06 maio 2015

pura vida - snorkeling na Isla Caño








6:30 da manhã: já de malas feitas, tomámos um pequeno-almoço delicioso na cozinha da dona Hermínia, levámos as nossas coisas ao hotel que o Matthias conseguiu arranjar na véspera, e partimos para a praia, onde zarpámos com rumo à Isla Caño. No mar da baía há golfinhos - e baleias, em certas épocas do ano, mas não agora. Os golfinhos apareceram, poucos e e de má vontade. A rir, comentámos que foi por não termos pago os 10 dólares extra para golfinhos. A verdade é que os preços na Costa Rica e a exigência de pagar cada extra nos estavam a traumatizar.

A Isla Caño é assim chamada - diz o nosso guia - porque tem muita água potável. Não sei se acredite. E se acreditar, não sei se ache bem. Uma ilha onde encontraram misteriosas pedras esféricas, algumas pesando várias toneladas, que para ali foram levadas em tempos pré-colombianos não se sabe como nem porquê, recebe agora um nome tão banal como esse? Que soberbo colonialismo, que tacanhice, pensei eu.

De momento não se pode passear na ilha, mas o snorkeling nas suas praias de água clara e transparente vale bem a pena. Para além dos peixinhos de estampados alegres e das raias, algumas das pessoas do grupo chegaram a ver tubarões. Eu cá, vi-me aflita: a ondulação enjoou-me de tal maneira que devolvi ao mar todo o pequeno-almoço - o arroz de feijão, os ovos mexidos, as bananas fritas, as frutas diversas. Talvez aquela história que os nossos pais nos contavam, e nos arruinava os dias na praia, seja verdade: convém fazer a digestão antes de entrar na água.

Voltei para terra, deitei-me à sombra de um coqueiro. Até que reparei nos cocos em cima de mim, me pus a imaginar o que seria um deles cair-me na cabeça, e resolvi ir fazer fotografias pela praia, em corridas repentinas entre a sombra e o mar para não queimar os pés nus na areia a arder. A minha vida em férias até parece os desenhos animados da minha infância...

No regresso almoçámos numa praia da península, junto a uma fazenda abandonada. Do lado de cá da sebe uma praia lindíssima, do lado de lá a ferida aberta a fogo, e a selva a tentar recuperar o que lhe foi roubado. Ao passear na Costa Rica reparei muito nessas cicatrizes na Natureza, que sentia como um atentado. Mas depois lembrei-me que a Europa é praticamente uma única cicatriz. Não posso atirar pedras ao telhado dos outros quando tenho um telhado de vidro do tamanho de um continente. E escuso de falar do colonialismo dos outros quando padeço do mesmo mal - este paternalismo bem-intencionado que é uma afronta à autodeterminação dos outros países.








(bem queria trazer para casa este bocadinho de coral que estava na praia, mas o tal "maldito inquilino" pôs-se a gritar-me ao ouvido "leave only footprints, take only pictures!" e...)




A praia onde almoçámos:








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