Fomos à exposição do Picasso no Grand Palais e depois resolvemos ir jantar. A Carla escolheu a zona da Porte de St. Denis. No fim do jantar, o responsável do restaurante perguntou-nos onde é que moramos. Fizemos cara de estranheza, e ele explicou que Paris estava em estado de sítio, o exército estava na rua, as ruas estavam bloqueadas, e dificilmente poderíamos ir para casa. "Está a brincar connosco, não está?!"
Não. Iam fechar as portas do restaurante, e nós podíamos ficar lá a noite toda. Olhei para o telemóvel - o Joachim já tinha ligado duas vezes. Telefonei-lhe, e ele disse que o pior era ficar num restaurante, porque eles andam a atacar restaurantes. A Carla já estava a falar com uma amiga que mora perto do restaurante, e resolvemos ir para casa dela. As ruas estavam estranhas: metade das pessoas a andar rapidamente e com cara de caso, muitas paradas no passeio, a telefonar com ar preocupado, e outras sentadas calmamente nas esplanadas e nos cafés - provavelmente não sabiam de nada. Nós andávamos depressa, com medo de cada mota e cada carro que passava.
Estamos em segurança, num quarto andar, e deram-nos uma tisana para acalmar. Sentada junto à janela, sentia-me demasiado exposta. Agora estou sentada no chão. Apagámos a luz da sala.
Os terroristas atacaram muitos dos locais que a Carla gosta de frequentar. A amiga dela morava, até há pouco, numa das ruas atacadas.
Não nos aconteceu nada. Podia ter acontecido. E essa certeza faz-me sentir com mais crueza a tragédia que aconteceu aos outros. Estou a ouvir as notícias, mas só consigo pensar nas vítimas, e no sofrimento das suas famílias.
4 comentários:
Ainda bem que estão bem. Força e Coragem.
...e escreveu a Helena que não ia a Paris há mais de dez anos.
Ainda ontem eu comentava com o meu marido que há mais de dez anos não íamos a Paris e que poderíamos ir lá num dos próximos fins de semana comemorar o meu dia de anos.
Estranhas coincidências.
Mundo cruel, reduzido a um quarteirão.
Ainda bem que está em segurança, Helena.
Bom domingo e regresso a casa.
Contente por estares bem, Helena.
Desolada pelos outros, evidentemente.
Obrigada a todas pelo vosso cuidado!
E desculpem não ter agradecido antes.
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