passear o Fox e tratar da vidinha.
Ao sair para o ensaio do coro vi passar a comitiva do Netanyahu. Vai pela sombra, pensei, ainda zangada. Ao chegar ao Zoo vi que ninguém tinha avisado os polícias. A zona continuava toda fechada ao trânsito e aos peões.

À noite fui à festa no Instituto Cervantes. Pisco sour, maravilha. Música, maravilha.
Sou novata nestas coisas da Berlinale, não percebi aqueles olhares muito atentos e directos. Provavelmente estariam a tentar decidir se tenho cara de produtora ou de distribuidora, que estas festas é só networking, andam todos ao mesmo. Todos, excepto eu, que ainda estou a tentar perceber se nas coisas da cultura nos podemos dar bem com a Espanha ou quê, e por precaução optei por concentrar-me no pisco sour. Em vez de aceitar conversa, sentei-me a apreciar as cenas. Ao fim da (minha) noite chegou um grupo diferente - calculo que seriam os actores de um dos filmes a concurso. Muito pinocas e senhores de si, excepto uma miúda com uma minissaia que mal lhe chegava às pernas, uns saltos altos vertiginosos, um cabelo muito produzido, e um ar de equilíbrio precário dentro e fora de si. Vi um lado devorador do cinema, e não era bonito.


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