05 maio 2015

pura vida - baía Drake





Drake fica entre uma baía de água turquesa e a floresta tropical que se estende sem emenda sobre o parque Corcovado. Nas suas ruas de areia e pedras quase não há carros ou motorizadas, poucas pessoas se vêem, e na praia nem sequer há cais: o colectivo chegou o mais perto que lhe foi possível, descalçámo-nos, esperámos um intervalo adequado entre as ondas, e saímos do barco de calças arregaçadas e sacos erguidos à altura da cabeça.

Ninguém conhecia a casa onde íamos ficar. Sempre prestável, o piloto do barco telefonou para a sua empresa, mas nem aí conheciam a Casita Hermi. Fomos subindo a encosta, parámos numa loja com um letreiro que dizia "informações para os turistas", e a dona suspeitou que fosse a casa de uma vizinha, a dona Hermínia. Era. Veio buscar-nos no seu andar tranquilo, e levou-nos à Casita Hermi: a sua própria casa, onde arranjou uma sala para receber turistas, inventou uma espécie de duche e uma espécie de sanita, pôs cortinas à frente desses dois cubículos e ao longo das paredes nuas, e tratou de oferecer a ilusão na internet por uns 60 dólares por noite. O Matthias estava decepcionado, porque ao reservar lhe parecera que a casa tinha vista para a baía. Combinámos com a dona Hermínia o pequeno-almoço do dia seguinte para as seis e meia da manhã ("com bananas fritas", pedimos), numa agência marcámos a saída de barco para a Isla Caño às sete, e saímos para a praia quando já anoitecia.

Antes de jantar metemo-nos no mar de ondas doces, sob o céu cheio de estrelas ("de pernas para o ar", notaram os filhos), olhando a lua que se levantava muito luminosa e cheia sobre a confusão da selva.

Fomos em fato de banho à procura de um restaurante onde aceitassem o cartão de crédito, porque ali não havia caixas automáticas, e tínhamos de pagar em dinheiro a Casita Hermi e o colectivo de volta a Sierpe. Encontrámos um, o único que aceitava cartões de crédito, e passou a ser o nosso restaurante favorito em Drake - tinha um ceviche maravilhoso. O arroz também não era mau, mas quem começa o dia com gallo pinto (arroz de feijão) não precisa de o terminar mais ou menos da mesma maneira.

Depois do jantar eles ficaram a jogar às cartas, o Matthias ainda foi procurar o hotel que sonhara para nós, e eu fui para o que tínhamos. Adormeci no meio de ruídos estridentes de animais desconhecidos. De um sono só, como se fosse essa a minha casa.


  


Sem comentários: