29 janeiro 2016

"pulseiras brilhantes identificativas"


A notícia vem no Sapo, com o título: Refugiados obrigados a usar pulseiras brilhantes identificativas no norte de Inglaterra. A empresa que distribui os alimentos quer que os refugiados usem a pulseira, porque facilita o trabalho de identificar quem tem direito a receber as três refeições diárias. 

Onde é que já vimos algo semelhante?
Nos festivais, nos hotéis com regimes diferentes pensão completa/meia pensão, coisas assim. É muito prático, e ninguém se queixa.
Também vimos há uns anos uma coisa deste género. Em França. Era um cartão que os sem-abrigo deviam trazer consigo, com a sua história clínica, para serem mais facilmente ajudados. Também era uma ideia muito prática, mas teve tantos protestos (não ajudou especialmente ter um triângulo amarelo desenhado num dos lados) que foi rapidamente abolida.
Façamos então um coro de protestos para que esta "brilhante" ideia de identificar os refugiados com pulseiras seja também rapidamente abolida. Ser refugiado não é o mesmo que ter direito a entrar num festival ou a servir-se de todas as bebidas de um hotel. Não se pode dar tratamento igual ao que é diferente. Por muito prático que seja. E que se repita o aviso para todos os que trabalham na área de ajuda aos refugiados: é preciso ter muito cuidado, muita sensibilidade, e não esquecer nunca o permanente estado de necessidade em que vivem. A identificação, necessária para terem acesso a determinados apoios, tem de ser feita de outro modo. O Estado e as organizações que ajudam os refugiados não podem contribuir de modo algum para aumentar ainda mais a sua exposição, exclusão, e fragilidade. Os refugiados têm de ser ajudados e protegidos, e não servidos de bandeja à xenofobia que, infelizmente, existe em cada país.

(Mas confesso que não percebo a parte em que se queixam que os camionistas vêem as pulseiras e os insultam. Quem quer insultar refugiados, não precisa de uma pulseira para os identificar.)

(Já a outra parte da notícia, a "polémica à volta da cor vermelha com que se pintaram as portas das casas onde vivem requerentes de asilo em Middlesbrough", é um triste sinal de mau serviço de informação. Calhou de os refugiados terem sido alojados em casas devolutas da empresa Jomast, cujas portas são todas iguais e de cor vermelha - há vinte anos que são assim. Fazer disso um caso nacional e comparar imediatamente com as estrelas amarelas dos judeus é um triste sinal dos tempos de histeria que vivemos.)  


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