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Hilda Hist (1930-2004)
Li, nos aviões da semana passada, o volume organizado pelo meu amigo Alcir Pécora, sobre as poesias de Hilda Hist. (Exercícios, ed da Folha de São Paulo) Termino o volume com uma sensação estranha: amei cada linha, achei a linguagem (ou metalinguagem) fascinante; admirei esta mulher e... creio que não entendi nada. Entendi as metáforas, as metonímias; entendi tudo o que ela escreve, mas não sei se entendi Hilda. No poema abaixo, por exemplo, estamos diante da relação do eu terreno com o outro divino e Deus como metáfora do além e da ousadia. Consciência imanente versus consciência de epifania? Seria o poema um diálogo do ego dela com o superego? Acho muito denso, muito bonito e muito poético... Porém, acho que estou inventando uma Hilda para mim... Será a verdadeira Hilda? A senhora genial do Casa do Sol perto de Campinas: sexuada, culta e cercada de cachorros? Tenho de perguntar ao Alcir... Este poema é de 1967. Amar a poesia talvez seja suficiente...
Exercício no 1
Se permitires
Traço nesta lousa
O que em mim se faz
E não repousa:
Uma Ideia de Deus.
Clara como Coisa
Se sobrepondo
A tudo que não ouso.
Clara como Coisa
Sob um feixe de luz
Num lúcido anteparo.
Se permitires ouso
Comparar o que penso
O Ouro e Aro
Na superfície clara
De um solário.
E te parece pouco
Tanta exatidão
Em quem não ousa?
Uma ideia de Deus
No meu peito se faz
E não repousa.
E o mais fundo de mim
Me diz apenas: Canta,
Porque à tua volta
É noite. O Ser descansa.
Ousa.
1 comentário:
Helena,
Esta manhã, no intervalo do trabalho, fui surpreendido com este belo texto e poema. Dá mesmo força. Grato pela descoberta!
Vou reler os seus textos sobre refugiados, muito ricos e que me ajudam a perceber melhor a crise associada.
Muito obrigado
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