29 fevereiro 2016

Berlinale 2016 - dia 7







Quarta-feira. Atravessar o Tiergarten à hora do nascer do sol. O lago gelado, a luz fria, o parque vivo de pessoas de bicicleta ou a fazer jogging. 
De novo a fila dos bilhetes, e o primeiro filme do dia: Zero Days. Um documentário assustador.

Sabia que o ambiente no Martin-Gropius-Bau, onde decorre o European Film Market, estava um pouco mais relaxado, e também que era a minha última oportunidade para lá ir, porque a maior parte dos participantes começa a ir-se embora na quinta-feira. Fui espreitar. Na associação de documentaristas alemães pedi um livro que eles têm, com a lista de distribuidores por tipo de documentário - mas já estava esgotado há muito. A jovem ao balcão foi muito simpática, deu-me o caderno dos documentários alemães deste ano, do qual constam os distribuidores, para eu me orientar. e também me contou sobre o filme que ela própria fez, que teve mais de 4000 bilhetes nas salas (nada mau, para um documentário), e já está vendido em várias áreas do mundo. Como é que conseguiu?, perguntei. Tem uma carteira de 20.000 contactos. Agora, 20.001.

Segui caminho, e parei um pouco à frente, indecisa, a pensar se lhe levava um cappuccino ao balcão, só por ter sido tão simpática. Logo a seguir, tocaram-me nas costas: era ela, que tinha encontrado um último exemplar do livro que eu queria no fundo de uma caixa, e me trazia também um catálogo de todos os expositores no EFM. E ainda dizem que o pessoal de Berlim é antipático!

Tinha combinado encontro com um conhecido do facebook, que trouxe um filme português a Berlim. Fui ter com ele ao café onde estava, procurando um simpático moço de barba, como na sua foto no facebook. Lá estava ele, sentado a uma mesa. Abordei-o, muito simpática, e ele ficou a olhar para mim com cara de "oh, que pena não ser eu...". Fiz a mesma cena duas mesas adiante. Até que descobri o meu amigo facebookiano - não tinha barba.
Fica aqui a história como metáfora e aviso: pensamos nós que conhecemos os nossos amigos no facebook, e acabamos a envergonhar-nos em público e repetidamente.

À noite fui com toda a família ver o filme do Michael Moore. A minha noite mais memorável nesta Berlinale: nós os quatro em linha, a rir ao mesmo tempo em perfeita sintonia.

Quando a equipa entrou na sala, pensei que o Michael Moore estava muito mudado. E não era para menos, porque não era ele, era o Carl Deal, um dos produtores. O Michael Moore estava retido em casa, com uma pneumonia. Dirigiu-se ao público berlinense por vídeo, e deixou-nos todos comovidos. Agradeceu o modo como a Alemanha está a receber os refugiados, quando bem podia assobiar para o lado e dizer "quem fez a asneira resolva agora o problema!". E revelou que tinha tido um momento de epifania na Alemanha, durante as filmagens. Finalmente alguém que me compreende (vejam o filme, e também vão compreender).




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